Sweet Sacrifice escrita por Saskia


Capítulo 1
Capítulo Único




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A garota atirava facas com força na parede do quarto, lágrimas grossas escorriam furiosamente de seus olhos castanhos chocolate, o cabelo negro estava bagunçado, preso por uma adaga em um coque mal feito.

Um garoto alto apareceu na porta, usava terno que o deixava com um ar demasiadamente elegante, seus olhos eram azuis cinzentos e o cabelo loiro, de um tom meio “sujo”.

Clove. ― sussurrou ― você vai se encrencar, se a pegarem destruindo a parede do quarto. A propósito, onde conseguiu essas facas?

Ela deu de ombros e exibiu um sorriso frio e sarcástico, ignorando a verdade transmitida por seus olhos.

― Cato docinho. ― debochou ― você tem uma imaginação muito fértil. O que eles ainda podem fazer? Já tiraram tudo o que eu tinha, o meu futuro e... ― a voz dela ficou mais baixa, ela hesitou por um instante, mas resolveu falar, afinal, não tinha o que temer, iria morrer, sim, Cato sairia dos jogos vivo, teria uma chance de montar uma família ― Você.

Apesar do que muitos pensavam os carreiristas dos distritos 1, 2 e 4 não se voluntariavam por espontânea vontade. Não, eles eram cuidadosamente escolhidos pela prefeitura e mandados para os jogos em uma tentativa desesperada de perder o menor número possível de crianças.

Cato sempre tinha sido o melhor, e por mais que tentasse negar, no fundo, sempre soube que algum dia ele seria mandado aos jogos, apenas não esperava que estivesse junto.

Olhou para o garoto loiro parado em sua porta, seus olhos transmitiam claramente sua preocupação com Clove. Ela pensou em como tinham chegando aquele ponto, durante toda a infância e o começo da adolescência haviam sido inimigos mortais.  

Ele era egocêntrico demais, sempre exibindo o título de “Nº1 do Centro de Treinamentos” enquanto ela era nada mais do que um Zé Ninguém.

Desastrada, baixinha, fraca e tímida.

Isso a tornara um alvo fácil no centro de treinamentos. Ela era passiva, por isso era só dizer o que precisava que ela faria com um prazer ― surpreendentemente ― sincero.

E provavelmente, foi isso que os aproximou. Cato não era a exceção entre as crianças daquele lugar, muito pelo contrário, intimidava-a e lhe mandava fazer algo para ele praticamente todos os dias.

Ambos se lembravam do dia em que tinham se tornados próximos.

Era um dos milhares de feriados em homenagem a vitória da Capital nos Dias Negros e por isso o Centro de Treinamento iria fechar mais cedo.

Clove tinha fugido do treinamento diário, não aguentaria ver novamente como era a pior de todos. Principalmente agora, que tinha feito 12 anos e estaria na colheita dos próximos Jogos Vorazes. Já Cato, não estava com paciência suficiente para aturar todas aquelas crianças, inúteis demais para serem páreas a ele.

O garoto jamais se esqueceu do choro que ouviu naquele dia, era desesperador e torturante até para o ser vivo mais insensível do mundo.

Foi até o armário de armas e ao abrir a porta sentiu um aperto no coração. Sempre como devia ser claro para todos como aquela garota era pequena e frágil, mas naquele momento, percebeu que ela era cem vezes mais fácil de ser quebrada do que qualquer pudesse pensara.

Ela estava encolhida em um canto, abraçando todo o corpo e mesmo tendo levantado o rosto rapidamente percebera o quanto seu rosto estava vermelho e molhado. Cato era frio e desligado dos sentimentos alheios, mas não era cruel ao ponto de deixa-la sozinha naquele estado.

O garoto sentou-se ao lado dela, o que a fez se encolher um pouco mais para o canto, ele ficou quieto, não sabia como agir e por isso somente falou algo depois de um bom tempo.

― Porque você está chorando? ― ela nada respondeu ― Você ficou muda? Hey! Garota, eu estou falando com você.

Clove continuou calada, pensou em sacudi-la até falar alguma coisa, mas quando tocou em seu braço o choro da garota apenas aumentou. Ele não tinha certeza sobre o que fazer, mas acabou inconscientemente puxando-a para um abraço.

Pouco a pouco ela se acalmou, as lágrimas dela foram se tornando menos vastas, em um ponto em que ela já não mais soluçava. Está nós braços dele, davam-na uma sensação de proteção que nem uma prisão de Adamantium poderia lhe dar.

― Então, porque você estava chorando? ― questionou usando uma voz serena, a persuadindo a falar.

― É que, você sabe como é. Recentemente eu fiz 12 anos e você sabe que sou uma fracassada nessas coisas, então se eu for escolhida... ― Clove não terminou a frase, mas não precisava, pois ele entendia sobre o que ela quis dizer.

Cato observou-a, ele não a soltara, não queria soltar. Deixa-la desprotegida no meio dessa bagunça que era o mundo era algo que não conseguiria fazer. Suspirou, ele não devia fazer isso, afinal, cada um deveria desenvolver sua técnica de ataque, mas não conseguiria dormir a noite sabendo que não a ajudara.

― O seu problema é que você quer comprar uma briga corpo a corpo. Você é fraca, têm que impedir que eles cheguem perto, tente usar algo como um arco e flecha.

― Facas. ― ela falou de repente, os olhos dela brilhavam e os lábios exibiam um sorriso delicado, mas extenso.

― É, pode ser. ― respondeu enquanto sorria de volta.

Eles não sabiam naquela época, mas depois daquele dia jamais sairiam de perto um do outro.

 Estavam amaldiçoados por um destino cruel, mas não conseguiam aceitar com aquilo facilmente, iriam lutar até o fim de suas vidas.

Cato aproximou-se e a abraçou, afagando delicadamente seus cabelos, beijou suavemente sua cabeça, depois a testa, entre as sobrancelhas e foi descendo até finalmente tocar em seus lábios.

E naquele momento ambos souberam, não importava se iriam se meter em algum tipo de confusão no meio do caminho. Eles viveriam intensamente o resto de vida que ainda tinham juntos.

― Venha comigo. ― o loiro disse e a puxou pela mão.

Ela não sabia para onde ele a estava guiando, mas seria capaz de confiar sua vida ao garoto ao seu lado. Eles chegaram ao elevador, ele a guiou para dentro e apertou o botão escrito 12.

 ― Cato, para onde estamos indo? Podemos ficar apenas em nosso andar. ― protestou apreensiva. Ele esboçou um sorriso divertido.

― Clove docinho, você tem uma imaginação muito fértil. O que eles ainda podem fazer? ― isso a arrancou algumas gargalhadas histéricas da morena.

― Eu mereci essa. ― admitiu.

― Com certeza. ― concordou Cato.

O elevador indicou está no 11º andar.

― Não faça barulho, eles ainda podem pensar que, sei lá, estamos iniciando uma rebelião ou algo do tipo. ― apesar de a última frase do loiro ter sido claramente em deboche, a garota sentiu aquele tom de seriedade que apenas ela conseguia identificar na voz dele.

Quando a porta do elevador se abriu, Cato a guiou para dentro do aposento. O coração de Clove batia rápido e suas mãos começavam a suar, ficou preocupada pela possibilidade de está fazendo muito barulho, afinal ele era tão silencioso que nem ela, estando com o corpo grudado ao dele, conseguia ouvir sua respiração ou passos.

Estava muito escuro, se perguntou como Cato sabia por onde andar.

Ela seguia-o ansiosa, imaginava o momento em que, alguém do distrito 12 apareceria e os meteria em confusão, qualquer que fosse.

De repente Cato o parou, fazendo-a bater nas costas dele. Clove gemeu e antes que pudesse reclamar com o garoto por parar tão rápido ouviu passos próximos, o que fez seu coração bater assustadoramente rápido.

Se alguém os visse ali os delataria para a Capital e eles iriam os castigar, atacando suas famílias, seu distrito, porque não pensara nisso antes? Existiam muitas coisas piores do que a morte.

O garoto do distrito 12 apareceu, carregando seu mentor, aparentemente bêbado. O corpo de Clove começou a tremer, seu cérebro começou a pensar em um milhão de possibilidades do que poderia acontecer.

― Ah, você aqui de novo. ― disse o garoto, ele não parecia surpreso, com raiva ou medo, apenas indiferente, como se aquela fosse uma situação normal em seu dia-a-dia ― Você trouxe companhia.

― É.

Cato respondeu frio e rápido, ele havia recebido treinamento lacônico, por isso se ele estivesse muito falante com uma pessoa que não fosse ela, como na entrevista, Clove sabia imediatamente que era falsidade.

― Então, vê se toma cuidado quando estiver perambulando, acho que Katniss está acordada. Não tenho certeza. Tente não ficar aqui até muito próximo do amanhecer, os avox chegam cedo.

― Eu sei.

O garoto que Clove não sabia o nome, ela quase nunca sabia o nome de alguém, havia demorado uns três meses para aprender o nome de Cato, apenas deu de ombros. O tutor resmungou alguma coisa o que o fez simplesmente continuar andando, como se nada houvesse acontecido.

A morena quis perguntar o que acontecera, mas ficou quieta, não queria ver mais ninguém que não fosse Cato. Ele a puxou para mais perto de seu corpo e continua a andar, com seu corpo colado ao dela. Clove não teve ideia de quando tempo andou ainda depois do encontro com o garoto do distrito 12.

― Espera. ― sussurrou Cato. ― Eu vou te carregar agora por causa da escada, não grite.

Ela mordeu os lábios com força, sempre que alguém a levantava acabava gritando. Por sorte, dessa vez, ela conseguiu apenas gemer quando o louro a levantou, carregando-a como se fosse um bebê.

Provavelmente, outras garotas se sentiriam como uma daquelas princesas das estórias contadas no passado, mas Clove ficou apavorada. Seria trágico caso ele acidentalmente a derrubasse e ela morre-se ao bater a cabeça no batente da escada.

Tentou reprimiu o pensamento, o que não deu muito certo.

De repente o lugar ficou mais claro o que a cegou momentaneamente, quando finalmente voltou a ver percebeu que Cato andava em cima de telhas. Seu corpo tremeu imediatamente.

― Com medo de cair baixinha? ― debochou o garoto

― Claro que sim, já pensou se você acidentalmente tropeça e nós dois caímos desse telhado, em direção a uma morte mais do certa.  

Cato revirou os olhos.

― Já pensou se a Capital contratou assassinos profissionais para nos derrubar do telhado e parecer que foi acidente.

A intenção dele era apenas debochar da garota, mas ela arregalou os olhos assustada.

― Você tem razão. Aimeudeus, vamos embora. Provavelmente tem alguém vindo, eles vão nos matar, depois matar nossas famílias e torturar as pessoas mais próximas, todo mundo do mundo do nosso distrito, inclusive nossos conhecidos e...

Ela provavelmente teria continuado até o dia seguinte, mas ele a interrompeu selando seus lábios ao dela.

― Achei que nunca fosse calar a boca. ― comentou o garoto depois de eles finalmente se separarem.

― Você deveria me faze calar a boca mais vezes. ― respondeu distraída, com um sorriso malandro no rosto.

Ela encarou os olhos deles por mais ou menos quatro minutos, sua expressão era séria quando finalmente disse.

― Eu te amo. ― sua voz, surpreendentemente, saiu alta e clara, sem nenhum tipo de dúvidas.

E ele, sem desviar o olhar e com a voz igualmente séria, respondeu:

― Eu também te amo baixinha.

Cato a beijou novamente, continuaram assim até um perder o fôlego e retomar novamente àquele beijo, cheio de fogo e paixão.

Durante o tempo que permaneceram no telhado, puderam se esquecer da ameaça que espreitava fora dali. Pronta para destruir aquele amor, puro e inocente, tornando-o mais um sacrifício para sustentar a ganância e o luxo de um pequeno grupo de pessoas. 


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Notas finais do capítulo

Então, se você leu, obviamente já que está aqui, comenta. Mesmo que tenha odiado, como eu. Mando só um "Li e gostei" ou um "Li e foi mais ou menos" ou um "Li e odiei". Não custa nada copiar e colar, né?