Os ventos da noite fria roçavam a pele pálida de Amy, fazendo-a arrepiar e resmungar para si mesma. As luzes brilhantes da cidade tonalizavam seu rosto e roupas, fazendo-a pensar se havia escapatória desses tons amarelos e vermelhos, que se misturavam com azul e verde, lá em baixo. As calçadas inquietas mal podiam ser vistas, cobertas por cabeças de cidadãos extremamente apressados, enquanto as ruas eram inundadas por milhares de carros brilhantes e escuros.

Amy deu um último suspiro. Juntou as últimas lembranças frustrantes que tinha e apertou as mãos às tábuas frias. Sentindo toda a raiva, a frustração e a tristeza dos últimos dias, ela abriu as mãos, fechou os olhos e sentindo a barriga esfriar, começou a cair em direção às calçadas. Pensou pela última vez se ia cair na cabeça de alguém, mas acabou ignorando isso. Sentiu as lágrimas salgadas saírem de seus olhos, roçarem suas bochechas e molharem suas orelhas. Os cabelos balançavam acima da cabeça, enquanto esperava aquilo acabar. Mas não acabou. E não iria acabar, não importa o quanto esperasse.

Os cabelos pararam de dançar, as lágrimas pararam de voar, mas não de cair, e o frio na barriga se foi. Confusa, Amy abriu os olhos enfim. Pensou se já estava em uma espécie de céu, se houvera morrido sem sentir. Mas ainda estava ali. Naquela noite fria, com pessoas apressadas, que agora estavam ao seu lado. Porém havia algo mais errado. Sentia mãos segurarem seu corpo, olhos lhe observarem. Olhou direito e viu, pela primeira vez, alguém que iria realmente odiar.