Clary sentou-se na grama seca sentindo a perna ,vestida pela calça jeans desbotada, ser pinicada.

Mesmo que a sensação fosse incomoda não se importava. A sensação que se instalava em seu coração é muito pior do que o simples roçar da grama seca.

Então sua vida, em instantes, havia se resumido a vazio. O mais irônico era o fato de que poucas semanas atrás ela sentia-se preenchida pelo completo amor que sentia por Jace e ele por ela.

Mas não funcionava mais assim. Ao sair da construção abandonada, depois de vencer Lilith, ela e Jace pareciam ter se acertado. Doce engano!

Ele havia se afastado mais. Não falava com ela e nem sequer tinha ligado para pelo menos terminar a relação conturbada. Nem Alec ou Isabelle pareciam o ver com frequência.

Tudo o que Clary conseguia pensar era: Droga!

Os dois haviam superado Valentim, a descoberta de que eram “irmãos”, o controle de um demônio sobre Jace e até mesmo a morte. A morte! Porém nada parecia indicar que os dois ficariam juntos.

A ruiva encarava as pessoas no parque que se divertiam com pais, irmãos e até namorados e se deu conta de que no final de tudo era disto que sentia falta.

Nos últimos meses tudo o que tinha feito se resumia a lutar com demônios, enfrentar seu pai e irmão( o que gostava de chamar de outra variação de demônio), ir em eventos sociais que envolviam vampiros, lobisomens, fadas, feiticeiros e Caçadores das Sombras , salvar a mãe e enfrentar frente a frente a morte.

Ela sentia falta de ter uma rotina entediante e levar a vida de mundana. Contudo todas as vezes que pensava assim a imagem de Jace surgia em sua mente e tudo parecia se dissipar. Ela enfrentava tudo aquilo porque o tinha visto na Pandemônio e já não podia mais imaginar sua vida sem ele.

Suspirou fechando os olhos e sentiu quando alguém se sentou a seu lado. Primeiro pensou que fosse Simon, mas ao abrir os olhos se surpreendeu ao ver a figura de Jace sentada a seu lado.

Ele parecia sereno, porém cansado. Seu corpo já havia recuperado os músculos, inclusive parecia estar mais forte o que indicava que havia treinado.

Depois de alguns instantes processando a situação ela disse:

-Como me achou?- Não falou de forma ríspida, mas não transparecia todo aquele amor que sentia e alegria de revê-lo.

-Eu sempre sei onde você está Clary. – Ele disse sorrindo.

-Jace...- Iniciou Clary, mas o nome do loiro ficou suspenso no ar.

Ela não conseguia continuar porque sabia que o que mais temia estava por vir: a separação.

Ele se voltou para ela, encarando-a com seus profundos olhos azuis. Como ela havia sentido falta daqueles olhos, de seu rosto e de seu sorriso com o dente ligeiramente torto que achava tão adorável.

-Eu sinto muito Clary- Ele começou com uma frase atípica de seu comportamento.- Eu devia ter ligado, mas eu precisava de um tempo para digerir tudo o que aconteceu.

Ele ainda se culpa pelo o fato de quase ter morrido na última vez. Pensou Clary.

Clary podia sentir as lágrimas ameaçando cair, mas não choraria por um garoto, mesmo Jace.

-Não precisa continuar eu já sei...

- Eu preciso terminar de falar- Ele a interrompeu- Eu achei que depois de tudo o que aconteceu o que eu merecia, o que seria melhor para você, era que eu ficasse longe. Não suportava o fato de saber que eu poderia machuca-la. E agora eu sei...

Esse era o ponto decisivo. Onde tudo se quebraria e toda a dura jornada seria em vão.

Clary sempre achou que com Jace havia um final feliz. Eles passaram por muitas coisas juntos e ao final do dia essa era sua conclusão. Pensar na separação nunca pareceu tão difícil e doloroso.

- Que eu sou a pior pessoa do mundo porque mesmo que eu tente e me esforce ao máximo... - Ele parou por alguns segundos- Eu não consigo viver sem você.- Clary virou a cabeça abruptamente o encarando com uma expressão surpresa. – Eu não pensei em você quando tomei a decisão de me afastar. Eu pensei em mim e julguei o que seria melhor para você.

-Jace- Clary o chamou. – Você é um idiota. – Jace pareceu surpreso, mas logo lançou aquele sorriso sarcástico. - De verdade. Você achou que poderia saber o que é melhor para mim, mas não sabe porque ao final do dia tudo o que mais quero é estar com você e não me separar. Parece até burrice que você tente me afastar para me proteger quando tudo o que preciso é ficar com você- Clary havia perdido o fôlego com o que acabara de falar, mas Jace parecia nem estar ligando porque tudo o que fazia era sorrir.

-Você é a pessoa mais teimosa além de mim ,obviamente,  que eu conheço- Ele disse se aproximando perto do ouvido da ruiva. – E talvez seja por isso que eu te amo tanto- Ele sussurrou, mas foi capaz de provocar arrepios em Clary.

Era surpreendente o poder que aquelas palavras tinham quando ditas com sinceridade.

Ele estava sorrindo, mas não o costumeiro sorriso irônico, mas um sorriso iluminado acalentado pela paixão.

O sol batia em seu rosto fazendo com que seus olhos parecessem ainda mais dourados lhe dando aquele ar de ferocidade que tem desde que Clary o viu pela primeira vez.

Lentamente ele se aproximou encostando seus lábios nos dela. Todos os temores ali se dissiparam. Existiam apenas Jace e Clary.

Não se pode determinar o futuro, mas é algo que se constrói. Suas escolhas é você quem faz. A vida é composta deste ciclo de altos e baixos. Há brigas e há amor, descobertas surpreendentes podem mudar sua vida por completo, mas não interessa se para pior, ou melhor, porque você é quem decide o caminho que quer seguir.

Muitas coisas ainda estão por vir, mas Clary tem a plena certeza de enquanto tiver a família, amigos e Jace ela sempre estará completa e protegida. Uma coisa leva a outra e não se deve ter medo do escuro quando tem alguém que ter quer bem a seu lado.

E eles ficaram ali , a luz do por do sol, apenas os dois em seu momento de intimidade, naquele beijo cálido e gentil que dizia: eu te amo.