No dia seguinte,Enjolras estava ansioso para chegar a biblioteca.Ele parecia um tolo,ele era um tolo.Ansioso para ver uma garota com tantas coisas importantes que dependia dele.

Ele passou sem cumprimentar a bibliotecária e foi direto para a mesa perto da janela e chegando lá se decepcionou ao encontrá-la vazia.Enjolras olhou ao redor na esperança de ver Éponine sentada em alguma outra mesa,olhando para ele com aquele sorriso que mostra as covinhas.

Mas ela não estava.

“Talvez ela esteja atrasada”ele pensou abrindo o livro e começando a fazer anotações.De minutos em minutos ele olhava para o relógio do celular ou para o grande relógio que ficava na entrada da biblioteca.Cada vez que a porta se abria ele levantava a cabeça rapidamente e se decepcionava por não ser Éponine ao entrar.

“Talvez eu tenha me atrasado e ela tenha pensado que eu não viria e se foi” ele pensou.

Naquela noite ele se encontrou com os amigos,mas não conseguiu discutir sobre nada,ficou apenas encarando os folhetos que Jehan havia feito para ser entregue aos estudantes.Ele foi o primeiro a ir embora.Os amigos estranharam.

–Vai ver esta doente.-Joly comentou.-Eu deveria dar uma olhada nele.

-Ou vai ver so esta cansado-Bossuet respondeu observando Enjolras ir embora.

No dia seguinte ele chegou mais cedo,e novamente nada de Éponine.

Nem no outro...E nem depois

“Ela te enganou seu tolo.E você burro acreditou.Sim as mulheres são poderosas como ela disse,você viu o que ela fez com você?Esta vendo,certo?Isso que dá querer ser igual a todos e se deixar apaixonar.Enjolras seu coração esta com o povo,são os únicos que você tem que se importar.Nada de amor para você.Seu amor é tentar ajudar as pessoas,seu dever com elas é seu coração”

Seu subconsciente ria dele,zombava “Patetico”,gritava.

E assim ele deixou de esperá-la.

Prometeu não pensar mais em Éponine.

Mas era impossível.Ele estava na faculdade e jurava ver Éponine andando por ali,estava na sala e imaginava tê-la visto passar no corredor.Na hora do intervalo pensava vê-la no grupo dos artistas dançando.

Ele voltou ao seus projetos de manifestações.Voltou a discutir sobre política e voltou a freqüentar a biblioteca sem se preocupar se ela estaria ali.

Duas semanas se passaram e Enjolras se perguntava se Éponine não fora mera ilusão sua,um sonho que pareceu real demais.Não se lembrava muita coisa dela,apenas do sorriso e de seus olhos.

Ele preferia que ela fosse um sonho,porque se ela for real significa que ela estava tendo sentimentos.E ele estava muito bem sem seus sentimentos.

Na sexta Enjolras saiu da biblioteca e foi para o Café Musain.Chegando lá encontrou todos seus amigos rindo e se divertindo.Inclusive Marius já estava ali,junto de Cosette.Enjolras fez uma careta ao vê-la,nunca conversara mais que duas palavras com ela,mas não gostava de mulheres envolvidas,geralmente elas nunca entendiam de política.

–Vejo que estou atrasado- Enjolras falou ao se aproximar dos amigos- Ate Marius já esta aqui.Salut Cosette.

–Salut...Henrique?- ela perguntou fazendo uma pequena careta.

–Quase- Enjolras respondeu se sentando e Feuilly lhe entregou uma garrafa de cerveja.

–Enjolras,meu bem- Marius falou sorrindo enquanto olhava com carinho para Cosette.

–Oh...me desculpe.Você foi gentil.Henrique não tem nada a ver com Enjolras.

Enjolras olhou ao redor dando falta de Grantaire e Jehan.

–Onde estão Grantaire e Jehan?

Todos soltaram uma risadinha que Enjolras não tem entendeu o motivo.

–Jehan ninguém sabe...já Grantaire esta no banheiro com a amiga de Cosette e Marius.

Enjolras sorriu,Grantaire era de todos o que não levava nada a serio,sempre que tivesse um oportunidade de se divertir ele iria,sem se preocupar com as conseqüências.

Estavam todos conversando animadamente,o pensamento de Enjolras sobre Cosette mudara,ela era muito inteligente e sabia o que estava falando.Ele descobrira que ela cursava psicologia em Sorbonne.

Eles escutaram um assovio estridente.

–Atenção a todos- chamou a voz vinda do banheiro.Enjolras ficou sem reação.Ele conhecia aquela voz- Com muito prazer apresento a vocês...Tambores por favor- Éponine pediu com um sorriso divertido e todos os amigos do Abc começaram a bater na mesa,inclusive Cosette.Enjolras não conseguia tirar os olhos dela.- Grantairine- ela gritou e apontou para o banheiro de onde saiu um Grantaire com o rosto cheio de pó branco e sombra colorida e de batom vermelho.A mesma cor que estava na boca de Éponine,Enjolras percebeu.Usava brincos grandes de pressão,meia calça rendada,mini saia preta,um topo vermelho de lantejoulas com meias para fazer volume e salto.Sem falar seus cabelos que geralmente eram cacheados e bagunçados,estavam lisos e preso em duas mini Maria Chiquinha.Parecia que ele tinha levado uma chinelada na cara por conta do blush rosa.

Ele saiu do banheiro desfilando e se sentando na mesa na frente de Enjolras colocou um dedo na boca e fez cara sexy para o loiro que se segurava para se manter serio.

–Eu sou uma garota sexy,Jojo?- ele perguntou para Enjolras todos gargalharam.

–Não,Grantaire.Você não é!Agora desce da mesa,você esta ridiculo.- Enjolras respondeu serio,ele queria rir,mas eles não estavam ali de brincadeira,era já não bastava Mariu que havia trazido Cosette,agora chega Éponine e pensa que pode fazer essa anarquia?

–Porra Enjolras !– Grantaire falou com a voz normal- Ri cara.Você sabia que rir não vai te matar,certo?Muito pelo contrario,vai lhe fazer muito bem.Quem sabe assim você para de ser esse cara chato que você é.Se você tirar um dia para se divertir ninguém vai morrer por causa disso.Sabe o que vai acontecer?Você vai chegar no fim da vida sozinho e sem nenhuma história para contar.Estamos aqui brincando,entra na brincadeira também.Mas que merda.Pronto falei,já que vocês são todos covardes e não tem coragem de dizer isso para ele.Grandes amigos!- ele gritou cambaleando nos saltos,todos ficaram sérios e olhavam para Enjolras que abaixou o olhar.Ele havia recebido um bronca de Grantaire,na frente de Éponine.

–Fala sério.- Éponine quebrou o silêncio- Fiz ou não fiz um ótimo trabalho nele?

Os amigos se afastaram de Enjolras e foram para a mesa que Grantaire estava.Éponine fazia a bagunça.No momento ela cantava uma musica de striptease e Grantaire ameaçava tirar a roupa enquanto os amigos tiravam fotos e jogavam algumas notas na mesa.Eles fizeram sessão de fotos sensuais com Grantaire.Éponine fazia as poses e Grantairine imitava.

Enjolras estava sozinho tentando ler.Por que ele não havia rido?Ele estava com vontade mas não quis dar o braço a torcer.Agora seus amigos estavam aborrecidos com ele,e ele estava sozinho.Ele pensou em se juntar aos amigos,mas ele era orgulhoso demais para isso.Sem falar em Éponine quem nem sequer olhou para ele.Ele deveria ir embora,se fosse ninguém perceberia.Ele guardou o livro na mochila e estava pegando o casaco que estava no encosto da cadeira.

–Pensando em sair a la francesa,M’sieur?- Éponine perguntou se sentando na mesa.

Enjolras não a respondeu,simplesmente se levantou colocou o dinheiro da cerveja encima da mesa e estava indo para a saída.Quem ela pensava que era?Fez ele de tonto e agora chega com essa voz e esse sorriso...

–Eu aborreci você,Enjolras?- Éponine falou o nome dele,era a primeira vez que ela dizia seu nome,ele parou,gostou de como seu nome soava na boca dela.

–Não,acontece que já esta na hora de eu ir mesmo.

–Você mente muito mal sabia?- ela perguntou se aproximando dele.-Me desculpe,não sabia que era uma reunião,ninguém me avisou.

–Tudo bem.

–Você é um homem de poucas palavras,não?Venha se junte aos seus amigos.Aproveite esse momento.Seus amigos podem não estar brincando e rindo amanhã.Nunca se sabe o que irá acontecer,por isso temos que aproveitar cada segundo que temos ao lado das pessoas que gostamos.-Ela pegou na mão de Enjolras.- Vamos,venha.Eles querem sua companhia.

–Eu acho que eles não querem não,estão bem sem mim.

–Eles querem sim.E se eles não querem,eu quero.Vamos- Éponine entrelaçou seu braço ao de Enjolras e o puxou em direção a mesa.- Me desculpe não ter aparecido na biblioteca,o horário das minhas aulas mudaram.Mas acho que o M’sieur nem deve ter sentindo minha falta.Conseguiu terminar de ler Dostoiévski?

–Sim,terminei Dostoiévski e Sartre.Agora estou lendo Pushkin.

–Oh sim,muito bom ele.Você sabia que ele é considerado o Dom Casmurro da Rússia.Já leu Dom Casmurro?É um livro de autor brasileiro Machado de Assis.É bom,por mais que eu prefira o livro Quincas Borba...Mas voltando a Pushkin,consideram ele o Dom Casmurro porque em uma pesquisa feita por Serena Vitale,descobriu que a biografia dele não é uma biografia e sim um relato de seus últimos dias.Ele acreditava que sua esposa Natália o traia mas ele nunca descobriu então fica o mistério no ar:Será que ela traiu ou não traiu ele?Igual ao Dom Casmurro com a Capitu.Então fica Pushkin como Bentinho e Natália como Capitu.

–Você sempre fala demais assim?- Enjolras perguntou com um sorriso.Éponine era esperta e ele gostava de ver como seus lábios se movimentavam rápidos quando ela falava de algo que ela gostava.

–So quando estou falando de algo realmente muito bom com alguém interessante- ela respondeu olhando nos olhos de Enjolras.

–Vou procurar Dom Casmurro para ler,já que você diz,deve ser bom.- ele ficou sem graça com o que ela disse.- E você terminou de ler Beauvior?

–Sim,sim.Mas no momento não estou lendo nenhum.Aceito sugestões- ela sorriu para ele.

–Não disse que Éponine iria convencê-lo a vir ate aqui?Ninguem resiste ao charme Éponine- Cosette falou sentada no colo de Marius.

–Vamos Jojo,eu deixo você pegar nos meus peitos- Grantaire estava mais bêbado do que antes- Vamos toque neles.

–Acho melhor não- Enjolras falou timidamente.

–Vamos Enjolras,pegue nos peitos dele.So não vale se apaixonar- Éponine falou pegando as mãos de Enjolras e colocando sobre os peitos de mentira de Grantaire.

–Dá uma apertadinha agora- Enjolras sem jeito mas rindo apertou- São firmes não?

–Sorriam- Éponine gritou tirando foto de Enjolras segurando nos peitos de Grantaire.

–Depois dessa minha reputação já era.-Enjolras falou rindo retirando as mãos do peito de Grantaire.

–Você não tem reputação!-Grantaire gritou.

–Muito obrigado,Grantairine...Vocês tem noção que amanhã ele vai ficar puto da vida com vocês ?

–Sabemos,mas ele não vai ter coragem de brigar com Ponine- Courfeyrac falou dando um beijo no rosto de Éponine,o que incomodou Enjolras.

–E quem sabe assim ele cria um pouco de juízo e para de ficar enchendo a cara- Bossuet falou.

–Então agora Éponine,você conhece todos os meus amigos,o único que você não conhecia era o Enjolras.-Marius falou,e Éponine sorriu,mas seus olhos estavam triste.

–Ah mas eu já o conhecia sim.Apenas não sabia o nome dele.Foi ele que eu fiquei aporrinhando na biblioteca.

–Céus Enjolra você é um santo!-Cosette exclamou- Não mandou ela calar a boca?

–Ele é legal diferente de você,loira de farmácia – Éponine falou brincando e mostrando a língua para Cosette.

–Inveja dos meus cabelos loiros.

–Para que se os homens preferem as morenas?Não é mesmo Enjolras?

A voz de Enjolras ficou presa na garganta,quando ele ia responder,Courfeyrac foi mais rápido.

–Não sei ele.Mas eu prefiro você,Ponine.

–Awwn que fofo!-Éponine soltou do braço de Enjolras- Merece um abraço e um beijo- ela falou o abraçando e beijando a bochecha dele.Ela não soltou o abraço,ficou lá encostada nele.

–Então quanto tempo você já conhecia a todos?-Enjolras se sentou pegando uma garrafa de vinho que estava ali.

–Um mês mais ou menos.

–Ela estuda em Sorbonne também.- Joly falou.

–Verdade?- Isso explica porque ele tinha a sensação de vê-la ali.-O que você cursa?- Enjolras perguntou como quem não quer nada.

–Artes cênicas.- Enjolras fez uma careta,uma garota inteligente como ela não deveria cursar uma coisa tão sem futuro como ser atriz.-E eu sabia que viria essa careta.Todos fazem.Mas foda-se é o que eu gosto.Teatro é minha vida,so me sinto viva quando estou em um palco.Afinal todos temos uma válvula de escape,e a minha é o teatro.

–Calma,eu não disse nada.Acho legal teatro...acontece que é uma coisa tão...

–Incerta?- Éponine completou e Enjolras assentiu.- Qualquer profissão que você escolher vai ser incerta.Você tem que ser bom no que faz para conseguir chegar em algum lugar.Não é porque você decidiu ser advogado,medico,engenheiro ou qualquer coisa que você assim que se formar vai ter um emprego com um salário bom.Você vai ter que batalhar para conseguir isso.Igual a quem quer seguir carreira artística.

–Questionar a escolha dela é muito delicado- Cosette falou em um sussurro alto para Enjolras,na intenção de Éponine ouvir- Ela sempre esta com a resposta na ponta língua e preparada para te matar se você ofender ela por querer ser atriz.

–Pessoas!-Jehan entrou sem fôlego gritando e com uma caixa nas mãos.-Olhem o que eu achei- ele pousou a caixa na mesa e todos se aproximaram para ver.- Vinis e CDs antigos.Vocês não sabem a sorte que eu tive vindo para cá uma senhora estava com dificuldades para carregar e eu me oferecia para ajudá-la.Quando peguei ela me disse para colocar na lixeira,e por acaso eu vi o que era.Perguntei por que ela estava jogando aquelas raridades fora.Ela me disse que eram do marido dela que havia falecido recentemente e ela não queria mais nada que lembrasse ele.Então perguntei se eu poderia ficar com eles,eu ate pagaria.Ela me respondeu que não era necessário pagar e me disse para voltar lá que tem mais CDs.

–Ai caraça que legal- Éponine falou fuçando na caixa.- tem um radio aqui para colocarmos?

–Vamos todos para minha casa,continuaremos a festa lá...Enjolras e Marius vocês poderiam ir comigo buscar as outras caixas?Bossuet,Courfeyrac,Joly,Feuilly ,Cosette e Éponine já podem ir para minha casa.Levem bebidas,pode deixar que eu pago.

Enjolras não entendia a animação do amigo e de Éponine,eram apenas CDs velhos.

–Por favor,Jehan me diga que você tem um tocador de Vinil na sua casa.-Éponine gritou- Eu amo Abba.- ela abraçou o disco de vinil.

–Mas é claro mademoiselle.

Sairam todos juntos.A contra gosto Enjolras foi com Jehan e Marius a casa da velha,ele queria ir com Éponine,eles poderiam conversar mais enquanto caminhavam para a casa do amigo.Courfeyrac deveria estar abraçando ela agora,conversando e a vendo sorrir.

–Vamos logo Jehan- Enjolras reclamou –Onde mora a senhora?

–Só mais duas quadras...por que a pressa?

–Não quero dar motivos para meu pai falar- Jehan assentiu com a cabeça.-Então desde de quando conhece Éponine,Marius.

–Conhecemo-nos quando tínhamos quinze anos,ela estudava na minha classe,nunca se deu bem com as meninas que só sabiam falar de garotos e roupas,Ponine nunca foi de gostar dessas coisas,ela gostava de ler um bom livro,por isso as meninas pegavam no pé dela,até que um dia decidi conversar com ela no intervalo,porque ela estava sozinha embaixo de uma árvore.Desde então somos amigos.

A senhora estava esperando no portão,eles entraram e pegaram as caixas.

–Estivemos casados por 60 anos,ele foi meu primeiro e único namorado e agora ele me deixou aqui.Não tivemos filhos,e eu não suportaria ouvir esses discos e saber que ele não vai me tirar para dançar nunca mais.Então obrigada por preservarem a memória dele.Que vocês encontrem quem te façam feliz igual ele fez a mim.

–É uma linda história de amor.Obrigado,mademoiselle.- Jehan agradeceu.

A senhora pegou no braço de Enjolras.

–Se permita amar meu jovem.No final vai ser a única coisa que terá valido a pena na vida.

Enjolras assentiu com a cabeça e agradeceu.Marius e Jehan soltaram uma risadinha.

–Ate quem não te conhece percebe que você precisa de amor na vida,meu caro.

–Cala a boca,Marius.