No dia seguinte, Enjolras acordou com o corpo dolorido. Ele não fazia a mínima idéia de que horas eram, mas seus amigos ainda estavam dormindo. Grantaire e Courfeyrac estavam nos colchões no chão. Mas eles haviam colocado um bem longe do outro. Combeferre estava dormindo com a cabeça pendurada para fora da cama, Courfeyrac  estava sem camisa e enrolado no lençol abraçava o travesseiro e Grantaire tinha uma coroa improvisada de flores e, que surpresa....estava pelado.

Enjolras olhou com reprovação para Grantaire,que sempre era o que ficava em pior estado no dia seguinte. Ele se levantou e se desequilibrou. Seu corpo doeu um pouco. Ele se espreguiçou e pode ouvir suas juntas estralando.

Foi para o banheiro lavar o rosto e escovar os dentes. Não fazia a mínima idéia de que horas eram. Poderia ser de manhã ou tarde. Era impossível saber,já que a a casa estava mergulhada em um profundo silêncio.

Ele vestiu a camisa do dia anterior,não teria coragem de descer sem camisa,afinal não estava na sua casa. Abriu a porta silenciosamente e saiu para um corredor comprido.

Havia varias obras de arte e umas cinco portas e mais um corredor que parecia menor ao fundo. Foi andando calmamente observando os quadros que retratavam diferentes épocas e alguns imagens sobre religião.

Desceu a escada e logo viu a sala que era muito espaçosa. Tinha uma TV de plasma, dois sofás imensos de couro branco,com um pano vermelho de enfeite. Uma mesinha de centro,alguns vasos de plantas. No canto havia um piano preto, que parecia estar ali apenas de enfeite mesmo. No fundo da sala uma parede de vidro. Ali na sala havia algumas fotos de Cosette criança,bebê no colo de Fantine e Valjean. Tinha fotos desde de bebê ate agora. Algumas fotos de Éponine mais novinha, com um olhar assustado e pouco a vontade com eles. Enjolras ficou observando a linha do tempo que formava as fotos, da primeira a ultima e percebeu em como ela ficava a vontade com o passar do tempo de estar com eles. Ele riu de uma foto em que estava Cosette e Éponine de beca e com o diploma nas mãos. Cosette estava sorridente e Éponine emburrada com alguma coisa.

Voltou a andar olhando tudo que podia, nunca tinha visto uma casa tão grande como aquela. Até que finalmente ele ouviu algumas risadas abafadas vindo de algum lugar e foi seguindo até chegar a cozinha.

Ele ficou parado na porta observando e decidindo se atrapalhava ou não. Cosette,Éponine e Fantine estavam ali. Cosette sentada no balcão ainda de pijama,tinha um livro de receitas nas mãos,enquanto Éponine e Fantine iam para um lado e outro procurando os ingredientes e de vez em quando elas trombavam uma na outra e riam. As vezes elas discordavam sobre onde estava alguma coisa. Éponine sempre ria e falava "Eu te avisei" quando ela estava certa sobre onde o que elas precisavam estava e Fantine a acusava de ter mudado de lugar.

Depois de pegarem tudo e colocarem sobre a pia, Cosette começou a ler o modo de preparo. E as duas cozinheiras discutiam como seria o certo a se fazer.

-Éponine, olha só tem um caruncho aqui na farinha- Fantine mostrou um punhado  de farinha que tinha na mão.

-É mesmo?- Éponine perguntou se aproximando da mão de Fantine e assoprou antes de Fantine a farinha- Você acha que eu nasci ontem,mãe?- ela perguntou rindo,enquanto Fantine limpava o rosto que estava branco.

-Será que esse bolo sai ou não sai ein?- Cosette perguntou com uma falsa impaciência na voz.

-Tá com pressa vem fazer então- Éponine falou virando as costas e quebrando os ovos. Cosette desceu do balcão.

-Vou mesmo. Pelo menos eu como isso hoje.

Enjolras se encolheu para Cosette não vê-lo. Decidiu que voltaria para o quarto, não iria atrapalhar o momento das três.

-O que você fez com Marius, Cosette que ele ainda está dormindo?- Éponine perguntou com um sorriso malicioso e Fantine olhou para Cosette com um sorriso. Cosette ficou vermelha e começou a mexer a massa do bolo.

-E você? O que fez ontem quando eu te procurei igual a uma louca?- Cosette rebateu com uma pergunta  como quem não quer nada. Enjolras continuou ali para ver qual seria a resposta de Éponine e ficou meio desapontado ao vê-la dar de ombros com indiferença.

-Nada demais. Precisei andar um pouco. Encontrei Enjolras, nós conversamos. Foi isso- ela pegou um pouco de água e deu as costas para as duas. Cosette e Fantine trocaram olhares, as duas sabiam que ela estavam mentindo. Cosette havia contado para mãe assim que viu a cena toda.

-Certeza?- Fantine perguntou com uma sobrancelha arqueada- Enjolras é bem... sexy e lindo.

Éponine engasgou e Enjolras arregalou os olhos. Cosette riu da reação de Éponine.

-Ele é só meu amigo! Não posso mais ter amigos homens? Então quer dizer que quando eu saia só com o Marius significava que eu estava indo dar uns pegas nele?- Éponine perguntou irritada com a atitude das duas.

-Calma, não precisa ficar nervosa. Apenas perguntamos. Mas você deve admitir que o Enjolras é realmente lindo e é um cara legal- Cosette falou com sinceridade olhando para Éponine que revirou os olhos.

-Eu já disse que acho besteira isso! Sou inteligente e exigente demais para alguém me amar...

-E lá vem ela com essa conversa novamente- Fantine falou com a voz tediosa,como se já estivesse cansada de ouvir aquela conversa.- A questão Éponine é que até as pessoas inteligentes e exigentes precisam ser amadas. Esse seu pensamento apenas mostra o quão burra você é por se achar inteligente.

Éponine abriu a boca perplexa pelo o que Fantine acabara de dizer. Ela nunca tinha falado daquele jeito, parecia de certa forma irritada com Éponine, o que a deixou meio receosa se finalmente Fantine havia se enchido dela.

-Eu só acho que vocês não sabem o que querem. Se eu namoro Montparnasse, vocês reclamam que eu namoro ele. Se eu fico sozinha, vocês querem me atirar para o primeiro cara que aparece.

-Não estamos dizendo isso,Éponine- Fantine falou séria, qualquer vestígio de brincadeira havia sumido- Montparnasse é uma má influência e você sabe disso. Ele não é bom para você. E Enjolras não é qualquer cara e não estamos atirando você para ele. Eu não quero mandar na sua vida,mas as vezes você tem que olhar ao redor e parar de ser a senhorita rainha do drama.

Éponine revirou os olhos ,cruzou os braços e andou ate a janela. Não queria brigar com nenhuma das duas.

-Se você não fez nada com Enjolras como você diz, não precisa ficar na defensiva. Você é uma execelente atriz,mas ainda tem que aprender a esconder seus sentimentos se quiser enganar sua mãe e sua irmã.- Fantine falou de modo carinhos e se aproximando de Éponine que não se virou.

Éponine tinha vontade de gritar “você não é minha mãe! Então pare de agir como se fosse!”,mas ficou quieta, apenas ficou olhando para fora e tentando entender por que ficou tão nervosa com as insinuações delas.

Enjolras se sentiu mal por ter ficado ouvindo a conversa das três e realmente preferia que não o tivesse feito. Decidiu voltar para o quarto antes que elas começassem a conversar de novo e ficasse tudo  mais estranho do que já estava.

Cosette se virou para pegar alguma coisa na geladeira e o viu dando as costas.

-Bonjour, Enjolras- Cosette o cumprimentou não o deixando fugir .- Venha até aqui.

Enjolras não teve escapatória .Ele entrou timidamente na cozinha. Éponine se virou e o olhou,mas abriu a porta e saiu sem dizer nada. Fantine e Cosette observaram Éponine que caminha apressadamente. Fantine sorriu para Enjolras.

-Dormiu bem?

-Oui. Muito bem,merci.-Enjolras olhava para porta por onde instantes antes Éponine saiu. Fantine balançou a cabeça.

-Não ligue para ela. Depois de passar um tempo sozinha ela melhora. Acontece que ela sempre acorda de mau humor- ela explicou para Enjolras a atitude de Éponine e ele agradeceu por ela achar que ele não sabia de nada e esperava que assim continuasse- Mas... Você está com a mesma roupar de ontem?- Fantine perguntou horrorizada,se tinha uma coisa que ela odiava era ver alguém de roupa suja. Enjolras olhou para as proprias roupas e deu de ombros.

-Esqueci de trazer roupa para trocar- ele explicou e Fantine balançou a cabeça em desaprovação.

-Vocês jovens só não esquecem a cabeça porque ela esta colada no pescoço... Cosette vai preparando as coisas aqui que eu vou procurar uma roupa para o senhor bonitão aqui- Fantine deu uma batidinha no ombro de Enjolras e saiu da cozinha antes que ele pudesse protestar dizendo que não precisava que logo ele iria embora.

-Ela fala como se eu soubesse cozinhar.- Cosette murmurou olhando para as coisas que estavam na pia.

Ela olhou para Enjolras e deu um sorriso solidario para ele,como se quisesse falar alguma coisa que não podia.

-Então...onde você e Marius vão passar a Lua de mel?

-Nós vamos para Londres,depois Italia e terminaremos na Espanha. Estou tão animada!- Cosette fez uma voz esquisita e deu uma risadinha.-Depois voltamos para cá e vamos morar no meu apartamento.

-Éponine vai morar com vocês?- Enjolras perguntou e Cosette negou com a cabeça.

-Ela disse que não quer atrapalhar. Vai morar com Augustinne,por mais que eu disse que adorariamos que ela morasse conosco... Ela vai ficar lá ate voltarmos da lua de mel.

-E quando vocês vão?- Enjolras perguntou mais para ser educado do que por curiosidade ou interesse.

-Amanhã de manhã.

-Aqui,Enjolras- Fantine entregou um pacote de roupas- Você vê qual você quer usar,e as outras dê para seus amigos que não devem ter trazido roupas.

-Merci,senho... Digo Fantine- Enjolras agradeceu e saiu da cozinha,mas não sem antes ouvir Fantine dizendo:

-Sem duvidas ele é o genro que me falta.

Enjolras voltou para o quarto e se trocou. Vestiu uma bermuda cinza e uma camiseta azul que havia no pacote que Fantine tinha lhe dado. Voltou a se deitar na cama,só iria descer quando pelo menos um de seus amigos estivessem acordados.

Ficou olhando para o teto,os braços cruzados atrás da cabeça, e ele refez toda a conversa que ouviu.

Fantine e Cosette pareciam aprovar que os dois ficassem juntos,ele até disconfiava que elas sabiam do beijo que havia acontecido entre eles. Mas será que Éponine contou ou elas tinham visto?

Ele ficou com a segunda opção,já que na conversa Éponine ficou visivelmente irritada com a insinuação de que eles haviam se beijado.

Será que ela se arrependia de ter pedido para ele beijá-la? E agora não queria nem mais vê-lo na sua frente?

Courfeyrac fez um movimento brusco que obrigou Enjolras a desviar o olhar do teto para ver se o amigo estava acordando,mas ele apenas estava se arrumando no colchão.

Courfeyrac...

Éponine havia beijado Courfeyrac e os dois continuavam amigos,como se nada tivesse acontecido. Mas para os dois fora uma a coisa sem importância. Courfeyrac não nutria sentimentos estranhos por ela. Mas Enjolras sim.

Ele então percebeu,que quando Éponine beijou Courfeyrac,os dois estavam do lado de fora do Café Musain,sobre as estrelas. Igual eles dois na noite anterior.

Enjolras riu sem humor nenhum ao perceber,que Éponine devia contar aquela história para todos os caras,na intenção de fazê-los se sentirem especiais por ela estar confiando neles. Então logo em seguida pedia para ser beijada.

Para ela nunca tinha importância. Para ela era apenas um jogo. E ela havia marcado mais um ponto.

Enjolras desejava que sua descoberta não passasse  de uma mentira criada por seu lado racional,que não queria que ele tivesse sentimentos estranhos. Mas até seu lado emocional,por mais que lutasse,estava quase concordando com a teoria do lado racional.

E nesse linha de raciocinio,e enquanto ia contando quantas linhas que tinha no teto e ouvindo a respiração pesada dos amigos,e alguns roncos produzidos por Grantaire, Enjolras acabou dormindo novamente.

Quando acordou,Enjolras não sabia quanto mais tempo havia dormido. Ao abrir os olhos deu de cara com um pênis,com os olhos cerrados olhou para o dono daquilo e encontrou,que surpresa, Grantaire inclinado e olhando fixamente para o rosto de Enjolras com um sorriso afetado.

-Galera ele ta bem sim. Ta com uma cara de retardado mas acho que isso é normal.

Enjolras se sentou e esfregou os olhos,enquanto Grantaire ia em direção da janela. Courfeyrac estava sentado no colchão ainda tentando acordar e a porta do banheiro estava fechada.

-O que aconteceu?- Enjolras perguntou.

-Todo mundo acordou,menos você e você meio que tava gemendo,então pensamos que você podia estar passando mal... Na verdade o Combeferre achou mas... A locomotiva dele tava avisando ia sair. Então ele foi correndo castigar a porcelana e eu como sou um amigo muito legal fui ver se estava tudo certo contigo.

Grantaire terminou de falar abrindo a janela e saindo para o pequeno balcão.

-Grantaire acho melhor vestir uma roupa- Enjolras aconselhou. Se alguma das garotas o vissem,ou até pior Fantine e Valjean,iriam expulsar todos sem nem pensar duas vezes.

-O pai da Cosette já não gosta de mim mesmo- Grantaire falou ainda no pequeno balcão,sem dar muita importância.

A porta do banheiro se abriu. Enjolras e Courfeyrac,que estava muito quieto e pensativo, olharam e Combeferre saiu de lá com um sorriso.

-Nunca digam que eu nunca aconselhei vocês.- ele falou levantando o dedo indicador.

Courfeyrac franziu a testa.

-Mas você nunca aconselhou a gente. Nunca mesmo.- ele falou com a voz preguiçosa de sono.

-Eu aconselho vocês não entrarem no banheiro agora.-ele apontou para a porta do banheiro que estava fechada.- E você ta bem?- ele perguntou olhando para Enjolras que assentiu com a cabeça.

-Nossa cara! O que você comeu?!- Courfeyrac saiu correndo e gritando,batendo a porta do banheiro, muito bem acordado de repente.- Parece que tem alguma coisa em decomposição ali dentro!- ele se abanou.

Combeferre deu de ombros.

-Eu avisei para não entrarem no banheiro agora...

[...]

Quando já estavam todos, devidamente vestidos, arrumados e... usado o banheiro, decidiram descer.

-É eles tem dinheiro pra dar... Será que eles não querem me dar metade do dinheiro deles?- Courfeyrac perguntou enquanto admirava a casa.

-Que deselegante, Courfeyrac!- Grantaire o repreendeu e todos olharam  surpreso para ele- Traz um papel de adoção e pede pra eles assinarem. Não viu aquela pequena peste loira? Quando eles morrerem ele vai ser um dos herdeiros.

Enjolras revirou os olhos e Combeferre empurrou Grantaire brincando mas  forte demais, que o fez perder o equilíbrio e rolar escada abaixo.

Os três ficaram no topo da escada boquiabertos enquanto viam Grantaire rolando sem parar. Quando ele chegou no fim da escada, ficou deitada de bruços, a cara virada enfiada no tapete.

-Cara você matou o Grantaire!- Courfeyrac exclamou colocando as mãos na cabeça.

-Acredite: não foi minha intenção.- Combeferre falou tentando esconder o desespero.

-Será que você vai ficar bem de uniforme laranja? Ou será que vai ser aqueles listrados?- Courfeyrac disse pensativo.

Enjolras olhou para os dois amigos e balançou a cabeça em negativa e desceu a escada rapidamente.

-Grantaire- ele se agachou e balançou o ombro do amigo que estava caído.-Grantaire- Enjolras o virou, e ficou com medo que o amigo tivesse se machucado gravemente. Combeferre e Courfeyrac desceram e ficaram olhando.

-Acho melhor a gente enterrar o corpo, ninguém vai dar falta- Courfeyrac deu a sugestão e Combeferre deu um tapa na nuca dele.

-Não seja idiota! Seríamos os principais suspeitos. O negocio é ligar para emergência e dizer para a policia que ele tropeçou e caiu. Ele vive bêbado , eles vão acreditar se todo mundo confirmar.

-Ou nós contamos a verdade e você se fode,já que foi você quem empurrou ele.

-Será que dá para os dois calarem a boca?- Enjolras pediu impaciente,se levantando- Vou chamar a Fantine ou Valjean para eles saberem porque tem uma ambulância vindo para cá.- ele se virou e sentiu alguma coisa segurando seu tornozelo e que o fez cair.

Combeferre e Courfeyrac gritaram e se abraçaram,de forma vergonhosa.

-Ele já voltou pra se vingar! Ele vai te matar cara! Vai te matar!- Courfeyrac  gritava de olhos fechados,abraçado a Combeferre que não acreditava em Deus,mas naquele momento começou a rezar.

Enjolras olhou para Grantaire que tinha um sorriso zombeteiro no rosto por causa da situação toda.

-Seu filho da puta- Enjolras esbravejou puxando o tornozelo que Grantaire ainda segurava.- Achamos que você tinha se machucado.

-Eu sei.- ele riu e se sentou- e isso foi uma prova de como vocês se sentiriam se eu não existisse. Vocês seriam pessoas desesperadas.

Marius apareceu e ficou olhando sem entender nada.

-Eu vou querer saber por que Combeferre e Courfeyrac estão agarrados e por que Enjolras e Grantaire estão no chão?- ele perguntou, e Combeferre e Courfeyrac se soltaram em um pulo e ficaram sem graça. Enjolras se levantou e ignorou a mão estendida de Grantaire. Ninguém disse nada- Acho que isso foi um não.- Marius respondeu- Eu já estava indo mesmo chamar as garotas,porque afinal só vocês ainda não desceram. Vamos, eu mostro a cozinha.

Grantaire cutucou Enjolras.

-Dá pra acreditar que vamos comer de graça dois dias seguidos? Isso daqui é um sonho!

-Você fala como se passasse fome, Grantaire- Enjolras murmurou.

-Cara você é muito chato! Todo mundo ama comida e todo mundo fica feliz quando ela é de graça. Por que você não pode ser igual a todo mundo?

-Porque ele não sabe como é traumático na hora do intervalo,você ver todas as pessoas da escola com lanche e comendo e só você ali excluído , sem nada para comer.

-Quem te disse isso?- Enjolras perguntou em um tom um pouco indignado.

-Eu sei. Te odiava na escola por causa disso. Se você esquecia de levar lanche, ou seu pai passava para deixar dinheiro para você comprar alguma coisa ou sua mãe mandava entregar um lanche para você.

-E você me odiava por causa disso?

-Éramos adolescentes. Temos que odiar as pessoas por algum motivo não?- Courfeyrac respondeu dando de ombros, enquanto eles entravam na cozinha.

Enjolras prendeu a respiração, Éponine estava lá, sentada  enquanto conversava animadamente com todos na mesa. Ela olhou para eles e deu um sorriso se levantando.

-Bonjour, achei que tinham morrido lá.- ela deu um beijo no rosto de cada um e ficou meia sem graça quando deu o beijo na bochecha de Enjolras. Os dois na verdade ficaram e ela se afastou rapidamente dele.

-Acredite. Quase morremos... Augustinne quer uma dica?- Courfeyrac perguntou se direcionando para ela- Joga fora que isso daqui ta estragado- ele apontou para Combeferre.- De verdade, quase morremos com o fedo tóxico ...

-Cala a boca, Courfeyrac!- Combeferre tapou a boca do amigo.

-Vamos,Éponine?- Augustinne ignorou os dois.

-Vamos sim. Venha meus garotos.

-Ir a onde?- Joly perguntou se levantando.

-Pegar nosso leite- Éponine respondeu com um sorriso,enquanto pegava o balde que Fantine estendia para ela.- Eu não podia deixar vocês virem aqui e não levar vocês para tirar leite da vaca para beber.

-Vamos pegar nas tetas da vaca?- Courfeyrac perguntou animado. PEponine assentiu com a cabeça.

-Maneiro!- Grantaire e Courfeyrac falaram juntos e bateram as mãos.

-Eu acho que vou ficar aqui mesmo- Joly falou voltando a se sentar- Desculpe mas acho isso nojento...

-Para de frescura,Joly- Bossuet o fez ficar em pé- Não precisa pegar nas tetas da vaca,mas vai com a gente.

-Será que vocês podem parar de conversa e ir pegar logo o leite?- Fantine perguntou batendo palma para chamar atenção- Eu to ficando com fome.

-Estamos indo.- Éponine abriu a porta e fez sinal para todos sairem.

Já do lado de fora todos seguiam Éponine que ia para o lado do pasto.

Enjolras lembrou que eles fizeram o mesmo caminho na noite anterior. A tenda do casamento ainda estava montada mas quase vazia.

Éponine virou,pegando um caminho diferente do que eles fizeram e caminharam uns bons dez minutos.

-Tem piscinas?- Grantaire indicou animado ao ver as imensas piscinas.

-Não animal. São miragens.- Augustinne respondeu mal humorada.

-Qual o problema,Tinne?- Combeferre perguntou passando um braço ao redor da cintura dela. Ela o empurrou.

-Ih,Combeferre. Não é nada. Desgruda.

Combeferre ficou sem graça e saiu de perto de Augustinne que caminhava do lado de Éponine  que soltou uma risadinha. As duas conversavam sussurrando e bem próximas .

-Como elas conseguem? Eu não consigo falar baixo. Não sei sussurrar .

-Quanto mais a voz é suave , fica mais fácil sussurrar...- Joly começou a explicar.

-Calado. Não é porque eu perguntei que eu realmente quero saber.-Grantaire cortou Joly e apertou o passo,tentando ficar mais próximo das garotas. Augustinne se virou e deu um olhar mortal para Grantaire,que parou de tentar ouvir a conversa das duas.

Eles pararam do lado da cerca, enquanto Éponine abria o portão e pedia para todos entrarem. As vacas pastavam calmamente, como se fossem os animais mais dóceis do mundo.

-Muito bem. Esperem aqui que eu já volto- Éponine pediu saindo do pasto,fechando o portão e saindo correndo.

Enjolras ficou observando-a. Em momento algum ela olhou ou conversou com ele. Tirando o bom dia, minutos atrás. Ela devia estar arrependida, e logo Enjolras se arrependeu. Ele deveria ter levado em conta que ela estava bêbada na noite anterior,provavelmente  quando acordou e se lembrou... isso é se lembrou , estava completamente arrependida.

-Muito bem. Vamos tirar leite... Deixe-me ver qual vaca eu vou querer pegar nas tetas- Grantaire falou esfregando as mãos e olhando para todas as vacas,até que fixou o olhar em uma.- Você é a garota!- falou indo em direção a vaca.

-Grantaire! A Éponine pediu para esperar- Combeferre alertou.

-O que é o pior que pode acontecer? São apenas vacas!

-Deixa ele se ferrar- Augustinne murmurou. Todos ficaram observando Grantaire que estava rodiando a vaca. Ele agachou olhou para as tetas da vaca,depois imitou a vaca mastigando. Por fim foi para trás da vaca e ergueu o rabo dela.

-Olha só Courf...- Grantaire puxou o rabo da vaca e no que ele puxou,em reflexo a vaca deu um coice e saiu correndo assustada. Grantaire segurou o saco e foi se ajoelhando lentamente,ficando vermelho.- Ai meu saco!- ele gritou com toda força- Essa vaca é uma vaca! Filha da puta,desgraçada. Eu mesmo vou matar você e fazer churasquinho.

Ele ficou ali caido no chão,suando e gemendo de dor segurando o saco. Augustinne e Courfeyrac não conseguiam parar de rir. Enjolras tentava disfarçar, Combeferre e Bossuet saíram de perto.

-O que está acontecendo? Eu quero rir também- Éponine reclamou ao chegar perto dos amigos. Ela andou até Grantaire e ficou olhando com cara de desdém para ele.- Ah... Entendi.

-Essa vaca me deixou estéril ! Ai,ai meu precioso.

-Eu falei para não mexer com a vaca- ela o repreendeu e se ajoelhou tirando a mão dele do "precioso"

-O que você está fazendo?- ele perguntou assustado,arregalando os olhos para Éponine.

-Vendo se esta tudo certo com seu "precioso"- ela respondeu naturalmente e Grantaire recuou rapidamente. Enjolras ficou observando a cena sério,enquanto os amigos riam da reação de Grantaire, que se levantava com dificuldade.

-Meu precioso vai ficar bem... Sua tarada! Querendo tirar proveito da minha situação. Se você não fosse minha amiga eu até poderia te mostrar meu rojão precioso... Mas não é certo pegar amiga.- Grantaire disse enquanto se afastava, andando de pernas abertas devagar. Éponine apertava os lábios, segurando a risada.

-Muito bem. Já que você não vai me mostrar o seu  “estralinho”...- Éponine ironizou,enquanto pegava a corda que ela tinha deixado de lado.- Vamos tirar o leite da vaca. Quer escolher Grantaire?

-Não. Estou bem aqui. Apenas observando.- ele respondeu se encostando na cerca.

Éponine deu de ombros e andou até a vaca mais próxima.

-Em primeiro lugar, temos que amarrá-la aqui- ela amarrou a vaca na cerca- E depois amarrar as pernas traseiras para ela não se mexer, e sair dando coice. Por isso pedi para vocês esperarem.- ela explicou lançando um olhar para Grantaire- Agora vocês pegam e fazem esse movimento para tirar o leite- ela mostrou e os outros observaram- Muito bem. Quem quer ser o primeiro?- Ela se levantou,colocou as mãos na cintura e olhou para os amigos.- Vamos Courfeyrac.

-Por que eu?

-Porque eu quero. Ande.

Courfeyrac  se agachou e começou a apertar  as tetas da vaca.

-Não ta saindo- ele reclamou.

-É porque você não está fazendo direito. É assim- ela se agachou  e segurou nas mãos de Courfeyrac o ajudando a tirar o leite.

Courfeyrac começou a rir enquanto tirava o leite. Grantaire se aproximou observando e logo puxou o amigo dali para tentar tirar o leite.

Grantaire fez alguma piada sobre estar pegando nas tetas da vaca, e espirrou um jato de leite na cara de Combeferre que estava distraído. Depois Courfeyrac abriu a boca e Grantaire começou a tentar acertar o leite dentro.

Enjolras voltou para a casa, sem ninguém perceber. Não se sentia no clima,e já não tinha mais vontade de estar ali. Queria poder se trancar no quarto e ler um de seus livros, encher sua mente com alguma coisa que não fosse Éponine e a noite anterior.

Fantine estava na varanda, de mãos dada com Valjean, conversando tranquilamente,os dois sorriam de forma terna um para o outro. Eles olharam para Enjolras que estava subindo a escada, ele os cumprimentou, Fantine deu um sorriso encorajador para ele,e Valjean apenas o olhou como se o estudasse.

-Mas já voltou,Enjolras?- Marius perguntou, ele estava sentado na sala com Cosette. Enjolras olhou ao redor.

-Bem... eu acho que sim.

-Está tudo bem?- Cosette perguntou para ele.

-Está sim,só to com um pouco de dor de cabeça.

-Deve ser fome- Cosette falou se levantando.- Eu também estou faminta. Vamos preparar o café porque até esse leite chegar, já vai estar na hora do almoço.

-Você vai preparar. Porque Enjolras e eu aqui somos uma negação na cozinha.- Marius se levantou segurando na mão de Cosette que sorriu para ele.

-Então não sei como você  vai sobreviver já que eu também não sei cozinhar.

-Como não? Por que eu não fui avisado sobre isso antes?- Marius perguntou em um tom indignado e deu um beijo em Cosette. Enjolras ficou sem graça com aquilo, Até que Cosette pareceu se lembrar que ele estava ali e se separou de Marius, vermelha de vergonha.

-Pardon, Enjolras.- ela pediu sem graça dando as costas para eles e  indo para a cozinha.

Marius colocou uma mão no ombro de Enjolras.

-Você quer ir pra cozinha?

-Na verdade... eu estava pensando em ir para o quarto. Ficar um pouco sozinho.- Enjolras respondeu e Marius assentiu com a cabeça como se entendesse.

-Venha, tem um lugar aqui que você vai gostar. Talvez faça você se sentir melhor- Marius fez sinal para que Enjolras o seguisse. Eles entraram em um longo corredor e Marius abriu a terceira porta e entrou.

Ali era uma biblioteca. As paredes cheias de livros.

-Faça bom proveito- Marius falou saindo fechando a porta e deixando Enjolras olhando para tantas estantes com livros.

Ele começou a andar e a ler os titulos, a passar os dedos por tantos livros, alguns empoeirados, não que ele se preocupasse com isso. Adorava cheiro de livros pedindo para serem lidos. Finalmente encontrou um livro que lhe atiçou a curiosidade. Ele se sentou atrás da mesa de madeira antiga e naqueles instantes ele conseguiu preencher sua mente com outra coisa.

Enjolras estava entretido em sua leitura, ele havia achado um bloco de papel e lapis para ir anotando tudo,como de costume, quando escutou a porta abrindo.

-Ahá! Achei você- Éponine falou em uma voz animada,ela havia trocado de roupa e seus cabelos estavam molhado. Enjolras percebeu que ela havia acabado de sair do banho.- Te procurei pela casa inteira. Então achou a biblioteca?

-Na verdade foi Marius quem me trouxe aqui- Enjolras respondeu fechando o livro e destacando a folha de anotações.

-Você sumiu lá do pasto. O que aconteceu?- ela perguntou torcendo as mãos,mordendo o labio inferior e encarando Enjolras.

-Eu não estava me sentindo muito bem, decidi voltar, sabe para não ser chato e estragar a diversão- ele explicou e deu um leve sorriso, enquanto dava a volta na mesa,parando de frente para Éponine.

-Entendi- ela murmurou e os dois ficaram em um silêncio constrangedor, Éponine olhava para o chão.- Me desculpe por ter saído daquele jeito da cozinha, hoje mais cedo... Você sabe como eu sou mal humorada pela manhã- ela soltou tudo em um sussurro rouco e envergonhado, terminando com um sorriso envergonhado. Enjolras nunca tinha visto Éponine sorrir daquele jeito envergonhado, ela sempre tinha aquele sorriso confiante ou provocativo, mas nunca um envergonhado.

Ele deu de ombros.

-Tudo bem. Eu entendo.

-Bom o café da manhã/almoço, está pronto. Venha comer que você deve estar morrendo de fome.

De fato ele estava com fome.

-Que horas são?- Enjolras perguntou se lembrando que não fazia idéia de que horas eram desdo momento que se levantou. Éponine olhou para o lado e entortou a boca, como se estivesse tentando se lembrar.

-Acho que já são 13:00 ou mais. É demoramos mesmo... Que livro estava lendo?- Éponine perguntou saindo para o corredor e fechando a porta atrás de si.

-Don Juan. Eu sempre quis ler a versão original,mas nunca achei e seu pai tem aqui.

-Valjean tem muitos livros antigos, ele não gosta de nada muito moderno. Foi ele que me ensinou a gostar de musicas antigas.- ela falava gesticulando, sem olhar para Enjolras- Olha só quem eu achei!- anunciou ao entrar na cozinha.

Todos estavam sentados ao redor da mesa, de cabelos molhados. Grantaire já estava comendo e Fantine colocava a mesa.

-Ah Enjolras! Você deve estar com fome. Que vergonha.- Fantine falou colocando uma mão para esconder o rosto- Assim você não vai querer mais voltar aqui. Mas olha não é sempre que a comida atrasa, viu?

-Quem disse que ele vai voltar aqui?- Valjean perguntou ranzinza do canto da cozinha,e Fantine lhe lançou um olhar mortal.

-Ora! Eu posso muito bem convidá-lo. Ele pode voltar aqui com os amigos e Ponine...

-Não se preocupe, Fantine. Eu entendo que as coisas estão bagunçadas hoje. Sem problemas.- Enjolras respondeu se sentando ao lado de Combeferre.

-Enjolras você perdeu.- Grantaire falou animado com a boca cheia de comida- Fizemos guerra de leite, daí tivemos que tirar tudo de novo,e eu comecei  a espirrar leite direto da teta da vaca neles. Daí eu te procurei,mas você se mandou!

-Vai ver eu previ que isto ia acabar acontecendo- Enjolras respondeu se servindo.

-Com tanta gente passando fome e vocês desperdiçando alimento- Valjean pragrejou do canto.

-Querido, eles são jovens. Só estão se divertindo. .. Onde está Gavroche?

-Ah ele e Amelie estiveram aqui mais cedo, atacaram a geladeira e foram para a sala de jogos- Cosette respondeu dando pão na boca de Marius.

Quando eles terminaram de comer, foram todos para fora. Enjolras já se sentia melhor. Eles andaram até o celeiro, onde Éponine e Cosette  ensinaram  a todos como celar e a montar nos  cavalos. Grantaire julgou que não precisava de ajuda e tentou montar sozinho,e montou ao contrario e a égua, Bonnie, saiu correndo em disparada. Nenhum dos amigos se preocupou em acudir o amigo,já que minutos depois ele voltou encharcado dizendo que tinha sido jogado no lago. Éponine montou em Charlie junto com Courfeyrac, Enjolras montou em Loteria e foram todos para o campo aberto onde poderiam correr com os cavalos. Ficaram um tempo montando, até que o calor se tornou insuportável e foram para piscina, onde se jogaram na água de roupa e tudo sem se preocuparem. O dia havia passado rápido demais e logo eles já teriam que entrar novamente, para na manhã seguinte voltar para quente, poluída e adorável Paris.

Enjolras ficou sentado, relendo suas notas sobre o livro que havia começado a ler mais cedo.

-Venha nadar, Enjolras- Gavroche apareceu pingando na sua frente, com Amelie do seu lado.- Ta todo mundo se divertindo. Não fica aqui isolado não.

-Éponine pediu para a gente vir te chamar- Amelie se inclinou na direção de Enjolras e sussurrou.

-Amelie não era para dizer que a Ponine pediu para vir chamá-lo.

-Pardon, mas eu achei que assim ele iria- ela respondeu envergonhada.

-Então você vem?

-Não, Gavroche. Eu não gosto de piscina, não gosto de nadar.

-Como não gosta?!- Amelie perguntou horrorizada.

Enjolras deu de ombros e riu da reação exagerada da garotinha.

-Eu não sei nadar.

-Mas dá pé para você.- Gavroche apontou para a piscina e Enjolras olhou.- Mas já entendi. Você não quer ir vamos,Amelie- ele deu de ombros e pegou na mão de Amelie e deu as costas para Enjolras. Os dois sorriam como se soubessem de alguma coisa que ele desconhecia, até que se sentiu sendo levantado do chão, olhou para os lados e viu Grantaire e Courfeyrac o carregando e quando se deu conta já estava dentro da piscina e todos riam. Grantaire e Courfeyrac pularam espirrando água para todo lado. Amelie estava montada nas costas de Éponine que sorria.

Enjolras passou a mão pelos cabelos, os colocando para trás e deu largas braçadas, tentando pegar Courfeyrac e Grantaire,mas por não saber nada, acabou desistindo. Depois de um tempo eles montaram times de garotas x garotos e inventaram um jogo. Nenhum deles de fato entendeu as regras que haviam inventado,mas o objetivo era ver quem conseguia tentar afogar  alguém mais vezes. Os únicos poupados foram Gavroche e Amelie que ficaram emburrados por terem sido excluído da brincadeira. Sempre que um era afundado, quando voltava a superfície rindo igual tonto e soltando algum palavrão. Combeferre saiu da piscina e pulou em Grantaire que desprevinido, afundou e engoliu um monte de água, e voltou quase morrendo de tossir a superfície. E assim eles ficaram por um bom tempo, um puxando a perna do outro, pulando nas costas do outro,  e todo método de tentar afogar. Sim até Enjolras participou da brincadeira, e depois que ensinaram ele como prender a respiração debaixo da água, ele puxou a perna de Éponine que deu um grito e fundo, e quando surgiu de volta jogou água nele e prometeu que iria se vingar.

Mas ela não teve tempo, já que Fantine apareceu,dizendo que já era hora das crianças entrarem para irem tomar banho. E como crianças, eles reclamaram, esperniaram e pediram mais cinco minutos.

-Nem mais, nem menos. Andem saem logo daí. Não me façam voltar aqui de novo, ouviram? Se não irei trazer a senhora cinta do Valjean. Vocês a conhecem? Não? Então não queiram conhecer!- Fantine falou em um tom autoritário de brincadeira e se virou para voltar para a casa. Ela nunca havia erguido a mão para bater em ninguém, nunca bateu em Cosette, nem ela e nem mesmo seu marido.

Os amigos ficaram mais um pouco na piscina, dessa vez em silêncio, cada um perdido em seu pensamento, como se a muito tempo não estivessem naquele lugar de sua mente. Cada um com um olhar perdido, mas todos com a mesma expressão. Como se talvez eles soubessem que poderiam não haver mais momentos como aqueles, e tudo que eles queriam era aproveitar que estavam juntos. Naquele momento eles pareciam crianças, pensando em como  seria o futuro, e se eles permaneceriam todos juntos quando crescessem , e com medo de que isso não acontecesse, que alguma coisa os separasse.

Enjolras foi o primeiro a sair do transe,e olhou para os amigos, para o rosto de cada um, e pela primeira vez, agradeceu por ter conhecido cada um. Mesmo que as vezes tirassem ele completamente do sério, e as vezes só sabiam brincar, Enjolras percebeu que não conseguia imaginar amigos melhores, eram tão diferentes mas era isso que os unia,a paixão por alguma coisa diferente era o que lhes mantia juntos. Pela primeira vez, Enjolras entendeu por que diziam que amigos é a família que Deus nos permite escolher, mas diferente da família, os amigos te aceitam como você é. Enjolras permaneceu em silêncio dando o tempo que seus amigos precisavam.

Um barulho entre as árvores, chamou a atenção de todos, e eles se olharam como se estivessem se vendo pela primeira vez, olhando com atenção para o rosto um do outro. Começaram a sair lentamente da piscina e a pegar seus pertences que estavam do lado da piscina. Pegaram as toalhas que Fantine havia deixado ali e começaram a secar o excesso em profundo silêncio.

-Sabem? Eu só tenho amor por vocês- Grantaire falou quando eles já estavam chegando na casa.

Éponine olhou para ele e parecia a ponto de querer chorar  o abraçou fortemente, sem dizer nada e saiu correndo casa a dentro.