Naquela manhã, avistei Natsu e Lucy discutindo sobre um trabalho que fariam. Ouvi algo como “Espera... se vão participar de um baile, vocês precisam aprender a dançar!” vindo da boca da loira. Alguns minutos depois, a guilda inteira estava reunida para ver as aulas de dança do Natsu, e em menos tempo ainda, todos estavam dançando, ou quase todos, pois Elfman estava apenas rodopiando nos braços do “Demônio da dança”.

Eu apenas admirava a dança de Wendy e Warren, era compassada e graciosa, ambos eram muito bons. Outros que se destacavam ali eram Romeu e Kinana, brilhavam tanto quanto o outro par. Me divertia assistindo o belo show de passos, até que a figura ao meu lado me chamou a atenção.

- Hei, Levy! – Gajeel disse tentando chamar minha atenção.

- O quê?! – Perguntei meio incrédula por pensar no que ele poderia dizer, considerando que metade da guilda já estava com seus pares.

- Só para você saber, eu não vou dançar! – Pronunciou um pouco agitado.

- E quem foi que te pediu!? – Exclamei no mesmo tom de voz dele. O que eu tinha na cabeça para ter a mínima esperança de algo como isso acontecer?

Ele apenas se virou de costas

, como se dissesse que não ligava. Logo após seu ato, Jet e Droy se apressaram para me convidar, e consequentemente entraram em um jogo de “eu convido ela”. Prestava atenção na discussão, apenas esperando eles chegarem a um empate e sobrando para minha pessoa dançar com os dois. Enquanto ainda estava entretida com a briga, senti fortes braços me segurando por trás, e logo depois me puxando para a pista. Quando dei por mim, Gajeel estava com uma de suas mãos em minha cintura, e a outra estendida, em um silencioso convite. Assim que nossas mãos se encontraram, começamos a dançar.

- Eu acho que não tenho escolha, se você insiste... – Disse ele com um ar indiferente.

- Mas eu não disse nada... – Falei, estragando com a graça dele.

 Com o canto dos olhos, via os dois que antes brigavam, agora exclamavam: “O que é isso?!”. Por um momento, fiz a pergunta a mim mesma e não obtive resposta. Seria isso algum sentimento...? Não, ele só me chamou porque não havia mais ninguém disponível e eu fui forçada, com certeza.

Já estávamos dançando a mais de 10 minutos, o que era bastante, considerando que Gajeel não tinha uma estatura corporal adequada para ser meu par e ficava pisando no meu pé de dois em dois minutos, sempre com a mesma desculpa que não os viu por serem muito pequenos.

- Gajeel-san, meus pés já estão doendo, não sou tão forte para aguentar o peso de seu pé quando pisa no meu... – disse em um tom de dor.

Percebi que ele hesitou algumas vezes, mas depois de tomar coragem, simplesmente me levantou e colocou-me sobre seus pés, bufando, e logo após dizendo:

- Como você pode ser tão fraca e entrar no exame “Classe S”? Acho que só sobreviveu por minha causa. – Se vangloriou de olhos fechados, pois quando os abriu e viu minha face surpresa, seu ar de superior sumiu, e no lugar dele, uma pequena e quase transparente cor avermelhada cobriu suas bochechas. Percebi várias tentativas da parte dele de esconder que estava corado, todas sem sucesso.

Sem mais o que conversar, apenas continuamos a dançar, se é que se pode chamar isto de dança, tudo o que fazia era manter o meu equilíbrio sobre seus pés, o que não era difícil com suas fortes mão agarrando a minha cintura. Por mais que não estivéssemos realmente dançando, era uma situação confortável. Mas como não podia sair dessa sem “tirar uma lasquinha”, me debrucei sobre seu peito, quero dizer, tórax, já que não conseguia alcançar a região peitoral.

 - Hum... – Percebi que seu coração havia começado a bater mais forte... Isso significa alguma coisa? – E-ei... – Ele balbuciava algo, mas só pelo tremor em sua voz, era possível ver que estava, no mínimo, envergonhado com a situação. Tive um pouco de dó, mas por que não tortura-lo um pouco, já que disse que eu era fraca?

 Fui movimentada por mais algum tempo, até que já podia ver o sol se pôr no horizonte, chegamos a uma hora onde Lucy, Natsu, Erza, Gray e os outros já haviam partido e as aulas de dança já haviam acabado, porém, nenhum mago ousou parar de dançar, por um tempo.

 Aproximadamente uma hora depois, todos da guilda já estavam cansados, com exceção minha, portanto resolvemos que seria melhor ir descansar em casa. Quando já estava recolhendo meus pertences, ouvi a voz do Mestre ecoando pelo lugar dizendo:

- A todos os magos e magas aqui presentes, quero anunciar que hoje, a partir das 22:00, teremos um baile na guilda, já que todos adoraram o que fizemos de improviso. – Deu uma pequena pausa, afim de notar nossas reações. Aparentemente, todos haviam ficado felizes com a notícia.

- Pergunta: Não seria melhor que Natsu e o grupo dele estivessem aqui também? – Questionou Freed.

- Bom, como posso explicar isso... – Tentou responder o Mestre, em procura de palavras certas. – Digamos que há uma certa mulher de cabelos vermelhos que dança muito mal e arrasta outras pessoas para sofrerem com ela, e queremos evitar um baile sem acidentes, certo? – Pôde-se ouvir murmúrios positivos na sala após a sua fala. Todos já estavam novamente rumando para a saída, até que ele completou a fala. – Como uma dica de pai, diria que seria melhor se convidassem alguém agora! Boa sorte, filhos!

E então, pela direita, esquerda, pelo meio e por trás, as pessoas começaram a convidar seus parceiros. Quase todos os pares do “quase baile” se repetiram, exceto por aqueles que, por exemplo, formaram par com a Erza. Percebi alguns que nunca imaginaria, como: Freed e Mirajane, Kinana e Warren ou Max e vassoura. Ok, talvez eu já suspeitasse um pouco do último...

Mas, afinal de contas, eu não me importava muito com os outros casais, porém estava um pouco certa de que a pessoa que dançara comigo no outro baile me pediria nesse.

Espere... Estou falando de Gajeel! Não há como ele deixar o orgulho dele de lado e simplesmente olhar nos meus olhos e me dizer “Levy McGarden, teria a honra de ir no baile comigo” ou algo do tipo.

- Levy McGarden, teria a honra de ir no baile comigo? – Gelei. Mas a sensação não durou muito tempo assim que vi Jet. Logo depois, Droy repetiu a mesma coisa, e começaram o joguinho de “eu levarei ela”/”não, eu!”. Aonde estava com a ideia de que Gajeel me convidaria? As vezes acho que não sou tão inteligente quanto falam. Apenas encerrei a discussão deles dizendo que iria com ambos, e eles revezariam a vez de dançar comigo, claro, de uma forma mais doce do que a que eu pensei.

Ainda tinha 4 horas para a festa, então apenas rumei até Fairy Hills, segundo andar, primeira porta. Mais especificadamente, o meu quarto. Não era uma menina tão vaidosa assim para me arrumar por mais de duas horas, então simplesmente deitei na cama, programei um despertador para às 21:00, e fui tirar uma soneca, já que provavelmente ficaria até altas horas no baile.

Em meus sonhos, revivi a minha cena de dança com o Dragon Slayer. Pude sentir novamente aqueles fortes braços e definido tórax. Deitava novamente minha cabeça em seu abdômen, e fechava os olhos, sem ter nem que me preocupar em mover meus pés.

Teria ficado debruçada por uma eternidade nele, se o irritante “bip bip bip” do meu despertador não nos atrapalhasse. Mas ainda me sentia confortável, sabendo que pude sentir a sensação de “dançar” com ele mais uma vez. Sem mais esperanças de voltar a dormir e sonhar de novo com a mesma coisa, me levantei e fui me banhar.

Em pouco mais de 20 minutos, já estava limpa e com o cabelo seco. Enrolada em uma toalha, comecei a indagar que roupas as outras garotas usariam. Sem achar uma resposta muito óbvia já que seria um baile de uma noite, sem nenhuma comemoração especial, apenas fui procurar pelas outras garotas.

Por sorte, ninguém notaria se alguém saísse de toalha pelo dormitório, afinal era composto só por garotas. Mas como não gosto muito de andar sem roupas de baixo, tive sorte em encontrar Mirajane quase em frente ao meu quarto. Só por minha cara, já pôde prever o meu pedido, dizendo um fofo “Claro que eu te ajudo!”.

Entramos no meu quarto e começamos a checar meu guarda roupa. Após várias roupas descartadas, Mira julgou ter achado o vestido perfeito. Já havia muito tempo que não o usava, mas estava como se fosse novo. Era um vestido simples. Laranja, com alguns poucos babados e rodado. Era sem manga, e suas alças eram meio finas. Uma delas possuía uma flor rosa claro, e sua saia tinha uma parte da mesma cor.

Pronto. Finalmente poderia me juntar as meninas e ir até a guilda. Quando desci as escadas e as observei, percebi que nenhuma estava com um vestido muito extravagante. Me senti até um pouco constrangida ao ver que todas tinham belos peitos para combinar com decotes. Será que eu deveria cogitar a ideia de usar bojo...? Bom, de qualquer jeito, isso não importa, não teria ninguém lá que eu quisesse impressionar mesmo...

Já havíamos andado metade do caminho até Fairy Tail quando notei que tinha esquecido minha bolsa em cima da mesa. Disse para elas não me esperarem e irem na frente. Elas concordaram e foram andando, enquanto eu descia apressadamente a estradinha que me levaria de volta à Fairy Hills.

Estava a um pouco menos de duas quadras do dormitório quando senti imensos braços me levantando, e grandes mãos cobrindo minha boca. Droga! Só porque me afastei das meninas alguma coisa tinha que acontecer comigo!

Me mexia desesperadamente, tentando me soltar da figura misteriosa, o que me deu uma pequena brecha para morder seu braço, que estava a poucos centímetros da minha boca. Sem pensar duas vezes, o fiz, me arrependendo na mesma hora. Meus dentes se chocaram contra... Aço?

Espera um pouco... Aço?!  Não, não pode ser...

- Ai! – Gajeel gritou de dor, me soltando no chão. Enquanto ele massageava o braço vermelho e marcado por dentes, eu estava sentada atônita no chão me perguntando por que ele havia tentado me sequestrar. – Você pode ser pequena e fraca, mas seus dentes devem ser de ferro! – Ele estendeu o braço para mim. – Vê? Você conseguiu dobrar meu piercing!

- Você mereceu! Estava tentando o quê? Me raptar?! E por que não me encontrou no baile, sendo que você ia?! – Nessa última fala, apontei para a roupa social dele, o que o entregava na questão de comparecer ou não no evento.

- Tá, da próxima vez acho uma forma de te chamar atenção, acabamos a discussão aqui. –  Ele disse cheio de si. Bufei e virei a cabeça, não aguentava mais olhar para aquele ser. – Anda, para de ser chata! Me da a mão logo! – Disse estendendo a mão para mim. Como não queria mais me sujar, peguei a mão dele e levantei. Mais um ato do qual me arrependi.

- Ai... – Minha vez de gemer de dor.

- O que é agora? – O senhor educação perguntou no mesmo tom entediado de sempre.

- Acho que... o meu pé... – Continuei gemendo de dor, mesmo que meu ego não gostasse muito. – A-acho que eu torci ele...

- Poxa, mas você só sabe me causar confusão, hein?! – Disse, me levantando e me carregando em direção a floresta como se fosse uma princesa. Por minha segurança, entrelacei meus braços em seu pescoço timidamente.

- Para onde você está me levando? A festa fica subindo a rua, e Fairy Hills descendo-a. – Estava realmente confusa sobre a situação, mas também não acreditava que ele me respondesse de verdade.

- Você verá... – Ele disse, exatamente como eu esperava que ele fizesse.

Apenas continuou andando por mais algum tempo, que foi o suficiente para ter afrouxado meus braços e encostado a cabeça em seu peito. Então deitar no peito é tão bom quanto deitar no tórax... No que eu estou pensando!? Acho que o perfume dele já está começando a modificar meu cérebro a ponto de não conseguir pensar racionalmente. Aliás, que perfume...

Já estava começando a pegar num sono, mesmo tendo dormido a pouco tempo atrás, até que ele parou. Levantei a cabeça afim de saber onde estávamos, e para minha surpresa não tínhamos nem sequer saído da floresta.

Ele me colocou sentada em uma pedra e me pediu que esperasse. Começou a procurar alguma coisa, logo depois dizendo um “pode começar” a alguém que estava, até então, atrás de uma árvore. A tal pessoa saiu, tocando uma romântica música em um violino.

- Só para você saber, eu não vou dançar! – Disse com um sorriso irresistível no rosto, me pegando no colo outra vez e me colocando sobre seus pés. Então, começamos a “dançar” mais uma vez, só que agora, era mil vezes melhor.

- E quem foi que te pediu? – Segui sua linha de ação, recitando as minhas falas docemente. Sentia uma pequena brisa, e a mesma fez meu cabelo cair sobre meus olhos. Gajeel os tirou colocando gentilmente a mão sobre meu rosto, e mesmo após tirá-los, continuou com a mão lá.

- Eu acho que não tenho escolha, já que você insiste. – E com essa fala, seus lábios tocaram gentilmente os meus em um longo selinho. Não demorou muito e sua língua pediu passagem, e eu cedi de imediato. Nossas línguas dançavam tanto quanto nossos pés, ambos em ritmos apaixonantes. Interrompemos o beijo por falta de ar, e eu completei com a última fala de nosso diálogo.

- Eu não disse nada... – Senti que faltava algo na frase depois daquela cena, então completei: - Mas você leu meus pensamentos e desejos.

Ele me beijou, vezes e mais vezes, acompanhando o ritmo de nossos corações, que ansiavam por aquele momento. Dançávamos as mais românticas músicas e explorávamos cada pequeno espaço de nossas bocas. Não havia como ficar melhor. Os outros podem ter tido o melhor baile do mundo, mas nada vai se comparar ao nosso, onde tínhamos a luz da lua ao nosso favor, um violino a nossas ordens e a boca um do outro.