A Lei da Queda e da Ascensão

Era até mesmo difícil de acreditar, mas Tudo já havia sido algo próximo de um ser humano. Isso havia sido há muito tempo, é claro. Atualmente, ele era pouco mais do que a água em sua própria essência, mas todas as coisas tem que vir de algum lugar, e antes de ser um pálido, antes de ser um translúcido, e um pouco antes de sua falha tentativa de ser um transparente... Tudo era um opaco. Um patético opaco, é claro. Um patético, muito patético e muito cheio de carne, opaco. Corpóreo como todos o que ele agora, em sua essência tão líquida como os golfinhos do Mar dos Líquidos, ele despreza.

Mas ele não é grande coisa. Não é mais do que uma criatura rejeitada pela Imperatriz – um filho rejeitado pela sua própria mãe inconstante; tão patético quanto um Golem de Neve que Gélida rejeitou.

E, enquanto ele sobrevive, enquanto ele respira-não-respirando, guiando os Caminhantes em direção ao último estágio antes do Palácio da Imperatriz, ele se contém em chafurdar sua própria miséria, rolar na lama de sua desgraça, paralisado em sua eterna posição de água – corpóreo demais para seguir em frente, etéreo demais para retornar para onde viera.

Eterno. Preso por uma eternidade infinita naquele Mar de Líquidos, até que tudo que reste seja o pó dos ossos dos opacos, e o riso sem fim dos Etéreos.