Never Let Me Go escrita por patch


Capítulo 9
Agora, Arque Com As Consequências...




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— Ele está fribrilando — rosnei, aspirando a boca e o nariz do bebê.

Eu não estava preparado para perdê-lo. Eu meio que tinha me apegado a ele. Ele era um verdadeiro guerreiro. Havia nascido de uma gestação de 25 semanas e resistiu por mais três na incubadora e nunca tinha ameaçado desistir, até então. Sua mãe sofreu de incompetência cervical — ela conseguiu aguentar a gravidez até certo ponto, então seu corpo começou a ‘rejeitar’ o bebê para fora dele, fazendo-a correr às pressas com o marido ao hospital, alegando que estava em trabalho de parto prematuro. Apesar do risco, conseguimos resgatar a criança à tempo e incubá-lo até que estivesse pronto para respirar por si só.

— Não desistam — enrijeci, massageando o peito dele delicadamente. — Se eu ver alguém de braços cruzados, eu vou imediatamente dispensar seus serviços. — Mirei cada rosto que estava presente naquela sala. Enfermeiras distintas arrumaram a postura e foram correndo me auxiliar. Jo estava comigo.

Se você não estivesse se pegando com uma interna no elevador, talvez você tivesse chegado a tempo para saber que havia algo de errado com esse inocente bebê, meu subconsciente deduziu.

Cara... Por favor, agora não, retruquei.

— Dra. Wilson, coloque nele a máscara de ventilação, o mais rápido possível — consegui me acalmar um pouco, mesmo ouvindo o beep ensurdecedor da máquina que dizia que eu estava perdendo-o.

Jo fez o que pedi e juntos, tentávamos salvar a vida daquele bebê indefeso. Ele não tinha mais que 20 cm e 500gr. Cabia na palma da minha mão. Continuei massageando seu tórax, enquanto Jo não parava de ventilar seus pulmões. Uma hora ele teria que responder.

Cinco minutos se passaram. Nada. Eu entrei em desespero. O que eu iria falar para aqueles pais na sala de espera? Que não consegui salvar o filho deles? Que eu não fui bom o bastante para fazê-lo melhorar e permanecer vivo? Não, eu não podia me render.

— Injetem-no uma pequena dose de adrenalina. Essa é a nossa última chance... — sibilei.

— Alex — Jo pegou no meu braço e me surpreendi com o toque dela. —, ele se foi. Deixe-o ir. Ele estava sofrendo. Talvez seja melhor assim.

— Não — adverti. — Ele pode muito mais que isso. Se sobreviviu desse jeito por tanto tempo, tem forças para continuar lutando.

Massageei-o com um pouco mais de força. As enfermeiras me encaravam, me julgavam, cochichavam. Não gostei daquilo.

Parei.

Eu sabia que tudo estava perdido.

— Declare — falei, amargo.

— Hora da morte, 19h43 — disse Jo, rouca.

Saí da sala, deixando meu rastro de fúria falar por mim.

As horas arrastaram-se e ainda não passavam das 23h. Meu dia havia sido longo. A pior parte dele foi contar àqueles pais que eu não havia conseguido salvar o filho deles. O dia já tinha começado a ficar ruim, quando permiti me levar por aquele beijo que Jo me dera, na verdade.

Estava sentado no vestiário, em devaneio. Deitei-me no banco e comecei a refletir.

Se eu tivesse chegado 2 minutos antes, eu poderia tê-lo salvo. Aquilo tudo fora culpa minha. Eu não tinha que ter me envolvido emocionalmente com Jo. Aquilo era uma prova viva — que ironia —, de que não podíamos ter nada.

Isso foi um sinal, seu babaca. Você não sofreu todos esses anos pela Izzie? Agora que ela está aqui, a trai. É meio desconexo, não acha?, meu subconsciente parecia furioso.

Eu não a traí, ok? Aquilo foi um beijo de despedida, aliás, de algo que nunca aconteceu, respondi.

Até quando, Alex? Até quando você vai se enganar e enganar todos à sua volta?, meu eu interior já estava abusando da minha paciência.

Meu relógio apitou, avisando que já era hora de ir embora. O plantão de Izzie coincidira com o meu, então devia estar chegando para irmos embora juntos. Como um casal que éramos. Não demorou 1 minuto até que ela entrasse pela porta, conversando com Derek, descontraidamente. Pareciam entretidos. Pelo que entendi, eles haviam feito uma cirurgia conjunta em uma senhora que descobrira um tumor cerebral, que felizmente, era benigno e inicial. Pelo entusiasmo dos dois, as coisas deveriam ter se saído muito bem.

— Oi, Alex — Izzie me deu um selinho rápido.

— Oi, amor — retribuí.

— Karev — Derek fez um movimento de cabeça, cumprimentando-me.

— Shepherd — respondi, sem dar muita importância à ele. Virei-me para Izzie. — Vamos? Estou cansadíssimo e essa noite só quero minha cama, meus travesseiros e sonhar um pouco. Algo que não seja sobre hospitais e crianças morrendo.

— Está tudo bem? — Izzie voltou sua atenção para mim, encarando-me.

— Depois eu te explico.

Entramos no elevador e eu já sentia saudades da minha cama, antes mesmo de chegar a deixá-la, na manhã seguinte.

— Você está estranho, Alex. Converse comigo. — Izzie pediu.

— Eu perdi um bebê de 3 semanas hoje. Minhas mãos ficaram atadas, pois quando cheguei na neonatal, ele já estava parando de respirar. Eu... — Me interrompi. — Eu estava conversando com Jo e isso foi o motivo da minha demora.

Izzie abaixou a cabeça, convencendo-se de que não estava escutando aquelas besteiras.

— E sobre o quê conversaram? — Ela perguntou, hesitante.

— Sobre... Como nos sentíamos... Antes de você... Voltar — falei, por fim. — Ela me beijou, Iz. — Confessei. — E eu permiti.

Nisso, o elevador parou e abriu a porta no segundo andar. Izzie e eu olhamos pra frente e não esperávamos pela surpresa. Aquilo era uma complô contra mim, com certeza.

Jo pairou na porta, em dúvida se entrava ou não.

Não entra, não entra, não entra, meus olhos arregalaram-se, suplicando silenciosamente.

Entrou, para o meu pesar, e encolheu-se num canto distante de nós.

— Ah sim... Era só o que eu esperava para a noite ficar completa: a desistente reabilitada, o infiel incubado e a destruidora de lares, assim, encontrando-se nesse impasse depois de um expediente muito exaustivo — o sarcasmo era palpável.  Isso não é simplesmente adorável? — Izzie caçoou.


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Notas finais do capítulo

Izzie divando como sempre! Amo essa mulher ♥

Comentem, favoritem e recomendem minha história, se estão gostando.



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