Never Let Me Go escrita por patch


Capítulo 4
Prazer Culposo




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Entrei no meu Ford Ranger e segui em direção ao hospital. Meu plantão começaria apenas às 18h, então eu estava super adiantado. Fiz hora pra sair da garagem, pois não queria chegar no hospital e ter que cumprimentar cada um. Sim, eu não era uma pessoa muito aberta ou sociável. Eu gostava de ficar na minha, focar no meu trabalho e quanto menos contato eu tivesse com meus colegas, melhor. Exceto com uma pessoa.

Parei o carro na frente de casa e fitei a janela do meu quarto. Izzie estava ali dentro, dormindo... Na minha cama. Como nos velhos tempos. Ela sofreu jetlag e literalmente capotou. A observei dormir a tarde inteira. Toquei seus cabelos, enquanto ela tinha um sonho agitado, pois emitira alguns ruídos estranhos.

Desviei o olhar da janela e foquei nas minhas obrigações. Minha cota já estava cheia para acontecimentos sem o meu consentimento, então não poderia esperar por mais nenhuma surpresa.

O hospital não ficava muito longe de casa. As folhas secas reverberaram quando passei em alta velocidade entre elas. As árvores escureciam a rua, mas não passavam das 17h15. Continuei meu trajeto, imerso em pensamentos.

Quando chegasse em casa na manhã seguinte, eu teria um grande problema chamado Cristina. O seu plantão acabaria em poucos minutos. Portanto, ela iria para casa com Owen e quando fosse ao seu quarto — que ficava no final do corredor —, checaria o meu, como de costume... Só que dessa vez, ela veria Izzie esparramada em meus lençóis. Primeiramente, ela reviraria os olhos e resmungaria algo como “eu sabia!”. Depois, me esmurraria para me ensinar a parar de ser ingênuo.

Mas será que ela estava mesmo certa? E se Izzie realmente tivesse mudado? E se ela tivesse falado sério quando prometeu que jamais me abandonaria novamente? E se?

Cheguei no estacionamento 30 minutos antes do meu plantão começar. Que saco. Deveria ter ficado mais tempo com hm, deixa pra lá, repreendi a mim mesmo quando percebi o quão fácil Izzie me tinha nas mãos. Procurei uma vaga e rapidamente a encontrei, que por sorte ficava próxima a saída do hospital. Meus colegas de trabalho podiam afirmar que eu não pertencia àquele grupo de pessoas que saiam de um plantão com um sorriso de orelha a orelha. Não é porque eu era um cirurgião pediatra, que deveria estar de bom humor 24 horas por dia.

Saí da minha camionete e abri a porta traseira para pegar minha mochila e meu jaleco recém-lavado, quando escutei passos atrás de mim. Virei-me abruptamente e vi a responsável pela minha insônia. Jo, ao contrário de mim, sorria até para vento.

— Olá, chefe! — Ela brincou, fazendo um gesto de ‘sentido’, como se eu fosse o general e ela o soldado. Beijou meu rosto e fiquei arrepiado, mas tentei disfarçar como pude.

— Oi, Wilson! — Disse, abaixando a cabeça.

Você é Alex Karev!!!! Reaja, não seja com fracote. Meu subconsciente esbravejou.

— Você conseguiu dormiu, não é? — Ela quis saber.

— Bem... Algumas coisas aconteceram após a nossa ligação... — Comecei, sendo o mais vago possível. Não queria envolvê-la naquela situação. Eu não gostava da ideia de delegar meus problemas à ela, porque poucos sabiam, mas não era nada fácil estar sob a minha pele.

— O que houve? Algo grave? Você sabe que pode se abrir comigo. — A preocupação era evidente em sua voz. Amoleci. Deveria contar ou não? Meu subconsciente já estava ativo e sorriu, sussurrando: ela se importa com você, cara!

— Aposto que todos os internos fofocam da vida dos atendentes e não venha me dizer que não, por que eu já fui um! — Confessei e ela sorriu, assentindo. — Minha ex-mulher, ela...

Já estava me acostumando a ser interrompido quando tinha algo de importante a dizer. E dessa vez não foi diferente... E o mais irônico é que havia sido pela mesma pessoa, no mesmo dia. O namorado de Jo, Jason, e Cirurgião Obstetra no Grey+Sloan Memorial, parou ao nosso lado e sem descer do carro, convidou-a à ingressar ao veículo, com um gesto rápido e preciso. O Volvo V40 preto reluzia, como se tivesse acabado de sair da fábrica. Minha auto-estima despencou andares quando voltei os olhos para a minha camionete. Simples e de segunda mão.

Jo olhou com seus olhos suplicantes que gritavam “Sinto muito! Que tal se conversássemos depois?” e pulou dentro do carro, sem pensar duas vezes. Jason acenou para mim e cantou pneus no estacionamento.

— Você merece coisa melhor do que esse Jenny Talia, Jo... — disse pra mim mesmo, baixinho.

Bati a porta da camionete com força e fui trabalhar arrasado, para minha surpresa.


Minha visão já estava turva, quando tentei decifrar as horas. Três horas. O sentimento de missão cumprida tomou conta de mim, pois meu plantão havia sido produtivo. Auxiliei a Dra. Robbins em vários procedimentos, mas dois haviam mexido comigo. O primeiro havia sido simples: uma garotinha de 6 anos ingerira a cabeça de uma de suas bonecas, enquanto brincava sem a supervisão dos pais. Ela era tão meiga e inteligente, que fiquei com vontade de sequestrá-la e leva-lá embora comigo. O outro havia acontecido com um garoto de 8 anos — que por sinal, era durão e não chorou nenhuma vez. Ele se queimara com água quente enquanto sua mãe preparava uma xícara de chá. Esse talvez, tenha sido um pouco mais complicado, pois as queimaduras eram de 3º grau, mas tudo ocorreu bem.

Faltavam 15 pra 6h, quando entrei no vestiário e arranquei meu avental. Eu precisava de cama, esperando que dessa vez eu conseguisse pegar no sono! Mais de 24 horas acordado, dá pra acreditar? Cheguei no estacionamento e num piscar de olhos, em casa.

— Não acredito... — disse, incrédulo, descendo da camionete.

Ultrapassei a porta de entrada e sem ter forças para nada, fui para o meu quarto. As coisas começaram a ficar estranhas a partir dali. Os degraus da escada estavam inundados de pétalas de rosas. Pisquei duas vezes e dei um tapinha no rosto para ver se não estava alucinando. Tudo ok, mas elas ainda continuavam ali.

O meu quarto ficava na primeira porta à direita do corredor e estava fechado. Quando o abri, não reconheci aquele cômodo. Era mesmo o meu quarto ou eu tinha errado de porta? Champanhe e duas taças encontravam-se em cima da cabeceira da cama. Morangos e chocolate acompanhavam a bebida. Havia o dobro de pétalas espalhadas no chão e foi então que a encontrei. Izzie estava deitada de lado na cama, apenas com uma camisola preta e muito, muito transparente. A barriga de grávida era quase imperceptível, quando tudo o que eu pensava era na mulher maravilhosa que esperava por mim.

— Surpresa... — ela disse, manhosa. — Eu disse que te reconquistaria, de um jeito ou de outro. Cristina aceitou me deixar ficar por enquanto, depois de muita insistência e quase implorar de joelhos. — Ela abaixou a cabeça e voltou imediatamente, dessa vez, mais confiante.

— Você não acha que é meio cedo para você estar acordada... Assim? — Tentei ignorar meus instintos, mas tudo o que eu gostaria de fazer era agarrá-la e fazê-la minha. Controle-se!!!

— Eu estava esperando o meu marido chegar do trabalho, como qualquer boa esposa faria. — Maliciosa, ela piscou para mim. — Mas o que eu quero saber agora é se você realmente sentiu saudades de mim — Ela sentou-se na cama e deslizou uma alça da camisola sexy. — Sentiu? — Saiu como um pequeno gemido e deixou a outra alça deslizar em seguida.

Ok, aquilo já era o bastante. Larguei minha bolsa no chão e me joguei na cama.


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Notas finais do capítulo

Jetlag: cansaço após uma viagem longa.

Gente, se vocês puderem, recomendem minha fic, por favor. E comentem o que estão achando. Sei que alguns capítulos ficam enormes, mas quando vejo, já escrevi tudo isso kk



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