“olá, Jim” Sara atendeu o telefone que já tocava a um tempo.

Ela e Grissom assistiam um filme de ação juntos comendo pizza no sofá, em plena noite de sábado. Ele ainda estava sentado, cortando mais uma fatia e a vendo atender do outro lado da sala com o filme pausado.

“Sara... Tenho que falar rápido. Estou dentro de um carro da policia, voltando do tribunal.”

“não me diga...”

“sim, foi um fracasso. Ela surtou, derrubou uma mesa, varias cadeiras e socou o advogado.”

Sara teve vontade de rir ao ouvir aquilo. “Socou o advogado?”

“estava uma loucura lá, eu quase não consegui sair. Câmeras e repórteres não faltaram.”

“mas e o julgamento?”

“mudaram para a outra semana. Se fracassarmos dessa vez, a promotoria vai acabar com a gente. E o Ecklie... Eu já estou com medo dele.”

“obrigada por me lembrar do careca...”

“o quê?”

“nada! Nada, eu falei sem pensar...”

“bem Sara, foi só pra avisar. Boa noite, pra você e pro Gil.”

“boa noite Jim...” Sara desligou o aparelho e voltou ao sofá. “Arthur, Jim desejou boa noite.”

“o que aconteceu?” Sara se acomodou sentada ao lado dele e pegou uma pizza.

“nada demais, só um escândalo total no julgamento, uma ameaça de morte do Ecklie e um advogado com olho roxo.” Ela riu de si mesma. Grissom ficou perdido.

“Mary Anne Harrison, pelo que Brass me disse, socou o advogado, derrubou uma mesa, e deu inicio a noticia de primeira pagina de provavelmente... Todos os jornais de amanhã.” Sara pegou o controle e ligou o filme.

Mastigava sua pizza olhando atentamente para a enorme tela a sua frente, sem perceber que Grissom ainda a encarava com a boca aberta.

Ela virou apenas a cabeça para vê-lo. Sua expressão de espanto estava engraçada, e a fez gargalhar quase cuspindo a pizza. Ele também riu.

“não faça isso, Arthur.”

“me desculpe... Que história... Incomum, não acha?”

“eu sei que é trágico, e que o xerife vai ficar uma fera... Mas por favor, ela socou o advogado!”

Mais uma vez os dois começaram a rir daquilo. Encaixar a palavra “soco” e “advogado” na mesma frase era totalmente cômico.

Eles voltaram a assistir o filme. Mais tarde foram dormir.

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“o que você tem aí?” Sara perguntou tentando espiar as cartas.

“bem eu não sei... Mas agora eu posso comprar uma propriedade sua! Carta bônus!”

Sara ficou de boca aberta. Estava dentro do quarto de Charlotte no orfanato, jogando banco imobiliário em cima da cama, numa manhã.

“como assim?”

“essa carta diz que eu posso comprar uma propriedade sua, pode ver.”

Charlotte mostrou a carta para ela fazendo cara de vencedora. Sara bufou.

“esta bem... O que você quer?”

“hum... O zoológico do central park.”

Sara revirou os olhos antes de dar o título de posse a ela. Charlotte pegou o papel e o admirou por um tempo.

“bom... Agora pode jogar, é sua vez.”

A encarando de forma engraçada, Sara pegou os dados e jogou. Em um deles caiu 5 e no outro 2. Ela pegou seu peão e andou as sete casas. Parou justamente no zoológico do central park, que tinha acabado de vender.

“eu não acredito!”

“agora vai ter que me pagar o aluguel!” Charlotte ria do azar que ela teve nessa jogada.

Sara pegou suas notas coloridas e entregou a ela.

Antes que pudesse jogar os dados, a porta se abriu.

“bom dia crianças!” Grissom colocou apenas a cabeça pra dentro do quarto.

“Gil!” Charlotte pegou suas cartas e mostrou. “eu estou ganhando!”

Sara se levantou sorrindo, assim como ele.

“eu não sei como ela consegue, é realmente muito boa em negócios.”

“você já vai embora?” ela fico triste de repente.

Sara sorriu. “eu preciso. Senão o careca me mata!” Charlotte sorriu.

Com tanto tempo a visitando quase todos os dias, conseguiu ensinar a ela alguns conceitos básicos de física e química, e também a jogar Banco Imobiliário. Além de contar que chamava seu chefe Ecklie secretamente de “careca”.

“tudo bem... Eu vou deixar o jogo parado, prometo que não vou roubar!”

“vou confiar!” Sara se abaixou para ganhar um beijo estalado na bochecha.

Saiu dali sendo acompanhada por Grissom. Ela andava tranquilamente para fora do orfanato, com ele a encarando. A recepcionista já estava acostumada com sua presença ali, eram quase amigas.

Entrou no carro e esperou Grissom dar a volta do lado do motorista. Ele se sentou no banco e ficou parado. Sara estranhou.

“você esta bem?”

“sim... Mas...”

“mas?” Sara arqueou a sombrancelha.

Grissom suspirou. “temos que conversar.”

Ela ficou preocupada. Aquilo não era bom.

“está tudo bem? E-eu fiz alguma coisa?”

“não, não. Você não fez nada.” Ele manteve sua expressão seria. “quando chegarmos em casa... Quero falar com você.”

Ainda estranhando aquilo, Sara concordou. “esta bem...”

Grissom ligou o carro e dirigiu até sua casa.

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Ele entrou pela porta sem mesmo esperar Sara. Ela estava preocupada com aquele comportamento. Não sabia se acreditava que não tinha mesmo feito nada de errado, mas achava que sabia o motivo da conversa.

Viu seu marido se sentar no sofá e retribuir as boas vindas de Hank, fazendo cafuné no cachorro.

Depois de trancar a porta, andou até o sofá com ele e se sentou ao seu lado.

Engoliu em seco, com medo daquela conversa.

“Gil, se eu fiz alguma coisa, me desculpa...”

“não, Sara, não tem nada a ver com você... Quer dizer, tem sim, mas...” Grissom se enrolou. “você não fez nada de errado.”

“então o que foi?”

Ele notou como ela estava preocupada e tentou começar de outro jeito.

“tem a ver com Charlotte.”

Sara respirou fundo. Era aquilo o que ela imaginava.

“eu sei... Eu sei Gil, me desculpa, eu passo tempo demais com ela e-“

“eu quero adotá-la.”

Sara ficou espantada. Abriu a boca e encarou Grissom que continuava sério. Parecia que não tinha dito nada de mais.

“vo-você quer o quê?” ela gaguejou de nervosismo.

“se não quiser, amor, tudo bem, é por isso que queria conversar antes...”

“m-mas...” Sara não sabia o que dizer. Foi pega de surpresa.

“vocês duas são muito amigas... E eu também já a conheço bem... Só acho que seria bom... P-pra nós.”

Ela mudou totalmente sua expressão. Sorriu. Abraçou Grissom, quase pulando em cima dele. Por pouco os dois não caíram no chão.

“Arthur, isso é tudo o que eu queria! Obrigada, obrigada, obrigada!” Sara repetia e beijava todo o seu rosto. Grissom começou a rir.

Estava decidido.

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Ela estava penteando o cabelo de sua boneca favorita... A única que tinha. O jogo que ela e Sara jogaram juntas ainda estava espalhado por sobre a sua cama. Seu vários cadernos de desenho, todos completos com desenhos perfeitos enfileirados em uma prateleira não muito alta.

Charlotte os observava atentamente, pensando em aumentar sua coleção de 15 cadernos. Estava começando a desenhar seu décimo sexto. Desenhou Sara, e algumas vezes fez uns esboços do rosto de Grissom.

Gostava de fazer desenhos das pessoas a sua volta, e elas sempre lhe diziam a mesma coisa. “você tem um dom”. era bom ouvir aquilo, depois de tantas coisas ruins saber que as pessoas a achavam especial.

Parou o que fazia para abrir a porta de seu quarto, alguém estava batendo. Era a recepcionista.

“Charlotte, querem te ver.”

“quem?”

“eu e você sabemos...” ela piscou. Com o tempo tinha se tornado próxima de Charlotte também.

A garota a acompanhou para a recepção, onde Sara e Grissom escreviam algo em uma prancheta.

“Sara? O que faz aqui?” ela correu para ganhar um abraço. “veio terminar o jogo?”

“na verdade...” olho para Grissom, que sorria o tempo todo. “eu tenho uma proposta...”

“certo, o que é?” ficou animada.

Sara respirou fundo, aos olhares contentes de Grissom e da outra mulher.

“Charlotte Harrison, certo?”

“sim...”

“hum... que tal mudar para Charlotte Sidle...” olhou para Gil, agora com um sorriso de orelha a orelha “Grissom. Que tal?”

Charlotte ficou paralisada, de boca aberta.

“v-voces querem... Me adotar?”

Ela observou cada um dos pares de olhos que admiravam sua felicidade. Abriu o maior sorriso do mundo e voltou a abraça-la.

Estava feliz como nunca esteve, como nunca sabia que alguém podia ser.

“obrigada...” sussurrou ao ouvido de Sara, fazendo-a sorrir.

Grissom observou aquela cena e resolveu se juntar ao grupo. Um abraço triplo.

Um abraço de família.