O som de nossas respirações eram os únicos barulhos no meio daquela floresta. Um vento assoprava nossos cabelos para longe do rosto, e mesmo com todo o cansaço eu jamais deixaria de correr ao lado dele. Cam vira para mim.

– Você vai comigo, né Rissa?

***

Acordei com uma ruga formada na testa, e uma raiva com a intensidade de mil sois. Você deve estar achando algo do tipo “agora ela deve estar chorando até dormir”. NEM PENSAR. Acordo bem como nunca, disposta a esmagar a cabeça do Cam.

Vou ao banheiro e tomo um banho caprichado, visto as minhas roupas novas; uma jaqueta de couro justa, um shorts preto e botas de cano longo, com um salto minúsculo. Meu cabelo azul não precisava de cuidados, estava perfeito daquele jeito. Uma maquiagem simples – eu simplesmente precisava aprender a me maquiar depois – e me segurei para não colocar uma faixa na cabeça escrito “Destruir Cambriel”. Joguei meu microfone em uma bolsa.

Desci as escadas e tomei um café com o senhor e a senhora Jones. Mesmo eu não tendo explicado muita coisa para eles, eles sabiam que o meu plano era me tornar famosa. Então dos dois – principalmente o senhor Jones – estavam me incentivando fortemente.

– Boa sorte hoje, filha – Disse o idoso enquanto eu cruzava a loja de antiguidades.

Eu sabia aonde deveria ir, então caminhava mecanicamente em direção ao tal lugar. Escrevi algumas músicas e graças a ambição de Cam, eu estava por dentro de todas as músicas boas. Minha voz também estava ótima, afinal meu querido Cam, eu sempre tive muito mais talento que você! Não importa se você é um rostinho bonito, eu vou conquistar seus fãs e depois pisar na sua cara, e o que sobrar eu vou queimar!

Paro em frente a um beco escuro onde uma porta vigiada por dois seguranças de preto ficava. Aproximei-me e mostrei o microfone, e eles me permitiram entrar.

O lugar já estava “poluído” pela música, porque aqui é um bar de músicos amadores, onde geralmente encontram alguém para formar uma banda. Raramente encontram vocalistas mulheres, porque a maioria sabe tocar guitarra. O bar era repleto de mesas e uma especifica para servir drinks, onde o barman ficava. No centro, um palco improvisado bem grandinho até.

Uma banda tocava a música “Every me and every you” do “Placebo” sem um vocalista. Claro, aquela era minha chance, eu só precisava entrar lá. Mas como? A guitarrista me chamou a atenção, ela tocava muito melhor que o baixista, e o baterista também não era mal.

Enquanto eles acabavam de tocar, eu busquei o restante que eu precisava para a música que eu tinha em mente. Perfeito. A música havia acabado, e enquanto eu me aproximo da garota de cabelos pretos, sinto uma hesitação interna, mas a ignoro. Não tenho mais tempo para essas coisas.

– Oi – Me apresso a chamar sua atenção, dando uma acenada simples com a mão – Tem um minuto?

- Ãh, claro – Ela parecia confusa, mas pelo menos ela não era uma pessoa daquelas que pula no teu pescoço.

Afastamo-nos um pouco do palco e eu me apresso a explicar que quero que ela toque uma música comigo, porque ela era uma boa guitarrista. Mostro um papel com a música e ela me olha pensativamente.

– Vamos, suba. – Digo subindo o degrau do palco, estendendo uma mão para ela. Ela hesita por um instante, mas depois segura em minha mão com firmeza.

– E o que você toca? – Perguntou a garota, enquanto ajustava sua guitarra ao tom da música que eu propus.

– Neste momento, eu vou cantar – Sorrio e dou uma piscadela.

Não era necessária nenhuma apresentação, então esperei que todos se ajeitassem e tomo um gole de água. Espere só Cambriel, eu vou fazer o mesmo que eu vi você fazer, mas vou fazer melhor. Há um ano, Cam montou sua banda amadora aqui, e sempre há caça talentos por aqui. Pode ser qualquer uma dessas pessoas “despreocupadas”. Limpei minha garganta pela última vez, sinalizei e então começamos. A voz vinha naturalmente de mim, e a cada mudança de tom, sentia uma curva engraçada se formando, como s fosse um desenho. Eu poderia estar fazendo isso por mera vingança, mas não podia negar que eu estava amando o que eu havia me tornado. Entretanto, odeio pensar que foi por causa dele que eu estou gostando mais de mim agora.

I tried so hard to be someone,

I never was nobody

I tried too hard to play this game,

I never was the winner

Finalizo a música, me sentindo melhor que nunca. Como se toda a dor que eu estava ignorando até agora tivesse extravasado. A plateia explode em aplausos, e eu me viro para olhar para as pessoas que me ajudaram a executar a músicas. Todas estavam maravilhadas, e eu lanço um sorriso para todas.

***

Já era a quinta noite que eu ia para o bar noturno tocar algumas músicas. Já era tarde, e eu havia acabado de cantar algumas músicas. Iria demorar até que de fato encontrasse pessoas que tivessem a mesma, senão parecida, ambição como a minha. Kylari havia simpatizado comigo, por assim dizer, e estávamos tocando juntas todas as noites. Ela me contou que antigamente era completamente diferente, gostava de música, mas nunca pensou em tocar nem nada. Há alguns anos atrás, uns arruaceiros tentaram “passear” com ela, e quando ela achou que estava tudo acabado foi salva por um desconhecido. Mais tarde, quando eles começaram a sair, descobriu que ele era famoso. Não me lembro do nome da banda dele, mas parece que depois que ele ficou realmente famoso a descartou.

– Eu te entendo, Kylari! – Digo, e damos um aperto de mãos com os olhos brilhando – Vamos destruir aqueles dois idiotas, você vai ver!

Eu já tinha contado minha triste e longa história a ela. Estávamos tomando um drink, e eu ficava fascinada observando seus olhos fechados. Sua maquiagem escura nos olhos estava perfeita. AH, EU QUERIA APRENDER A ME MAQUIAR!

– Mas Mizeria – Ela me chama pelo meu nome “artístico”. – Precisamos achar outros integrantes mais rapidamente, e depois dar um jeito de conseguir um contrato, e isso pode levar um tempão...

– Não esquenta, sei onde achar algumas pessoas, e tenho certeza que vamos achar uma boa empresa, de preferência inimiga ao Golden Dreams.

Dou um longo gole na minha bebida, pensativa. Sentia um pouco de frio, hoje estava vestindo uma blusa que deixava minhas costas à mostra, coisa que eu jamais faria antigamente. Meu novo nome e minha aparência eram especificamente para que ele não me reconhecesse. Mas poderia ele não me reconhecer? Alguém que ele conviveu a infância inteira...

– A única grande empresa que é tecnicamente melhor que a Golden Dreams é a Red Star. – Kylari comenta pensativa. Sua cabeça estava pousada nas mãos, estava cansada provavelmente.

Ficamos conversando sobre onde achar outras pessoas boas para a banda, e pensamos sobre um nome também, mas achamos melhor esperar que a banda estivesse completa. Eu voltava para casa tarde todos os dias, no entanto os Jones – sabendo do meu objetivo – não estranhavam.

Aconteceu umas cinco noites depois da minha conversa sobre as empresas com Kylari. Estávamos descendo do palco após um cover do “Umbrella” quando um homem de terno prateado e óculos escuros nos intercepta. Ele estende um cartão com o nome RED STAR brilhante; eu quase explodo de alegria, mas eu tento manter a postura.

– Tenho visto vocês tocarem, e acho que vocês tem um grande potencial – Diz ele depois de se apresentar como Erick – Haverá um teste na Red Star daqui algumas semanas, e se vocês estiverem interessadas, montem uma banda e compareçam. Deve marcar seu nome na lista o mais cedo possível.

– Muito obrigada! – Kylari se apressa a dizer, fazendo uma reverencia enquanto aceita o cartão.

– Ah, sim – Eu digo saindo do transe do momento – Muito obrigada – Acrescento perplexa.

– Você toca muito bem – Ele tirou os óculos escuros e fitou Kylari – E você – Ele se virou para mim, ainda sem os óculos, exibindo seus olhos azuis que combinavam com os cabelos castanho-claros. – Sua voz é muito flexível, seu fôlego é um dos melhores que eu vi até agora, tem um incrível potência.

– Flexível – Repito, refletindo sobre se isso era um elogio ou não. Ah, dane-se! Vindo da Red Star, poderia estar dizendo “canta bem, mas é feia”.

– Espero vocês lá.

Ele dá às coisas e deixa o clube. Eu e Kylari ficamos imóveis por um longo tempo, mas subitamente nós viramos uma para a outra e gritamos, dando pulinhos. FIQUE OLHANDO, CAMBRIEL! Eu estou ficando mais próxima, você vai ver!

Imaginei uma cena minha fazendo um show, com Kylari ao meu lado. E, por alguns segundos me dou ao luxo de olhar para a plateia. Lá, encontro Cam, com uma camisa com o meu nome “Mizeria” berrando por meu nome e querendo que eu toque sua mão. O que eu imaginei a seguir, melhor censurar.

***

Dois dias depois, em um final de semana, me encontro com Kylari. Ela estava com seus cabelos negros ajeitados. Um salto e até um vestido de bolinhas! Eu achei melhor ir de um jeito que combinasse com a ocasião. Como era um lugar elegante, vou de jeans novos escuros, uma blusa simples cinza, e alguns acessórios. Estava pensando seriamente em fazer uma tatuagem, vocalistas precisavam de estilo, e assim Cam jamais suspeitaria.

– É agora Mize, ou formamos uma banda rápido ou será só nos duas – Ela se aproxima do balcão de informações, esperando pela sua vez. – E olha que eu não vou perder essa chance.

Ficar com Kylari me deixava mais confiante, e não era só porque ela tinha o mesmo caso que eu. Ela era boa no que fazia, bonita e ainda gentil. O que eu era comparada a ela?

Passo meus dedos pelos meus cabelos azuis, um pouco melancólica. O que importava? Eu não ligava para outras pessoas, eu só queria minha vingança, e como Cam tomou tudo o que poderia ser meu futuro, eu pretendia levar essa carreira a sério.

– Temos que nos sentar, naquela área – Ela aponta para esquerda, onde havia um corredor com a placa “testes”.

Caminhamos até lá, onde encontramos várias pessoas sentadas esperado pela sua vez de assinar uns papeis. Haviam pessoas de todos os tipos, algumas aparentemente iriam cantar músicas pop, outras mais melódicas, e em sua maioria o rock. Todos tinham uma aparência diferente, tentado se destacar. Repentinamente, percebi que estava suando de nervoso.

– Vou ao banheiro por um instante Kylari – Digo, e ela faz que sim com a cabeça.

Atravesso o corredor da ala de testes e passo pelo balcão de informações. Encontro o banheiro bem longe do lugar em que eu estava, e no momento em que saio percebo que estou perdida.

Olha, eu pensei que não era possível que a minha vida ficasse mais estranha, até que eu esbarro em nada menos que Matt.

Você tem meu coração

E nós nunca iremos separar nossos mundos

Talvez nas revistas, mas você continuará sendo minha estrela

Baby porque na escuridão, todos os gatos são pardos

E é ai que você precisa de mim

Estarei sempre com você