The Unbible escrita por MrNothing


Capítulo 6
E o céu é o limite




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/358897/chapter/6

O som das madeiras batendo me despertou. Levantei minha cabeça lentamente, senti o gosto do sangue em minha boca. Tomado pela tontura, levei alguns minutos para identificar onde estava, mas logo que percebi fiquei assustado. Eu estava exatamente onde meu irmão havia morrido, na Igreja da pequena cidade, mas o pior era: estava amarrado na cruz.

Percebendo meu despertar, Bruno aproximou-se a mim. Ele me olhava debaixo, devido à altura da cruz. Mas isso não era motivo para tirar o sorriso de seu rosto, um sorriso de alguém que se safaria de suas conseqüências. Em sua mão estava um objeto, que cautelosamente ele limpava com um pano. Dizia que estava “purificando-o”.

A noite se assemelhava à do meu irmão, uma noite sombria e chuvosa, um vento que teria força para derrubar uma casa. Mas nem mesmo ele derrubaria aquela Igreja de estrutura velha, tudo estava a favor de Bruno.

- O que aprendemos com tudo isso meu amigo? – falou calmamente Bruno para mim – O que todos esses eventos te ensinaram?

No momento eu tentei de verdade achar uma resposta para isso, mas só uma coisa veio a minha mente.

- Que você é um merda.

Ele olhou para mim e sorriu sarcasticamente. Mas era verdadeira sua felicidade.

- Meia noite. Está na hora.

Bruno terminou de olhar no relógio e voltou a pegar o objeto, revelando ser um prego. Ao olhar só pude relacionar as coisas, então meu corpo começou a tremer. Não imaginei que ele seria capaz de fazer isso.

- Isso pode doer um pouco.

Então ele prensou a ponta fria da estaca de ferro na palma da minha mão direita. Ele olhou para mim, seu rosto suava friamente. Em um único movimento, o golpe do martelo cravou o prego em minha mão.

Demorou alguns segundos para eu sentir toda a dor. Mas quando veio, não fui capaz de agüentá-la. Olhei para o lado e vi apenas a metade do prego para fora, mas conseguia sentir totalmente a outra metade dentro de minha mão. O sangue escorria incessantemente.

- O primeiro já foi. Vamos cuidar do outro agora.

Bruno então passou para o lado esquerdo. Ele prensou o prego da mesma maneira, mas quando golpeou pela primeira vez, acertou apenas meus dedos. O suficiente para me fazer agonizar de dor. Então ele finalizou no segundo golpe, colocando o prego mais do que a metade para dentro.

Já estava desnorteado, meus pensamentos pesavam, não tinha esperanças de sair dali.

- Agora só faltam esses pezinhos meu amigo.

Pra mim o quanto antes acabasse melhor. Não suportaria vê-lo se safar, mas já estava rendido pela dor. Mal pude perceber que o prego que ele pegou era o dobro do tamanho dos outros.

Dessa vez, os golpes foram ainda mais cruéis. Enquanto pregar as mãos foi praticamente “fácil”, foi preciso de quatro golpes para perfurar apenas o esquerdo. Antes que pudesse contar com quantos ele conseguiu perfurar o direito, eu já havia desmaiado.

Após recuperar os sentidos, acordei com um tapa de Bruno.

- Você vai perder a melhor parte cara.

Meus olhos rondavam por tudo, mas na verdade não conseguia ver nada. Porém, aos poucos, uma mancha escura foi surgindo no meio da igreja, não entendia muito bem, mas parecia que Bruno estava falando com ela.

- Está gostando “meu Senhor”? É desse jeito mesmo que se faz? Já está morrendo?

A mancha logo se transformou em uma sombra, mas ainda continuava escura. Ela não fazia nenhum movimento, parecia estar só observando.

- Acho que já está tarde, não tem mais volta. – continuou Bruno.

Então lentamente a sombra foi levantando a mão, e lentamente Bruno foi caindo.

- Nunca é tarde para o seu Senhor.

A tontura já não incomodava tanto, mas o que estava acontecendo na minha frente sim. A imagem de Cristo foi criando forma enquanto o corpo de Bruno ia apodrecendo. Parecia que ele estava se alimentando da alma de Bruno.

Ele então parou e olhou para mim:

- Está tentando pegar meu lugar?

Em um piscar de olhos ele já estava parado na minha frente, apenas me encarando.

- Po-por que está fazendo isso? – me esforcei para falar.

- Você não consegue ver? Eu já estou esquecido há muito tempo.

- Acha que vai conseguir atenção as-sim?

- Tenho certeza. Alguém tem que voltar obrigá-los a me adorar, por que não eu?

- Você deveria ser o Salvador, não isso.

- “Isso”? Você acha que eu não estou sendo o Salvador?

- Você matou três pessoas, matou meu irmão.

- De nada.

- ISSO NÃO É SALVAR!

- Você prefere viver nesse mundo a viver no paraíso?

- Não existe paraíso.

- Você não acreditava que eu existia também, o que acha agora?

- Não importa o que diga, em pouco tempo morrerei, e você será substituído.

- Por você? Acha-se tão importante assim?

- Farei um trabalho melhor do você.

- Isso não funcionará.

- Então espere.

- Não são vocês que me dão ordens. Só irá morrer quando eu quiser.

Ele então virou as costas e se ajoelhou em frente ao altar. Suas mãos se juntaram e apontaram para o céu. Sua imagem começou a se purificar e brilhar. Se eu não soubesse sua verdadeira face, acharia aquilo até acolhedor.

O sangue já fino ainda escorria dos meus ferimentos, minhas mãos roxas, meus pés escuros. Apesar de todo sofrimento, não sentia que estava morrendo. Talvez ele realmente estivesse-me “segurando”.

Então parou com tudo e levantou-se novamente e virou-se para mim:

- Já aprontei tudo, você virá co... – a frase foi interrompida por um estouro. Ele se virou para a porta da igreja, e deu uma brecha que possibilitou que eu visse o que tinha acontecido. Amanda estava na porta. Ela segurava tremidamente uma arma, que ainda saia fumaça dela.

Cristo olhou brevemente para o seu corpo que obviamente não estava ferido, e disse sorrindo:

- Querida, você errou.

Então dei uma suave risada.

- Não, ela não errou.

A bala havia ultrapassado pelo corpo dele, sem deixar danos, mas atingiu o meu. Ele virou rapidamente e viu o furo em meu peito. Em segundos eu morreria.

- Você não pode lutar contra isso. – conclui.

Sua forma então voltou a escurecer, seus olhos voltaram a ficar vazios e assustadores. As paredes de madeira da igreja começaram a pegar fogo.

- Amanda, saia daqui.

Mas antes que ela pudesse fugir, ele a pegou como fez com Bruno, estava sugando-a também. Comecei a entrar em desespero, o fogo já engolia o teto da igreja, não restava muito tempo. Mas enquanto ele se alimentava, eu também sentia que ele estava ficando mais fraco, pois eu já estava ficando fraco.

Vi Amanda ajoelhada, estava com sua pele seca. O fogo castigava a casa sagrada, o Cristo já não tinha mais forças. Foi então que Amanda tomou o controle de volta, e ao se levantar, fechou os portões da igreja. Em segundos, tudo desmoronou. Nenhum sinal de vida.

Não sei o que aconteceu, apenas sei dizer que me senti renascido.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Muito obrigado por todos que acompanharam essa história!
Não sei se foi um final digno, mas posso dizer que fiquei muito satisfeito de ter feito toda essa história. Eu não planejava fazer mais do que um capítulo dela, mas os comentários me incentivaram a continuar mais um pouco. Alguns disseram que mesmo assim ficou curta, eu decidi fazer desse jeito até para não enrolar muito, e também por que foi o máximo até onde minhas ideias foram.
Independente se gostaram ou não, continuem comentando com sinceridade para que eu saiba como me saí.
Essa foi a primeira história do gênero que faço, se gostaram continuem acompanhando as outras histórias que aparecerem.
Mais uma vez agradeço a todos!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Unbible" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.