– Tudo bem, Victor? - Perguntei desesperada O que aconteceu?

– Nada... - Conseguiu expirar finalmente – Melhor irmos dormir.

Ele saiu do quarto sem dar mais muitas explicações e seguiu em direção a sala. Na realidade, eu sabia que não conseguiria pegar no sono. ***

Estranhamente a noite não foi tão turbulenta quanto pensei. Dormi um sono pesado, sem sonhos... Despertei pós meio-dia e senti a falta de Ana ao meu lado, mas senti presença de um objeto maciço sob meu travesseiro. Levantei-me e notei que havia um Post-It colado no espelho do banheiro.

Amiga, saí ontem a noite depois que vocês dormiram, queria ir mais cedo pro colégio para ajuda com os preparativos para formatura.

Te amo.

XXX

Ana

Ausência explicada. Espalhar papeizinhos com recadinhos pela casa era típico dela. Li novamente a nota, focalizando a palavra “formatura” mais seriamente. Eu não estava muito animada com essa festa, ainda mais depois daquela história ridícula de desejo.

Desci e encontrei Victor preparando o café.

– Vamos lá, Lakers! - dizia enquanto jogava duas torradas em direção a um prato.

– Não sabia que tinha Basquete a essa hora...

– Basquete não tem hora, irmão! Porra! Manda essa bola! Ah, tempo... E aí, como dormiu? - um vinco se formou entre as suas sobrancelhas.

– Pô, é verdade. Encontrei com ela saindo quando eu acordei pra ir ao banheiro... - Falou enquanto olhava no relógio. - e isso tem um tempo já.

Exatamente quando Victor terminou de falar que já havia se passado algum tempo que ela havia saído, a campainha tocou.

– Aposto que ela esqueceu a chave... - Deu de ombros aumentando o volume da TV.

Quem achamos ser Ana era, na realidade, três garotas, com papéis coloridos, fitas de cetim e brilhos para todos os lados.

– Pois não? - Perguntei assim que abri a porta.

– Bom dia. - Respondeu a garota – Meu nome é Francis. Eu combinei com a Ana de passar aqui, nós vamos para minha casa fazer cartões para formatura. - Fiquei intrigada já que Ana disse que iriam arrumar no colégio. Assim que a garota terminou de falar Victor desceu correndo a escada.

– Cris o livro da nossa crónica de RPG sumiu, e o medalhão também. - Olhamos um para o outro, assustados. Puxei Victor pelo braço e corri em direção ao carro.

Deixamos as três garotas em pé na porta nos olhando. Liguei o carro sem nem me lembrar de colocar o cinto. – Cris aonde você ta indo?

– Victor se debatia no banco do passageiro assustado.

– Você não entendeu, a Ana ta sozinha na escola, e o livro e aquele medalhão estão com ela. Tudo passava em minha cabeça, como um filme, nem ligávamos para os sinais ou as multas que estávamos prestes a levar. Quando chegamos na escola ela estava vazia. Começamos a chamar o nome dela, mas ninguém respondia.

– Cris venha até aqui, acho que encontrei algo. - Corri em direção a quadra onde Victor estava, mas parei, assustada com a cena que se seguiu.

Tudo voltou em minha cabeça como um filme nitidamente, aquela noite do jogo, o desejo de Victor, o clarão que invadiu a sela logo após o desejo, então voltei a atenção para a cena. Deitada exatamente no meio da quadra, estava uma garota. Vestida com um vestido brando longo. Intacto. E não havia sinal visível de agressão nem nos braços, nem no rosto, que estava coberto por um véu branco bem fino.

Um filete de sangue escorria de um buraquinho no peito do vestido, na altura do coração, para a cintura. Por trás do véu era possível ver os olhos dela, abertos, arregalados como se sua última visão antes de morrer fosse surpreendente. Victor de aproximou e arrancou o véu.

Ana