Eu estava em uma cela. Ela havia me levado para o calabouço.

– Aqui nós pagamos traição com morte.

Senti a raiva começar a fluir, e os meus dedos começarem a tremer.

ELA VAI MORRER!

Olhando nos olhos da Hayala dei um chute na cela, ela não sabia do que eu era capaz. Mas, ao invés da conseguir arrombar as grades, só consegui um ricocheteado.

– Você pensa que vai conseguir sair daí com um chute? – A loira gargalhou – Nunca. Essa cela tem a capacidade de prender um vampiro com vinte vezes mais força do que um normal.

– Me tire daqui, antes que eu consiga e esprema seu coração dentro do seu corpo.

– Eu não tenho medo de você. – Hayala se aproximou um pouco e por um milímetro não arranquei o rosto dela com as mãos.

– Você. Não. Faz. Ideia. De. Quem. Eu. Sou! – Falei entre dentes.

Essa lobisomem iria se ver comigo.

– Quero ter o prazer de eu mesma arrancar sua cabeça. – Dando um último sorriso, a loira voltou a subir as escadas, assobiando.

Argh! Vasculhei toda a cela, em busca de alguma brecha, já estava ficando cega de raiva, e precisei me controlar o máximo para não me transformar em lobo ali mesmo.

Voltei a bater nas grades, e nada, usei toda a minha força para entortar-las mas elas não se movimentavam.

– Mas, que merda.

Me encostei na parede e fui deslizando até sentar no chão. Por que eu tinha que seguir a Hayala? Só com o pensamento do que podia ter acontecido com o Logan, eu havia ficado vulnerável.

James sempre teve razão. O tempo todo.

Droga. James!

O que ele iria pensar quando descobrisse que eu estava no meio dos seus inimigos? O que seria do Kendall quando descobrisse o que aconteceu entre mim e o líder dele?

O Logan me aceitaria de qualquer jeito. Não importa o que eu fosse, ou o que eu fizesse. O que ele sentia por mim era verdadeiro, sempre foi.

Mas, a questão era: O que eu sentia?

Eu estou ficando louca.

Me deitei no chão e fiquei pensando, não havia nada o que fazer. A única coisa era esperar, quando alguém viesse me tirar daqui, seja para me matar ou qualquer coisa, eu iria lutar, e então iria atrás da Hayala.

(.)

Depois do que pareceu uma eternidade, ouvi passos descendo as escadas, fechei os olhos, esperando que quem quer que fosse iria abrir a cela. Mas, ao invés disso, escutei uma respiração pesada, e o pequeno barulho de quem se sentava no chão.

– Eu sei que você não está dormindo.

Olhei para o lado e vi Carlos ao lado da cela, com a chave na mão.

– O que você quer? Vai me matar? – Falei sarcasticamente.

– Só quero ajudar. – Ele deu um sorriso sem mostrar os dentes.

Rapidamente me aproximei das grades.

– Então, abra isso aqui.

– Pra quê? Para você ir diretamente matar a Hayala?

– Exatamente. – Dei um sorriso imaginando as várias formas que eu poderia fazer isso.

– Não posso te deixar fazer isso, Luanne. – Eu não pedi a permissão dele – Vai ser difícil para você entender. Eu sei que você estava com o meu maior inimigo, eu vivo em uma guerra, como vou saber se você estava levando informações para eles? Você escolheu um lado, certo?

Não falei nada.

– Não consigo entender. Você é uma de nós. – Não. – Você carrega a maldição.

– EU NÃO ESCOLHI SER ISSO! EU NÃO ESCOLHI. – Uma lágrima desceu do meu olho, enquanto Carlos se espantava.

– Como assim?

– Eu fui atacada por lobos, Carlos. Você não vai me entender. Está no meu sangue. Eu era humana, e dava valor para isso, mesmo estando sozinha. Vários lobisomens me deixaram a beira da morte, mas, algum vampiro maldito me mordeu. E não sei o que aconteceu direito... Mas acho que com os dois venenos no meu sangue... – De repente me dei conta do que eu estava falando. Eu havia acabado de contar meu segredo para ele.

– Então... Você é... Uma...

– Hibrida. – Mordi o lábio. Que merda eu havia acabado de fazer? – Satisfeito?

– Mas, ninguém aqui ataca humanos, Luanne. Tem alguma coisa muito errada.

– Será que você conhece mesmo as pessoas que estão sob o seu teto?

– Nós somos leais. – Ele parou, pensando.

Vampiros não bebem sangue humano, lobisomens não atacam humanos. Cada um com sua versão.

– Deve ter alguém por trás de tudo isso. – Carlos fitou o nada. – Exatamente. Tem alguém por trás disso.

Ããh?

– Estão querendo que nós nos destruamos!

Tentei acompanhar seu raciocínio.

– Você não vê, Lua? É óbvio. Como você seria atacada por qualquer um de nós, se desde que meu antecessor comandava os lobos não houve mais nenhum ataque a humanos? Não foi nenhum lobisomem daqui. Você disse que lobos foram mortos, mas, ninguém daqui foi ferido. Tem alguém querendo nos manipular, estão jogando uns contra outros.

– Isso faz sentido.

– Preciso pensar nisso. Mas, antes... – Ele se levantou e eu fiz o mesmo, agarrando a grade – Vou soltar você. Primeiro me prometa que não vai matar a Hayala.

– Eu vou matar a Hayala.

– Luanne...

Bufei.

– Tá. Posso tentar me controlar, mas, não garanto nada.

– Tem alguém que está precisando muito de você. Logan, não consegue se recuperar, tem alguma coisa errada com ele.

Logan!

– Não. Você disse que ele iria ficar bem.

– Deveria. Quem sabe se você não ajudar-lo... – Carlos sorriu, destrancou a cela.

Para minha surpresa, ele me deu um abraço.

– Já disse que confio em você. Por favor, não me decepcione. Ainda podemos fazer muitas coisas juntos. Podemos acabar com toda essa guerra.

Por um momento, percebi que estava segurando a respiração, mas assim que soltei o ar, senti o cheiro do Carlos invadir meu nariz e em seguida minha mente.

Confiança. Uma parte de mim acreditava nele, também confiava nele. Mas, será que não era ELE que estava me manipulando?

– Vamos.

Carlos pegou na minha mão, como se fosse um hábito normal, e começou a andar. Acompanhei seus passos. Ele esqueceu que eu havia acabado de dizer que era uma hibrida?

Nunca vou conseguir entender essa vida.

Chegamos na porta do quarto, e ele me deixou sozinha. Pude escutar uma respiração fraca. Entrei devagar, e Logan estava deitado, olhando fixamente para o teto, mas assim que notou minha presença tentou se levantar.

– Lua! – E então gemeu de dor.

Me movimentei rapidamente para o seu lado, o segurando.

– Não faça isso.

– Você voltou.

– Por que eu iria embora? – Dei um sorriso. – Agora se deite, eu vou ficar aqui com você.

Coloquei sua cabeça no meu colo e comecei a alisar seu cabelo.

– Pensei que você desistiria de tudo. De tentar fazer parte daqui, por momento eu achei que você iria me abandonar, como eu fiz com você. – Percebi que seus ferimentos não estavam cicatrizados, e toda vez que ele se mexia o curativo ficava com um pouco de sangue.

– Não faria isso com você, Logan.

– Desculpa, Lua. Eu que deveria estar cuidando de você.

Ele me ama.

– Não se preocupe com isso, tá?

Ele me ama e eu não faço a mínima idéia do que sinto.

Logan ficou calado, e depois de algum tempo sua respiração ficou um pouco mais pesada, ele estava dormindo.

Fiquei olhando para o nada, enquanto ainda alisava seu cabelo.

Depois de algumas horas, escutei ao longe um tumulto, várias passos correndo, não consegue entender nenhuma das conversas.

Eu precisava saber o que estava acontecendo. Não parecia nada bom.

Com cuidado, ajeitei a cabeça do Logan fazendo o máximo para ele não acordar. Saí do quarto, e segui algumas pessoas, rápido.

– Pegaram um vampiro que estava rondando pela entrada dos túneis.

Mordi o lábio. Não podia ser quem eu estava pensando.

Ao chegar no inicio dos corredores, vi um vampiro ajoelhado, cabelos loiros, cabeça abaixada. Hayala olhava pra ele com todo o desprezo do mundo, preparando-se para fazer alguma coisa, algo que não pouparia a vida dele.

– Kendall.