Anencefalia escrita por Minori Rose


Capítulo 5
Coragem insana


Notas iniciais do capítulo

Não quero morrer. E como acho que seria morta caso não atualizasse esta bendita (mesmo, sem ironia) fanfic o fiz mesmo em um domingo de churrasco. Mas já havia comido mesmo, e muuuuuuuuito. Espero que o domingo de vocês tenham sido bom. E espero que gostem do capitulo também. Vou fazer de tudo para não parar de jeito de novo, desculpem pela demora estrondosa. Enfim, boa leitura! :3



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Ponto de vista – Marceline


O que se passou comigo depois do que li foi algo quase inexplicável. Nunca pensei que alguém pudesse gostar de mim daquela forma quanto mais ele... Eu não tinha ninguém, no final dos pensamentos. Meu coração pendia entre acreditar no que ali estava escrito, ou seja passar a ter alguém, ou continuar sozinha como estava. E essa ultima escolha me parecia a mais correta.

Depois de guardar a carta em minha caixinha vermelha – de cadeado, só por precaução – inventei uma desculpa qualquer para faltar na escola. Já não queria ir mesmo, e não queria acima de tudo ver Allan sem saber o que dizer. Decidi por fim, depois de tanto rolar na cama e bagunçá-la pela segunda vez fazer o dever que acumulava no canto da escrivaninha. Estranhei de toda forma quando uma ou duas vezes enquanto respondia umas questões sobre a segunda guerra mundial, pensei em como aquele cara poderia ser professor com aquela beleza toda.

Poderia estar ganhando uma nota somente em sorrir para fotos, mas por algum motivo da qual eu adoraria pergunta o porquê dele agüentava gente chata. Naquela época eu não pensava nele de outro jeito a não ser como o Senhor Professor; ah não. Engraçado, deveria ser aquilo que chamavam de amor á profissão, uma profissão enfadonha.

Na sexta-feira minha querida tia (vulgo demônio me forma de gente) me obrigou a dar as caras naquele lugar; não pude fugir da escola pela segunda vez. Não pude ter mais três dias pra pensar, contando com o final de semana. Mas sim três minutos, minutos de pensamentos recorrentes ao medo de crescer, ah sim, eu precisava crescer com experiências que todo mundo já tivera, sonhava em ter, mas coisas que não me satisfaziam nem um pouco. Ter um namorado não era importante para mim. Ter alguém para quem correr sim. E foi nesses pensamentos que eu o vi no final da rua.

Ainda ajeitava a mochila nas costas quando ele olhou para mim; por pura burrice não imaginei que Allan pudesse estar me esperando logo no final da rua. Se eu quisesse ir para escola, teria que passar por ali, é claro. Meu coração parou por alguns minutos ao mesmo tempo em que ele fixava o olhar em mim. Quis entrar de volta em casa, ainda mantinha a chave no portão, porém isso seria tão rude. Allan havia sido muito corajoso de toda forma, deveria retribuí-lo nem que fosse tendo uns minutos de coragem insana.

Veio caminhando até mim com as mãos nos bolsos, remetia em alguma coisa lá dentro. Fiquei com tanta vergonha de olhá-lo, meu nariz queimava tanto que meus olhos lagrimejavam em indecisão; o Sr. Popular parou em minha frente com um porte sério. Apertei a alça da mochila com uma mão e olhei para o chão. Coragem insana, coragem insana, coragem insana. Foi questão de dois passos de sua parte para que me abraçasse acanhado; prendi a respiração ao passo em que ele apertava minha cintura em frente ao portão de casa.

Como posso ser tão idiota.

– Você leu? – perguntou baixinho.

– S-sim... – baka, baka, baka.

– E então?

Minha mente travou. Não sabia o que dizer muito menos o que fazer diante daquilo tudo; era muito complicado para mim. Hoje vejo como talvez eu estivesse fazendo tempestade em copo d’água, mas que seja. Era assim. Allan beijou o meu rosto em gesto carinhoso, enquanto eu via a ansiedade crescer em seus olhos.

– Isso foi muito repentino, – comecei a falar calma – não sei o que dizer.

Estávamos muito perto. Ele cheirava a menta, inclusive seu hálito. Percebi uma certa chateação se passar em seu rosto; naquele momento inusitado percebi que ele era mais bonito do que eu tinha reparado antes, e que eu poderia sim amá-lo.

– Só precisa dizer que quer ou não. Sabe, eu sei que você não é do tipo que gosta de ficar, então pode me conhecer melhor.

– O problema é que eu te conheço muito bem. Sei também que não sou única pra você.

Allan estalou a língua.

– Acha mesmo que estou disposto a passar por esse constrangimento por todas?

– Pela Bruna talvez. – disse indiferente.

– Pelo amor de Deus Marceline! Pode pelo menos uma vez na sua vida parar de me esnobar e acreditar no que estou dizendo?

Ouvi junto á voz dele, Larissa gritando meu nome ainda dentro de casa. Não queria que ela nos visse daquele jeito ali; propositalmente, mesmo envergonhada passei o dedo indicador sobre os lábios dele e pedi por silencio. Mal percebi meu jeito de quem queria conquistar, mas no fundo essa era a minha intenção. Allan sorriu.

– Vou acreditar em você por enquanto... Mas não podemos conversar aqui, muito menos na escola. Hmm, apareça lá na pracinha ás seis. – falei com um pouco de pressa antes de desprender-me de seus braços.

Sai antes que ele pudesse me responder; andei depressa até a escola. Quase desaprendi o jeito de andar já que ele vinha apenas á alguns metros atrás de mim; me seguiu o trajeto todo. Não nos falamos na escola. Embora, volta e meio ele me lançava sorrisos... Retribui na maioria das vezes. Levei cutucões de Elisa por isso. O Sr. Bonitão – é como vou chamar o professor Miguel – passou-me uma atividade que eu havia perdido. Tão gentil.

Voltei para casa com Allan atrás de mim novamente. Parou em frente a sua casa, enquanto segui para a minha sem olhar para trás. Subi as escadas escorregando as mãos no corrimão e lembrei-me da vovó pela terceira vez naquele dia; ela sempre sabia o que dizer em momentos como aquele. Sentia tanto a sua falta, que poderia muito bem dar anos de minha vida para ter míseros diazinhos com ela, e como daria.

Dormi a tarde inteira para tentar acalmar a minha mente. Tudo o que consegui foi mesmo que subconscientemente pensar em Marcelina e Allan. Acordei do meu descanso cansado com ruídos no andar de baixo; Virei para o outro lado encostando os joelhos na parede gelada.O barulho de falas persistiu. Quando já estava irritada com toda aquela movimentação, desci as escadas de camisola, chinelo e meias. Coçava os olhos andando até a cozinha... Encostei Marcelo sentado e debruçado sobre a mesa marrom perto da janela. Levei um susto ao vê-lo levantar a cabeça vagarosamente enquanto olhava para mim; olhei para a porta da sala e depois para ele e não pude deixar de xingar-me por ter entrado ali.

Levantou-se empurrando a cadeira para trás, fazendo novamente barulho contra o azulejo. Andou até mim em passos lentos cambaleantes. Coragem insana, coragem insana, coragem insana; Marcelo cheirava a álcool. Andei para trás batendo as costas contra a parede. Passei a suar frio e apertei meus lábios um contra o outro. Isso o fez sorrir maliciosamente.

O que me fez lembrar de uma outra vez, quando o crápula começou a namorar a titia marginal. Ah, sim ele sempre me olhou estranho. Sempre ignorei isso, dizendo a mim mesma que era fruto de minha mente pré-adolescente ensandecida por loucuras juvenis, mas não. Talvez eu fosse uma Lolita, ninfeta como dizem os menos cultos. Talvez eu despertasse libidos nos homens mais velhos. Mas eu não queria.

Não com aquele.

Em um surto, virei-me e tentei voltei para o quarto. Marcelo foi rápido segurando-me pelo pulso com uma mão, apertando meu queixo brutamente com a outra. Cheiro de birita.

– Sempre achei que você era uma menina bonitinha... – disse em tom vulgar; me desesperava cada vez mais. Parecia possuído. – Mas sabe, agora acho que você é uma mocinha espetacular.

Que eu estivesse certa. Que houvesse mais alguém naquela casa. Minha respiração começou a se desregular, o medo esbofeteava meu coração.

– Serei uma moça bem melhor, longe de você. – falei com uma voz falha.

Balancei-me um pouco. Não adiantou. O sorriso psicopata do cara a minha frente somente aumentava. Meus olhos marejavam... Marcelo por mais descarado que fosse não era ruim; não me violaria. Não faria isso.

– Por favor Marcelo, me solte.

– O que é isso Marce? Não seja tão arredia, não farei nada contigo. – solto junto á um riso assustador, de controvérsia ao que acabara de falar.

No momento em que a minha invocação de coragem insana estava quase a funcionar, no momento em que a minha única alternativa, meu único pensamento lógico ela chutá-lo vem aonde doía mais, outra porta se bateu. Para o meu socorro, talvez nem tanto, Titia urso apareceu na dobra da sala para a cozinha. Marcelo suspirou de desapontamento. Ela olhou para nós inundada de ódio.

– Mas que merda é essa?


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Notas finais do capítulo

Eae, ta de agrado?
Diga ae rs
Beijos no kokoro! :3



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