Holocaust escrita por Vincent Kovacs


Capítulo 1
M203 Granade Launcher


Notas iniciais do capítulo

Primeiro capítulo de um projeto que a algum tempo não saia da cabeça, não só da minha como também de meus colaboradores.



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O barulho da chuva batendo no asfalto frio ensurdece as pessoas apressadas lá em baixo na rua, o garoto observa de sua janela no ultimo andar de um prédio prestes a ser interditado. Através das gotas de chuva que escorre pela janela ele também pode ver voando no céu, um pombo. Mal sabia ele a raridade de tal evento. Um pombo voando com as asas molhadas, algo que no futuro daquela criança seria talvez o símbolo que usaria como justificativa pra acreditar que não importam as circunstâncias, você sempre pode deixar o chão e voar rumo à liberdade.

Um rapaz surge de dentro de um beco escuro onde havia a porta de um pequeno e sujo bordel. Ele se cobre com o capuz da blusa e segue andando pela calçada. Em outro ponto da cidade, um rapaz está com um dos pés apoiados no parapeito de um prédio, também encapuzado, fumando. A duas quadras dali, outro rapaz está sozinho numa quadra abandonada, arriscando uns chutes a gol. Um raio. Tudo se apaga e logo volta a acender. Dentro de seu quarto, outro rapaz solta um grito de fúria por ter quando seu computador desliga abruptamente. E esse outro rapaz? O que será que esta pensando? Ele está no seu horário de trabalho, atrás da mesa, recostado na cadeira olhando para o teto com os dedos das mãos cruzados atrás da nuca. A gravata frouxa e os óculos desajeitados no rosto.

Após alguns minutos de caminhada, o rapaz de capuz que seguia pela calçada atravessa uma rua suja que terminava num pátio abandonado repleto de galpões em mal estado. Ele entra em um desses galpões e se põe a esperar, deitado num sofá velho que lá havia, dava pra se ouvir o chiado de seu fone de ouvido enquanto estava deitado. A música estava alta. Ele não houve o barulho da porta se abrindo e fechando, quando logo em seguida ele vê passando em sua frente um rapaz de capuz, soltando uma ultima baforada de cigarro, com certeza ele estava fumando. Ele levanta a mão para o alto enquanto se afasta, sem olhar pra trás, como forma de cumprimento. O rapaz deitado no sofá levanta os dedos indicador e médio da mão como forma de resposta ao cumprimento do outro, mesmo que este não possa vê-lo, pois já estava com as costas viradas para o rapaz deitado. Ele seguiu até a entrada de um corredor e sumiu da visão do rapaz no sofá.

– Você sabe do Kouta, Nishi ou do Gorz? – pergunta o rapaz deitado.

– Nem sei. Daqui a pouco eles aparecem ai. – disse a voz do outro lado da parede.

– O Kouta eu acho que tá trabalhando, aquele viado. Ae Azure, o que você fez o dia todo?

– Nada jhow, só caminhei por aí. Fumei pra caralho. E falei com a digníssima esposa né.

– Eu tenho que parar de ir nesses bordéis... Tava pensando em fazer que nem você e arranjar logo alguém pra passar a vida juntinhos... – Fala o jovem deitado, deixando um sorriso de escárnio surgir em seu rosto.

– Andou fumando aqueles bagulhos de novo?

A porta se abre e se fecha de novo.

– E ae rapeize.

– Eae Gorz - dizem os dois rapazes que já estavam no local.

– Nishi e o Kouta não chegaram ainda não? – perguntou Gorz, o recém-chegado.

– Que nada. Kouta deve tá trabalhando na lavoura, aquele preto. Nishi eu não sei.

– E tu Azure, não sabe do Nishi?

– Que nada, não vi nem falei com ninguém o dia todo.

Gorz se aproxima do sofá e diz:

– E ae Raika, chega mais pra lá. Tô todo quebrado.

O jovem antes deitado no sofá, agora se sentou e se afastou na direção da almofada ao lado.

– Já está tudo acertado pra hoje? –Pergunta Raika, olhando para Azure

– Metade do pagamento antecipado. – diz Azure. – Os caras querem mesmo se livrar da concorrência... Mas isso não importa de qualquer jeito é menos daquela merda na cidade...

–Vou limpar minha máscara então. –Raika levanta-se do sofá.

– Onde é que você suja tanto sua máscara? Sai pra zuera e leva ela? - disse Gorz, com tom de zombaria.

– Eu luto a curta distância tio. Tu sabe disso. Daí suja de sangue às vezes.

– Se for por isso, todo mundo aqui luta. –Retruca Gorz

– Mas com lâminas?

– Ah, aí é por sua conta.

– É por isso que EU vou lava-la. –Termina Raika

Raika se aproximou de uma parede, onde havia cinco máscaras de gás penduradas. Pegou uma delas, a mais suja, e seguiu através do corredor onde Azure estava antes. O corredor terminava no banheiro. Um banheiro grande parecido com esses banheiros públicos que provavelmente era usado por vários funcionários que trabalhavam no galpão. Ouviu-se o barulho da água correndo. Enquanto isso Azure e Gorz conversavam no salão principal.

– Qual o plano pra hoje? - perguntou Gorz.

– Caminhão carregado de drogas. É interceptar e queimar a mercadoria.

– Segurança?

– Sei lá. A gente descobre quando chegar lá. Mas por que a pergunta? Tá com preguiça de carregar as granadas hoje? – Azure mostrou um sorriso como forma de riso disfarçado.

– Tsc. Nem é isso, só pra saber se vou ter a noite livre ou se vou ter que ficar por aqui me remendando.

– Ah tá com “noite livre” você quis dizer, livre pra dormir né? –traduz Azure em meio a uma pequena risada.

– pode ser. –Confirma Gorz, rindo igualmente.

Nesse instante, do banheiro sai um cara totalmente diferente do que havia entrado. Máscara de gás no rosto, sem camisa, mostrando algumas tatuagens nos braços e nas costas. Uma cicatriz próxima à região do baço.

– Vai primeiro Raika? Tudo isso é pressa? – Disse Gorz.

– O moleque tá louco pra agir hoje, aquelas idas a bordeis tão dando um gás nele.

– Tá inspirado hoje Raika? vai ter alguma fumada lá pra você impressionar? –Continua Gorz a caçoar.

– Só saudades da máscara mesmo. Uma semana já pô – justificou Raika.

O telefone toca e o mais próximo a ele é Azure, é este que o atende.

– Fala aê... Ok, e o nishi? ... Certo. Então a gente vai indo. Não, não, tá tranquilo. Só a gente aqui mesmo já da conta.

Ele desliga o telefone e a pergunta vinda de Raika foi imediata.

– Kouta, vulgo preto fudido?

– Ele mesmo. Tá “cansado” e perguntou se tava tudo bem em ele faltar. Então... Somos só nós três. Nishi sumiu!

– Sussa - disse Raika.

– Vamo nessa então.

O guarda da guarita da fábrica de pastas de dentes nem viu quando Azure o acertou na cabeça com um pedaço de pau. A antiga fábrica de pastas de dentes, que nem sequer foi inaugurada, estava sendo usada por traficantes pra colocar a droga nos tubos das pastas e carrega-los sem maiores suspeitas. Um caminhão carregado da droga estava prestes a entrar pela guarita cuja qual Azure já tinha assumido a posição do guarda até então nocauteado.

– Não é por aqui não, a entrada agora é lá nos fundos. Dá a volta aí.

– Nossa a cada vez é uma merda diferente. Tá certo, tô indo – disse o motorista do caminhão que a seguir olhou com cara de frustração para o seu companheiro de entrega, na tentativa de compartilhar a raiva devido ao transtorno “burocrático”.

Assim que o caminhão deu a ré, ele seguiu para a direita da fábrica que era cercada por grades de arame bem altas e que em algumas partes contavam com um arame no topo da grade por onde passavam cargas elétricas. O caminhão virou à esquerda em um beco que servia de fronteira entre essa fábrica e um matagal bem alto que era cercado por muros de concreto e servia de lixão para os moradores da região.

O caminhão seguiu no beco por alguns metros e logo as luzes dos faróis revelaram um homem parado no meio do caminho. Os dois homens no caminhão se entreolharam e se perguntaram:

– Mas oque diabos é agora?

– Ele tá usando uma máscara de gás?

– Parece que sim – responde o motorista com a voz um tanto espantada.

O rapaz parado no beco levantou os braços revelando um objeto e a reação dos caminhoneiros foi imediata:

– Aí meu Deus ele tem uma arma! – gritaram os dois.

Eles tentaram abrir a porta do caminhão pra sair correndo, mas o garoto com um fuzil M4-A3 com um segundo cano, de diâmetro maior acoplado ao cano principal, foi mais rápido e aperta o segundo gatilho, assim usando o lança granadas, a granada voou e acertou em cheio no meio do para-brisa do caminhão. A fumaça toma conta da cabine e depois de uns instantes os dois conseguem sair de lá ofegantes e tossindo muito. Mesmo nesse estado, eles olham pra cima, assustados com o barulho de passos que vinha de cima do caminhão. Era como se alguém viesse correndo de lá de cima. Em seguida ouve-se um barulho muito forte de alguém aterrissando em cima da cabine do caminhão. E logo depois, tudo o que eles veem é outro rapaz usando máscara de gás aterrissar entre os dois logo depois de um salto exuberante no qual só se podia ver uma silhueta cobrindo a luz da lua. Ele segura com cada uma das mãos a cabeça do motorista e do seu companheiro, e bate uma na outra com força. O resultado são dois homens caídos no chão, inconscientes.

Nesse instante, na entrada do beco se encontra uma sombra esticada no chão. O dono dessa sombra era Azure, que já havia colocado a sua roupa de volta. Um moletom azul com o capuz cobrindo sua cabeça e uma calça jeans. A máscara de gás de Azure não cobria a região de seu olho direito, cujo qual não era possível ver naquele momento devido à escuridão. Enquanto ele se aproximava das portas do baú do caminhão, os outros dois mascarados fizeram o mesmo. E agora estavam os três parados na frente das portas. Azure no meio, a esquerda estava Raika, e Gorz a sua direita, com o fuzil na mão. Azure rompeu o cadeado com um pé de cabra e logo em seguida abriu as portas. Azure acendia um cigarro enquanto Raika jogava a gasolina de um galão que ele havia encontrado na cabine do caminhão nos sacos de drogas. Após isso, os três se viraram para a saída do beco, andaram alguns passos e então Azure arremessa o seu isqueiro pra trás. O isqueiro deu algumas voltas no ar e quando enfim aterrissou o resultado foi uma grande explosão. Os três já estavam bem distantes nesse instante, quando Azure olhou para o lado e depois de uma baforada disse:

– Porra Raika! Já te disse que não é pra olhar para as explosões.

– Foi mal bro, é que eu acho tão... Tão... Aaahh cara é foda pra caralho!!!! – Ele respondeu num animo doentio.

Gorz e Azure apenas riram. Minutos depois estavam os três no topo de um edifício abandonado e Azure fazia uma ligação. Alguns instantes com o celular no ouvido e então:

– Concluído.

Logo em seguida ele desliga o celular, se vira para os dois companheiros que cantarolavam alguma música e diz:

– A de hoje eu deixo por minha conta.

– Hohohoho – Comemorou Raika com muito entusiasmo.

– Ah cara, eu nem bebo. Mas valeu aí. – disse Gorz num tom bem amistoso, algo comum de se sentir sempre que ele falava- Vou pra casa, dormir um pouco. – ele riu discretamente ao dizer isso, pois se lembrou do que Azure havia dito a respeito de suas “noites livres”.

– Esse Gorz... –Azure deu uma leve risada. –vai lá manolo. Vamos nessa Raika?

– Já era pra ter ido. Vam bora.


Era um bar de esquina, em cima dele havia uma pensão que Raika atualmente chamava de casa. A rua terminava num caminho de terra, uns três ou quatro quilômetros a frente, que seguia para um morro onde havia uma favela. Raika e Azure estavam sentados sozinhos numa mesa, eram os únicos ali. A porta do bar já estava praticamente toda abaixada. O dono do bar estava lá nos fundos se arrumando pra sair.

– Tá pensativo hoje Azure, aconteceu alguma coisa man?

– Vai acontecer. Mas deixa isso pra lá, um período bem movimentado vem aí e a gente tem que estar com a cabeça boa.

– Hmm danado – Raika lança um sorriso irônico enquanto malicia o que Azure tinha acabado de dizer.

– se liga viado, tô falando serio pô – Ele disse com um sorriso no rosto.

– Eu sei. Só tô brincando um pouco. Você fica com o pé meio atrás né? Namorada, família e tal. Certo?

Azure deu longo gole na sua lata.

– É. Mais ou menos. Eu queria falar isso com você primeiro e acho que essa é uma boa hora.

Raika interrompeu seu gole no mesmo instante em que Azure terminou de falar. E enquanto limpava a cerveja no canto da boca ele disse surpreso:

– O que foi cara?

– É que eu falei pra Haru sobre a gangue e...

Antes mesmo que Azure terminasse Raika o interrompeu num tom de descrença:

– Contou mesmo? Você? Dando satisfação pra mulher? – Ele riu. – Esse mundo dá voltas. Mas oque ela disse?

– Ela surtou. Disse que já desconfiava que eu estivesse metido em encrenca desde que tinha parado de trabalhar, mas que não imaginava que seria algo desse tipo.

– Nem era pra imaginar né? –Raika continuava a rir, mas agora a risada perdia as forças gradativamente.

– Mas enfim, ela tá me embaçando e... Eu me preocupo com ela. Só vejo uma solução.

Antes que ele prosseguisse Raika disse enquanto olhava para o teto com as mãos na nuca:

– Não faz isso.

– Hã?

– Isso AINDA não te atrapalhou, e ela está se preparando pra se adaptar a esse seu estilo de vida. Não precisa fazer isso agora. Você mais do que ninguém deveria saber que não se pode seguir a vida baseando-se em previsões hipotéticas.

– Verdade...

– E outra, se não aconteceu nada com ela até agora, não é porque você contou a verdade a ela que vai acontecer. Enquanto ela não se meter nos negócios vai estar tudo bem.

– É. Você tem razão. Valeu o toque man, não contava com essa... “aceitação” de vocês.

– “Você”. – Corrigiu Raika.

– É. Você. – Azure soltou um curto riso.

Nesse instante uma voz próxima a eles disse num tom bem elevado:

– Não sabem o caminho de casa ou oque?

Os dois se viraram e viram o dono do bar os encarando com um meio sorriso no rosto. Ele continuou a falar, dessa vez se dirigindo a Raika, seu inquilino:

– Eu entendo que você disse que trabalha com agrotóxicos, mas... Até essa hora? – Ele riu.

Raika percebeu que ainda estava com a máscara de gás pendurada em seu pescoço. Ele riu e disse com um sorriso no rosto:

– Se o senhor reduzir o aluguel, de repente eu não tenho que trabalhar até tão tarde – Raika lançou uma rápida piscada com o olho direito.

O dono do bar riu e disse:

– Boa tentativa, rapazinho. Mas não. Vá pra casa – Ele disse sorrindo.

A noite terminou com Azure em sua casa junto com sua namorada, Raika subiu no telhado de um prédio abandonado pra terminar de beber um fardo de cerveja e acabou dormindo lá mesmo. Gorz já estava em sua casa, dormindo.


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Notas finais do capítulo

Aguardem o próximo capítulo ele segue ainda com mais ação do que este!
E finalmente mais alguns personagens poderão ser apresentados...



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