Undercover escrita por Aline


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Hellou. Ninguém ta lendo mas ta aí, o capítulo dois.



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 Fico estática: Alice.Mace.Alice Mace. Alice Mace. Esse é o meu nome. Ai meu Deus, vou morrer. Não espera, o que estou fazendo? Por que ainda estou encarando o chão? É meu nome, meu nome! Você tem que caminhar para o palco animal, digo para mim mesma. Pela primeira vez levanto meus olhos e minha respiração esta descontrolada. Olho para Ula que esta com cara de choque e Juliet que esta com a mão na boca e lágrimas silenciosas saem dos seus olhos. Quando me chamam de novo, saio do meu rápido transe e caminho lentamente para o palco. Evito olhar para alguém, pois sei que estão com pena, e odeio que sintam isso em relação a mim. É só isso que sentem sobre minha família desde que meu irmão morreu. E eu não preciso da pena de ninguém. Um grupo de pacificadores chega ao meu alcançe, me fazendo caminhar mais rápido. Quando subo procuro o olhar dos meus irmãos e vejo que Alex já esta chorando. Isso me atinge como um raio: Ainda não foi escolhido o tributo masculino.

-Quantos anos você tem querida?- A mulher bizarra da Capital me pergunta, acho que tentando ser simpática ou algo do tipo.

- Dezesseis. – Minha voz sai mais baixa que um murmúrio. Ela diz outra coisa que não presto muita atenção, já que estou lutando para não chorar na frente de todo mundo. Que não seja um dos meus irmãos. Que não seja um dos meus irmãos. Por favor, por favor.Fico repetindo isso em minha cabeça com os olhos fechados. Ela repete o processo de quando pegou o nome feminino. O meu nome. Ainda não me acostumei, desculpe. Abro meus olhos e vejo ela dando os mesmos três tapinhas e sorrindo de orelha a orelha. Ela deve amar isso.

- Travis Ivory.

Um alívio invade meu corpo. Não foi nenhum dos meus irmãos. Pelo menos isso. Até que me lembro do dono desse nome. Abro meus olhos rapidamente e o procuro na sessão dos meninos de 12 anos. Ah Travis... ele brincava de vez em quando com meu irmão. Ele sobe ao palco tão assustado quanto eu mas com mais determinação. O que é humilhante, mais ou menos. Quando Ária pergunta sua idade, sua voz sai alta e em bom som.

- Nossos tribos do Distrito 4: Alice Mace e Travis Ivory! Uma salva de palmas para os dois!

Palmas desanimadas se seguem. O prefeito termina sua leitura sobre o Tratado da Traição e Travis  aperta minha mão, como nos mandam.

Enquanto sou conduzida para o Edifício da Justiça, minha mente esta a mil: Penso em minha família e como quero voltar para eles. Mas não devo, não quero, em como não posso matar Travis. E eu realmente quero que ele fique vivo. Mas ele sair vivo significa eu morrer, e vice versa.  E já estou com uma dor de cabeça gigante. Lá dentro eles nos colocam em salas separadas, e até onde vai meus conhecimentos, para nos despedirmos.  Sim, é isso. Me lembro como se fosse ontem eu dando o último abraço no meu irmão. Imagino se minha mãe acha que esta fazendo isso agora, se despedindo permanentemente.  Será que já esta preparando um lugar em um cemitério? Será que vai me esquecer e fingir que nunca existi, assim como fez com Alo? Não, não quero pensar nisso. E é bem nessa hora que meu irmão mais velho entra.

- Alice, me escuta. Você vai sair viva, vai sim.

Ele esta me esmagando em um abraço e a vontade de chorar volta. Eu o afasto assim como fiz com as lágrimas e minha voz sai um pouco descontrolada.

- Claro Albert.Com 24 pessoas, sendo que alguns treinaram a vida toda para matar qualquer coisa que se mexa, eu, a menina que cata conchinhas na praia, vai sair viva.

- Ali, me escuta. Treinavamos um pouco jun...-

- Aquilo era antes do Alo morrer. De mentira. Isso é real Albert! Não entende? Agora pare com essa palhaçada e dê o último abraço da vida de sua irmãzinha.

Ele o faz. Acho que ficaremos assim um bom tempo e se pudesse, eu passaria os últimos minutos da minha vida assim: abraçada ao meu irmão. E eu não me importaria.

-Alice, é sério. Me escuta. Você é mais inteligente do que pensa, você é boa. Se esforça. E se seu mentor for quem eu acho que é, eu garanto que não vai deixar você morrer tão fácil. Só aguente até chegar patrocínio e não feche os olhos e-

Ele foi cortado com a entrada de um pacificador que nos separa e o tira da sala. Antes que eu pudesse pensar em algo, Ula e Juliet  entram na sala. Me esmagam assim como meu irmão havia feito anteriormente. Mas diferente dele, não trocamos uma palavra. Apenas ficamos abraçadas até nosso tempo esgotar.

Minha última visita foi de meu irmãozinho e minha mãe. Nem me importo de perguntar porque meu pai não veio, mas no fundo fiquei magoada.  Minha mãe me abraça, não tão apertado quanto minhas outras visitas. Ela afaga um pouco meu cabelo e se afasta. Passa a mão no meu rosto e me encara. Lágrimas silenciosas caem sob seu rosto. Ela sorri triste e me olha dos pés a cabeça. Eu entendo que me olha assim porque esta tentando memorizar cada detalhe meu. E com isso, confirmo que para ela já morri. Agora quando vai para o canto da sala, Alex me olha, com a cara inchada, já que chorou toda a Colheita. Ele parece tão pequeno agora, me lembro quando tinha 6 anos e me seguia para todos os lados. Me agacho até que ficamos com a mesma altura.

- Viu campeão. Não foi você. Eu disse que não seria você.

Eu digo tentando parecer forte, ou como se não ligasse para o fato que acabei de marcar a data de minha morte. Até porque meu lema é: Melhor fazer piadas de coisas tristes e rir delas, do que se lamentar pelos cantos. Alex não muda de expressão. Ele remexe o bolso, e pega uma coisa que não consegui ver. Agora sim ele me abraça. E sei que esta chorando novamente pois sinto as gotas em meu pescoço.

- Ei, não chora. Vai ficar tudo bem. Você tem o Albert. Lembra, você sempre quis um quarto so para você, não vai mais escutar Al roncar.

Eu rio com esse pensamento. Mas minha vontade é de chorar. Novamente. Pela terceira vez no dia. Sendo que não choro desde a morte de Alo.  Alex se afasta de mim, pega na minha mão e ali coloca o que tirou do bolso. Uma conchinha. Uma das do mesmo tipo que catamos todos os anos para jogar em homenagem a Alo. Eu fito a concha em minha mão e a vontade de chorar aumenta e  agora parece impossível controlar. Por mais que ele não diga nada eu sei que significa. E ele também. É um segredo nosso. Tornando o gesto dele mais especial. Já com lágrimas no canto dos meus olhos beijo sua testa e digo com a voz tremula mas com determinação.

- Eu vou vencer Alex. Por você. Eu vou voltar. Eu prometo.

Ele seca minhas lágrimas e responde com uma voz tão fria que parece congelar minha alma

-Não faça promessas que você não pode cumprir Alice.

O choro da minha mãe agora é audível no canto da sala e antes que eu possa responder, dizer para a Alex que não menti quando disse que voltaria para casa, novamente um grupo de pacificadores entra na sala e os tira de mim. Quando prometi para meu irmãozinho que voltaria nem pensei em Travis, e agora pensar nele faz meu estômago revirar e me pergunto até onde irei com a ideia de voltar para casa. Ate porque se eu voltar, vou viver com a culpa de que deixei  Travis morrer. E pela primeira vez em dois anos, me permito chorar.


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Notas finais do capítulo

adioss