al Chemist escrita por Thiago França


Capítulo 10
Capítulo 9 - De Volta às Origens


Notas iniciais do capítulo

Pronuncia-se Aizenrrain.

Holunder (do alemão "idoso, ancião, velho").



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Ka sentia que estava flutuando, mas não tinha noção de onde era cima ou baixo, pois estava escuro. Na verdade ele não via sua mão tocando o nariz. Não sabia se estava de olhos abertos ou fechados.

Onde estou?,pensou.

Ele semicerrou os olhos achando que melhoraria a visão, mas de nada adiantou. Resolveu fecha-los bem apertados para ter certeza de que agora seus olhos estavam fechados. Então, os abriu, mas continuou na mesma. De repente, tudo começou a clarear e ele sentiu que estava caindo, mas a queda não durou nem um segundo, pois estava a menos de dois metros do chão.

Mas que lugar é esse?,pensou enquanto se levantava. De alguma forma, sua voz não saía.

Agora ele via um chão de terra avermelhada que se estendia infinitamente para todos os lados e um céu negro e sem estrela nenhuma. Nem vento havia.

Ao longe, ele ouvia vozes. Vozes que aumentavam e ficavam mais altas. Ka percebeu que vinha do chão, então se abaixou e pôs a cabeça próxima a terra, tentando ouvir. As vozes pareciam estar se aproximando, até que uma hora elas pararam. Ka ficou esperando, seu coração batia acelerado. Nesse momento, dezenas de braços saíram de baixo da terra, abraçaram Ka e o puxaram para baixo. Foi algo tão rápido que ele não teve tempo de pensar no que fazer. Ao puxarem para baixo, tudo ficou negro novamente e Ka acordou no pé de uma árvore. Ele sempre teve pesadelos estranhos, mas depois do encontro com Kitsune há um mês, eles ficaram constantes. Ka percebeu que sua visão ainda estava diferente. Ele podia ver melhor no escuro. Então Lulua surgiu ao seu lado, mas quando olhou, ela estava estática.

Você me deu um susto, garota.– ele disse.

–Eu ia dar um susto em você, mas você olhou antes... como se soubesse.

–Mas eu te vi aparecendo do meu lado e me assustando.

–Você deve ter sonhado. Acabei de aparecer aqui.

Ka, agora, percebia que sua visão havia voltado ao normal.

–Tem algo de estranho com meus olhos?– ele perguntou.

–Lindos como sempre.– ela respondeu. –Nada de errado. Por que?

–Nada. Só tive um pesadelo estranho, mas deixa pra lá.

–Você sempre tem pesadelos estranhos. Ou estou errada?

–Tem razão. Ei, acordou no meio da noite só para me dar um susto?

–Na verdade são cinco da manhã e Rehena e eu estamos sem sono.

–Querem partir?

–Só se não quiserem dormir mais.– Rehena disse aparecendo atrás de Lulua.

–Vamos, então.– Ka disse enquanto se levantava e esticava a costas.


Eles partiram enquanto o sol nascia. O céu ia de um azul violeta a vermelho alaranjado. Conforme andavam, a floresta ficava menos assustadora. As horas faziam questão de passar rápido. Os estômagos dos três rugiam de fome. Então Ka parecia estar farejando algo.

–Sentem o cheiro de queimado?– ele perguntou.

–Não sinto nada.– Rehena respondeu.–Não estou com tanta fome a ponto de querer comer carvão.

Ka correu em frente. Lulua e Rehena, sem entender, o seguiram. Eles saíram do meio das árvores para uma pequena área sem árvores onde havia uma casa. Ela era feita de pedras, tinha forma circular e seu teto, em forma de cone, era de palha com uma chaminé saindo do ponto mais alto. Fumaça saía dela, respondendo a questão do cheiro de queimado. Ambos abriram um largo sorriso.

–Comida!– disseram em uníssono.

Eles foram até a porta de madeira. Havia uma espécie de pedra transparente pendurada nela. Ka bateu na porta e a pedra brilhou, fazendo os três se afastarem. Então, uma cabeça gigante surgiu entre eles e a porta. A cabeça de dois metros de altura era de um homem velho, com barba crescendo, cabelos despenteados, óculos presos à cabeça por um elástico e manchas escuras pelo rosto. Ele possuía várias cores e tremia, como uma imagem de TV com sinal fraco.

–O que vocês querem?!– ele disse. Sua voz saiu extremamente alta e ecoante. Sua forma tremeu mais forte que o normal.

Ka achava que conhecia aquele rosto, mas depois de ouvir a voz, sabia quem era.

–Esse... é meu professor de poções.– Ka disse. –Digo, era.

–Seu professor é um holograma?– Lulua perguntou.

–Claro que não. Ele só inventa coisas demais.

–Como assim “era seu professor”?– Rehena perguntou.

–Ele foi demitido por ser acusado de não conseguir organizar suas ideias e estar inapto a mestrar aulas regulares.

–Você quer dizer que ele era maluco.

–Exato.


A cabeça, então, começou a tremer como se estivesse perdendo sinal e sumiu. A pedra parou de brilhar. Segundos depois o professor abriu a porta enquanto reclamava do mau-funcionamento da pedra, mas se interrompeu quando avistou os três.

–Olhe só quem é.– ele disse. –Meu quase pupilo, Ka. E vejo que está acompanhado de duas lindas senhoritas.– ele levantou os óculos, que ficaram em sua testa. –Albert Eisenheim.– ele disse fazendo menção como se elas fossem princesas. Elas responderam da mesma forma.

–LuluaD’FireLight.– ela respondeu.

–RehenaBraveheart.–ela disse após.

Os estômagos deles rugiram novamente, raivosos, avisando que não era hora para formalidades.

–Professor Eisenheim.– disse Ka. –Tem algo para comermos?

–Claro, entrem.– ele respondeu.

Os quatro entraram em casa e Ka, Lulua e Rehena perceberam que ela parecia maior por dentro. As paredes de pedra eram infestadas de prateleiras presas que sustentavam centenas de frascos com líquidos de várias cores, cada frasco contendo um objeto estranho. De um lado da casa estava a cama desarrumada e coberta de papéis com desenhos e diagramas. Na mesa do centro havia várias ferramentas e objetos de metal, que deveriam dizer que ele tentava construir algo. No canto oposto ao da cama, havia um fogão, que preparava chá, e um balcão ao lado com louças e gavetas.

Uma única lâmpada iluminava a casa toda. Os frascos refletiam a luz em várias cores. Os três sentaram em volta da mesa do centro e olhavam curiosos os livros e os objetos sobre ela. O professor afastou as coisas, abrindo espaço para colocar o bule de chá e quatro xícaras. Ka serviu o chá enquanto o professor voltava ao balcão para pegar uma cesta de pães. Quando o professor pôs a cesta na mesa, Ka, Lulua e Rehena pegaram vários pães e comeram um atrás do outro, não tendo tempo nem de respirar. Ambos se engasgaram e deram um grande gole nas xícaras de chá, mas então, sentiram o líquido fervente descendo pela garganta e tentaram inspirar todo o ar do mundo.

–Há quanto tempo não comem?– o professor perguntou.

–Desde ontem.– disse Ka mastigando.

–O que fazem andando por aí sem comer?

Os três se olharam.

–Procuramos os Devoradores de Almas.– Ka respondeu.

O professor cuspiu seu chá.

–Então eles existem mesmo.

–Claro que existem.– Ka disse. –Eles mataram minha irmã.

–Irmã? Achei que fosse órfão.

–Bem, nos adotamos como irmãos. Ela também não tinha pais.

–Muito nobre de sua parte, jovem prodígio.

–Sabe algo sobre eles?– Rehena perguntou. –Os Devoradores de Almas.

–Lembro que são muito poderosos. – o professor respondeu. –Aquelas sanguessugas malditas! Sinto muito, mas meus arquivos ficaram na escola quando fui demitido. Lá deve ter algo relacionado.

–Precisamos ver. – disse Ka se levantando da cadeira. –Onde fica a escola? É muito longe daqui?

–Longe?– o professor riu. –Não acredito que não tenha visto daqui.

O coração de Ka acelerou. A cidade que passou sua vida inteira estava mais próxima que imaginava. Ao mesmo tempo sentiu um aperto em seu peito. Será que vão me aceitar?,pensava. Eles saíram pela porta e o professor apontou para o lado oposto a que eles vieram. Ka, Rehena e Lulua avistaram uma torre branca logo após as árvores.

–Vão logo, antes que acabem com meus pães e o chá.– o professor disse. Lulua segurava dois pães enquanto mastigava um inteiro.


Os três foram para o castelo deixando o professor Eisenheim reclamando com seu holograma. Ka permaneceu calado o caminho todo. Rehena e Lulua acharam que era melhor dar um tempo para ele. Quando saíram do meio das árvores, se depararam com um enorme morro que possuíam um castelo gigantesco de mármore branco. Mesmo tendo visto aquilo todos os dias durante anos, Ka ainda se impressionava.

–Essa é sua escola?– Lulua perguntou.

–Legal, não é?– Ka respondeu.

–Super.– Rehena disse.

Mas o que eles viam eram as costas do castelo.

–Vamos, temos que contornar o morro para chegarmos à entrada.– Ka disse.

A floresta circulava todo o castelo. Eles foram andando pelo limite entre a floresta e o morro de grama aparada. Levaram quase meia hora para cruzá-lo. Após subir de volta ao morro, avistaram uma cidade na base do castelo.

–A entrada é por dentro da cidade.– Ka disse e apontou para uma escadaria que ia da cidade até o castelo.

–Você gosta de andar. – elas disseram juntas.

–Acho que sim.– ele respondeu.

Eles desceram o morro e contornaram os muros de dez metros de altura, feitos de pedra, que cercavam a cidade.


Quando chegaram aos portões da cidade, viram que estava aberto. Havia uma estrada que saia dos portões e sumia no meio da floresta.

–Onde esse caminho vai dar?– Rehena perguntou.

–Se me lembro bem, em outra cidade que possui uma estação de trem.– Ka respondeu.

–Qual a distância?

–Sete ou onze quilômetros. De repente treze.– ele disse como se fosse perto.

–Você diz isso como se fosse perto.

–Vocês é que são preguiçosas.


Dos portões à escadaria do castelo, era somente linha reta. Uma larga rua reta, com casas e lojas em ambos os lados. No meio do caminho havia um chafariz com várias crianças brincando de barquinhos. Para os lados, haviam centenas de ruas e becos cheios de curvas, ligando casas e lojas.

–Onde você morava?– Lulua perguntou quando eles chegaram ao chafariz.

–No orfanato, naquela direção.– ele respondeu apontando para a direção do orfanato. –Depois lhes mostro.

Eles continuaram andando e finalmente chegaram à escadaria. Olhando dali, o castelo era imenso. Possuía cinco torres, sendo a do meio maior e mais larga que as outras. O telhado das torres era pontudo e de cor escura. Eles já estavam quase na metade da escadaria e Rehena pensava em não querer mais ter coxas saradas. Na entrada do castelo havia duas grandes portas de quinze metros de altura. Um senhor estava sentado numa cadeira ao lado das portas, mas ele estava de cabeça baixa. Deveria estar dormindo.

Ka empurrou uma das portas e o senhor quase caiu da cadeira com o susto que levou devido ao rangido. Ka o olhou nos olhos e o senhor o olhou surpreso.

–Ah, é você.– ele disse se ajeitando na cadeira.

Ka sorriu e os três entraram. Quando a porta se fechou, o senhor baixou sua cabeça e voltou a dormir.


Eles estavam num pátio enorme, de pedras. À esquerda havia uma fonte em que a água saía pela boca de uma espécie de peixe. À direita, a praça de alimentação, onde um telhado de vidro cobria dezenas de mesas e cadeiras que rodeavam uma cantina. Continuaram andando e entraram por um arco de mármore e subiram uma escadaria. Em todos os cantos havia grupinhos de alunos. Todos vestindo diferentes tipos de roupas, talvez de diferentes lugares do país ou do mundo.

–Que lugar é esse?– Rehena disse. –Hogwarts?

Ka deu uma risada.

–É parecido.– ele respondeu.

–Por que tem gente aqui? O ano letivo nem começou ainda.

–Algumas pessoas preferem vir a ficarem em casa, outras ficam aqui, pois moram longe e outras não tem para onde ir.

–Mas hoje é domingo.

–Aqui chamamos de “dia do nada” e muitas das pessoas que estão aqui estão tirando o atraso dos estudos. Estudar aqui não é mole não.

Lulua olhava admirada tudo aquilo.

–A sala do diretor é subindo a escada.

–Vocês podem ir, eu vou olhar mais um pouco.– Lulua disse.

–Certo, nos encontramos na praça de alimentação em uma hora.

–Tudo bem.– Lulua disse e entrou num corredor.


Ka e Rehena subiram uma escada em espiral e no fim, deram de cara com uma porta. Ka bateu e alguns segundos depois, ela se abriu. Um senhor havia aberto-a. Ele aparentava ser velho, sua barba branca chegava à cintura e seus cabelos, também brancos, iam até as costas. Vestia uma espécie de vestido (uma capa, toga, imagine como quiser), negro com estrelas que era diferente de tudo que Rehena havia visto. Era como se a capa mostrasse o espaço sideral. Buracos negros sugavam planetas, estrelas explodiam em supernovas, sistemas solares giravam, cometas atravessavam de um lado a outro.

–Oh, bem-vindo de volta à faculdade de magia.

–É bom ver o senhor também, professor Holunder.

–E quem é essa linda donzela?

–Sou Rehena Braveheart.– Rehena disse e Holunder apertou sua mão.

–Diretor Holunder.– ele disse.

–Nossa amiga Lulua está conhecendo o lugar.– Ka disse.

–Eu os vi chegando. Digam-me, o que os trás aqui?

–Professor, precisamos de sua ajuda.

–Claro, entrem.

Eles entraram, o diretor fechou a porta e foi até sua mesa.

–Primeiro eu quero que veja isso.– o diretor disse, pegando algo em sua gaveta.

–Um pergaminho?– Ka perguntou.

O diretor abriu o pergaminho em cima da mesa.

–É só um símbolo de yin e yang.– Ka disse.

–Não é só um símbolo de yin e yang.– o diretor respondeu.

–Ei, o que são esses círculos em volta?

O pergaminho possuía um círculo yin-yang no centro e oito círculos vazios em sua volta.

–Há uma profecia.– o diretor disse. –Que diz que quando os dez guardiões elementais se reunirem, irão enfrentar o mau e trazer o equilíbrio de volta ao universo.

–Profecia?

–Sim. Ouvi rumores sobre três jovens que possuem os elementais da terra, ar e água.– o diretor desenhou três cabeças dentro de três círculos, sendo um em cada. Ele pôs um ponto de interrogação nos rostos deles e, embaixo do círculo, escreveu o nome de cada elemento correspondente.

–Os rumores são reais.

–Então você sabe onde encontrá-los?

–Não, mas eles não são aliados.

–Vamos pensar nisso depois. Bom, os elementos são os seguintes: Fogo, Água, Ar, Terra, Trovão, Gelo, Folha, Metal, Luz e Escuridão.– ele escreveu os nomes dos elementos em cada círculo, sendo os círculos do yin-yang representando a Luz e a Escuridão.

Ka e Rehena olhavam atentos.

–Já temos Água, Ar e Terra. Sua amiga Lulua representa a Luz.– o diretor desenhou, em forma de mangá, o rosto de Lulua no círculo que representava a Luz. Ka ficou intrigado, mas não disse nada. –e Rehena, o Gelo.

–Espere.– Rehena o interrompeu. –Está dizendo que tenho o Elemental do Gelo em mim?

–Não diretamente. A família Braveheart possui um antigo pacto com o Guardião do Gelo, então você pode representá-lo.– o diretor respondeu.

–Conhece minha família?

–Há muitos anos seu avô matriculou sua mãe aqui e achou que deveria haver algumas reformas na estrutura da escola, então ele nos ajudou a financiar algumas obras. A propósito, você se parece muito com ela.

–Minha mãe nunca me disse que havia estudado aqui.

–Bem...

–Gente, foco. – Ka interrompeu o diretor.

–Desculpe.– Rehena disse. –Mas e a pessoa que possui o Elemental diretamente?

–Não tenho conhecimento de que alguém o tenha possuído. É possível que seu espírito ainda esteja selado.– o diretor respondeu.

Ele desenhou o rosto de Rehena no círculo que representava o Gelo.

–Muito bem, agora me responda que história é essa de a Lulua ser a Luz?– Ka perguntou.

–Guerreiros de Luz são raros. Eles estão quase extintos. Os ensinamentos são duros e passados de geração em geração. Lulua possui um potencial incrível, posso sentir.

–Então se Lulua é a Luz, eu sou a Escuridão?

–Não, Ka, você é o Fogo.– ele desenhou o rosto de Ka no círculo do Fogo.

–Mas eu... espere, como você sabe?

–Sei que não foi embora por que era inteligente demais para permanecer na escola.

–Você sempre soube.

–Sim.

–Como pode? Passei todos esses anos, sozinho, procurando uma explicação.

–Você não estava sozinho. Nunca esteve.

–Nunca estive?! Quando os médicos me disseram que eu era maluco depois de todas aquelas sessões com eletrodos na minha cabeça e drogas em minhas veias, ninguém veio me ajudar! Nenhuma criança de dez anos tem os mesmos pesadelos todas as noites e nem ouve vozes dentro da cabeça.

Os olhos de Rehena ardiam e se enchiam de lágrimas. Ela jamais imaginara que isso poderia ter acontecido com Ka. Embora fechado, ele aparentava ser alegre.

–Você ao menos poderia ter me explicado o que era ou que esse foi o motivo dos meus pais terem morrido.

Rehena arregalou os olhos e pôs as mãos na boca. As lágrimas escorreram pelo rosto e desceram pelas mãos. Ela não fazia ideia do que havia acontecido, mas hipóteses vinham em sua cabeça.

–Se eu lhe dissesse, você teria sentido pena de si mesmo. Teria achado que foi culpa de todos, iria sentir raiva. A raiva ia tomar conta de você e Kagutsuchi iria conseguir tomar o controle. Ou estou mentindo?

–Eu... mas...– Ka não sabia o que dizer. Era tudo verdade.

–Eu entendo. Você se tornou muito forte. Não esperava menos de você.

Rehena secou as lágrimas.

–Vamos voltar ao assunto do pergaminho.– o diretor continuou. –Faltam, então, Metal, Trovão, Folha e Escuridão.

Ka se lembrou de Deluge na cachoeira com aquela aura negra.

–Deluge...– ele disse.

–O que tem ele?– o diretor perguntou intrigado.

–Há alguns meses, eu o encontrei e ele estava emanando uma aura estranha.

–Estranha?

–Sim. Era negra, a voz dele também estava mudada. Parecia que estava imerso em escuridão.

–Como se ele estivesse sendo possuído pelo Elemental?

–Acho que sim. Antes de ir embora, ele me disse que o caminho que deveria seguir era sem amigos e sem volta.

–É possível que o Guardião da Escuridão já esteja tomando o controle. Não achei que ele fosse chegar a seguir por este caminho.– o professor olhou o pergaminho por alguns instantes e desenhou o rosto de Deluge no círculo que representava a Escuridão.

–O que faremos?

O diretor enrolou o pergaminho e o entregou a Ka.

–Ache os Elementais que faltam.

–Água, Terra e Ar não vão querer ajudar.

–Não precisa dos usuários, somente dos poderes deles.

–Mas como irei retirar os Elementais deles?

–Conhece a historiada Royal Society?

–Conheço. Há quinhentos anos eles impediram um feiticeiro que queria usar o Elementais e dominar o mundo.

–O líder da sociedade usou um livro para aprisioná-lo. Achando o livro, você saberá como prosseguir.

Eles se levantaram e foram em direção à porta. O diretor a abriu para que Ka e Rehena saíssem. Rehena saiu, mas Ka parou.

–Professor Holunder, conhece os Devoradores de Almas?

–Infelizmente conheço muitos tipos de gente.

–Sabe onde posso encontrá-los?

–Por que quer encontrá-los?

–Eles mataram alguém importante para mim.

–Vingança não é a resposta.

–Nesse caso, não tenho outra resposta.

–Sinto muito, não poderá encontrá-los neste mundo.

–Como assim “neste mundo”?

–Os Devoradores de Almas são seres de outro mundo. Na verdade, deste mundo, mas de outra dimensão.

–Entendo. Há alguma forma de ir até eles?

–É preciso muita sabedoria e muito poder para conjurar tal viagem.

–Sabedoria como a de Kitsune?

–Talvez, mas você já tem sabedoria de sobra. Só lhe resta o poder.

–Conseguindo reunir os Elementais, poderei ir até lá?

–É possível.

–Obrigado, professor.– Ka se virou e foi com Rehena.

O diretor fechou a porta e voltou à sua mesa.

–Acha que ele conseguirá?– disse uma voz metálica vindo da direção da armadura samurai.

–Ele não é de desistir fácil.– o diretor respondeu.

–Você bem que poderia ajudá-lo.

–Estou muito velho para isso e você sabe que não posso sair do castelo.

–Aquele papo de que o mesmo ser não pode coexistir em dois lugares?

–Se isso acontecer, meus esforços seriam em vão e estará tudo acabado.

–Sendo assim, acho melhor eu voltar a dormir.– a voz deu um bocejo e sumiu.


***


–Para onde vamos agora?– Rehena perguntou.

–Primeiro, achar Lulua.– Ka respondeu.

–Lembrei de uma coisa. Kira é a última descendente dessa Royal Society. Ela deve saber como nos ajudar.

–Deveríamos ter perguntado a ela o tempo todo.– ele bateu na testa.

Eles passaram por uma porta e ouviram vozes do outro lado. Ka parou e tentou ouvir melhor. Ele percebeu que aquela porta era conhecida.

–O que houve, Ka?

–Essa... era minha antiga sala.

Ele tocou a maçaneta e a porta se abriu com um rangido interrompendo o que o professor falava.

–Professor Corvus?– disse Ka.

–Você!– ele respondeu. –E vejo que acertou meu nome.

Ka entrou em sala, seguido de Rehena. Todas as carteiras estavam ocupadas e lá, na primeira fileira do grupo do meio, estava Lulua.

–Por que você está aqui?– Ka e Rehena disseram em uníssono para Lulua.

–Ela está assistindo à minha palestra sobre combate.– o professor respondeu. –Assim como todos os outros.

–Combate?– Ka perguntou. –Não era professor temporário de mitologia?

–O antigo professor de combate quase foi morto por um dragão em sua última pesquisa de campo e, então, se candidatou a mestrar mitologia. Surgiu uma vaga para combate e o diretor Elmdor me contratou.

Eles, basicamente, trocaram de lugar.

A turma não tirava os olhos de Ka e Rehena. A pesar de ser diversificada, entre 13 e 15 anos, os garotos achavam Rehena linda e as meninas, incluindo Lulua, suspiravam por Ka. Talvez Lulua, lá no fundo, sentia ciúmes por todas aquelas garotas interesseiras olharem para Ka.

–Muito bem.– o professor disse alto, chamando a atenção da turma. –Por que não vamos para uma aula mais prática?– o professor olhou para Ka, que abriu um largo sorriso sabendo o que aquilo significava. –Venham comigo.– o professor saiu pela porta e todos os alunos se levantaram e o seguiram.

Ka estava ao seu lado, Rehena e Lulua atrás e o resto dos alunos logo depois.

–Há algum motivo em especial para dar aula uma semana antes do início do ano letivo?– Ka perguntou.

–Sou pago para dar aula.– o professor respondeu. –Enquanto houver alunos aqui para ensinar, irei ensinar.

Eles passaram pelo corredor principal, desceram a escada e saíram por uma porta grande. Agora, estavam na frente da escola, onde uma vez Ka e Deluge haviam brigado com Gradius. Todos os alunos da classe estavam em volta deles, formando um grande círculo. Alguns alunos que estavam do lado de fora também se aproximaram. Todos eles davam gritos de incentivos para intensificar a briga.

Os quatro estavam afastados no meio do círculo. Ka se preparou para começar.

–Aqui vou eu.– ele disse e correu na direção do professor Corvus.

Ele pulou girando no ar e tentou chutar sua cabeça com a perna esquerda, mas o professor usou seu braço para defender e Ka desceu ao chão. No mesmo instante ele tentou outro chute, mas dessa vez com a perna direita. Como mesmo braço, o professor defendeu. Ka voltou ao chão de costas para o professor, que investiu em sua direção.Quando Ka se virou, recebeu um tremendo soco no queijo que o jogou no chão.

–Ka.– Rehena o chamou.

O professor se virou para ela.

–Você vai participar da aula também? Você não aparenta ter muita experiência em batalhas.Vamos começar?– ele disse.


Na sala do diretor, ele estava sentado em sua cadeira diante de um telão que mostrava a “aula prática” do professor Corvus.

Rehena sacou sua espada e investiu contra o professor. Ela dava golpes rápidos, mas Corvus era mais rápido e desviava com facilidade. Houve um momento em que ele desviou para trás dela e a empurrou para frente com um dos pés e ela foi ao chão. Ao fazer isso, ele moveu seu braço. Ka se levantava no mesmo instante e levou uma cotovelada no nariz indo ao chão com as mãos no rosto.

–Isso dói!– ele disse com a voz abafada pelas mãos.

–Você depende demais de sua espada.– o professor disse a Rehena.

Corvus foi em direção de Rehena e a atacou com a palma de sua mão.

É um ataque direto, ela pensou, posso defender. E defendeu com sua espada.

O contato de Corvus com a espada fez um trovão. Corvus girou sua mão para o lado e outro trovão foi ouvido, mas dessa vez uma força invisível empurrou Rehena para trás. Ela viu alguns raios saindo da mão de Corvus quando ele a havia girado. Rehena caiu aos pés de Lulua, mas rapidamente se levantou apoiando-se na espada.

–O-o que foi aquilo?– ela disse.

–O que ele fez?– Lulua perguntou.

Corvus manteve a postura de quando acertou o golpe. Meio agachado e com a palma da mão aberta, para frente. Alguns pequenos raios passavam em sua mão, elas podiam ver.


–É claro que uma arma tem o poder de atacar fisicamente.– a voz metálica disse ao diretor. –Mas é algo que só pode ser feito enquanto possuir uma arma.

–Mesmo com ou sem arma, o usuário ainda consegue utilizar as ondas de sua alma.– o diretor respondeu.


Lulua podia ver que a espada de Rehena tremia.

Ela está com medo?, Lulua pensou.

Rehena correu e tentou atacar Corvus que estava ereto. Ele somente deu um tapa na lâmina de Rehena e novamente aquele ataque com raios a fez voltar para trás. Corvus foi mais rápido, segurando-a pelos cabelos e pegando sua espada antes que ela pudesse cair no chão. Seu braço estava erguido como se ele segurasse um animal que acabou de caçar. A espada estava no pescoço de Rehena, que estava quase de joelhos.

–Não demonstre medo.– o professor disse. –O inimigo irá utilizar de artimanhas para pegar você e ele não terá misericórdia.

Atrás eles ouviram a voz de Ka.

–Você não pode me vencer, Corvis!– ele disse. –Não se esqueça de mim!– ele vinha correndo.

–Isso é inútil.– o professor murmurou.

–Você não é o único que pode atacar com as ondas da alma!– ele disse enquanto se preparava.

O professor se assustou com o que havia escutado e soltou Rehena para que pudesse contra-atracar o golpe de Ka, mas ele foi mais rápido. Ka já estava com o cotovelo direito e o punho esquerdo nas costas do professor. O círculo mágico surgiu no chão, os desenhos brilharam e lançaram raios no peito do professor. Rehena caiu no chão e sua espada caiu ao seu lado.

–Incrível!– Lulua disse. Ela percebeu que todas as outras pessoas diziam coisas parecidas.

–O que foi isso?– a voz metálica perguntou ao diretor Holunder.

–Era de se esperar.– o diretor disse. –Ka evoluiu o suficiente para que conseguisse fazer as ondas de sua alma escaparem de seu corpo e atacar com elas. Ele é um gênio, porém...

O professor não havia sido jogado para frente, mas deu somente um passo.

–O nível é diferente.– o diretor disse.

Ka se afastou do professor.

–O que isso quer dizer?– Lulua disse enquanto ajudava Rehena a se levantar. –Não o afetou.

–Você.– Ka disse. –Anulou meu ataque.

O professor se virou para Ka.

–Sim, pois eu já conhecia essa técnica.– ele respondeu. –Se eu entender como é a técnica, poderei liberar a mesma quantidade de energia. Se as ondas estiverem alinhadas e as forças forem iguais, qualquer ataque será inútil.

–Ele pode fazer isso?– a voz metálica perguntou ao diretor.

–Ele é um professor muito inteligente e observador. É seu ponto mais forte e é isso o que lhe faz ser um nível estrela.– o diretor respondeu.

–Agora é a minha vez de atacar.– o professor disse.

Ele surgiu na frente de Ka. Foi um movimento tão rápido que não conseguiu sequer acompanhar. As mãos do professor estavam nos ouvidos de Ka, porém não os tocavam. Uma descarga de energia foi jogada contra Ka. Ele gritava enquanto seus olhos reviravam. Era como levar um choque de centenas de raios seguidos. O chão em baixo de Ka rachou e afundou. Seus pés já não o tocavam mais.

–Ka!– Rehena gritou.

–Pare com isso!– Lulua gritou.

Após alguns segundos de agonia. A descarga parou e o silêncio dominou o pátio da escola enquanto Ka caia.

–Ka!– Lulua e Rehena gritaram seu nome quando ele tocou o chão e inconsciente, vomitou sangue.

Lulua foi até ele e tentou acordá-lo. Ela se levantou e sacou sua espada indo até Rehena.

–Rehena, vamos lutar.– ela disse.

Mas Rehena estava tremendo de medo. Isso não era normal. Nem ela sabia porque estava assim.

–O nível dele é completamente diferente.– Rehena disse.

Lulua pôs a mão no ombro de Rehena.

–O que você está fazendo, sua idiota? Não desista antes de lutar.– ela disse.

Rehena tirou a mão de Lulua.

–Quieta!– ela disse. –Você fala assim porque não consegue ver a força dele!

Lulua ficou de cara fechada.

–E o que tem a força dele?– ela disse.– Ka sempre enfrenta os inimigos sem se importar se eles são mais fortes que ele. Você deve ter aprendido algo com ele nesse tempo que estamos juntos.– ela segurou os ombros de Rehena e a balançava tentando, de alguma forma, acordá-la. Ela olhou para Corvus. –Olhe bem para ele. Ele está esperando enquanto você está choramingando aí.– Rehena olhou para ele. –Até que ele é um cara bom.

Rehena olhou nos olhos de Lulua e sorriu e as duas se levantaram. Mas algo as surpreendeu. Ka as jogou de volta ao chão. As duas olharam, chocadas, para ele. Ele estava deitado em cima delas.

–Não toque nelas.– ele disse para Corvus.

Ka se levantou e pegou a espada de Rehena.

–Essa luta é minha.– ele disse a elas, limpou a boca com a parte de trás da mão e sorriu.

Ele se virou para Corvus e Lulua pôde ver que haviam pequenos raios passando em seu corpo juntamente com a aura azul, como da vez em que eles estavam correndo.

–Ressonância da Alma!– Ka disse.

Rehena e Lulua sentiram os pêlos de seus braços se eriçarem.

A Ressonância da Alma, o professor pensou. O usuário envia ondas de sua alma para a arma, e esta as amplifica, devolvendo-as para o usuário. Repetindo esse processo, pode-se criar gigantescas ondas de almas.

Ka parecia que estava acumulando poder. A aura azul já havia dominado todo o seu corpo e centenas de micro raios o percorriam.

Você me surpreendeu, o professor pensou. Você já consegue fazer isso com essa idade?

A aura azul também estava na espada, mas era diferente. Ela parecia estar se condensando.

–Parece que está apostando tudo em um golpe só.– ele disse a Ka.

A espada brilhava e Ka concentrava mais poder.

–Venha! Mostre-me o aluno que você se tornou!– o professor disse gritando.

A espada estava enorme e a aura se solidificou formando uma lâmina maior que Ka. Ele a levantou, correu para frente e atacou com tudo o que tinha. A lâmina vinha de cima e Corvus decidiu defendê-la com as mãos. Ele segurou a lâmina e plantou os pés no chão. Ka fazia força e urrava.

Só de imaginar que ele controle todo esse poder dessa forma..., o professor pensou. Mas ainda falta muito.

O professor apertou a lâmina e esta trincou. Ka fazia mais força. O chão embaixo do professor, rachou. O professor apertou a lâmina de aura mais ainda e ela quebrou. Ka e a espada foram jogados para trás. Pedaços da lâmina de aura pairavam no ar e sumiam. Os músculos de Ka estavam duros e ele estava fraco. Ele não conseguia se mover.

Corvus andou até ele, lentamente. Ka estava ofegante.

–Parece que você ainda está consciente.– Corvus disse a Ka. –Essa espada é formidável. Não são todas que aceitam a Ressonância da Alma e saem inteiras.

Ka olhou para a espada e ela soltava fumaça.

–Muito bom, garoto. Muito bom mesmo.– o professor disse a Ka.

–Valeu.– Ka respondeu enquanto ofegava. Então sua visão ficou turva e tudo se escureceu.


Ka acordou assustado e se sentou. Ele viu que estava num dos dormitórios da escola, seus sapatos estavam no chão e seu sobretudo estava pendurado na cama. Lulua estava sentada ao chão e com a cabeça na cama, dormindo. Ele olhou pela janela e já era noite. Levantou-se, pegou Lulua nos braços e a pôs na cama para que dormisse mais confortável. Sua cabeça latejava, seus músculos estavam fracos e ele tinha que andar com as mãos nos móveis para não cair. Os móveis se resumiam numa cama em baixo da janela, a porta no lado oposto ao da janela, a porta do banheiro na parede da esquerda e um guarda-roupa na da esquerda. No chão havia um enorme tapete peludo. Ka foi até a porta e antes que pudesse segurar a maçaneta, ela se abriu fazendo-o cair sentado. Rehena estava segurando uma bandeja com três copos de achocolatado e uma pilha de sanduíches de pasta de amendoim.

–Você está bem?– ela perguntou já oferecendo uma mão para que ele levantasse.

–O quarto gira, mas estou sim.

–Achei que você não fosse jantar, então fui lá em baixo pegar algo pra nós.

Ka se sentou no chão, apoiando as costas na cama, e Rehena à sua frente, com a bandeja entre eles.

–Por quanto tempo desmaiei?– ele perguntou.

–Umas doze horas.

–Vocês estão bem?

–Estamos. Lulua ficou com você o tempo todo, esperando que acordasse.

–E sua espada?

–Está trincada.

–Desculpe. Eu conserto.

Nesse momento, Lulua se virou para eles enquanto esfregava os olhos. Ela se sentou ao lado de Rehena e apoiou sua cabeça no ombro dela. Seus cabelos estavam bagunçados e ela dava longos bocejos. Cada um pegou um copo de achocolatado e morderam um sanduíche. Lulua sequer levantou a cabeça.

–Como conseguiu fazer aquilo?– Rehena perguntou. –Quero dizer, achamos que ele tinha fritado sua cabeça e você caiu no chão. Depois se levantou e... liberou todo aquele poder.

–Acho que o instinto assassino do Elemental do Fogo me fez levantar. Depois senti...– ele engoliu o pedaço que mastigava. –tanta vontade de mandar tudo o que tinha.

–Aquilo não parecia o poder do... como é o nome dele mesmo? Kagutsuchi?

–Isso. Acho que era meu mesmo.

–Onde aprendeu a fazer aquilo?

–Na minha casa tenho uma estante com vários livros sobre tudo. Todas as noites eu leio um pouco e de manhã tento fazer igual.

–Então, preciso ler seus livros, se quiser proteger melhor Kira.

–Posso te emprestar alguns.

–Obrigada.

Lulua estava quase dormindo no ombro de Rehena.

–Lulua, acorda.– Ka disse colocando o dedo indicador em sua bochecha.

Lulua levantou a cabeça, bebeu todo o achocolatado de uma vez, pôs o copo na bandeja e entrou no banheiro para lavar o rosto.

–O que aconteceu depois que desmaiei?– Ka perguntou.

–O professor Corvus disse que a aula havia terminado, e te trouxe para cá. Depois me disse para não deixar você fazer aquilo novamente antes de se tornar um nível estrela de verdade ou então irá morrer.

–Nos ensina a controlar as ondas da alma?– Lulua disse saindo do banheiro e sentando ao lado de Rehena. –Por favor, por favor, por favor.– ela piscava os olhos freneticamente, tentando persuadi-lo.

Ele suspirou.

–Tá bom, ta bom. Mas não esperem que eu seja bonzinho. Agora vamos descansar, pois amanhã iremos cedo.


Como não caberiam os três na cama de solteiro do quarto, Lulua rapidamente disse que ficaria com ela e que Ka e Rehena dormissem no chão. Eles dormiram no tapete, que era mais confortável que a cama. Ka ficou com uma metade e Rehena com a outra ao seu lado, sendo que eles estavam em direções opostas.

De manhã, quando Ka acordou, percebeu que havia algo pressionando seu rosto. Ele abriu os olhos e viu que era um dos pés de Rehena. Ele estava praticamente no chão e ela estava com os braços e pernas abertas ocupando todo o tapete. Ele tirou o pé do rosto e se levantou calçando os sapatos e vestindo o sobretudo. Ka se lavou no banheiro e desceu para a praça de alimentação.

Dez minutos após pegar seu café da manhã, Rehena e Lulua se sentaram ao lado de Ka.

–Por que não nos acordou?– Rehena perguntou com um tom sério.

–Você poderia me dar um chute no rosto.

–Poderia me acordar primeiro pra assistir.– Lulua disse.

Ka olhou para Lulua.

–Ia ser divertido.– ela disse.

–Querem tomar café?– Ka disse de boca cheia e elas perceberam o café da manhã de Ka.

Bolo de chocolate, bolo de cenoura com cobertura de chocolate, uma garrafa de iogurte, uma jarra de suco de laranja, croissants, uma tigela de cereais, um prato com ovos mexidos, uma tigela com kiwis e morangos picados, alguns sanduíches de pasta de amendoim e um pequeno pote de mel.

–Isso tudo é o seu café da manhã?– elas perguntaram em uníssono.

–Sabe-se lá quando teremos comida de verdade de novo e eu preciso repor minhas energias.

–Se isso é seu café, nem imagino o que seja o almoço.– Lulua disse.

–Você deve gastar uma fortuna em comida, na sua casa.– Rehena disse.

–Não muito.– ele respondeu.

Rehena pegou a tigela de cereais e um copo de suco e Lulua ficou com as frutas e um copo de iogurte. Ka pegou o copo de iogurte de Lulua e o derramou nos cereais de Rehena e deu o copo de suco à Lulua. Elas o olharam, confusas.

–Cereais com iogurte é gostoso e frutas combinam melhor com suco.– ele disse abrindo um croissant e colocando ovos mexidos dentro.

Os três levaram quase uma hora para terminar de comer. Rehena não tinha um café da manhã assim desde que saiu de casa, Lulua não comia coisas gostosas assim há muito tempo, mas em uma coisa as duas concordavam: jamais haviam comido tanto em suas vidas.

–Nunca mais como tanto assim em toda minha vida.– Lulua disse e tomou o último gole de suco.

–Nunca mais tomo café na minha vida.– Rehena disse terminando de engolir o último pedaço de bolo de cenoura.

–Conseguem andar?– Ka perguntou.

–Não!– elas disseram, com a voz abatida.

Ka se levantou e esperou as duas se levantarem. Foram os três minutos e vinte e sete segundos se levantando mais longos que Ka havia presenciado.


Eles atravessaram o pátio da frente até chegar ao portão. Quando saíram, o homem da cadeira estava lendo seu jornal e tomando uma caneca de café. Desceram a escadaria e atravessaram a cidade.

–Não íamos visitar o lugar onde você morou?– Lulua perguntou.

–Melhor outro dia.– Ka respondeu. –Temos que chegar à Kira o mais rápido possível.

–O que houve?

–Depois eu mostro.

Os três pararam no portão da cidade.

–Como vamos ir até lá?– Rehena perguntou.

–Acho que podemos pegar o trem na outra cidade, descemos em uma estação que esteja próxima à Kira e vamos andando. Iremos economizar tempo e energia. O problema é que iremos quase que na direção oposta, então vamos andar bastante.

–Então vamos logo.– Lulua disse puxando-os.


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Notas finais do capítulo

Irá melhorar!

—--
Revisado por Magdalena Cunha.



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