Prisão.

Sim, uma prisão, mas não uma prisão qualquer, uma prisão onde você é o prisioneiro principal. Uma prisão sem saída nem volta.

Loucura, Insanidade...

Cortes, cortes, cortes, cortes...

Sangue.

Uma risada na escuridão, seguida de um grito agoniado. Os guardas, que protegem qualquer um que chegue perto daquele lugar, sentem um calafrio correr por seu corpo. Medo.

Dentro da sela, um homem está encostado na parede, preso em sua própria prisão mental. Os olhos vermelhos escarlates arregalados com camadas e camadas de olheiras profundas, a boca entreaberta, a expressão brincalhona.

Beyond Birthday encarava o além, sem sentir a sela física abaixo de si, preso em seu próprio mundo de loucuras e insanidades.

Não.

Beyond era inteligente de mais para enlouquecer completamente, e em sua opinião não era louco. Mas os outros pensavam que ele era então era mantido preso ali. Não que ele não quisesse é claro.

Fugir era simples.

A tranca da porta tinha uma pequena falha que podia ser quebrada com os garfos de plástico que ele recebia no almoço.

Ele poderia matar facilmente os guardas, com a faca que estava escondida no forro da parede dês de que chegara, estando ali há tanto tempo que juntara ferrugem.

Depois, era só fugir.

Mas ele não precisava fugir, era inútil, L o acharia de novo, isso só ocuparia seu tempo, embora às vezes fosse divertido atrapalhar os planos do detetive.

Beyond parou, olhou para a pequena janelinha na porta refletindo os guardas nervosos.

Ri de novo apenas para assusta-lós.

Levanta o braço até os lábios, sentindo a carne entre seus dentes afiados, e morde, com força.

Dor, sim dor.

Logo, sentia-se o cheiro de seco de ferrugem no ar, Beyond passa a língua pelo corte fino em seu braço, olhando para o sangue.

Um pequeno corte, em meia lua, as gotas de sangue brotando sob a pele clara quase translucida pela falta de sol.

Aproximou os lábios e passou a língua de leve sobre o corte, sentindo o gosto salgado de ferrugem.

Beyond sentiu a boca seca, cheia de areia. Fazia tempo que não comia geleia, muito tempo.

Em breve iria fugir para pegar outro pote.

Passou o dedo pelo corte, espalhando o sangue, para em seguida morder de novo, mais profundamente, fazendo mais sangue brotar pela pele clara.

Beyond sorriu, um sorriso vermelho, olhando para o corte agora profundo, pela marca de seus dentes.

Levantou-se, caminhando meio encurvado  até a porta olhando para a pequena janela, com seus olhos vermelhos olhando para além da própria.

Os guardas afastaram-se assustados, conheciam a fama de Birthday, sua pena aumentava a cada vez que ele decidia sair de sua sela, BB apenas olhou pela janela, seus olhos vermelhos sangue causando arrepios, os lábios vermelhos sujos de algo que não parecia ser geleia.

Levantou o dedo magro, sujo da mesma substância e fez um desenho, um risco na horizontal e outro na vertical.

L.

Deu um sorriso macabro, fazendo o seguimento de mais três traços rápidos e curtos por cima do ‘L’.

B.

Voltou então, deixando o B ensanguentado e os guardas confusos, sentou no canto escuro de sua sela, longe da luz e das formas de vida que ali habitavam.

Voltou para confusão de sua própria sela, não se importando com o corte exposto no braço, com a marca de seus dentes, pelo fato de ainda sentir o sangue em sua boca.

Era apenas mais um corte para a sua coleção sangrenta, feita em maioria pelas marcas de suas vítimas em suas ultimas defesas.

A mensagem que deixará era clara.

B não existiria sem o L.

A culpa de B ser assim era de L, e B agora o superava, pois L havia falhado em tentar criar uma cópia sua.

Voltou para a confusão que era sua mente, um lugar sombrio sem regras, leis, ou lembranças felizes.

Sua linha de raciocínio insana pelos anos de alienação, não tinha ideia do que acontecia no mundo á fora.

Sentia falta do cheiro do sangue alheio impregnado em suas roupas e seus cabelos, sentia falta do sabor doce da geleia, sentia falta de sair à noite procurando vítimas.

Sentia falta da Wammy’s House, embora não a visse a tempo.

Olhou para o teto, vagando por sua mente, não sentiu seu peito doer quando o Ataque cardíaco começou.

Não sentiu seu corpo cair e se contorcer.

Não sentiu a porta ser aberta, não sentiu seu corte aberto sangrar com mais força, sujando o chão.

Não ouviu os gritos para que avisassem L, que chamassem alguém de uma vez.

Sentiu apenas quando seu mundo ficou mais escuro que o normal, sua consciência quase nula do mundo no momento sumindo, abriu então um sorriso de vitória, esperará isto por tanto tempo, e agora finalmente iria ter.

A morte.

Como não olhar para ela e sorrir?