Femme Fatale escrita por slytherina


Capítulo 1
Capítulo 1: A condenação


Notas iniciais do capítulo

Este seriado é antigo, e já foi cancelado. Ele foi baseado em um filme francês chamado "Nikita". Imagino que o título do seriado em francês é uma homenagem ao filme original. Nikita é um nome russo masculino, tal qual Sasha.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/35841/chapter/1

 

 

                    Sons repetitivos e hipnóticos grudavam na mente, formando ecos ressonantes em todo o corpo. Nikita abaixou a cabeça e colocou um dedo tapando a narina com argola, enquanto a outra aspirava a carreirinha com o tubo ôco da caneta. Fungou e limpou o nariz com a mão. Sentía-se ótima. As luzes de neon do ambiente da casa noturna, pareciam multiplicar-se, e atingir sua cabeça como estrelas cadentes. Ela colocou as mãos sobre a cabeça, e não sabia se chorava de horror ou se ria maravilhada. Resolveu seguir a segunda alternativa. Ergueu os braços, o que fêz sua curta blusa de meia elevar-se, exibindo o seu abdome chato, e o piercing de plástico colorido, no umbigo. Ela então resolveu se mover de acordo com o ritmo da música. Arqueou o corpo esguio algumas vezes, em movimentos sinuosos, enquanto permanecia de olhos fechados, sendo bombardeada pelos meteoritos flamejantes do teto daquele salão.


                    Alguém colocou um dedo em sua boca carnuda. Nikita abriu os olhos azuis celeste, para ver um amigo seu colocar um comprimido diminuto em sua boca. A seguir esse mesmo amigo - um desempregado que fazia alguns bicos em casas noturnas, facilitando a diversão dos fregueses - entrou na dança dela, erguendo os braços sobre a cabeça, e movendo o corpo sensualmente, roçando no corpo esguio de Nikita. Ele lhe era indiferente. Mesmo chapada de drogas, não conseguia sentir desejo por ele, nem mesmo com aquela dança sensual. A música mudou para um pancadão frenético. Todos começaram a pular. Nikita entrou na onda. Seu amigo ainda a beijou na boca, mas ao ver que ela não se ligava na dele, desistiu do assédio, e foi procurar por outra companhia. Nikita agora sentia o corpo arder em febre. As luzes de Neon queimavam-lhe a pele. Sua garganta ardia. Seu corpo queria continuar pulando ao som da música, mas Nikita estava literalmente pegando fogo.


                    Ela seguiu cambaleando, pulando, rebolando, até a saída. O ar frio da madrugada provocou-lhe um arrepio. Ela resolveu andar um pouco, até passar o calor que a consumia. Sentiu sede. Viu uma loja de conveniência aberta. Lembrou-se que ainda carregava a carteira de identidade falsificada. Entrou na loja e comprou facilmente um pacote de latinhas de cerveja. Saiu andando pelas ruas, sendo atingida pelas luzes dos postes, entrando em combustão, derramando goela abaixo, todo o conteúdo das latinhas de cerveja. Teve vontade de fazer passos de dança, mas desequilibrou-se e caiu sentada. Já estava rindo antes mesmo de entender o que havia acontecido. Alguém a ajudou a se levantar. Ela ergueu os olhos para agradecer àquela boa alma, quando viu o brilho metálico da lâmina da faca, na altura do seu rosto.


                    _Aí piranha, passa logo tudo o que tu tem. Anda logo que minha mão tá tremendo. Eu não aguento ficar parado com uma faca na mão.


                    Nikita tentava raciocinar, mas estava difícil. Ela ouviu tudo o que o homem falou. Suas palavras reverberavam no seu corpo inteiro. Ela podia ver a faca do homem cortando sua garganta, e sua cabeça decapitada rolando pelo chão. Ela sabia que seria assassinada. Mesmo assim não conseguia fazer nada, nem falar nada. Apenas encarava aquele cara absurdo e doentio.


                    _Tu não ouviu não, sua vaca? 


                    O homem agarrou Nikita pelos longos cabelos louros, enrolando-os em sua mão. Então fêz um movimento brusco derrubando-a no chão. A seguir riscou o pescoço dela com a faca. Ela gritou. Sentiu-se viva por conseguir ao menos gritar. Ergueu as mãos e segurou nas duas mãos do homem, usando-o como apoio para levantar-se. Ele perdeu o equilíbrio e caiu sobre Nikita. Ela esperneou e o mordeu, até conseguir sair debaixo dele. Ficou de pé e viu a faca largada no chão. Apanhou-a e a segurou de qualquer jeito. Foi quando o mundo virou de pernas para o ar.


                    _Polícia! Largue a faca moça. Deite-se no chão e abra os braços.


                    Nikita fêz como lhe mandaram. Puxaram-lhe os braços e colocaram atrás de sua cabeça, depois a algemaram. Um dos policiais examinou o corpo do homem da faca. Havia agora sob seu corpo, uma grande poça de sangue. Um dos policiais colocou dois dedos no pescoço do cadáver, e olhou para Nikita friamente. Ela olhava para tudo atônita. Era ela a vítima, não era?

 

                    Quatro meses depois.


                    _Senhores do júri, apresentarei a vocês esta noite, a história de uma vida desperdiçada. Uma vida massacrada na sua fase mais produtiva. A história de um cidadão de bem, ex-fuzileiro naval, pai de dois filhos, marido exemplar, benquisto por todos. Martirizado na calada da noite, por esta jovem que aqui se apresenta. Uma jovem drogada, alcoolizada, falsificadora de documentos, moradora de rua, fugitiva do lar, fugitiva da escola, com várias passagens por serviços sociais para menores infratores. Processada por furto, posse de drogas, arruaça, agressão física, prostituição, posse de arma não registrada, depredação de bem público, etc, etc, etc, e agora, assassinato. Eu espero que após a apresentação dos fatos, os senhores se decidam por uma correção exemplar, para que nunca mais, tipos como essa jovem aqui, venham a perpetuar seus crimes impunemente. Eu peço a pena máxima para esse caso, senhores do júri. - O promotor terminou sua preleção inicial e foi sentar-se entre os advogados de acusação. Eles encaravam Nikita friamente.


                    Nikita não entendia inteiramente o que estava acontecendo. Ela era a vítima. Céus! Ninguém entendia isso? O que aquele homem frio e engomado queria dizer com pena máxima? O que iriam fazer com ela?


                    Seu advogado a mandou amarrar o cabelo em um coque. Comprou-lhe um vestido escuro de viúva, e lhe recomendou que não usasse maquiagem. E aqueles sapatos então? Eles eram ridiculamente feios. Não, Nikita já havia visto inúmeros sapatos horrorosos na vida, mas aquele ali ganhou de todos. Era quase masculino. Não, com certeza, sapatos masculinos não eram tão feios quanto esses. Nikita passou as longas horas de seu julgamento, avaliando os próprios sapatos. Foi sacudida várias vezes por seu advogado, pois ela frequentemente caía no sono. Ela ficava se virando para trás, para ver sua mãe na 3ª fileira, e suas ex-colegas de escola também. Ficou falando baixinho no ouvido do advogado, que queria comer sorvete, ou que precisava ir no banheiro, ou que queria voltar para sua cela, para ver televisão. Chegou a sugerir que a deixasse voltar para a cela - queria ficar ouvindo suas músicas favoritas no mp3 - e que ele assistisse o julgamento sozinho, pois ela não via a menor graça naquele espetáculo. Ele não atendeu a nenhum de seus pedidos.


                    Para alegria de Nikita, seu julgamento durou apenas 2 dias. Nas contas dela, após passar 4 meses engaiolada no presídio feminino, e depois ter que assistir aquele monte de burocratas empavonar-se, falando em jargão judiciário, já estava de bom tamanho. Ela já se sentia suficientemente castigada, por ter sido otária, e ter sido vítima de um ladrãozinho com faca.


                    _Senhores do Júri, chegaram a uma conclusão para este caso? - O juiz perguntou.


                    _Sim, meritíssimo. Nós consideramos a ré culpada, por assassinato em primeiro grau, por motivo fútil e premeditado. Recomendamos a pena máxima para esse caso em específico. - O jurado fêz sua declaração.


                    _Muito bem, pode se sentar. Que a ré fique de pé. Este tribunal a sentencia à pena máxima, isto é, morte por injeção letal, pelo assassinato do militar reformado, Sargento Evander Tyson. Este julgamento está encerrado. - O juiz bateu com o martelo na mesa.

 

                    Seis meses depois.


                    _Nikita, eu sinto muito. O governador não lhe deu o perdão. O juiz Wilson não quis reabrir seu caso. Pareceu-me que todas as portas se fecharam para este caso em particular. O que é uma pena, pois você é uma boa garota. Gostaria de ter feito mais por você.


                    _Você quer dizer que eu vou morrer? Eu vou morrer por que um cara tentou me matar e assaltar? Eu não matei ninguém. Eu só me droguei, mas... Isso não é motivo para te darem uma injeção letal. É? - Nikita ficou encarando o homem engravatado à sua frente. Ele baixou os olhos e guardou os seus pertences. Olhou de relance em seu relógio de pulso. - Me diga pelo menos que o meu túmulo será bonitinho, com uma foto minha e escrito embaixo... - Nikita não conseguiu continuar com a frase jocosa. Iniciou um choro de lágrimas amargas, que deformou sua face. Ela soluçava enquanto agarrava as raízes dos cabelos com ambas as mãos.


                    _Está na hora Doutor. Estamos esperando por ela. - A policial feminina veio buscar Nikita para a execução da pena de morte.


                    O advogado a ajudou a se levantar. Ela se sentia infinitamente velha e cansada. Deixou-se ser conduzida. Entrou em uma sala envidraçada. Deitaram-na em uma maca cirúrgica. Ela abriu os braços e eles foram presos com correias de fivela. O mesmo fizeram com suas pernas. Espetaram-lhe o braço com a agulha de infusão. Sua respiração se acelerou. Achou que entraria em pânico.


                    _Eu quero minha mãe! - Lacrimejou. Ninguém lhe deu ouvidos. - Mãe! Me ajude mãe! - A policial feminina se aproximou e lhe falou baixinho.


                    _Sua mãe está na outra sala. Ela está sofrendo. Você não quer partir o coração dela, não é? Tente se controlar.


                    Nikita tentou se acalmar. Os líquidos da injeção letal começaram a circular no seu sangue. Ela respirou fundo e tentou aceitar o seu destino. Um torpor a invadiu e ela se lembrou de quando era criança, e cantava na escola, e sua mãe vinha buscá-la. Ela sempre pedia para tomar sorvete de chocolate. Nikita fechou os olhos. O monitor cardíaco que estava conectado ao seu corpo, emitiu um zumbido característico, enquanto o traçado elétrico do batimento cartíaco tornou-se uma linha reta. As testemunhas da execução, sentadas na outra sala, baixaram as cabeças, e murmuraram entre si que estava tudo acabado. Somente uma pessoa chorava baixinho. Era a mãe de Nikita.


                   

Fim do Capítulo

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Deveria ter escrito mais. Acho que todo mundo conhece essa história, mas essa introdução era tão emotiva, que eu resolvi contá-la.