Peeta agarrou o broche de tordo com força entre as mãos, quase o esmagando com tamanha pressão. Grossas lágrimas escorriam de seus olhos claros, os soluços deixando sua respiração difícil. Ele não conseguia acreditar. Mas a verdade estava na sua frente, agredindo sua visão com tamanha perversidade.

Em seu colo, dentro de uma caixa embrulhada para presente, jaziam os pedaços do corpo de Katniss. Cada órgão, membro e dedo. Todos colocados delicadamente, como se fizesse diferença. No fundo da caixa, adornada de flores, se encontrava a cabeça de Katniss. Os cabelos ainda trançados e os olhos cinzentos abertos encarando o vazio.

Havia uma carta entre as flores. Peeta a molhara com suas lágrimas.

“Para que não se esqueçam de que até mesmo o mais forte dentre vocês não pode superar o poder da Capital.”

Peeta fechou os olhos e colocou as mãos no rosto, sentindo a frieza do broche em sua pele. Mas não se importava. Podiam lhe roubar a vida agora, numa facada. Seu coração latejante o impedia de sentir qualquer outra dor.

— Peeta.

O loiro ignorou a presença da pessoa que se ajoelhou ao seu lado. Sentiu uma coberta sendo passada por seus ombros.

— Peeta.

— O que é? — resmungou com a voz rouca e baixa.

Gale observou o conteúdo da caixa. Sentiu os olhos molharem e os lábios tremerem, mas não se permitiu derramar uma lágrima. Não seria uma atitude que Katniss aprovaria. Demonstrar afeto.

Com os dedos, fechou os olhos daquele rosto que sempre gostara. Circulou os ombros de Peeta com um braço. Viu o mais baixo apoiar a cabeça em seu ombro, agora chorando baixo.

— Se acalme Peeta. Vai ficar tudo bem.

Peeta levantou num supetão, vermelho de fúria. Gale cairá sentado, assustado com a reação.

— Como ousa dizer uma coisa dessas para mim?! Acabei de perder o amor da minha vida e você diz que vai ficar tudo bem?! Qual é seu problema?!

O loiro tremia de ódio. Talvez estivesse deformando o broche em suas mãos.

Gale levantou e limpou as mãos. Seguiu a passos tranquilos na direção de Peeta. Ficou a dois passos dele e tirou delicadamente o broche de suas mãos.

Peeta estava perplexo vendo Gale prender o broche em suas vestes. Ele deu mais um passo.

Os olhos se fecharam.

Os rostos se aproximaram.

Os lábios se tocaram.

Começou timidamente. Peeta não sabia exatamente que atitude tomar. Resolveu deixar acontecer. Suas mãos pararam na nuca de Gale que o puxou pela cintura.

A língua dele pediu permissão entre os lábios do ex-tributo. O beijo foi deixando de ser receoso, se tornando algo mais intenso e brando.

Peeta considerou essa a melhor batalha que ele já travou.

Desgrudaram as bocas, ofegantes, os hálitos se misturando devido à proximidade. O loiro tirou as mãos da nuca do outro e acariciou o broche no peito.

— O que faremos agora? — indagou num tom quase sofrido.

Gale segurou o rosto dele com as duas mãos, acariciando as bochechas com o polegar.

— Daremos um jeito.

Deixou Peeta no meio da sala e foi até onde os restos de Katniss se encontravam. Recolocou a tampa na caixa e jogou a carta na lareira acessa.

Olhou para o loiro de olhos inchados e se aproximou novamente.

— Por Katniss? — perguntou Gale oferecendo a mão para a Peeta e sorrindo levemente.

— Por Katniss — concordou segurando firme a mão, devolvendo o sorriso obstinado.

E enquanto a chama da esperança permanecer viva nos olhos e aquecida pelos corações de todas as pessoas, eles não desistiram. A morte de sua querida Katniss não seria em vão. Honrariam seu nome e tornariam seus atos e seus pensamentos de liberdade, uma verdade e uma lei.