Roses And Shadows escrita por Maddy Ferguson


Capítulo 1
Daenya


Notas iniciais do capítulo

Aqui conhecemos uma das nossas personagens principais. Um pouco rebelde e violenta, mas talvez com razão... Oops,as opiniões são com vocês ;)



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Daenya

''The thundering waves are calling me home to you
The pounding sea is calling me home to you''

The Old Ways - Loreena McKennit


    A torre oeste, chamada pelos moradores de Torre do Poente, era o lugar mais remoto do Forte das Agulhas. Tinha apenas uma única ligação com o resto do castelo, o Corredor das Chamas, um prédio bem mais baixo que ela, de forma retangular, habitada pelos plebeus e serventes do castelo, que a ligava a Torre do Fogo, a principal torre do castelo, que abrigava os aposentos dos integrantes da Casa Leery e os salões mais importantes. Mas Daenya preferia ficar sozinha, e por isso, fazia da Torre do Poente seu refúgio.


    Uma criada ergueu os olhos ao ver a filha mais velha de Lorde Leery passar correndo, com a capa grossa que usava sempre, fosse frio ou calor, completamente fechada. Daenya pôde vê-la sacudir a cabeça em um discreto sinal de desaprovação. As coisas que a garota mantinha escondidas sob o sobretudo de lã verde clara pareceram subitamente mais pesadas.


    Quando finalmente o Corredor das Chamas acabou, ela começou a correr pela perigosa escada em espiral da torre, sem nem ao menos olhar para os lados. A Torre do Poente era construída de uma forma curiosa: Não era a mais alta do castelo, embora fosse inexpugnável, o primor do objetivo do costrutor do Forte das Agulhas. Larga, tinha por dentro da parede externa outra parede interna, como uma torre dentro de outra. No vão de sete metros entre as duas paredes havia inúmeros aposentos, todos desocupados, vazios desde que os Leery tinham sido mais prolíficos - e poderosos. E colada á parede interna, subia a espiral gigantesca de escadarias sem corrimão que levava ao topo da torre.


    Quando Daenya tinha apenas dez anos, sua mãe havia lhe dito que iria acabar se espatifando numa queda de vinte metros se continuasse subindo correndo daquele jeito. Mas agora isso parecia muito improvável: Ela conhecia cada fenda, curva e degrau daquela escadaria, cada pedra daquela torre. A Torre do Poente nunca a trairia: Era seu refúgio e reino, sua vassala, cuja fidelidade havia sido conquistada em vários anos de companheirismo solitário entre garota e construção.


    Até que enfim, pensou a ela, ao chegar ao destino final, seu lugar predileto em todo o castelo. Com a forma heptagonal - em honra aos Sete - tinha o teto com quatro metros de altura, e era sustentado por finas colunas de pedra, que deixavam sete largas aberturas na torre. Quando a luz do poente penetrava o lugar, Daenya tinha a impressão de estar dentro de uma gigantesca coroa de ouro, granadas e rubis.


    Com um gesto galante que lhe provocou uma risada - aprendido ao observar a fanfarronice dos cavaleiros em torneios - arrancou a capa, revelando seus tesouros. Pegou a capa e jogou sobre o batente de uma das janelas, colocando sua besta e seus livros sobre ela. Na torre não havia nada além de uma vassoura e um almofadão que ela mesma tinha levado para lá, a fim de acabar com um pouco da poeira que dominava o lugar e poder se acomodar. A mãe tinha ficado horrorizada ao saber que ela varria o lugar, mas Daenya proibiu que qualquer criada acessasse o topo para fazer o que quer que fosse, e a situação prosseguiu a mesma.


    Ela inclinou-se sobre o parapeito, na mais ocidental das janelas, observando a paisagem, e estendeu sua mão para sentir o ar fresco prenunciador da noite que ser aproximava. O sol poente coloria tudo com uma luz mágica, debruando de dourado as sombrias árvores verde-escuras e pedras negras que compunham o bosque que circundava o Forte das Agulhas. O rio que banhava o bosque, o castelo e a pequena aldeia de Cristal Quebrado, o Lágrimas da Lua, um pequeno afluente de um rio que vinha das terras de Dorne, estava cheio de luzes flamejantes dançando em sua superfície, como ouro vermelho líquido.


    Como chamas numa fogueira gigantesca, pensou ela, rangindo os dentes. Quase como uma resposta aos seus pensamentos, um suave eco de cantoria veio trazido pelo vento leste. Então eles já começaram, concluiu, enquanto cerrava os punhos, largava o livro e apanhava a besta e se dirigia á abertura que dava para o pátio, a leste.


    Uma grande fogueira tinha sido acesa. Suas chamas deviam ter pelo menos uns dois metros de altura. Em volta dela, pessoas se ajoelhavam, cavaleiros, serviçais e os próprios Leery. Apenas duas pessoas ficavam de pé.


    Os dois vultos pareciam eles próprios duas pequenas fogueiras rodopiantes, com suas vestes vermelhas girando, girando, girando... O brilho do fogo fez o coração de Daenya se contrair de raiva. Pegou a besta e colocou um de seus exclusivos dardos de pena de ganso branco nela. Se acertasse alguém, todos saberiam que tinha sido ela, mas não importava, estava longe demais. Mesmo assim, mirou nos sacerdotes vermelhos que agora gritavam em êxtase a R'hllor, e soltou a alavanca. Não importa qual deles acerte, já basta, pensou insanamente, enquanto o dardo se perdia inutilmente entre a mata. 


    - Ainda bem que sua pontaria é tão ruim, pois caso acertasse, papai certamente mandaria queimá-la na fogueira. Eu adoraria vê-la gritando misericórdia ao Senhor da Luz, com toda essa sua arrogância maligna. - uma voz cortante se fez ouvir.


Daenya tinha se surpreendido ao ouvi-la, mas procurou não demonstrar isso. Agora só sentia raiva, mas disse friamente:
    - Já lhe disse para não entrar aqui, Brella.
    - Não sigo suas ordens, se ainda não notou. E também, não pode fazer nada contra mim. O Senhor da Luz jamais permitiria.


    Daenya virou-se para Brella. A irmã mais jovem se vestia bem, em qualquer ocasião. Envergava um longo e fluido vestido de musselina branca como a neve, amarrado na cintura estreita da irmã com um cinto de couro de cabra branco. Nos pés, sapatos simples do mesmo material. Não usava joias, apenas uma corrente de aço prateado nos cabelos castanhos e lisos e muito longos e na testa. Muito magra, estava quase inocente.


    Quase bela, pensou Daenya. A irmã aproximou-se. De perto, era muito menos encantadora: Seu rosto de garota de catorze anos tinha um longo nariz vermelho herdado do pai, algumas espinhas e uma boca grande demais, de lábios grossos. Os olhinhos castanho escuros espreitavam sob as grossas sobrancelhas negras.


    - Então o Senhor da Luz te protege em tudo? - disse Daenya - Vamos ver se ele te dá um escudo de fogo agora? - e recarregando a besta, apontou-a para Brella.


    O rosto da irmã empalideceu de ódio e medo, mas ela não fraquejou:
    - Aponte essa sua arma de covarde para sua própria cara de mula, imbecil. Estou aqui para te dizer que papai voltou.
    - Voltou? - perguntou a mais velha, surpresa.
    - Não tem mais que uma hora. Porque acha que Naya mandou acender a fogueira? Hoje não é dia de celebração. A não ser pela volta de papai e dos seus homens.
    - Não os vi chegando... - disse, abaixando a besta, pensativa.
    - Óbvio que não veria, com essa sua vista e ruim e com seu focinho enfiado nessa porcaria de livro cheio de falsidades - disse Brella, pegando o livro e olhando-o - Um livro sobre os Sete?! Que heresia! - e com um gesto disciplente, atirou o livro de cima da torre.


    - NÃO! - gritou Daenya, debruçando-se na borda e ainda vendo o livro caindo antes dele ser engolido pela mata. - Sua puta nojenta! - gritou para Brella, que a olhava desdenhosamente. - Vou quebrar essa sua cara nojenta!


    Mesmo assim, não teve coragem de dardejar Brella, e limitou-se a brandir a própria besta como um porrete mirando o rosto da irmã, mas esta ergueu o braço para protegê-lo antes de cair no chão.


    Crac. Um som semelhante a osso sendo quebrado fez o coração de Daenya gelar. Matei minha irmã, pensou, mas então o berreiro de Brella a fez voltar a realidade.


    Um corte tinha aberto o cotovelo de Brella dando-lhe a aparência de uma sorridente boca que vomitava sangue. O vestido da irmã estava empapado de sangue, mas tudo que Daenya conseguiu pensar foi ela gosta tanto de vermelho mesmo, limitando-se a pegar a irmã e colocar de pé.


    - Naya vai dar um jeito nisso - não tinham meistre no Forte das Agulhas, não depois que os sacerdotes vermelhos tinham chegado.
    - Quero que ela e Gorth te queimem, e dêem um jeito em VOCÊ! - gritou Brella, chutando o joelho da primogênita, fazendo-a cair cega de dor enquanto saía correndo, berrando e chorando.


Tomara que ela caia e quebre o pescoço, pensou Daenya, ao pegar a besta e examiná-la. O som de osso sendo esmagado não tinha vindo do braço da irmã, e sim de sua arma, que tinha um dos lados quebrado. Sentiu lágrimas de raiva afluírem aos seus olhos. Sua besta era uma das poucas coisas que gostava em sua casa.


    - Quando seu pai descobrir o que você fez, vai te punir. - disse uma voz quente e suave.
    - Agora todo mundo vem aqui?! Pelos Sete Infernos! - rosnou Daenya.
    Sua mãe limitou-se a observá-la. A filha sentiu remorsos:
    - Ela jogou meu livro do alto da torre e chutou-me, mãe.
    - E você abriu o cotovelo dela e lhe ameaçou com dardos. Poderia tê-la matado.
     - Eu nunca faria isso! Você sabe!
    - ''A senhora'' sabe. - corrigiu-a a Senhora Leery - Vou mandar Naya ofertar essa sua besta a R'hllor. Talvez fique mais obediente.
    - Mãe, por favor, NÃO! Eu te imploro! - Daenya estava desesperada, com lágrimas correndo abundantemente pelo rosto e a voz rouca - Meu livro foi-se, não tenho mais nada!


    A Senhora Leery pareceu reconsiderar.
    - Mantenha a besta. Não espere que iremos consertá-la aqui. Vou mandar Gorth achar o livro e queimá-lo.
    - Não, mãe, aquele livro é precioso, e o pai já  vai me punir...
    - Cale-se! Sim, ele vai. Mas essa é a minha punição. E não ouse desobedecer. E venha comigo. Seu pai quer falar com você.


    Nada de bom advinha das vezes que o pai queria falar com Daenya. Eles não se davam bem em absolutamente nada, e geralmente essas 'conversas' terminavam com Daenya levando uma surra ou um castigo.
    - Não vou.
    - Vai.
    Daenya sabia que era impossível resistir a sua mãe. Cedeu:
    - Pelo menos me diga o que ele quer, por favor.
    - Ele te dirá.
    - Por favor, mãe. Prometo que vou me esforçar para me controlar. Só me diga a verdade.


     Pela primeira vez na vida, a garota viu a mãe desconfortável e fora do controle da situação. Hesitava. Daenya sentiu um presságio de algo péssimo se aproximando.
Quando finalmente sua mãe decidiu falar, Daenya pensou que ia morrer ali mesmo, apenas de pavor, quando a escuridão total a envolveu.
    - Ele quer falar sobre o seu casamento.


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Notas finais do capítulo

Aguardando ansiosamente um comentariozinho... Amaria tanto se você deixasse um! Um beijo e até mais ver!