Desde a noite em que havia ordenado a Meliorn - seu cavaleiro real da Corte Seelie - levar sua promessa de aliança à Jonathan Morgenstern na tal boate de Praga Kosti Lustr, a Rainha vinha se encontrando com o Shadowhunter para... Interações sociais.
A Rainha sempre foi fascinada pela mortalidade humana, e sua capacidade de ser induzida a fazerem coisas desesperadas.
Ainda mais se relacionadas a sentimentos.

Sentimentos humano.

Outra coisa que fascinava a Rainha. Como esses seres frágeis, vulneráveis e cegos se entregavam e entregavam sua razão aos braços frios e enganosos do amor.

Amor.

Uma risadinha de descrença surgiu no fundo da garganta da ruiva.
Claro que com tantos anos - séculos - de experiencia ela havia aprendido o quão ridiculo eram esses sentimentos. Não de experiências próprias, claro, mas de observação.

Observação dessa raça que sucumbia à motivos tão tolos como amor.

E outros não tão tolos, como poder.

Isso era o que de fato interesava o Povo das Fadas.
O que seres com uma vida tão longa como eles poderiam tirar de bom do amor? Ja poder...

Sim poder.

Esse foi um dos motivos que levou a Rainha criar grande afeição a Jonathan: sua sede de poder.

Jonathan, o Shadowhunter filho do tolo revolucionário - e agora morto - Valentine.

Mas Jonathan não é como o pai. Ah, isso ele não é.
Se é pelo sangue demoniaco que corre em suas veias que o torna menos tolo que o pai, a ruiva não sabe dizer.

Todos podem dizer que a Guerra Mortal quase obteve sucesso por causa de Valentine, mas a Rainha discorda.
Desde o fracasso do tolo Morgenstern no navio enquanto tentava realizar a Conversão Infernal, a Rainha sabia que os planos de Valentine não vingariam no final.

Mas havia Jonathan.

E esse sim era o motivo da quase vitória na Guerra Mortal em Idris.
Jonathan que abriu os portões do inferno antes da ordem do pai.

Quase vitória.

Graças a irmãzinha angelical - literalmente - de Jonathan.

Garotinha insolente.

Ousou recusar um favor inestimavel da Rainha da Corte Seelie.

Nesse momento a Rainha decidiu qual seria seu lado na batalha que colocaria no campo o Céu e o Inferno.

E ela faria questão de gargalhar sobre os cadáveres daquela tola Clarissa Morgenstern.

Nesse momentoa Rainha abriu os olhos.

Ela estava em uma cama de dossel. Altamente rica em detalhes nas colunas intricadas com rosas, vinhas e espinhos de metal.

Seu corpo nu coberto na altura da cintura curvilínea por um lençol de seda francesa dourada, que realçava seus longos cabelos vermelhos, como o sol poente do outono, caindo pelos dois ombros e cobrindo seus seios firmes.

A Luz de um dia cinzento do céu de Londres, entrava pela grande janela vitoriana da mansão que outrora pertecera à Valentine.

- Um lindo dia não? - Veio uma voz grave da porta do outro lado do quarto.

Jonathan estava na entrada. Nu.
Apenas cabelos brancos, olhos negros.

Negros como o sangue infernal que corre em suas veias.

Um sorriso docemente venenoso brincava em seus labios enquanto ele acariciava a pele olivácea da Rainha com os olhos.

A ruiva nao respondeu de imediato mas retribuiu o gesto.
Examinou a pele branca e marcada pelas Runas do Anjo. Algumas somente cicatrizes, outras recentes.

Um mistério divino - ou infernal - as marcas continuarem a realizar seu propósito num corpo tão hibrido quanto o dela próprio.

Talvez um sinal que nem o Paraíso e seus Anjos sejam tão puros assim?

Ela não podia ver no momento, mas podia se lembrar exatamente por causa da noite anterior, as cicatrizes - não de Marcas - que riscavam as costas de Jonathan. Marcas de uma criação adequada.

Sim, adequada.

- Você gosta dessa cidade, Jonathan? - respondeu a Rainha.
- É, - o Shadowhunter fez um aceno de indiferença, indicando a cidade. - Não é exatamente de todo ruim.

A Rainha da Corte se levantou, a seda deslizando pelo seu corpo e terminando em ondas no chão. Ela atravessou o quarto silenciosamente e se colocou atras de Jonathan, colando seu corpo no dele.

Deslizou uma mão pelos cabelos alvos na nuca do Shadowhunter e segurou firme, como rédeas.

Colou seus lábios na orelha dele e olhando através da janela, direto para o Tâmisa, sussurrou para Jonathan:

- Pegue Londres, meu amor, e transforme tudo em sangue - ela disse - Meu presente para você.

***