O Diário De Sophie escrita por HelenMárcia


Capítulo 6
Capítulo 6 - Visitas


Notas iniciais do capítulo

Muita emoção nesse capítulo, galera!!!
Aproveitem e deixem seus comentários.



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Despedimo-nos de Anabelle e quando já estávamos no carro não pude aguentar mais.

Em que momento você pretendia me dizer que tinha uma irmã? Perguntei. Ele me olhava incrédulo, com certeza pensando “que bicho te mordeu?”. Sinceramente eu sentia que havia muitas coisas que não sabia sobre o Jefferson.

É... Bom eu não sei. Eu quase não paro em casa, e também não a vejo muito. E... Ela não minha “irmã” e sim minha meia-irmã. Ele ficou em silêncio alguns minutos e então falou: − Sophie, minha mãe faleceu há sete anos.

Oh Jeff, mas você disse que seus pais estavam...

Sim Sophie, meu pai e minha madrasta estão viajando. Minha mãe sofreu um acidente.

Eu sinto muito Jefferson! Disse realmente sentida. Eu não imaginava que Jeff havia tido semelhante perda.

Tudo bem Sophie, já me recuperei. Ele falou sério. − Mas, sabe o que me deixa com raiva?

Jeff, você não precisa me dizer nada. Eu disse tocando-o no braço.

Não Sophie, vou te dizer. Sinto raiva do meu pai, porque não teve a mais mínima consideração com minha mãe. Nem um ano Sophie, nem um ano ele esperou, e logo se casou com essa mulher. E sabe o que mais?

Jeff não...

Ele acha que pode me controlar. Minha mãe sofreu com ele Sophie e morreu, mas eu não vou deixá-lo fazer o mesmo comigo. Ele gritou e havia lágrimas em seus olhos.

Meu Deus! Jeff estava realmente ferido. A perda da mãe havia afetado ele, e a desconsideração do pai havia aprofundado ainda mais a ferida. Algo me dizia que a infância do Jeff não havia sido nada fácil. Mas como eu iria ajudá-lo a superar essa raiva e essa dor? No momento eu ficaria calada e esperaria ele se acalmar. E graças a Deus isso não levou muito tempo.

Me perdoe Sophie, está muito cheio aqui dentro. Ele disse colocando a mão sobre o coração. − Eu estive pensando sobre isso desde que te conheci. Seu pai te apoia de uma maneira que meu pai nunca fez comigo. Mas não é inveja, não pense nisso, é só que eu queria ter...

Eu sei, não diga nada. Acho que hoje é o dia das revelações, né?! Disse tentado fazê-lo sorrir, e funcionou.

Ah Sophie, você é o sol que ilumina a minha vida! Ele disse tocando minha bochecha. Senti que ficava vermelha.

Eu, ah, obrigada, eu acho. Falei envergonhada. − Sabe sempre quis ter uma irmã. Eu disse tentando mudar de assunto.

E eu nunca tinha pensado em ter mais irmãos até que nasceu Anabelle. Ela é diferente. Não se parece nada com minha madrasta. Ele disse de maneira pensativa.

Ela gosta muito de você.

Sim, e eu a adoro. Pena que nem meu pai nem sua mãe dão atenção suficiente a ela. Anabelle passa muito tempo coma babá. Ele falou com aquele ar triste.

Ah Jeff, me desculpe tá. Já estou de novo pondo você triste.

Ele olhou-me por um tempo e disse:

Só vou te desculpar se me deixar levá-la para conhecer o melhor lugar daqui. Ou então algo bem pior do que isso, você vai me apresentar aos seus pais. Já que como diz minha irmã, vamos nos casar, tenho que conhecer meus futuros sogros, não acha?

Fiquei estagnada, sem ação. A pele do meu rosto estava esquentando e minha garganta estava quase se fechando.

Você... Está brincando? Suspirei.

Eu pareço estar brincando. Falou sério e acelerou o carro. Estávamos indo para a minha casa.

Nunca fiquei tão nervosa perto de um garoto quanto eu ficava perto do Jeff. Toda vez que ele me olhava, meu sangue fervilhava sob minha pele. Ele não disse uma só palavra durante o trajeto. Quando chegamos, eu mal conseguia abrir a porta, minhas mãos tremiam. Minha mãe estava na cozinha preparando o almoço e meu pai na sala assistindo TV.

Pai? Mãe? Quero apresentar uma pessoa. Falei olhando pro chão. Eu estava por demais constrangida com a situação. Minha mãe se aproximou e meu pai desligou a TV.

Quero que conheçam Jefferson Berini, um amigo meu.

Jeff entrou e se apresentou.

Senhora, prazer em conhecê-la. Ele disse estendendo a mão para minha mãe. Ele repetiu a saudação com o meu pai, que apertou fortemente a sua mão.

Também fico contente em conhecer você. É o primeiro amigo que minha filha fez nessa cidade. E então, sente-se. Meu pai bastante gentil apontou o sofá. Jeff todo sorridente obedeceu.

Quer beber alguma coisa Jefferson? Perguntou mamãe.

Não, obrigado, estou bem. Jeff respondeu.

Tudo bem. Fique a vontade.

Jeff e meu pai conversaram sobre os mais diversos assuntos. Eu, no entanto, não me sentia muito bem. Aquela manhã de descobertas e apresentações estava me deixando tonta e com uma forte dor de cabeça.

Eu me sentei do lado do Jeff e ouvia suas histórias. Ele parecia mais disposto a se abrir com meu pai do que comigo. Minha mãe nos chamou para almoçar e fomos para a mesa.

Bife e salada. Arroz e feijão. Batata frita e farofa. Jeff adorou e elogiou a comida. Todos pareciam bastante alegres. Meus pais haviam gostado do Jefferson. Me senti excluída da conversa. Algumas perguntas eram dirigidas a mim pelo próprio Jeff, outras eram apenas para confirmação de algum comentário feito pela minha mãe. Minha cabeça latejava e meu estômago começava a embrulhar. Pedi licença para me retirar. Minha mãe reclamou dizendo que eu nem tinha tocado na comida, mas dei a desculpa que estava sem fome, o que não era uma mentira, e saí da mesa.

Fui para a varanda e me sentei no balanço. Eu estava sentindo algo, algo que estava acontecendo dentro de mim. Eu sabia que as sessões de quimioterapia não estavam adiantando, mas todos pareciam querer acreditar que sim. Não queria ver meus sonhos irem por água abaixo, por isso a cada sessão eu me munia de mais forças para agüentar aquela doença, resistindo à fraqueza, ao cansaço e a dor.

Jeff saiu e veio se sentar do meu lado. Ele com certeza estava muito feliz e isso me deixava alegre. Ele também percebeu que eu não me sentia bem.

Seu sorriso encantador desapareceu e ele sussurrou no meu ouvido:

Acho que não deveria ter vindo.

Eu olhei para ele querendo entender porque ele achava isso.

Você não está feliz. Desculpa. Disse ele, respondendo a pergunta que eu fazia internamente.

Não, eu estou feliz, só um pouco cansada.

Vou deixar você descansar então. Ele disse já se levantando.

Não, não vá. Gritei segurando seu braço. − Quero te contar uma coisa.

Um segredo? Ele falou sorrindo.

Bom não é um segredo. Vai querer ouvir?

Pode falar. Disse sentando-se novamente.

Vou fazer faculdade. Queria pedir sua opinião?

Legal! Sobre o quê?

Estou em dúvida, que curso eu posso fazer?

Hum! O que você gosta?

Esse é o problema, eu gosto de tudo. Eu falei rindo. Ele riu junto.

Então somos dois. Um conselho? Perguntou.

Sim. Respondi.

Faça uma lista. Coloque tudo que você gosta como profissão. Em primeiro lugar coloque a que você mais gosta. E então faça a mesma.

Muito bom. Obrigada, vou seguir seu conselho.

Ficamos sentados ali nos olhando. Jeff era realmente muito bonito. E eu estava quase ficando caidinha por ele. De repente ele se inclinou e pegou uma mecha do meu cabelo. Eu estava tensa. Ele se inclinou ainda mais. Pude sentir o cheiro do seu perfume e o xampu do seu cabelo. Eu sabia o que ele iria fazer, e por incrível que pareça eu não queria que ele fizesse “aquilo”. Minha mente começou a trabalhar tão rapidamente, que comecei a ver tudo girando. Estava ficando tonta. Senti então os lábios dele roçarem nos meus. Simplesmente perdi a consciência.

Agora eu não sabia se tinha morrido ou se estava em um sonho. Tudo estava muito claro. Eu respirava com dificuldade e não conseguia mexer o meu corpo. Tentei abrir os olhos, e uma luz ofuscante fez com que eu os fechasse de volta. Onde eu estava? Era o que me perguntava. Ouvi alguém falar ao longe, mas não conseguia discernir suas palavras. Mãe, pensei, será que estava ali comigo. Abri os olhos, agora enfrentando a claridade.

Ela abriu os olhos. Chame os pais.

Onde... Estou? Formulei a pergunta.

Não se esforce. Você está no hospital. O homem que falava vestia um jaleco branco, o que supus ser o médico.

Por que estou aqui?

Você vai ficar bem. Sentiu-se mal, mas agora está melhor. Ele falou.

A porta do quarto foi aberta e vi entrarem meus pais, e o Jeff logo atrás deles. A surpresa de vê-lo ali era maior do que a curiosidade em saber por que estava no hospital. Minha mãe sentou-se gentilmente ao lado da cama e meu pai e Jeff achegaram-se do outro lado. Meus olhos encontraram os de Jeff, e o que vi neles foi culpa e curiosidade. Na certa ele não sabia ainda, que eu estava doente, e isso era um alívio para mim, pelo menos naquele momento.

Pais, a filha de vocês está bem neste momento, mas descobrimos algo que desejaríamos que fosse avaliado com mais atenção. Os exames nos mostram que...

Doutor... Interrompi. − Podemos falar disso mais tarde, quero falar com meus pais. Na verdade eu senti medo, eu sabia que ele revelaria que meu estado havia piorado, e se Jeff ouvisse... Oh Deus! E agora?

O médico se retirou e nós ficamos ali nos olhando, ou melhor, eles ficaram me olhando. Eu estava cansada, então fechei os olhos. Minha mãe massageava meus cabelos, ela também chorava. Por que nesses momentos em que é preciso dar um consolo a alguém, você só consegue chorar por si mesmo? Eu sentia muito pelo sofrimento da minha mãe, mas o que eu poderia fazer? Não conseguia consolar a mim mesma. Pedi a eles que me deixassem a sós com Jeff, e eles se retiraram não sem antes me beijarem na testa e apertarem as minhas mãos.

Jeff permanecia calado. Ora olhava para o chão ora olhava para o teto. Sabia que ele não queria me encarar, então desviei o olhar para dar mais espaço a ele.

Eu sinto muito Sophie. Ele disse depois de alguns minutos. − Eu não deveria ter te beijado, quer dizer, você parecia nervosa, talvez eu tenha me precipitado, não sabia se você havia beijado alguém antes.

Jeff não seja tolo. Eu já tive namorado, e já fui beijada. Eu disse quase rindo. Esse assunto era um tanto constrangedor.

Claro. Mas você está bem? Eu não sabia que você tinha pressão baixa.

O quê? Pressão baixa? Falei surpresa.

Sim, seus pais me disseram que você tinha esse problema, e que talvez tenha sido isso o motivo do desmaio.

Oh! Claro. Eu sussurrei. Simplesmente não acreditava. Meus pais disseram a ele que eu tinha pressão baixa. Ótimo! Bom pelos menos ele não sabia da verdade. Mas que tola eu sou também. Ele é um garoto lindo, parece estar interessado em mim, e quando ele me beija eu desmaio. Isso mais parece uma daquelas ridículas histórias de romance, onde a mocinha ao ser beijada desfalece nos braços do seu amor.

Mesmo assim, me desculpe, acho mesmo que não deveria...

Jeff... Eu o interrompi. − Esqueça isso, eu não estou chateada com você. Você só me pegou de surpresa. Mas acho que ainda podemos ser amigos. O que acha? Perguntei.

Sim, claro. Ele respondeu sem muita firmeza.

Jeff foi embora assim que o doutor que me atendia pediu para falar a sós com os meus pais e comigo. Estava claro que coisa boa não seria. Eu me sentei na cama e meus pais se sentaram nas cadeiras próximas a mim. O doutor ficou de pé a nossa frente com alguns exames na mão. Antes de ler os exames, ele afirmou ser de suma importância o que ele estava prestes a nos revelar. Meu pai respondeu dizendo que mais importante que minha vida e minha saúde não haveria.

Senhor Raul eu sei de sua preocupação por sua filha, mas o que tenho a dizer é realmente importante. Não sei se o senhor sabe mais sua filha está pior do que aparenta.

Nós sabemos doutor, nossa filha está com leucemia. E ela já está fazendo o tratamento. Disse meu pai.

Não senhor. Sinto informar, mas Sophie não só tem leucemia, como adquiriu um pequeno tumor na região encefálica. Disse doutor.

Não. Gritou minha mãe. − Mas como assim, ela está pior, é isso? Minha filha está morrendo?

Senhora, sua filha não está morrendo. Sophie tem um tumor no cérebro. Graças a Deus é um tumor benigno.

O QUÊ? Agora foi a minha vez de gritar. Como? Eu não havia escutado isso, havia? − Doutor isso não pode ser possível. Eu fiz os exames em Portugal e os médicos de lá disseram que eu tinha leucemia. Como assim agora eu tenho um tumor? E ainda por cima no cérebro? Isso realmente é verdade? Continuei gritando.

Filha fique calma, você vai ficar bem, nós estaremos aqui. Sua situação é crítica querida, mas a operação pode ajudar a reverter isso. Disse meu pai carinhosamente massageando minha mão.

Sophie eu sei que esses últimos meses tem sido difíceis para você, mas quero que saiba que você tem chances de viver. Aparentemente o tratamento de quimioterapia que você tem feito, tem gerado bons resultados. Ele achegou-se mais mostrando-me uns papéis. − Veja esses exames, aqui mostra a quantidade de leucócitos que você tem atualmente. Estive com seu médico e ele afirmou que houve uma grande diminuição.

Nesse momento entrou no quarto uma enfermeira que entregou alguns raios x ao doutor.

Doutor, aqui estão os raios x que o senhor me pediu.

Obrigado Olivia. Sophie, esses raios x são seus. Seu tumor é uma meningioma, ele está alojado nas meninges. Ele é benigno, pois não é canceroso e não vai invadir nem destruir o tecido do seu cérebro. Ele fez uma pausa e virou-se para os meus pais. − Senhor e senhora Dominguez, não se preocupem, devido o tamanho do tumor, não será necessário fazer nenhuma cirurgia. Através da própria quimioterapia podemos aplicar alguns medicamentos que farão o tumor diminuir até desaparecer completamente.

Seria muito bom doutor. Responderam meus pais.

Doutor, isso irá me deixar debilitada? Ou poderá haver alguma complicação no tratamento, tipo o tumor se tornar maligno?

Fique tranquila Sophie, isso nunca acontecerá, não no seu caso.

Eu ouvia claramente o que o médico dizia. Por incrível que pareça me senti mais tranquila por saber que esse novo “problema” já teria uma solução . Imagina só, acreditar ter uma coisa e na realidade ter duas coisas. Depois que ele terminou de dizer tudo o que tinha para dizer, eu me recostei na cama e fechei os olhos. Eu estava cansada e perturbada por tudo o que acontecera naquele dia. A irmã do Jeff, o beijo do Jeff e o meu tumor. Bastante coisa né?! Bom, me perdi em pensamentos e adormeci.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Prontos para mais?



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