Heartbreak Warfare escrita por LittleLucas


Capítulo 1
Capítulo 1




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Na casa 80 da Rua 23, sobrevivia – sim, só sobrevivia, já algum tempo que ele não “vivia” – Rafael Schwitz, obviamente descendente de alemães. Escritor angustiado, divorciado mas insistia em falar que era viúvo e se tornando lentamente um alcoólatra, Rafael foi na cozinha e se serviu de um copo de suco que era mais vodca do que laranja, olhou pela janela e viu que estava mais tarde do que imaginava ao perceber que já não tinha mais sol.

Se dirigiu para a porta de sua casa e riscou no calendário que dia era, Rafael não costumava fazer aquilo, mas como Nina reclamava tanto de que vivia perdendo os dias ele passou a fazê-lo.

Pegou uma cadeira de praia que ficava pendurada na porta junto com seu calendário e a levou para frente de sua casa, um gramadinho bem aparado como em todo residencial.

Ficou lá sentado de mal jeito olhando para cima, não para o céu só pra cima, então ele escutou um som de rock alto, mas nem parou para olhar, em seguida ele escutou o barulho do motor de um carro e logo depois uma porta batendo.

“Boa madrugada, vizinho” - , escutou sua vizinha adolescente gritar por cima do som alto que ia ficando distante.

“Madrugada?”, perguntou Rafael se ajeitando precariamente na cadeira.

“Sim, são 3:22 da manhã...”, informou a vizinha, agora diminuindo a velocidade com que caminhava para a porta de sua própria casa.

Rafael desviou o olhar para ela e se impressionou com a beleza que aquela jovem tinha á noite. O cabelo ruivo dela, parecia ser vermelho fogo á noite, a pele extremamente branca dela parecia seda, os contornos de seus lábios eram simplesmente lindos, á noite, ela daria uma ótima personagem, concluiu Rafael, pelo menos fisicamente.

“Não sabia, Lara, obrigado por me informar...”, respondeu Rafael escolhendo o nome da personagem que teria o rosto de Lara.

Mudando de curso, Lara começou a andar em direção a Rafael, tirou suas sandálias as largou no gramado, sentou sobre elas e fixou o olhar em Rafael.

“O que estava fazendo?”, questionou Lara levantando uma sobrancelha para ele.

“Olhando para cima.”

“Pro céu, você quer dizer, não?”, tentou corrigi-lo.

“Não, o céu tá sempre ai, então não estou prestando atenção nele.”

Repentinamente Lara se levantou e voltou a caminhar para sua casa.

“Bom, até, vizinho, você cheira a bebida.”

Rafael a observou se afastar, ela levou suas sandálias na mão, pisando na barra de sua calça jeans e com seu cabelo ruivo balançando ás suas costas.

Na cabeça de Rafael, ela daria uma ótima personagem do tipo “bonita-inteligente-jovem-com-um-futuro-pela-frente-e-de-personalidade-forte”, clássica heroína de comédias românticas, pena que Rafael não sabia mais escrever.

Enquanto se afastava, Lara se continha pra não olhar para trás, ela achava seu vizinho interessante de uma forma estranha. Lara era fã invicta dos romances de Rafael Schwitz, mas não era mais tanto assim do escrito em pessoa, depois de escutar as brigas dele com a mulher por anos, pode-se dizer que aquele encanto de fã por ídolo se foi quase que por completo.

Sentindo que Rafael a observava, Lara sorriu sozinha, baixou o olhar para seus próprios pés descalços e entrou em sua casa fazendo o mínimo barulho possível para não acordar seus pais que dormiam no andar de cima.

Largou suas sandálias á porta e subiu as escadas, enquanto isso Rafael ainda sentado no meio do nada, observava a janela de Lara, esperando a luz do quarto dela se acender.

Antes de acender a luz de seu quarto, Lara abriu a janela e admirou Rafael sentado no escuro e um pouco bêbado por alguns minutos, em seguida voltou a fecha-la e puxou a cortina, só ai ligou a luz.

Arrumou uma coisa ou outra e separou um livro para ler, não, não um livro escrito por Rafael Schwitz, o humor dela não estava muito bom para o gênio de seus personagens.

No dia 8 de agosto, véspera do aniversário de Nina, Rafael e ela não dormiram, ficaram sentados em toalhas de mesa que eles colocaram no terraço do prédio do apartamento alugado de Rafael, enquanto dividiam uma garrafa de vinho, que ele costumava odiar, mas não mais.

Exatamente ás 00:03 de Buenos Aires, Rafael abraçou Nina mais forte, a parabenizou sussurrando em seu ouvido e em seguida falou o quanto a amava.

Naquele mesmo dia, Rafael tinha finalizado um livro, o mais rápido que ele já havia escrito, em menos de um mês, desde que conheceu Nina, nas últimas semanas ele estava apenas fazendo retoques e pretendia mandar para a sua editora na próxima semana.

O nome do livro era “Não sou especial”, que era uma das primeiras frases marcantes que Rafael ouviu de Nina, a personagem feminina principal tinha tudo o que Nina tinha, e tudo o que Rafael queria que ela tivesse e no livro havia também todas as frases de efeito de Nina usava, sim, Rafael tinha todas e cada uma gravadas em sua mente. Mas por medo, Rafael só planejava falar de seu livro para ela quando ele já estivesse lançado.

Conversaram a noite inteira, Rafael falava sobre si mesmo e sua vida e família, enquanto Nina falava do que ela gostava e do que não gostava, Rafael falava sobre suas crenças e seus amigos, Nina falava sobre Frank Sinatra e Woody Allen e cada vez que Rafael fazia uma pergunta um pouco mais pessoal, Nina o desviava de maneira tão ardilosa que ele nem sequer percebia, talvez fosse porque só de ter a presença dela ali já era o suficiente para ele. Então conversaram um pouco mais. Quando o sol começou a nascer, decidiram que já era tempo para entrarem e quem sabe dormir um pouco.

De volta ao apartamento alugado de Rafael, eles mais transaram do que dormiram, beberam mais vinho, Nina fumou e Rafael reclamou, quase brigaram por isso mais uma vez e então voltaram a transar.

Para a noite Rafael, havia preparado algo para Nina, deu para ela o mais bonito vestido preto que ele encontrou de uma marca famosa e super cara, o problema foi que Nina se recusou a usar, por não ser vermelho e porquê ela jamais aceitaria um presente daqueles.

“Você achou mesmo que eu fosse gostar disso?.” – perguntou Nina rudemente.

Mais tarde do que Rafael havia planejado, eles saíram, já que Nina teve que procurar uma roupa, ele a levou para o lugar onde ele a viu pela primeira vez, uma espécie de barzinho-restaurante. Nina achou aquilo tudo um exagero e muito estranho.

Então quando terminaram de jantar, Rafael se levantou e foi para o palco onde uma vez Nina esteve cantando uma música em espanhol. Respirou fundo três vezes, e então cantou a música preferida de Nina, que uma vez em meio a uma brincadeira ela pediu para ele cantar pra ela como presente de aniversário, já que ele havia se recusado a cantar no dia e agora com uma dose de coragem – uísque – ele enfim havia o feito.

Enquanto Rafael cantava a última frase da musica – “And all my bright tomorrows belongs to you” – Nina do fundo do restaurante se levantou silenciosamente e somente com o movimento de seus lábios disse “Eu te amo”.

Um calor passou por dentro de Rafael, ele se sentiu estranho, parecia que seu coração havia se desregularizado, mesmo ele sabendo que isso era impossível, um sorriso surgiu em seu rosto inconscientemente.

Ele continuou olhando para Nina por mais alguns minutos, gravando aquela imagem na mente dele, foi a primeira vez que ele havia visto ela totalmente vulnerável.

No fim da noite, quando chegou em casa, após Nina ter dormido, Rafael escreveu mais um trecho, e colocou como sendo a última página de seu livro, uma espécie de recado.

“Eu te amo.

Eu te amo, porquê você me controla, de maneiras que eu nem sabia que precisava ser controlado.

Eu te amo hoje, porquê eu cheguei em casa e por um suspiro você pôde definir meu humor.

Eu te amo no toque, porquê só estando próximo de você eu sinto um calor confortável.

Eu te amo ontem, porquê você me conheceu e ainda assim permaneceu.

Eu te amo nos contrários, porquê as suas discordâncias são o que me fazem ter sentido.

Eu te amo amanhã, simplesmente porquê eu sei.

Admito que ás vezes eu quase te odeio, porquê você não me deixa te conhecer.

Admito que de vez em quando eu quase te odeio, porquê eu pareço ser inútil para você, sendo que eu já não sei se ficaria bem sem você por um dia.

Admito que eu te odiei ontem, porquê o seu olhar não me disse nada.

Admito que eu quase te odiei por um segundo quando você disse “tanto faz”.

Mas hoje eu te amei por completo, quando você disse pela primeira vez que também me amava.”


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