Num pequeno vilarejo de Londres, uma garota de 16 anos estava deitada em sua cama. Pollyanna Taylor tinha cabelos castanho-claros e seus olhos eram de um tom de mel. Lágrimas escorriam pelo seu rosto ao olhar a cama vazia ao seu lado; um vazio que jamais seria preenchido, uma saudade eterna. Nunca mais fora a mesma desde...

A cena da morte de Robert Taylor sempre preenchia seus pensamentos, principalmente na hora de dormir. Uma imagem chocante que ela nunca havia esquecido; o irmãozinho de 4 anos brincava alegremente na tranqüila rua, em frente à casa. Com uma varinha na mão, apontava-a para a irmã, fingindo estar lançando feitiços. Pollyanna se jogava no chão, e o menino sorria ao ver sua oponente derrotada. Então, ela se levantava e perseguia o irmão, que gritava e corria o mais rápido que suas perninhas permitiam. Ela agarrava o pequeno e o beijava em cada canto do rosto. Depois, se escondia em alguma árvore para que Robert pudesse procurá-la. Inesperadamente, um carro irrompera pela rua, sem controle algum. A mãe das duas crianças estava prestes a chamá-las para o almoço, quando saiu para o quintal e viu Pollyanna correr desesperadamente. “Polly! Robert!” chamou Samantha, mas Robert nunca poderia responder; a garota não fora rápida o suficiente para evitar que o carro atropelasse o irmão em cheio. Pollyanna viu, horrorizada, Robert ser jogado para cima. Parecia uma subida sem fim, até ele cair no asfalto com um baque e o sangue começar a escorrer. Tremendo e chorando descontroladamente, ela se aproximou do corpo do garotinho. A mãe já estava ao seu lado, gritando o nome do filho que jazia morto aos seus pés.

“Robert!” murmurou Pollyanna para si mesmo, que agora chorava sem parar por causa das lembranças. Depois de alguns minutos, limpou as lágrimas e cobriu a cabeça. Tentou não pensar mais naquilo e logo adormeceu.

Ela estava no Parque St. James, rodeada por fãs de Harry Potter.

“Disseram que o Dan, o Rupert e a Emma vão estar aqui” disse a amiga de Pollyanna.

“E você acredita nisso, Kate?!” disse Pollyanna, achando graça. “Você acha que eles perderiam tempo vindo aqui, só por causa de um encontro de Potterheads?”

“E por que não viriam?” perguntou Katherine, com um olhar de reprovação.

“Suas esperanças são inacreditáveis, sabia?” disse Pollyanna, sorrindo.

Pelo canto do olho, ela viu um tumulto se formando. A voz de cada pessoa ao seu redor foi aumentando, até se transformar em uma gritaria histérica. Todos estavam correndo na mesma direção, e algumas garotas gritavam “Ele veio, ele veio!”. Um pensamento veio à mente de Pollyanna, e ela viu Katherine abrir um largo sorriso e seus olhos brilharam. Elas também começaram a correr, e em meio à bagunça geral, Pollyanna pôde ver três pessoas lado a lado, rindo ao ver a confusão. Dois homens e uma mulher.

Daniel, Rupert e Emma abraçavam cada fã que podiam, e as câmeras já tiravam fotos, e os autógrafos preenchiam as folhas. No desespero, Pollyanna empurrou várias pessoas, dizendo um “desculpa” rapidamente. Por um milagre, conseguiu chegar até o alto, ruivo e perfeito Rupert Grint. O olhar do ator passou para a garota, um olhar intenso, que a fez corar. E assim eles ficaram, até a reação completamente louca de Katherine os tirar do transe.

Pollyanna acordou com o alarme insuportável do despertador na mesa de cabeceira. “Maldito despertador!” pensou ela, frustrada por ter sido tirada de seu maravilhoso sonho.

Sua paixão pelos encantadores livros de J. K. Rowling era infinita. A série Harry Potter se tornara um vício total na vida de Pollyanna; nenhuma outra autora, a não ser a famosa Rowling, era tão especial para a garota, que crescera lendo e ouvindo as aventuras do bruxinho. Ela não sabia como agradecer à escritora por ter criado o mundo bruxo, a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, o incrível Quadribol, enfim, toda a fantástica história.

Espreguiçando-se, Pollyanna se levantou e abriu a janela do quarto. A luz do dia torturou seus olhos. Abriu um largo sorriso ao ver a manhã fria.

As paredes lilás do quarto e os móveis brancos ficaram mais visíveis. Sobre uma escrivaninha abaixo da janela, havia uma mochila, pilhas de livros, papéis repletos de anotações e mais livros.

Olhando-se pelo reflexo no espelho ao lado da cama, começou a pentear os cabelos. Desceu as escadas em direção à cozinha, e sentiu o cheiro do café da manhã sendo preparado.

“Bom dia, Polly” disse sua mãe, Lauren Taylor.

Pollyanna resmungou e, vendo que o café ainda não estava pronto, correu de volta para o quarto e ligou seu computador. Numa página do Facebook, havia um post com o título: Encontro de Potterheads. Ela sorriu e começou a ler.

No próximo sábado, 1º de setembro, às 9 horas da manhã, será realizado um grande evento para os amantes de Harry Potter. “Estamos organizando tudo com bastante empenho, para que os Potterheads britânicos tenham uma festa linda e inesquecível”, informou Louis Jackson, diretor do evento. O encontro acontecerá no Parque St. James, onde há um espaço aberto e apropriado para receber os fãs. Preparem-se, Potterheads de Londres!

Quando acabou de ler, Pollyanna estava em êxtase e tão feliz que leu mais vezes até se cansar. Desligou o computador e voltou correndo para a cozinha (quando se tratava de algo do seu interesse, Pollyanna descia (ou subia) as escadas na velocidade da luz).

“Mãe!”, ela gritou, entrando na cozinha. “Vai ter um encontro de Potterheads no St. James...”.

“Potteroquê?” indagou Lauren, confusa.

“Eu já disse mil vezes, mãe!” reclamou Pollyanna. “Potterheads são fãs de Harry Potter.”

“E o quê tem isso?”

“Eu quero ir ao St. James, no sábado. Vai ter um encontro de Potterheads lá.”

“Pode ir, se não for sozinha.”

Pollyanna riu e abraçou a mãe. “Kate vai comigo. Ela nunca perderia um encontro.”

“Hum!” murmurou Lauren. “Agora você vem me abraçar, né!”

As duas trocaram sorrisos e tomaram o café da manhã.