Ad Limina Portis escrita por Karla Vieira


Capítulo 13
Abra seus Olhos




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Andrew Cooper POV – Noite de 08 de Novembro.

- KENSI! NÃO! – Eu berrei, levantando-me e indo até ela. A parede invisível que nos separava havia sumido. Segurei-a nos meus braços, sentindo seu corpo inerte. Ela ainda respirava. – Abra os olhos, por favor, abra os olhos! Não... Tigresa... Não, abra os olhos, abra! Não me deixa, por favor!

O som de aplausos chegou aos meus ouvidos. Levantei a cabeça e olhei na direção de onde vinha o som, mesmo com a visão turva de lágrimas, e vi Eurídice sorrindo e aplaudindo.

- Sua desgraçada! Fez-me passar por tudo isso para tirar Kensi de mim! Eu juro, eu vou arrumar um jeito de me vingar de você, sua maldita!

- Calma, Andrew Cooper. – Disse ela. – Ela não está morta.

- Como não? Você deu veneno a ela! Ela está morrendo e não tem nada que eu possa fazer! – Gritei, soluçando.

- O que Kensi Green bebeu era água e sonífero, Andrew Cooper. Ela vai acordar daqui algum tempo.

- O quê?! – Gritei confuso. Olhei para Kensi, nos meus braços. Ela respirava profundamente, como se dormisse.

- Esta última prova era para ela, e não para você, Andrew. Era para ver se ela estaria disposta a entregar a sua vida por aquele que ela ama... Pela sua alma destinada.

- Quê?!

- Pelo amor de Deus, homem, você não pode ser tão estúpido assim! – Ela exclamou. – O seu teste nesta mansão era para comprovar se de fato você iria até o inferno por ela, suportaria algumas das piores provações por esta mulher, e você comprovou! O teste dela na verdade era este: ver se ela pode realmente amar, e se sacrificar por amor. E ela fez.

Voltei a olhar para Kensi, e um vestígio de sorriso estava em seus lábios. Ela estava sonhando, tão calma, tão angelical...

- E sabe o que isso prova? – A ninfa continuou. – Que vocês são almas destinadas, Andrew Cooper. Que vocês dois são e estão sob Flamma Amoris! Apenas almas destinadas passam nos meus testes. E vocês passaram. Parabéns.

Eu fiquei em silêncio, absorvendo as informações. Kensi era a minha alma destinada. A mulher que nascera para ser minha. Minha, para sempre.  

- Obrigado... Eu acho. – Eu disse baixinho. – Me diga: como saímos daqui?

- Pela porta da frente, é claro. – Eurídice respondeu como se fosse óbvio.

- Sem nenhuma porta mágica, alçapões cheios de cobras e nenhuma dessas suas desagradáveis surpresas, certo? – Perguntei, desconfiado.

- Certo. Eu não posso mais fazer nada contra vocês, e nem quero, Andrew. Posso parecer maligna, desagradável, mas eu sei o que é amar. E sei o que vocês estão tentando fazer por amor. – Ela sorriu tristemente. – Eu não sou essa ninfa cruel que você pensa, Andrew. Eu tenho que fazer isso por ter desafiado a ordem natural das coisas, tenho que fazer isso, pois se não o fizer, sofro muito mais nas mãos da Mortem. Fazer isso e não poder ver Orfeu para o resto da eternidade... Se o vir por aí, mande lembranças a ele, está bem?

Assenti, sorrindo levemente. Peguei Kensi nos braços e me levantei.

- Adeus, Eurídice.

- Adeus, Andrew Cooper. E boa sorte na jornada.

- Obrigado.

Caminhei para fora do cômodo. Atravessei o corredor e desci as escadas com calma, e as portas da frente se abriram sozinhas. Nada me incomodou durante o caminho. Quando saí, vi que já era noite, e os outros estavam plantados na frente do portão, nos esperando. Fred me viu primeiro e deu um grito, e os outros se levantaram, felizes. Mas logo fecharam a cara ao ver Kensi nos meus braços.

- Ela está viva! – Disse, para acalmá-los. – Estamos bem.

Os portões se abriram e eu saí, e eles se fecharam sozinhos. Olhei para trás e vi Eurídice sorrindo em uma janela. Ela acenou e desapareceu.

- O que houve lá dentro? – Perguntou Marie. – Por que ela está desmaiada? O que houve com você? Quem te feriu?

- Calma, Marie. Eu explico tudo depois. Agora eu só quero levar Kensi para um local seguro e descansar. – Eu disse. O carro de Ethan estava estacionado ali, e ele abriu a porta para que eu entrasse com Kensi. Logo estávamos todos dentro do carro, procurando um hotel para pernoitar. Durante o trajeto, Kensi acordou.

- Estou no paraíso? – Perguntou ela, piscando. – Estamos mortos? Eu me lembro...

- Shh... – Eu disse, acariciando sua face. – Estamos todos vivos. E vamos ficar bem.

Kensi sorriu, e eu me inclinei para beijá-la.

- A propósito, eu amo você. – Disse baixinho.

- Senhores passageiros, por favor, parar com a “melaceira” romântica. Ela embrulha o estômago de alguns de nós. – Disse Harry, e nós todos rimos. Logo, estávamos todos bem acomodados dentro de quartos de hotel enfeitiçados por Ethan e Marie para afastar monstros e outras coisas sobrenaturais.

Assim que deitei na cama, adormeci, tomado pela exaustão.

Marie Jean POV – Manhã de 09 de Novembro.

Tomávamos café da manhã na beira da praia, em Dublin, perto de onde desembarcáramos da balsa. Havíamos comprado coisas em uma cafeteria ali perto e fomos nos sentar na areia. Era relaxante ouvir o som do mar e sentir o sol no rosto logo pela manhã, depois de tanto estresse.

Sentei-me ao lado de Andrew e comecei a curar seus ferimentos com magia, discretamente para não chamar a atenção de ninguém.

- Deixa as cicatrizes, por favor. – Pediu ele. Olhei-o sem entender. – É que eu quero... Eu quero me lembrar.

Assenti em concordância.

- Andrew, como foi que você conseguiu esses ferimentos?

- Bom... A mansão inteira era uma prova para mim. Eu havia dito ao Ethan que eu iria ao inferno pela Kensi, se fosse necessário, e a ninfa Eurídice queria que eu provasse isso. Então, ela me aplicou algumas provas...

- Que provas? – Perguntou Ethan. Andrew então fez um pequeno relato de tudo o que ele passara dentro daquela casa. Eu estremecia a cada prova que ele detalhava. Era mais do que eu jamais poderia suportar. Quando ele terminou, ele se virou para Kensi e sorriu, como se a agradecesse, mas ao mesmo tempo a repreendesse por ter supostamente se suicidado por causa dele. Em seguida, ela contou o que passara nas mãos de Eurídice: tivera que lutar contra três cães infernais dentro de um cômodo; depois ficou presa em um outro cheio de raízes de mandrágora e asfódelo, que combinados poderiam causar intensas alucinações, dores, e tudo o que a mente da pessoa próxima pudesse pensar. Kensi disse que não foi um tempo fácil, pois sua mente vivia pensando em coisas terríveis. E depois foi levada até a sala onde encontrou Andrew. E o resto já sabíamos.

 Harry então resolveu contar o que passara naquela noite na cidadela fantasma. Parecia muito menos do que os dois haviam passado, mas era o que mais poderia o ferir. Todos nós sabíamos que ele não precisava provar pra ninguém que amava alguém, nem que faria tudo por essa pessoa. Ele precisava provar algo para si mesmo. Era diferente.

- Eu fico revivendo aqueles momentos com os espíritos. Será que eram mesmo a minha família? Será mesmo que eu os desapontei?

- Claro que não, Harry. – Eu disse. – Você é um dos homens mais honrados, corajosos e fortes que eu já conheci. Você nunca nos desapontou.

- Exceto quando quis me matar umas dez vezes. Aí eu odiava você.– Comentou Ethan, rindo levemente. Harry o olhou e sorriu.

- Desculpe-me.

- Sem problemas. – Disse Ethan. – Então quer dizer que nós somos a sua família? Interessante. Como sou mais velho do que você, sou seu irmão mais velho, sendo assim, você tem que me obedecer.

- Vai à merda, Williams. – Retrucou Harry, e todos riram. De repente, ficamos em silêncio, cada um com seus pensamentos.  Olhei para Ethan e segurei sua mão. Ele me olhou, e por um segundo, eu sabia o que ele estava pensando: O que eu e ele teríamos de provar?

- Mudando radicalmente de assunto, precisamos decidir nosso próximo passo. – Disse Fred. – Que caminho tomaremos para chegar até Cliffs of Moher?

- Eu sempre quis ir a Kilkenny. – Comentei. – Lá tem umas coisas legais para se visitar.

Todos me olharam.

- O quê? Será que nós não podemos ao menos nos divertir um pouco?

Ethan deu de ombros.

- Podemos ir para Kilkenny, passar por Limerick até chegarmos ao condado de Clare. E então... Seja o que Deus quiser. – Disse ele.

- Por mim, tudo bem. Sempre quis ver os castelos da Irlanda. – Disse Kensi, subitamente animada. Todos sorriram e concordaram. Terminamos nosso café, e decidimos dar uma volta por Dublin, antes de partimos para Kilkenny. Não faria mal a ninguém um pouco de diversão.

Passamos o dia visitando o Castelo de Dublin, St. Stephen’s Green (um parque grande e lindo, com estátuas georgianas, lagos, flores e árvores belíssimas, mesmo no inverno), a St. Patrick’s Catedral. E, a noite, os rapazes nos obrigaram a ir em um pub chamado The Temple Bar. Segundo Ethan, que de repente era o perfeito guia turístico de Dublin, o pub havia ganhado o prêmio de Melhor Pub com Música Irlandesa do ano de 2002 até 2011, tinha uma decoração incrível e as cervejas de lá eram ótimas. Nunca vi esse rapaz tão animado. Talvez fosse porque estávamos um tanto quanto próximos de sua cidade natal, Mullingar, que ele não visitava desde criança. Combinamos que, se sobrevivêssemos, passaríamos em Mullingar. Na verdade, passaríamos em todos os lugares onde os rapazes nasceram: Wolverhampton, Bradford e Holmes Chapel, na Inglaterra, onde Fred, Andrew e Harry nasceram, respectivamente.

Voltamos ao hotel onde havíamos pernoitado, e na manhã seguinte, começamos a viagem para Kilkenny. Algumas horas depois, estávamos adentrando na cidade. Eu estava preparada para uma cidade linda, viva, cheia de árvores com as folhas caídas, mas encontrei algo totalmente diferente.

O céu na cidade anterior estava azul e límpido. Em Kilkenny, estava cinzento, escuro. Às árvores na cidade anterior tinham vida, mesmo sem folhas. Em Kilkenny, pareciam podres. Seus caules estavam enegrecidos, seus galhos murchos e com musgos pendendo. Na cidade anterior, as casas estavam coloridas e vívidas, cheias de decorações natalinas. Em Kilkenny, estavam sem nada, escuras, sujas. E, na cidade anterior, havia movimento nas ruas. Em Kilkenny, não havia uma única alma viva.

- Onde está todo mundo? – Perguntou Kensi, baixinho. – É feriado aqui?

Mas nem dentro das casas se via vida. Não havia ninguém.

Circulamos mais um pouco pela cidade até encontrarmos uma hospedaria modesta e mais escondida. Estacionamos e fomos até lá, olhando ao redor, desconfiados. Afinal, já havíamos parado em uma cidade vazia e não havíamos gostado do resultado. Entramos na hospedaria, e eu contive um grito de horror.

As pessoas estavam como pedra nos sofás e balcões. Paradas, enegrecidas. Não se via nem o movimento do respirar. Havia, inclusive, teias de aranha presas em si. Todo o lugar estava empoeirado e sujo. Aproximei-me da pessoa mais próxima e a toquei. Fria e dura como pedra. Saímos dali com pressa, pois obviamente havia algo errado com o edifício. Em frente, havia outra. Entramos e encontramos as pessoas exatamente do mesmo jeito. Saímos novamente, e eu estava começando a ficar com medo, e percebia que todos os outros estavam do mesmo jeito.

- Olhem. Não é só dentro dos prédios. – Apontou Andrew para uma direção. Acompanhei-o, e vi uma mulher segurando um cachorro pela guia, ambos enegrecidos.

- O que aconteceu com essa cidade? – Perguntou Fred.


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Notas finais do capítulo

Se houver algum erro de qualquer tipo, me avisem, por favor... E, é claro, me deixem saber o que vocês pensam sobre a história!



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