PDV Freddie

Gelei no exato momento em que vi a Vivian. Como ela tinha chegado até ali? Como ela sabia onde eu estava? Que ela soubesse a cidade em que eu estou tudo bem mas, saber onde eu estudo? Sam permanecia de costas para Vivian, imóvel e encarando-me.

– O que? Então a gata realmente comeu sua língua? Olha Sam eu sabia que você gostava de comer, mas não sabia que além de carboidratos você também amava carne humana. – Vivian comentou.

– O que você esta fazendo aqui? – me pronunciei.

– Vim visitar o meu... O que nós somos mesmo Freddie?

– Nada, Vivian. Ate onde eu lembre não sou nada seu, quero o mínimo e se possível quase nenhum parentesco ou ligação amistosa com você.

– Oh Freddie, não fale assim. Parte-me o coração ouvir você dirigir-me palavras tão duras. E a nossa historia onde fica? E tudo o que passamos juntos? E as noites não dormidas?

Sam, ainda de frente para mim, abaixou a cabeça e riu, Vivian estava com um sorriso cínico no rosto. Oh não, isso não vai dar certo.

PDV Sam

Não aguentava mais as insinuações publicas daquela garota. Não queria virar, por que sabia que se olhasse para ela, correria o risco de acidentalmente minha mão parar no seu rosto e claro, acidentalmente, ficar a marca dos meus quatro dedos em sua face pálida. Freddie permanecia com os olhos fixos na figura atrás de mim, sua expressão indecifrável estava me deixando cada vez mais curiosa, finalmente virei. Observei figura loira a minha frente com seu cabelo liso e cacheado batendo no meio de suas costas.

– Estudando claro. – completou Vivian.

– Vivian cala a boca. – Freddie falou.

– Por quê? – ela rebateu.

– Talvez por que sua voz seja irritante?- comentei

– Como? Enfim, deixa pra lá. Freddie que falta de educação a sua, não vai me apresentar a seus amigos?

– Não tenho a intenção e nem vejo o porquê de apresenta-los.

– Ok, não tem problema, eu acho que conheço cada um de vocês. – ela inclinou-se um pouco para observar a mesa.

– Essa aqui deve ser a Carly, morena e graciosa, com certeza uma garota apaixonante. Entendo o motivo de Freddie ter te amado tantos anos, você me parece encantadora.

– Ah, olá Tyler! – Vivan soltou um beijo na direção de Tyler. – E Ashley.

– Ash. – ela disse.

– Tudo bem, Ash. Sua namorada Tyler?

– Sim. – Ash direcionou um olhar que eu podia jurar que dizia COMO É QUE É? Contudo ela não o contrariou.

– Adorável. E essa aqui deve ser a Sam, loira e de olhos claros. Ainda bem que eu mudei o visual não é mesmo docinho? De morena para loira, ou estaria totalmente fora do seu padrão. Mas, isso não interessa e sim a Sam, sweetheart, eu estava tão ansiosa para lhe conhecer, o Freddie falava tanto de vocês e de como você havia sumido e cata-ventos pulsantes. Você tem um ótimo gosto Freddie.

– Então Vivian a que devemos a sua visita? – disse tentando tirar o foco de mim.

– Saudades. Estava morrendo de saudades do meu velho amigo, e também estava cansada de Chicago, Freddie sabe o quanto essa cidade pode ser entediante. E vocês já são um casal?

– Por que a pergunta?

– Por que você falou como se fossem. Então...

– Sim, nós somos. – disse Freddie abraçando a minha cintura.

Adoraria poder confirmar e beija-lo novamente, mas tinha que desmenti-lo ali mesmo, nós não éramos um casal e não seriamos tão cedo.

– Jura? Eu acho que sua namorada discorda.

– Não sou namorada dele, somos um casal de amigos. Apenas amigos.

– Então você não vai se importar se eu abraça-lo ou vai?

– Claro que não.

Vivian se aproximou de Freddie sorriu para ele e lhe abraçou forte. Depois se virou para mim.

– Será que posso abraça-la também Sam? – fiz que sim com a cabeça e Freddie me lançou um olhar desconfiado.

– Eu sei que não te conheço, mas já gosto de você, parece que vou adorar conhecê-la nesse tempo que passarei aqui.

– Tempo? – exclamou Freddie atrás de mim.

– Sim. Eu vim passar uma boa temporada na Califórnia. E olha que perfeito, estudaremos juntos novamente. Só falta o Brad e tirando o calor estamos de volta a Harvard.

– Achei que você já fosse formada.

– E sou, mas quero fazer um curso de belas artes.

– Entendi.

– Bom pessoal foi um prazer conhecê-los e revê-lo docinho, vejo vocês depois. Adoraria ficar e conversar mas, infelizmente eu tenho que ir não posso me atrasar para a primeira aula. – Vivian saiu desfilando com seus cabelos esvoaçando ao vento, aquela imagem puxou algo em minha memória.

– Ei Vivian!

– Oi? – ele virou-se e colocou os óculos escuros para tapar o sol.

– Por acaso o seu carro é vermelho? – Ela não me respondeu, apenas riu e foi embora.

– Que simpática não é mesmo? – disse Ash assim que voltei a sentar.

– Simpaticíssima, a simpatia em pessoa.

– Vamos terminar de comer. – Carly desconversou.

– Eu posso entender o que foi aquilo? – Freddie cochichou em meu ouvido.

– Aquilo o que?

– O beijo.

– Por acaso você não gostou?

– Eu adorei, só não entendi por que você disse que não éramos um casal.

– Por que não éramos e nem somos.

– Estou confuso.

– Freddie, numa situação unicamente hipotética, digamos que, eu e você estejamos apaixonados um pelo outro, mas ainda assim não namoramos, para que a gente namore é necessário uma pergunta que deverá partir do cavalheiro no caso você.

– Então caso eu peça você aceita?

– Estamos falando hipoteticamente?

– Lógico.

– Supondo que estivéssemos em outra situação...

– Para de enrolar Sam, você aceita ou não. Ou melhor, aceitaria ou não?

– Aceitaria o que?

– Ser minha namora, claro que dentro de um prazo de cinco anos, em que namoraríamos por dois anos, noivaríamos em um ano e meio e casaríamos em um ano e meio.

– Nossa não acha essa proposta um tanto quanto sufocante?

– Eu tenho certeza que você adorou.

– E como você tem certeza de que não iria se arrepender.

– Simples, você é a mulher da minha vida. Você aceitaria ou não?

– Já que estamos falando em meio a tantas duvidas. Possivelmente, talvez, um dia quem sabe.

– Não é um não.

– Também não é um sim.

– É tudo hipotético lembra? – Freddie piscou para mim.

– Ei! Em que mundo vocês estão? Já tocaram o sinal. – disse Carly.

– Nós temos uma palestra pra assistir Sam. –comentou Ash.

– E nós uma partida de futebol Freddie. Vamos!

– Ok, vamos logo Ash!

– Te vejo no estacionamento pode ser? – disse Freddie se distanciando.

– Não sei, eu vou voltar com a Ash.

– Na verdade eu vou voltar com o Tyler, por que nós temos umas coisas pra fazer e...

– Tudo bem então, mas e o meu carro? – perguntei.

– Eu não vou voltar de táxi né Sam. – disse Carly.

– Ah, claro a Carly e o meu carro? Nunca.

– Sam, eu aprendi a dirigir no transito caótico de Nova York, me dê algum credito.

– Ok seja feliz! – joguei as chaves para Carls.

– É, e serei eu e um carro...

– Que?

– Todos vão com alguém e eu irei sozinha de volta para casa. Sempre abandonada.

– E sempre dramática, tchau Carls.

– Tchau gente. Ah, Sam pode vir comigo?

– Ai por quê? Eu não quero andar.

– É rápido, por favor, pelo menos me acompanhe até o carro, já que eu serei abandonada como sempre e... – sabia que Carly ia fazer um drama e resolvi evitar logo todo o monologo que estava por vir.

– Ta Carlotita eu vou com você.

Saímos do refeitório e caminhamos em direção ao estacionamento neste caminho todo Carly não disse uma palavra, e já estava estranho por que Carly sempre fala, mesmo que seja a coisa mais insignificante do mundo como “olha, que legal o pingente prata da minha pulseira reluz mesmo com pouco sol”. Decidi quebrar o silêncio assim que avistei o meu carro.

– Carly, o que ta te incomodando?

– O que ta me incomodando? Ah, nada, só assim talvez, a Vivian estar aqui.

– Não precisa ficar com essa cara de medo, o que ela pode fazer? Ela me pareceu até um pouco inofensiva, venenosa como toda cobra, mas ainda assim inofensiva.

– Não precisa? Sam essa garota deu a volta num cara rico, sumiu com o dinheiro dele e ainda acusou outras pessoas de terem feito isso. Na boa ela não parece nada inofensiva. Eu não gosto da presença dela aqui Sam, parece que o ar fica pesado, que o dia escurece, ela não traz bons fluidos. Não entendo como você e o Freddie podem não estar preocupados?

– Quem te disse que eu não estou preocupada?

– Não sei talvez sua reação um tanto passível e seu dialogo amoroso com o Freddie.

– Carly, eu não podia me descontrolar, não podíamos discutir o assunto Vivian ali na frente de todos da mesa, não quero envolver a Ash muito menos o Tyler nisso.

– Eu não tinha pensado nisso. É só que... Sam isso vai dar merda, isso vai dar muita merda.

– Disso eu não tenho duvida.

– E vocês tem alguma noção do que vão fazer?

– Sinceramente? Nenhuma, ainda não conversei com o Freddie sobre isso.

– Bom, qualquer coisa você me mantém informada.

– Tudo bem, capitã qualquer alteração na missão você será informada.

– Espero que cumpra com as ordens. Beijos Sams.

– Beijo Carls, tchau.

Encontrei com a Ash no corredor e fomos para o auditório assistir a palestra sobre Empirismo x Racionalismo. E a todo o momento só conseguia pensar em como eu estava sendo indecisa, ao tempo em que eu era irracional e esquecia da minha ultima experiência com Freddie, a razão que me restava me puxava para a realidade, não permitindo que eu me jogasse com tudo nessa “nova chance”, que a vida nos deu. Por fim eu estava mesmo era confusa e cansada demais pra ficar pensando em uma forma de acertar as coisas.

PDV Freddie

Fui direto para o vestiário trocar a roupa, precisava me distrair um pouco e tirar qualquer coisa que envolva a Vivian dos meus pensamentos. Imaginava agora a minha vida como um parque cheio de crianças brincando nos balanços e nas escorregadeira e de repente o tempo fecha e começa uma terrível tempestade, mas mesmo depois de todo o dia de chuva sempre vem um dia de sol, e Sam não é só o meu dia de sol depois de um dia de chuva, ela é o raio de sol que não permite que terríveis tempestades aconteçam.

Ainda estava imersos em meus sonhos quando escutei barulhos de palmas.

– Parabéns, Freddinho. Amei a sua dança no ginásio, estava incrível, desejável, se eu pudesse teria te agarrado ali mesmo.

– Vivian. – ela estava de braços cruzados, encostada em um dos armários.

– Por que a surpresa? Eu disse que iríamos nos ver muito.

– Não estou surpreso.

– Ah sim você esta. Sejamos honestos Freddie, você esta perdido e assustado.

– Por que eu estaria assustado?

– Não sei talvez por que você não sabe o que fazer, ou por que você não sabe o que eu vou fazer.

– Nada que você fizer vai superar o que você fez há anos atrás.

– Será? E se ao invés de você eu estivesse interessada numa certa loira?

– Não sabia que tinha interesse por pessoas do mesmo sexo.

– Eu tenho muitos interesses meu querido, mas esse não é um deles.

– Então qual seria o seu interesse na Sam?

– Você gosta muito dela não é? Pra ter feito um flash mob para ela.

– Eu a amo.

– Ai que lindo juro que lágrimas escorrem pelo meu rosto.

– Lágrimas não são seu forte.

– Nossa Freddie seja um pouco mais, gentil com sua velha amiga e futura companheira de apartamento.

– Como?

– O que você ouviu. Eu vou morar com você.

– Não vai mesmo, não quero ter que suportar sua presença nem aqui muito menos na minha casa.

– A você vai.

– E eu possa saber o por quê ?

– Por alguns motivos como: primeiro você ama a Sam, segundo, uma ligação minha e você esta nas mãos do Dom...

– Você também estaria ferrada Vivian, não se esqueça disso.

– Eu estaria? Você tem certeza? Freddie foi você que roubou o dinheiro do Dom.

– Você sabe muito bem que não fui eu.

– Em quem você acha que ele vai acreditar, na esposa arrependida ou no moleque que lhe pôs um par de chifres? Oh, Dom meu amor, estava sendo ameaçada por eles, eles disseram que iam me matar Dom, eles disseram que iam te matar também, meu amor e você sabe que, te amo o suficiente pra me afastar de você em troca da sua vida. – Vivian começou a forças lágrimas e sua voz foi mudando, para uma chorosa.

– Ele não iria acreditar em você.

– Mas a Sam iria.

– O que a Sam tem haver com isso?

– Freddie a Sam não confia o suficiente em você ainda e isso foi perceptível nos poucos minutos em que estive com vocês. Se eu colocar alguma duvida, a mínima que seja o pouco de dignidade e confiança que lhe resta vai por água abaixo. A Sam não vai aguentar ser traída novamente.

– Eu não a trairia novamente.

– Não disse que iria, não por sua livre e espontânea vontade.

– Você é inacreditável Vivian.

– E mesmo assim ainda te deixo fascinado.

– Curioso eu diria, não consigo entender por que você fez tudo isso comigo e com o Brad.

– E nem vai entender, não por enquanto.

– Não já bastou ter acabado com a minha vida da primeira vez?

– Não seja dramático. Você deveria me agradecer. Afinal graças a mim você reencontrou a Sam.

– Graças a você, foi um acaso do destino.

– Se você prefere acreditar no destino...

– Eu prefiro acreditar em Papai Noel, mas não em você.

– Diferente de Papai Noel, eu existo e posso realizar um de seus desejos.

– Deixar-me em paz?

– Não, mas deixar certa loira em paz, por algum tempo. É só você me dar um lugar para morar.

– Não adianta Vivan, não vou aceitar que você more comigo.

– Hahaha, ai Freddie, tão decido... Você tem até amanha pra me dar a resposta.

– Minha resposta é não e isso não irá mudar.

– Certeza? Pergunte a sua querida Sam, por um incidente com um carro vermelho, e então você me da a sua resposta.

– O que você quer dizer com isso Vivan?

Ela chegou perto de mim e aproximou sua boca do meu ouvido.

– Que o jogo só esta começando amorzinho. – ela gargalhou em meu ouvido, deu meia volta e se foi.