Blackout {hiatus} escrita por Santana


Capítulo 20
Labirinto Invisível


Notas iniciais do capítulo

Queria aproveitar esse espaço para uma declaração de amor:
James Rodriguez, eu te amo!



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Não houve respostas. Nem alguma explicação plausível para o que quer que havia acontecido alguns minutos atrás. Eu apenas sabia que Dylan Thorne havia me tirado dos braços irrecusáveis daquele que, no momento, tinha o maior dos potenciais para ser o meu futuro namorado e também que a caminho de casa permanecemos os dois em silêncio, desfrutando da tensão ímpar que preenchia o carro.

As avenidas nunca pareceram tão longas e minha paciência tão curta.

Então eu entendi. Entendi no momento em pus os pés para fora do carro, no momento em que Dylan arrancou o veículo em silêncio para longe. No momento em que fechei a porta do apartamento e encarei o azul tempestuoso nas íris do meu pai, August Collins. Então o peso caiu como uma bigorna sobre os meus ombros e me senti envergonhada por tudo o que havia acontecido e pelo que eu havia feito até agora. Me senti suja, como os copos descartáveis vermelhos esquecidos sobre a mesa de centro e o carpete repleto de confete colorido. Foi aí que o meu cérebro concluiu o óbvio, porque:

(a)Havia uma festa de aniversário para mim, só que (b) eu estava num bar, fugindo dos meus familiares, a vergonha de uma comemoração surpresa e bolo rosa de modo que, (c) eu não estava presente.

Havia uma festa de aniversário sem uma aniversariante e era este o motivo pelo qual eu enfrentava o redemoinho de decepção preso no olhar do meu pai.

– Numa escala de zero a dez - meu pai começou. Sua voz estava sem emoção e me segurei para não chorar.

– Onze? - arrisquei, enquanto via a sombra de um bolo grande, branco e azul. Não rosa.

Papai suspirou antes de me responder. Eu sabia que havia cometido uma falta. Sair assim, dizendo que voltava às dez quando realmente não estava planejando aquilo... Eu deveria imaginar que mamãe prepararia alguma coisa, sim, eu devia.

– Ela só está querendo melhorar as coisas entre vocês. - papai disse - Ela não está forçando, Julia. Está tentando te dar folgas por todos os lados para que você não se sinta sufocada e ela realmente ficou triste com sua desfeita.

– Me desculpe, pai. - as palavras quase não saíram, minha garganta parecia estar fechada, mas não dizer aquilo me sufocaria ainda mais - Eu... pensei que mamãe continuasse querendo me controlar daquela maneira de antes, eu sinto muito.

Ficamos ali, os dois em um silêncio que, ao contrário do anterior vivenciado por mim, não era incômodo. A falta de afirmação de papai para a minha pergunta demonstrava o óbvio: Eu não tinha uma nota. Havia sido tão egoísta! E com essa constatação as lágrimas rolaram sem me pedir ,ou que eu notasse, sobre as minhas bochechas e enquanto estava rodeada pelos braços fortes e a proteção única de papai ouvi a porta bater e passos fortes na escada, mas não arrisquei um olhar. A única coisa que queria naquele momento era me desculpar com mamãe, não só pela festa de aniversário fracassada, mas pelos inúmeros hiatos de toda uma vida.

– Esse garoto, Dylan Thorne... - meus músculos se retesaram em um ato involuntário. Eu não poderia estar mais surpresa - Ele gosta muito de você.

Só isso. Nem uma explicação ou pergunta, qualquer indagação que fosse. Me afastei de August confusa quando uma fotografia passou de sua mão para a minha.

Eu a conhecia. E, olhando para ela novamente, para mim e Dylan Thorne em um momento íntimo e só nosso eu me lembrei.

Então eu tive certeza. Eu sabia. Sim, eu sabia.



Uma pausa para demonstrar os meus sentimentos para com o orgulho: ele não vale a pena. Eu deveria ter sabido desse fato tão difícil de ignorar assim que mamãe entrou pelo apartamento de Stev. Não eram as roupas rosadas, o andar de perua, o cabelo tingido de louro... Era a sua alma. Nada daquelas coisas fariam que Amelia Collins se tornasse outra pessoa além de minha mãe.

– Espero que vá me visitar no fim do semestre. - ela segurou os meus ombros e me olhou da forma maternal que nunca costumava me olhar, não por não querer, mas por eu não permitir. - Sei que você tem uma folguinha até o início do outro, você não me engana.

Não pude deixar de sorrir. Havia uma outra atmosfera em nossa relação de mãe e filha desde que eu havia deixado o orgulho de lado e pedido desculpas por tudo o que havia feito de faltoso. Sem reclamações por causa das minhas roupas e até nos arriscando a cortar o bolo esquecido na noite anterior, a noite do meu aniversário, quem visse de fora não acreditaria em todas as desavenças e intrigas bobas que tivemos em um passado bem presente.

Eu não poderia estar mais aliviada. Ela passou os braços pelo meu pescoço e me puxou para si, um luxo o qual eu não me permitia há tempos e que agora em minha vida eu já não poderia passar tanto tempo sem. Na madrugada anterior, depois de conversar com papai, todas as minhas ações pareceram uma tremenda besteira. Eu era teimosa e egoísta, de modo que querendo crescer e me tornar dona de mim mesma antes do tempo, acabei me retardando e me tornando uma pessoa com atitudes tão infantis que me vi enojada.

Quando mamãe me soltou, me surpreendi da forma como os meus olhos estavam: marejados pela despedida. De repente não queria que eles me deixassem; que eles voltassem para casa. Queria que eles ficassem perto de mim. Comigo. Ou melhor, queria ficar com eles. Dadas todas as especulações de como eu era uma fujona, uma fuga a mais não faria a diferença.

Antes de sair, papai me olhou. Eu o encarei com toda aquela revolução de sentimentos que acontecia em silêncio no meu íntimo e sorri para mostrar que eu tinha aprendido a lição. Ele pareceu ter orgulho de mim ao entender o recado.

Dylan os ajudou com as malas enquanto murmurava despedidas, ele abraçou a minha mãe e vi quando ficou encabulado ao dar um aperto de mão no meu pai quando ele disse algo que fiquei curiosa por não poder ouvir e que também não iria perguntar. Mais uma vez sorri e me perguntei o que havia deixado Dylan daquela forma. Lembrei que ao me abraçar papai me disse o que eu não esperava ouvir, mas que de todo não havia sido uma surpresa.

– Se comporte, querida. - ele aconselhou ao meu abraçar – Não vou pedir para se cuidar, sei que uma pessoa fará melhor que isso.

E mais uma vez, eu também sabia.

Cerca de dois minutos depois Stev levou meus pais para ao aeroporto. Ia começar a subir os lance de escada sozinha quando resolvi que deveria esperar Dylan.

– Eu ainda não tive a chance de agradecer. - comecei quando ele se aproximou. Ele nada disse, apenas me olhou confuso.- Por... sabe, ter impedido que a minha besteira fosse maior indo me buscar no Joe's.

Um brilho de entendimento tomou conta de seu rosto e, lado a lado, continuamos a subir. Ele demorou a responder e me peguei pensando no que aquilo significava. Eu costumava pensar que o conhecia. Que sabia todos os seus movimentos, suas felicidades e suas angústias. Que era capaz de adivinhar com um olhar o que significava todas as suas atitudes. Mas eu estava completamente errada. Não sabia quando o levantar de suas sobrancelhas era pirraça ou dúvida, quando seu sorriso era escárnio ou felicidade, quando seu silêncio era consentimento ou dor. Eu não o conhecia e saber disso me deixou mal.

– Você não precisa fazer isso – disse quando abriu a porta do apartamento. Parei enquanto ele se virou para mim, mas ele ainda não me olhava – Nós juramos amizade duas vezes, mas nenhuma delas pareceu funcionar. Se foi o beijo – ele pigarreou – ou se foi a coisa toda com o Darwin, não foi a minha intenção sabotar nossas tentativas de... sermos amigos.

– Eu também não tive a intenção de sabotar isso...

Não deixei de notar que ele não havia falado do acontecido em Jones Beach e me pareceu válido o fato de ele ter ignorado. Eu poderia não o conhecer, o que eu havia notado alguns poucos segundos atrás, mas tinha certeza de que ele sabia que estava errado sobre os motivos de não conseguirmos levar uma amizade pura tão adiante.

Eu poderia ter dito milhares de coisas. Poderia dizer o que estava sentindo, que sentia sua falta de qualquer modo que fosse ou até mesmo perguntar sobre o término do namoro com Antônia, qualquer coisa para continuarmos uma conversa. Eu queria ser sua amiga. Queria ser mais que sua amiga, se fosse possível. Mas pensar isso doía, e falar... Céus! Eu não falaria. Foi por isso que resolvi me recolher e guardar aquilo para mim, se fosse necessário e eu enxergasse algum dia uma oportunidade de revelar aquilo, eu faria.

– Podemos dizer que tentamos.

Ele me olhou e eu não soube dizer o que se passava com ele – com nós dois – naquele momento.

– Sim, nós podemos.

Era verdade. Podíamos falar aquilo e ter certeza da veracidade de nossa afirmação assim como tínhamos de que ele cuidaria de mim e eu queria cuidar dele. Eu o amava.

E essa confissão, embora doesse, aliviava uma outra dor: a da incerteza.

À noite, na hora do jantar, eu entrei esbaforida na cozinha com a perspectiva de que, como mamãe e papai já não estavam mais conosco, teríamos pizza e refrigerante. Stev e Dylan riram quanto a minha empolgação. As conversas dos dois àquela mesa me fizeram crer que a amizade deles era única; verdadeira e nenhum incidente poderia mudar aquilo. Meu irmão nos contou sobre como havia se resolvido com Cora e, como Dylan havia dito outro dia, ao menos era ótimo que tudo estava dando certo para alguém. Fomos para cama quando a conversa acabou e por um segundo antes de dormir o pensamento da festa de Ronald me veio à cabeça. Rolei no colchão e dei de cara com os olhos castanhos de Dylan me observando. Eu havia resolvido continuar no quarto do meu irmão pelo menos naquela noite, já que, como mamãe e papai estavam instalados no meu, as coisas saíram de ordem. Virei o meu rosto sentindo minhas bochechas esquentarem só por estar sendo observada por ele.

– Jus – Stev me chamou – A Cora me disse da festa que o seu amigo Ronald vai fazer domingo, ela quer saber se você vai.

– Vou.

percebi que ele digitou algo no celular e depois se dirigiu à mim novamente. - Ela também quer saber se você já escolhe sua.. hum... ah! Fantasia.

– Não – dei-me conta - Ela quer ir comigo amanhã?

– Um minuto. - ele pediu enquanto digitava novamente no celular – Ela disse que sim, pediu pra você ligar amanhã cedo para combinar e... Espera, ela está digitando – assenti, mesmo que ele não pudesse ver – está perguntando com quem você vai.

– Com o Darwin - respirei fundo.

Para me distrair, peguei o celular ao meu lado e mandei uma mensagem para o meu melhor amigo: “Preciso de uma fantasia de Julieta. Julia.”

– Julia vai com o namoradinho... Eu tenho que estudar para a prova do Sr. Flyppergam. Ótimo! Quem vai ficar de olho na minha bela namorada?! - Stev reclamou – Dylan!

– Eu não vou para essa festa, esquece. - respondeu com a voz abafada.

Meu coração bateu mais forte. Demorei algum tempo para discordar do meu irmão.

– Ele não é meu namorado, que saco.

Antes de me sufocar com o travesseiro na tentativa de dormir, recebi uma mensagem.

“Que Clichê! Ron.”

– Qual é a graça? - Ronald perguntou – Digo, todo mundo se veste de Romeu e Julieta. Julia, olha para mim!

Ouvi os passos de Ron, mas eu estava impossibilitada de virar o meu rosto para olha-lo. Aliás, estava impossibilitada de fazer qualquer movimento com o corpo sem acabar com um alfinete nas minhas entranhas. Ficar parada nunca fora o meu forte.

– Ela não pode olhar para você, Honor! - Cora interveio, belíssima e se recusando a se livrar da fantasia de anjo. As asas prateadas pendiam em suas costas, mas pareciam tão leves que tinha a sensação de que estavam suspensas no ar. O vestido curto parecia flutuar, em plumas graciosas em sua volta que iam se acomodando em seu corpo até alças finíssimas nos ombros. Coralina parecia vestir nuvens. Estava linda!

– Não consigo parar de suspirar a cada vez que vejo você vestida assim, Cora! Você está perfeita. Um arraso! - Ron exclamou, suspirando mesmo – Então saia da minha vista, quero conseguir conversar com a senhorita estátua. Queridinha, essa roupa não está muito... cafona?

A Sra. Gonsalez ergueu o olhar da bainha do vestido e encarou Ron duramente, que não se intimidou.

– Que ideia imbecil! Vestir uma personagem da idade da pedra. Faça-me o favor!

– Não é da idade da pedra – revirei os olhos, não sabia de qual século era, mas com certeza não era do período do qual Ron falava. Com descuido virei um pouco o corpo de lado e por pouco não fui perfurada por um alfinete na coxa.

– Fique quieta, querida. - repreendeu a Sra. Gonsalez. Ela me lembrava a mãe de Ronald eu não sabia dizer o porquê. Era baixinha e rechonchuda com a pele queimada pelo sol latino e o sotaque carregado. Embora não fosse a primeira impressão, suas mãos era delicadas e ágeis, de modo que eu só percebia que o vestido da fantasia estava sendo ajustado quando sentia a pontada de algum alfinete caso me mexesse.

– Onde acendo essa luz do espelho? Ah! - Cora estava de frente para mim, de modo que as pedras escondidas no vestido brilharam com o reflexo da luz e eu pude ver. Ficamos maravilhados ao perceber o detalhe.

Pelo reflexo do espelho, não pude ver o olhar e sorriso de Ron por trás da máscara do Homem de Ferro que ele achara perdida por ali. Ele xeretava os diversos manequins e fantasias sortidas pelo ateliê, convencido de que acharia algo melhor para mim, mas era difícil acreditar que eu estava satisfeita com o vestido vinho que a Sra. Gonsalez estava ajustando. As mangas longas acabadas em desenhos dourados se transformavam em cone, de forma que embora sentisse minha mão livre, sentia que por outro lado estava coberta pelo tecido. Era longo, mas a Srª Gonsalez trabalhou para que ficasse bem cinturado e parecesse mais jovem para um vestido de época. O acabamento dourado também estava presente no decote quadrado e comportado. Quando a senhora pediu para que eu andasse pelo espaço, me senti como se fosse uma dama comtemporânea dos Montecchios. Uma verdadeira Capuleto.

– Você está linda! - Cora exclamou. Fingi um gracejo, empinei o nariz e sorri de forma esnobe andando entre a bagunça de tecidos e fantasias com o vestindo caindo levemente até os meus pés.

– Bem, nada mal – Ronald deu de ombros, incapaz de dar o braço a torcer – Mas o fato de você está maravilhosa nessa roupa – ele confessou - não me tira da cabeça essa ideia completamente clichê. Porque essa história tão velha faz todo esse sucesso, hum?

– É a maior história de amor de todos os tempos, você sabe. Além disso, tudo sobre o ser humano é abordado: o amor, o ódio, o bem e o mal... É uma linda história. - Cora argumentou. - Ron, você já escolheu sua fantasia?

– Claro que não, meu amor. Eu não quero que vocês me vejam, será uma surpresa. Então deem meia volta e sumam!

Rimos enquanto entrávamos nos provadores. Tirei o vestido com calma e peguei a calça jeans e a camiseta que viera vestida. Não estava fazendo frio, mas o clima era uma brisa desconfortável que me obrigou a vestir um dos meus moletons. A Sra. Gonsalez falou que poderíamos esperar o Ronald achar a fantasia perfeita sentadas em algum sofás numa espécie de sala de espera improvisada. Cora se sentou ao meu lado, enquanto ouvíamos os gritos de aprovação de Ron no cômodo ao lado.

– Sem problemas no paraíso! - Cora sorriu quando perguntei sobre sua volta com o meu irmão. - As vezes penso que fomos feitos um para o outro, é incrível. E você?

– É – ri – eu também penso que vocês foram feitos um para o outro.

– Não se faça de boba, Jus. Estou falando sobre você e o Darwin.

Fiquei surpresa. Não esperava que Coralina rebatesse a minha pergunta. Eu não tinha algum caso amoroso com Darwin, ao menos não explicitamente e que eu soubesse.

– Nós... só vamos à festa do Ronald juntos – respondi embora não tivesse muita certeza se o que Darwin queria era apenas me acompanhar. Para ser justa e franca, pensava nele como futuro namorado ultimamente.

– Eu não sei o que se passa nessa sua cabecinha, mas quero que saiba que não importa o que aconteça pense no que você quer. No que é melhor para você. Não estou apontando o lado que está em vantagem, sei que tem uma luta acontecendo por você, mesmo que seja um tipo de Guerra Fria e ninguém queira levantar os braços e se render... Só não se deixe levar pela pressão, porque ninguém vai morrer se você escolher aquele que realmente gosta.

Mesmo que as palavras de Cora fossem diretas eu me vi em um labirinto invisível e saber que ela estava certa me deixava ainda mais perdida. Eu já havia encontrado a saída dele há algum tempo, só tinha medo de cair em uma emboscada no meio do caminho.

Olhei para baixo, incapaz de olhar para o rosto de Cora. Eu tentava fazer aquela escolha todos os dias ao acordar e ao me colocar para dormir. Ela pôs a mão gelada sobre a minha e senti vontade de transformar toda a minha confusão desnecessária em lágrimas ainda mais desnecessárias.

Um drama bobo; um dilema bobo.

– E não faz essa cara. Acaba com isso! Você sabe de quem eu estou falando.


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Notas finais do capítulo

Oe. Primeiramente, gostaria de disponibilizar alguns informes:

>> Estarei dando entrada em um projeto de fanfic yaoi shippando o Galvão e Neymar hu3u3
>> Eu amo o James Rodriguez!



Zoeira, menos a parte do meu amor pelo Rodriguez, óbvio.
Vi que tenho leitores novos e que a minha fanfic se encontra nos favoritos de alguns recentemente. Muito obrigada por isso.
Desculpem-me pela demora, eu estava sem computador.
E se esse capítulo ficou chato, me perdoem, ele era necessário para o desenrolar do final de Blackout.