Blackout {hiatus} escrita por Santana


Capítulo 14
Uma chance


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi.
Eu tinha algo para falar mas acabei esquecendo, é isso.



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Fazia tempo que um sol tão forte brilhava sobre a cidade em que morava, o sol finalmente tinha saído de onde quer que ele se esconda o que possibilitava que Antonia Green e todas as suas fieis escudeiras tirarem as suas menores roupas do armário para ir à Universidade.

Demetria Halker, um tipo de fofoqueira pior do que Ron Honor, passou por nós usando a sua minissaia rosa de babadinhos que jurei ter visto a parte de baixo da sua bunda e um top preto brilhante no melhor estilo prostituta que se encaixava perfeitamente com ela. Ela balançou a cascata loura de cachos em sua cabeça e me lançou um olhar medonho que retribui mais do que incomodada.

Ela caminhou até Antonia e conversaram animadamente sobre alguma coisa que eu não sabia, mais teria uma grande probabilidade de acertar se eu chutasse que elas estavam falando sobre homens ou as novas coleções de roupas para piranhas. Era uma pena que Demetria fosse tão fútil porque tinha um grande futuro na Universidade, principalmente porque era bastante inteligente. Eu conheci Demi no colegial, quando ela usava Cardigans e sapatilhas fofas e seu cabelo sempre andava preso em um coque bagunçado. Nós trocávamos uma ou duas frases nas aulas de História e Cálculo, que eram as que tínhamos juntas, mas aí o colegial acabou e Demetria apareceu como uma pessoa completamente diferente na Universidade.

Não sabia se na verdade ela sempre fora aquela garota por dentro, mas eu sentia pena. Pelos boatos ela andava fazendo trabalhos acadêmicos extras, para Antonia. Perguntei-me se era aquele preço que se pagava pela popularidade ou para ter mais moleques dispostos a tirar a sua roupa.

Ronald esticou o braço e me devolveu o aviador de lentes escuras que coloquei em meu rosto muito rápido, porque a claridade estava acabando com a minha vista. Estávamos no refeitório, como sempre o lugar em que os desocupados ficavam quando não havia aula ou os que simplesmente não queriam assisti-las, como Ron. Os meus tempos do dia tinham acabado, mas eu não queria voltar para a casa e ter a excelente companhia indispensável da minha mãe.

– O que vai fazer no seu aniversário?

– Fugir da minha mãe, óbvio. – respondi e virei meu rosto para o lado, observando os garotos do time de futebol jogarem xadrez, Scott Thomas movimentou o bispo na horizontal, fiquei sem saber se ele estava roubando ou se era mesmo burro.

Mamãe havia resolvido estender a sua visita, já que faltavam quatro dias para o meu aniversário e ela alegou querer passa-lo comigo. Eu não fazia questão de uma festa, era só eu atingindo meus miseráveis vinte anos e ficando mais velha, mas quando Amelia disse que ficaria até o meu grande dia, eu automaticamente imaginei balões cor de rosa, um bolo de dois andares e mais rosa, igualzinho ao meu aniversário de dez anos.

Precisava fugir.

– Ótimo, tenho o lugar perfeito para comemorarmos. – Ron sorriu animado – Vamos chamar quem você quiser e ir ao Joe’s comer batata frita e tomar cerveja. Preciso ficar mais leve e também a gente nunca mais saiu, sabe? Todo mundo junto.

Sorri. Ron era um bom amigo não era a toa que eu o escolhi naquele ninho de cobras onde um queria derrubar o outro.

– Ron, eu queria te contar uma coisa.

Somente a lembrança do que havia acontecido em Jones Beach me vez corar. Em um momento estávamos bebendo Nescau e sentados em silêncio e no outro os seus lábios sobre os meus e nós dois juntos. Uma confusão.

Ronald captou a fofoca no alto.

– Espere. Você tem certeza que quer me contar aqui? – ele apontou as Antonias e Demetrias em uma rodinha bem próxima a nós e logo depois deu uma boa olhada no time jogando xadrez, mas eu sabia que eles eram inofensivos fora do campo e Ron só queria mesmo era olhar seus corpos antes de sair – Vamos lá pra casa, acho que mamãe fez panquecas.

Como os pais do Honor o achavam irresponsável demais para ter um veículo próprio nós fomos obrigados a ir de transporte público.

Ele era mesmo irresponsável, eu não culpava os pais do garoto.

– Já almocei, então vou sumir, espero que goste das panquecas, Jus.

Tia Martha sorriu. Eu não reclamaria se ela fosse minha mãe, é sério, a mulher é um doce de pessoa e ainda cozinha super bem. O único problema dela é achar que eu posso transformar o filho dela em hétero. Espera um pouco, não é, tia? Eu não faço milagres.

Comemos as panquecas nos melando de ketchup e logo depois estávamos deitados, eu com os pés no rosto de Ron, pensando como começaria a contar.

Estava me sentindo desconfortável com a situação em casa. Eu e Dylan nos falávamos pouco e ficávamos encabulados quando sem querer um tocava no outro. A lembrança do acontecido parecia que também estava afetando Dylan, mas nenhum de nós dois teve coragem de tocar no assunto.

Eu também nem sabia se estava pronta para encarar a situação como deveria.

– Honor, eu transei com o Dylan – suspirei – de novo.

Ron deu uma gargalhada e sentou na cama para olhar o meu rosto.

– Você está vermelha, que fofa – ele continuou a rir. – Tá, e aí?

– Como assim “e aí”? Tá tudo na mesma, Ronald. Eu não sei o que fazer.

Tomei um susto com o quanto minha voz pareceu desesperada, eu não havia notado o quanto estava incomodada com aquilo até que Ron me pegou pelo pulso e me pôs sentada a sua frente. Seus olhos eram acolhedores como quem precisa mostrar alguma coisa. Ele permaneceu em silêncio como se eu fosse a pessoa quem deveria continuar o diálogo, mas logo segurou as minhas mãos, entrelaçou nossos dedos e então se inclinou para frente e me deu um selinho.

Meus olhos se arregalaram e me afastei bruscamente no impulso, meu coração batia forte contra o peito, mas não havia nada a ver com sentimentos em relação a Honor. Eu estava assustada.

– Ronald Honor, o que você acabou de fazer?

Soltei as minhas mãos e Ronald sorriu brincalhão. Aquele olhar que ele usava para me explicar sobre as fofocas do campus detalhadamente estava ali me encarando. Ele pegou as minhas mãos de volta e abaixou a cabeça, fazendo a franza cair em sua testa.

E então começou a rir.

Começou com o riso baixo e depois se tornou uma gargalhada estrondosa que ecoou pelo quarto e me assustou ainda mais. Fiquei estática e tinha certeza que meu rosto estava mais pálido que o normal, talvez eu tivesse azul de tão enjoada.

– Julia Collins, o que você sentiu com isso?

– Isso o que?

– O selinho, sua criatura tonta! – ele me olhou como se eu fosse retardada, o que talvez fosse verdade.

Eu havia ficado assustada, sem saber o que pensar e o que o meu melhor amigo estava fazendo, não era como quando Dylan me dava um selinho, e uma chama incandescente nascia e se alastrava por todo o meu corpo me fazendo perder o controle e querer tê-lo para mim. Não era como quando Dylan fez na praia que eu sabia o que ia acontecer, mas mesmo assim meu coração bateu forte com a expectativa...

Espera! Quem havia falado no Dylan?

– Eu... eu não senti nada, Ron. – respondi meio tonta pelo meu pensamento anterior.

Ronald me olhava desconfiado, ele franziu o cenho e juntou um pouco as sobrancelhas esperando que eu falasse mais algo.

Eu sabia o que ele queria que eu confessasse.

– E eu confesso que comparei o que senti com você com o que sinto com o Dylan quando ele me beija e blá blá blá. – senti vontade de meter o rosto no travesseiro, mas ele estava muito longe e Ron ainda segurava as minhas mãos. Tudo o que eu pude fazer foi abaixar a cabeça e deixar o cabelo castanho cobrir o meu rosto que eu tinha certeza que estava rubro, estava com vontade de vomitar e meu coração deu um salto com aquela confissão.

– Jules, quando você vai aprender a encarar isso como uma adulta? Não seja tão infantil. – Ron falou e seu tom de voz era sério, o que definitivamente não combinava com ele – Você deu, minha amiga. Eu sei que não foi uma ou duas vezes, foram várias, e você acabou gostando dele.

– Ronald! – exclamei, envergonhada pelo modo como ele se referiu aquilo.

– O que? Você prefere que eu diga fazer amor? Você admite que esteja se apaixonando? – ele falou irônico e um pouco alto demais.

– Não! – falei rápido – E eu não estou me apaixonando.

Minhas palavras foram convictas e fortes, mas não foram capazes nem de me convencer.

– Sabe o que eu acho Julia? Que você deve levantar essa bunda preguiçosa daí e ir falar com ele. Porque você deu – ele frisou a última palavra, só para me perturbar – e gostou. Precisam chegar a uma conclusão.

Estava confusa quando pisei no campus novamente. Não havia mais tanta gente como mais cedo e eu sei que eu poderia conversar com o Dylan quando chegasse em casa, mas a minha ansiedade era um bicho de sete cabeças impossível de se controlar e ultimamente o Stev não estava nos deixando em paz.

O sol estava ainda mais alto no céu e desejei um copo com água para amenizar o calor. Entrei no refeitório, como era segunda-feira e Dylan chegava mais tarde, significava que ele tinha duas aulas extras de um professor que havia ficado doente então resolvi esperar ali, pelo menos poderia pedir água.

A moça do refeitório, uma senhora baixinha de cabelos grisalhos que poderia se perder de baixo do balcão me entregou o copo, como sempre, mal humorada. Murmurei um agradecimento e virei o corpo, quase batendo o meu rosto no ombro de alguém.

Darwin riu e me segurou pelos ombros enquanto eu tossi engasgada com a água.

– Oi Julia – ele me saudou com aquele sorriso lindo.

Sorri de volta. Era impossível não sorrir quando se encontrava os olhos de Darwin Baker, ou isso ou você perde a fala por no mínimo dois minutos.

Eu conseguia ter os dois efeitos colaterais.

– Oi – respondi meio grogue com seu corpo tão perto do meu e seu cabelo louro com aparência úmida e bagunçada.

Baker se afastou e reparei que ele não estava usando a jaqueta preta de couro e sim uma camiseta azul que dava certa vantagem ao seu tronco, devo confessar. A calça jeans e os coturnos continuavam lá, mas de alguma forma ele pareceu mais charmoso com aquela santa camiseta.

Automaticamente, me lembrei de que tinha assuntos pendentes com o dito cujo e o arrastei pelo braço até a mesa mais perto.

Ele ficou sentando no banco em frente ao meu me encarando com um sorriso nos lábios e eu usava todas as minhas forças para parar de olhar para aquele ponto em especial.

– Como conseguiu o meu número? – perguntei bebericando a água para controlar o calor que estava sentindo.

– Ah, eu pedi para a Coralina – ele disse dando de ombros – eu tentei ligar para o seu celular, mas estava desligado e aí lembrei que ela também tinha me dado o número da sua casa e resolvi tentar a sorte.

Coralina! A infeliz queria mesmo me jogar para cima de Darwin.

Encarei o copo na mesa, não queria encarar Darwin enquanto lhe dizia o que Amélia achava sobre aquela ligação.

– Minha mãe acha que nós estamos namorando. – comentei.

Eu tinha certeza que se fosse Dylan ele gargalharia achando graça daquilo, mas quando levantei a cabeça e fitei o rosto de Darwin ele pareceu encabulado e deu um risinho nervoso cheio de culpa.

– Sobre isso...

O olhei cética, ele havia dito à minha mãe que éramos namorados?

– Darwin não me diga que você...

– Não Julia – ele riu – Foi um engano.

– Como assim um engano? O que você disse que até hoje eu tento tirar a ideia de que eu e você temos alguma coisa da cabeça de minha mãe?

Acho que a minha voz pareceu meio brava, pois Baker se pôs na defensiva ao ouvi-la.

– Eu só liguei para perguntar se você queria sair no fim de semana, não falei isso com ela claro, só perguntei se você estava, mas ela começou a fazer perguntas sobre nós e não me deixava falar nem um minuto.

Mas é claro que era aquilo. Obviamente Amelia Collins se pôs a falar e deixou o menino sem graça, que não teve nem como admitir ou negar o boato que ela criara. Ela levava muito a risca aquele ditado “Quem cala consente”.

Dei uma risada para ficar mais leve e não pude controlar a minha boca quando soltei o que realmente havia chamado a minha atenção na sua fala.

– Você ia me chamar para sair no fim de semana?

Quantos garotos haviam me chamado para sair na vida? Só Ronald Honor e ele nem contava! Nenhum garoto nunca me ligara para pedir para sairmos só nós dois, como Darwin Baker deu a entender.

– Sim – ele respondeu e a mira foi certeira quando ele olhou bem dentro dos meus olhos – Na verdade o convite ainda está de pé.

Senti um pouco de falta de ar com Darwin me olhando naquele jeito e dei um último gole da água desviando o meu olhar para a grande janela de vidro que separava o refeitório do campus.

Foi aí que eu desejei nunca ter olhado para aquela direção e continuar sustentando o olhar lindo de Baker.

Antonia Green estava encostada em uma árvore. Sua cintura estava rodeada pelos braços de Dylan Thorne e ela segurava a gola da sua camiseta enquanto ele a engolia em um beijo desesperado. Ele se afastou, e deve ter dito meia dúzia de palavras enquanto ela baixava a sua saia de um palmo e limpava a boca com a mão logo depois o puxando de volta. Dessa vez as mãos deles estavam paradas ao lado do corpo, sem tocá-la, mas eu sabia que uma outra coisa a estava tocando.

– Não sabia que era possível esse tipo de agarramento sem vergonha por aqui – Darwin disse e me virei para ele a tempo de ver uma careta em sua face, percebi que ele havia seguido o meu olhar.

– Pelo visto... – sorri sem graça me dando conta de que o motivo para eu ter voltado ali estava muito ocupado beijando a sua namorada – Darwin eu preciso ir, mesmo.

Ele se levantou da cadeira tão rápido quanto eu e segurou o meu braço quando eu já estava me virando para a saída.

– Quer uma carona? – perguntou – Está muito calor e acho que o bonitinho ali vai demorar um pouco e não vai poder te dar uma carona. A Cora também me contou que ele está morando com você e o Stev.

– O que mais a Cora andou te contando? – sorri enquanto andava pelo campus sendo seguida por ele que ria atrás de mim.

– Que você é solteira e me acha bonito.

Era oficial, Coralina Price estaria morta assim que ela aparecesse na minha frente.

Me virei de súbito e eu e Darwin colidimos pela segunda vez naquele dia. Dessa vez, ao invés de engasgar, eu sorri e olhei para o seu rosto. Darwin era lindo e estava me dando mole, conversando comigo quando todas as garotas queriam conversar com ele, porque eu só conseguia pensar em Dylan?

Decidi dar uma chance para Baker assim que encontrei um olhar que mesmo de longe eu sabia que era castanho.

Dylan me olhava debaixo da sombra da árvore que momentos antes ele e Antonia se agarravam com fervor. Desviei o meu olhar novamente para Baker e sorri.

Um sorriso sincero, cheio de segundas intenções.

– O convite ainda está de pé?


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Notas finais do capítulo

Rápido dessa vez, né? E ainda grande para os meus padrões de capítulo. Vocês nem mereciam. u_u

Hum... Uma chance para Darwin? Que ótimo, mas acho que um par de olhos castanhos não gostou de ver a Jus toda sorrisinhos para o Baker, ainda mais depois de um final de semana daqueles.

Terei comentários? Estou ficando chateada ):
Um beijo e até o próximo.