Essa é a parte em que você deve se enganar. Dizer para si mesma que não está apaixonada.

Transitar pelos corredores da minha casa havia se tornado uma tarefa mais fácil desde a última vez em que eu e Dylan nos falamos. Nada de beijos surpresas à noite e muito menos amassos cheios de mãos muito espertas passeando por ambos os corpos.

Confesso que era uma situação difícil de controlar. Abstinência do corpo e dos toques do Dylan não era a coisa mais desejável do mundo, afinal, já haviam me dito que era quase impossível controlar o vício quando a droga está bem a sua frente, eu só nunca havia comprovado essa teoria.

Virei a folha do meu livro sem nem ao menos lembrar do que havia lido da página anterior. Era extremamente perturbador saber que aquele cara estava há apenas alguns metros de mim, e não poderia me satisfazer. Eu sabia que ele estava me olhando, e era esse o motivo pelo qual meu rosto tomava um tom avermelhado enquanto eu me escondia por trás da leitura mais importante no semestre da Universidade.

Droga! Ele tinha que estar ali sempre?

Uma movimentação me tirou dos pensamentos, e um braço musculoso roçou levemente no meu, fazendo-me congelar completamente.

– Você não deveria ler aqui, você fica desconcentrada com essa TV ligada.

Claro, a TV.

– Steve, estar na página 28 desse livro em duas semanas é uma grande vitória, você sabe sobre o TDAH. – respondi

Stev é o meu irmão mais velho. Eu o adoraria com a mesma intensidade de sempre se ele não fosse o responsável pelo meu pesadelo particular.

Eles eram um tipo de melhores amigos para sempre. Dylan estava sempre no apartamento em que eu e o Steve dividíamos, comendo da nossa comida, bebendo da nossa água e dormindo no nosso sofá. Um exemplo de parasita chato e viciante que me fazia querer tomá-lo para mim toda vez que eu o via, que acontecia em um intervalo de tempo muito curto para se pensar que era errado ficar beijando e nos satisfazendo pelos cantos do apartamento, o que acontecia sempre até um mês atrás, quando eu comecei a crer que não existia nada de saudável em nosso relacionamento regido pelo vício de ter um ao outro, e ter a plena certeza de que o amigo do meu irmão não sentia nada por mim, apenas um desejo incontrolável, que eu não poderia negar, era recíproco.

– Você, Julia, é um caso perdido, não se concentra em nada do que faz. – Steven brincou.

A risada gostosa e descontraída do Dylan ecoou pela sala, atraindo nossa atenção. Eu tinha conhecimento do por quê de ele estar rindo. Ele sabia perfeitamente que eu conseguia me concentrar particularmente em uma única coisa, singular e viciante: Ele.

Dylan colocou uma das mãos em minha boca, me impedindo de gritar quando derrubei um dos vasos de flores enquanto tentava entrar em meu quarto ao mesmo tempo que me agarrada a ele.

– Ei, Jus, presta atenção, se concentra!

– Eu estou concentrada. – suspirei, indignada – Você é a única coisa capaz de prender a minha concentração.

– Desculpe, é o programa da TV.

Dylan sorriu de lado, o escárnio escorrendo pelos cantos em que se curvava a sua boca e o olhar penetrante me encarando.

Ele sabia que eu o estava ignorando.

E foi exatamente por isso que eu mirei as páginas do livro mesmo que não estivesse com um pingo de concentração para retomar a leitura, o mais importante naquele momento era ignorar o olhar castanho fosco e finito do parasita.