Os olhos chorosos não poderiam nem de longe demonstrar a verdadeira tristeza que a corroia pouco a pouco.

Não era justo, afinal, nem um pouco... A missão dela era simplesmente alegrá-lo, certo? Não tinha mais nada que pudesse ser feito, mas isso não tornava a situação melhor. Muito pelo contrário.

Lucy havia se encontrado com ele, havia feito amizade, o seguira um tanto cegamente, se aproximara, se apaixonara... Mas no fim, era tudo como deveria ser.

Havia ela sido guiada a isso apenas como um modo de distraí-lo de sua contínua dor do abandono? O destino quisera assim, podia-se dizer. E, claro, ela havia adorado, até aquele momento chegar...

De certo modo, estava feliz, o que se expressou em seu sorriso orgulhoso ao olhar a cena ao longe. Ele era um homem agora. Digno o suficiente para tal...

Afinal, quando Lisanna voltara, parte do caos já havia começado. Lucy, apesar de tentar se convencer que não, sentia-se uma mera substituição para a albina, ainda mais após lembrar de novo e de novo as palavras que lhe haviam sido ditas por Kanna e Levy, nalguma de suas costumeiras conversas.

Ele e a irmã morta de Mirajane haviam tido um relacionamento ao qual seu atual com o garoto se assemelhava muito. Até certo ponto, isso a alegrou, afinal, queria dizer que sua amizade era tão grande quanto imaginava, e que algum dia poderia tornar-se algo mais...

Doce engano, talvez sim, talvez não. Logo, sua aventura em Edoras começara, e Lisanna estava de volta, despertando consigo um ciúme irremediável por parte da loira. Lucy estava feliz de que todos os outros agora se encontravam alegres novamente, mas de certo modo sentia-se deslocada... Era a única deixada de lado por sua roda de amigos habitual, que agora cercavam avidamente a albina mais jovem, questionando-a sobre diversas coisas.

Depois de alguns dias, a euforia geral dissipou-se, o que a acalmou. Seus amigos haviam voltado ao normal, dando-lhe atenção por igual àquela que cediam a Lisanna.

Ela se acostumou, e poderia até dizer que se tornara grande amiga da albina, mesmo que ainda sentisse uma pontada de ciúme em relação a Natsu vez ou outra.

Seu mundo desmoronou, porém, no momento em que o do Dragon Slayer começou a fazer sentido novamente.

Com a volta de seu pai, aquele que mais amava, para que precisaria de uma mera substituição? Ele já tinha a garota, e agora seu maior motivo de não desistir havia reaparecido também. Era triste e egoísta admiti-lo, mas ela sabia que era verdade. Ele nem notaria sua falta, de qualquer jeito...

Numa época tão propícia a torná-la triste, uma pequena fagulha de esperança havia surgido. No mesmo dia em que Igneel reaparecera, uma pista um tanto curiosa sobre a vida de sua mãe foi revelada.

Não entendia ao certo o que aquilo queria dizer, mas parecia haver uma ínfima chance de Layla ter escondido dela e de seu pai coisas muito importantes sobre sua vida. Movida pela curiosidade e pela falta de atividades disponíveis, a maga dos espíritos celestiais decidira que era hora de deixar os sonhos para trás.

Quando fugira, aos dezesseis anos, para realizá-los, era somente uma garota. Agora ela não o era mais. Poderia pronunciar seu sobrenome sem medo, sem raiva. Poderia lutar sem ser taxada de fraca. Poderia lidar com todas as dores que lhe fossem impostas.

Ela era uma mulher, assim como Natsu acabara de se tornar um homem.

E como toda boa mulher, ela sabe a hora em que não é mais necessária em um lugar. E quando deve apenas dar liberdade àqueles a que gostaria de proteger. No caso, o homem que tanto amava. Um, sim, de cabelos róseos e sorriso animador.

E eram todos esses motivos que a levavam a olhar ao longe aquela cena. Uma pintura celestial, assim como sua magia, na qual o homem de sua vida ria, abraçado àquele que denominava pai, seus múltiplos amigos de infância a sua volta, agora todos crescidos, sorrindo e comentando como ele lhes contara sobre o dragão. Até mesmo membros mais novos, como Wendy, estavam lá, talvez movidos pela curiosidade ou talvez querendo saber de seus ‘pais’, que ainda não haviam retornado também.

O sorriso em seus lábios foi cortado por uma lágrima, assim como as muitas que haviam feito seus olhos chorosos desde o começo de sua pequena analogia. Agora, o momento em que ela possuía mais pessoas amadas para lembrar e inundar o coração de alegria, era aquele em que se sentia mais solitária.

‘Você sente-se pior quando consegue uma coisa e a perde do que quando não a tem desde o início’, um sábio certa vez havia dito. Oh, triste realidade.

Limpou as lágrimas com as costas da mão, agora sem a marca da guilda. Havia conversado com Makarov mais cedo naquele dia, aproveitando a ocasião de que ninguém parecia estar no local, mas sim do lado de fora, curtindo o pai de Natsu.

O dragão de fogo havia conseguido seu final feliz, com ou sem aquela substituta ferida. Agora não era a vez dela de correr atrás de seus próprios anseios? Descobriria tudo sobre a mãe...

Seu sorriso aumentou enquanto, mesmo querendo, não conseguia tirar os olhos daquela cena. Mas logo pôde se forçar a virar-se de costas e seguir em direção à estação de trem de Magnólia, uma mala de rodinhas em sua mão.

Claro, partiria, mas não sem antes levantar as costas da mão para o grupo divertido e erguer o indicador e o dedão.

- Estou partindo.

E sua sombra desapareceu da bela cena, assim como as lágrimas e os cacos de seu coração substituto.

E mais nenhum soluço foi proferido...