O Último Chamado escrita por Guido


Capítulo 7
Capítulo 7




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/357127/chapter/7

Quando finalmente deixaram o quarto, já passava das onze da manhã. Guido e sua avó não encontraram ninguém na sala, e deduziram que estivessem todos na enorme cozinha. E ao entrarem, encontraram somente Thomas, e Carrie e Eliot. Conversavam sobre qualquer assunto. Thomas sorriu com o canto da boca ao ver Guido.

— Gui, vem cá! — disse, batendo levemente no assento da cadeira ao seu lado. Guido caminhou até ele, lhe deu um beijo e sentou.

— Pronto, estou devolvendo seu Guido. — brincou Eve, arrancando pequenas risadas de todos. Aproveitando um momento de distração de todos, Thomas levou sua mão com suavidade até a testa de Guido.

— Não está mais gelado — disse o psicólogo. — e seus lábios não estão mais roxos, mas ainda precisamos descobrir o motivo disso ter acontecido.

Guido pensou em falar com ele que o motivo poderia ser espiritual. Mas não poderia conversar sobre aquilo justamente ali, a mesa, a vista de todos. Então assentiu, com um sorriso calmo.

— Como você quiser. — disse, e por baixo da mesa, segurou firme a mão do amado. Entrelaçaram os dedos, com força, como se nunca mais fossem soltar. Como sempre faziam. E seguiram conversando normalmente com o restante da família. A manhã terminou, e eles almoçaram juntos. Logo depois, Guido e Thomas se prepararam para voltar à Nova York. Os pais pediram que os dois voltassem mais vezes, e eles prometeram que sim. Antes de pegarem a estrada novamente, Eve chamou Guido num canto e o entregou um punhado de ervas embrulhadas em pedaço de tecido murim. A trouxinha soltava um suave cheiro verde.

— É arruda. — disse ela. — Ponha embaixo de seu travesseiro, e não tire de lá. Durma todas as noites com isso. E procure fazer uma oração antes de dormir. Pode ser? — ela sorriu para o neto.

— Com certeza. — ele respondeu, e ela o abraçou apertado. Então lhe deu um delicado beijo na testa. Depois fez o mesmo em Thomas, e sussurrou qualquer coisa no ouvido dele, que o fez rir.

Lá fora estava frio, porém sem sinal de chuva. No local onde ficavam os carros estacionados, na lateral do terreno, Guido e Thomas despediram-se dos outros.

— Tenham cuidado na estrada, meninos. — disse Eliot, da janela do carro.

— E, por favor, liguem quando chegarem lá. — lembrou Carrie, abraçada ao marido. — Não esqueçam!

Guido iria dirigindo dessa vez. Quando deu a partida, seus olhos encontraram sua mãe e sua avó, uma ao lado da outra. Elas estavam de mãos dadas e sorriam, ainda que com um semblante triste. Antes de dar a marcha-ré para pegar a trilha que conduzia ao portal de entrada, Guido mandou-lhes um beijo.

A viagem de volta à Nova York transcorreu normal. Guido e Thomas pararam apenas uma vez para comprar água. Guido, mesmo com toda a confusão que o cercava, sentiu um pouco de paz. Com tranquilidade, olhou para Thomas, sentado ao seu lado. Este lhe retribuiu o olhar. Sorriu.

— O que foi, Gui?

— Nada. — disse o arquiteto. — É só que, sinto que quando Deus me fez, estava pensando em você.

Thomas sorriu, e olhou para frente, para a estrada. Um segundo depois, virou novamente para Guido.

— Eu te amo mais do que a mim, sabia? — disparou ele. E realmente o amava bem desse jeito. E talvez, só talvez, já tivesse certeza de que Guido era o verdadeiro amor de sua vida.

Quase duas horas depois de terem deixado Hither Hills, eles já estavam praticamente em Manhattan quando o celular do arquiteto disparou a chamá-lo, barulhento. Guido não podia atender, já que estava ao volante, e por isso pediu que Thomas atendesse. Ao pegar o aparelho, o psicólogo soprou o ar, demonstrando insatisfação. Guido mirou rapidamente seu olhar no namorado.

— O que foi? — perguntou.

Thomas não retribuiu o olhar, mas apenas disse:

— Nate. Ele não sabe que hoje é domingo? — e o telefone continuava tocando sem que a chamada fosse aceita. Guido deu um suspiro.

— Não precisa atendê-lo, se não quiser. — disse, com franqueza. — Mas eu terei de retornar a ligação quando chegar em casa, porque nós estamos terminando o projeto executivo de um cliente, e isso está se tornando um caos...

— Mas Gui, no domingo? Você é arquiteto, não médico. O Nate vive inventando desculpas pra falar com você...

— Thomas, não é bem assim. Está duvidando de mim?

Thomas o olhou.

— A questão não é essa. Eu você eu confio, até mesmo cego. Mas no Nate, não. — respondeu.

Guido soltou um risinho.

— Eu deveria falar daquela sua secretária do consultório, que vive te elogiando, até mesmo na minha frente? Eu sinto ciúme disso, e muito. Ás vezes sinto vontade de escangalhar a o rosto dela, mas tudo bem...

Pela expressão, Thomas parecia espantado. E o telefone continuava tocando...

— É completamente diferente, Guido. — disparou. — Eu nunca fui namorado dela, nós não temos um passado, eu não sinto atração por mulher...

—... Eu não sinto atração pelo Nate. Você sabe que eu só consigo ser de uma pessoa, e essa pessoa é você. E tem mais, Thomas, eu não ligo pro meu passado com o Nate. Faz tanto tempo que eu nem lembro direito. — fez uma pausa. E aqui, o celular já não tocava mais, parecia que Nate havia desistido. — Mas se te serve de consolo, eu nunca senti por ele um terço da metade do eu sinto por você. E aí? O sentimento conta?

Thomas inclinou a cabeça para trás, recostando-a no apoiador do banco. Suspirou.

— Desculpe. É que eu fico louco em saber que o Nate persegue você. Já não basta vocês ficarem juntos todos os dias no escritório, é difícil aguentar...

— Eu vou romper a sociedade em breve, Thomas, você sabe. Já até achei um local pra abrir um novo escritório. E já tenho uma equipe formada, eles irão comigo.

— Eu sei. — respondeu Thomas. Pegou a mão livre de Guido, e entrelaçaram os dedos. — O amor nos deixa um pouco tolos. Sentimos ciúme sem precisar sentir. Mas mesmo assim, eu o sinto. É natural, eu não quero perder você.

— Nascemos para ficar juntos, eu e você, Thomas Ethan Williams. Não vamos nos separar. — respondeu Guido, olhando-o de soslaio. Em seguida, sem desviar muita da sua atenção a estrada, deu um rápido, porém delicado, beijo no rosto de Thomas, que não esperava e sorriu. E segundos depois, o celular voltou a tocar. Insistentemente.

Guido soltou um riso, e Thomas sugeriu atirar o aparelho pela janela. No final, o arquiteto atendeu a chamada, utilizando o viva-voz do Iphone.

— Pode falar, Nate. — disse, num tom amistoso. Não o avisou que estava sendo ouvido por Thomas.

— Precisamos nos ver no escritório. — disparou Nate, parecendo nervoso. O olhar de Guido encontrou o de Thomas, por um momento.

— Está tudo bem, Nate? Aconteceu alguma coisa?

— Onde você está, Gui? — perguntou Nate.

Ao ouvi-lo chamar Guido de “Gui”, Thomas sentiu uma onda de raiva tomar conta de seu corpo. Quis, por um segundo, finalizar a chamada. Guido notou, mas não disse nada. E a ele também incomodava que Nate o chamasse de “Gui”. Mas muitos o faziam. Natasha o chamava assim, muitas vezes. E alguns amigos no escritório também. Até seus pais costumavam abreviar seu nome. Mas o simples “Gui” saído dos lábios de Nate, pareciam carregados de ironia. Ou qualquer coisa assim.

— Eu estou voltando de Hither Hills. Meu avô morreu ontem. — respondeu Guido, indiferente.

— Hmm... sinto muito. Tem alguém com você? — perguntou Nate, e Guido estranhou. Irritado com a pergunta, Thomas passou firmemente uma das mãos pelo belo rosto, como se tentasse manter o controle. Guido olhou-o, e seus lábios disseram-lhe calma, sem que nenhum som fosse emitido.

— Eu estou sozinho, sim. Pode falar. O que houve?

— Precisamos nos ver no escritório, é urgente. Deu um problema no arquivo geral do projeto executivo da HF Cosméticos. Parece que a única cópia foi excluída. Por quem, eu não sei dizer. E eu estou surtando, porque vamos perder esse cliente se não mostrarmos nada amanhã na reunião...

Guido sentiu seu coração disparando. Como é possível?, pensou. Eles vinham trabalhando naquele projeto há quase dois meses, e estavam na reta final. Perder aquela parte representava um mês de atraso, ou até mesmo a perda do cliente. Fora que, muitas revistas especializadas em arquitetura já demonstravam interesse em publicar notas sobre o projeto, e caso o mesmo fosse cancelado e o motivo divulgado, sua reputação iria para o ralo. Suas mãos começaram a suar.

— Como assim a cópia foi excluída?! — a voz saiu mais alta do que pretendia. Mas o nervosismo era muito maior.

— Eu não sei, Guido! Não sei! Mas não estou encontrando o arquivo em lugar nenhum. Eu ia revisar tudo, mas simplesmente desapareceu...

— Nate, não mexa em mais nada. Eu vou ao escritório agora, eu vou achar. Eu olhei esse arquivo na sexta-feira, antes de ir embora. Eu devo ter uma cópia no meu computador, porque eu alterei algumas coisas na planilha. Não mexa em nada!

— Tudo bem, eu estou esperando você. — disse Nate, e em seguida, ele mesmo encerrou a ligação. Guido estava lívido, e Thomas já sabia que aquilo representava um grande problema para o namorado. O arquiteto avançou com o veículo até o acostamento, na beira da estrada, e parou o carro. Ao longe, já podiam ser vistos os altos prédios da cidade. O dia estava claro, e o clima frio e chuvoso de Hither Hills ficara para trás.

— Gui, fica calmo... — pediu Thomas. Sua preocupação com Guido era imensa, e embora soubesse que a situação era muito grave, não quis demonstrar nervosismo.

— Eu preciso olhar meu computador, vai ser rápido. — disse Guido, e em sua voz era visível todo o seu receio. O arquiteto destravou o sinto de segurança, abriu a porta do carro e saiu. Em seguida, escancarou a porta traseira, e sentou-se no banco do passageiro. Thomas observava o ritmo frenético com que Guido se movia.

O arquiteto abriu a mochila do computador, e retirou o laptop. Ligou-o rapidamente, e esperou todo o seu carregamento. Não demorou dois minutos para que um sorriso de alívio surgisse em sua face, e ao vislumbrar o rosto do namorado, Thomas sentiu-se aliviado também.

— Está aqui, eu tenho uma cópia do arquivo. Mas não posso mandar pra ele, é muito grande. E a conexão muito fraca. Preciso ir ao escritório. — disparou. E pela sua expressão, quase podia pular de alegria. Ele fechou o computador, e guardou-o na mochila.

Enquanto dirigia novamente, lhe ocorreu que não poderia chegar ao escritório com Thomas ao seu lado. E então disse isso ao psicólogo.

— Porque acha isso? — questionou ele, mirando Guido.

— Porque depois de quase seis meses forçados a ficar separados, voltamos oficialmente. Mas seria bom que mantivéssemos segredo. Sim, minha família sabe, mas eles moram em Hither Hills, e não contariam a ninguém. E a Natasha nunca diria nada. Mas o Nate não é íntimo, é só meu sócio. Temos de evitar que o Ronald nos veja juntos, e acredito que ele...

—... Você realmente acha que ele não desconfia que passamos o final de semana juntos? — interrompeu Thomas.

Guido o olhou.

— Pode até ser, mas seria bom que não o provocássemos. Acho que estamos brincando com quem não deveríamos, só isso que eu penso. Ele ainda tem as gravações. — disse.

Thomas fez silêncio.

— Tá... — soltou, com um suspiro meio aborrecido. — O que quer fazer, então?

— Você me deixa em casa, afinal estamos no seu carro. E então você segue pra sua casa, e eu vou ao escritório no meu carro. É simples. E nós vamos fazendo assim até darmos um jeito no Ronald, afinal, ele não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. E, muito provavelmente, ele vai estar esperando em frente a sua casa.

— Isso é absurdo, mas ok. Eu respeito. Contanto que não fiquemos separados...

Guido riu.

— Thomas, se pensarmos bem, nunca ficamos separados de verdade. Nos últimos seis meses, vivemos um perseguindo o outro. A única diferença é que não estamos dividindo a mesma casa, por agora. Mas é uma questão de tempo.

Mesmo com seu argumento, Guido percebeu que não conseguira convencer Thomas. Ele estava realmente aborrecido.

— Eu preciso pedir algo a você — disse ele, e Guido sentiu que sua voz tornara-se mais séria, e até mesmo fria. Olhou-o num relance.

— Peça o que quiser — respondeu, e mesmo diante de tamanha seriedade, sorriu.

— Tome cuidado, sempre. O Ronald está observando nós dois. Ele foi lá em casa de novo, na quinta-feira. — o psicólogo contou tudo. Desde a ameaça na porta de sua casa, até as fotos de Guido almoçando com Nate (que ele, Thomas, não quis ver), e a briga que culminou com um soco no queixo de Ronald, e um Iphone estilhaçado sobre o chão. Guido não teve reação ou resposta, até mesmo porque, no fundo, já esperava por esse tipo de coisa.

— Não acho que ele me faria mal. Digo, não fisicamente. Mas eu vou tomar cuidado. Não se preocupe.

— Sem chances de não me preocupar.

Guido riu daquilo. E meio conformado, Thomas também riu. Cerca de vinte minutos depois, avançavam pelas ruas de Manhattan. Nesse ínterim, o telefone de Guido vibrara umas duas vezes, e nas duas eram mensagens nervosas de Nate. Mensagens as quais Thomas se encarregara de responder, de forma seca e indiferente, fazendo-se passar por Guido, é claro. O arquiteto não se importava, achava sexy a atitude do namorado. E divertiu-se com aquilo. E tão repente, enquanto se distraía, percebeu que esquecera por completo o seus medos. Inclusive, Você é o sétimo filho. E ao lembrar-se disso, não sentiu receio, mas sim alívio por saber que, ao lado de Thomas, seus medos desapareciam, ou pareciam todos irrelevantes. E sorriu, internamente, sentindo o coração acalorado e guardado.

Guido parou o veículo em frente ao seu prédio, em uma rua de Manhattan. Ao seu lado, Thomas não disse nada. Mas Guido sabia que ele estava incomodado com o fato de que, em seguida, seu namorado iria encontrar Nate. E o arquiteto, percebendo o desconforto do psicólogo, tocou-lhe a têmpora, com doçura.

— Não fique triste. É só trabalho, nada além disso. — falou, com a voz carinhosa. Thomas permaneceu calado, um tanto duro, olhando por através do vidro da janela. A rua estava pouco movimentada, e uma suave brisa balançava as folhas das árvores.

Foi então que Guido virou-se, com calma, e para surpresa de Thomas, posicionou-se em seu colo. Os dois se olharam bem fundo, calados. E Guido aproximou seus lábios dos de Thomas, e os tocaram com suavidade. Uma onda abrasadora percorreu o corpo de ambos, como ondas vibrantes. E o beijo se intensificou, de modo que os dois podiam sentir a respiração forte um do outro, e seus membros que respondiam rijos, por dentro das calças, aos mais singelos dos toques. Teriam feito sexo ali mesmo, dentro do carro, e não seriam vistos, afinal, vidros escuros impediriam a visão de fora para dentro. Mas não queriam ser pegos por autoridades que, habitualmente, rondavam os arredores. Quando perceberam que já estavam no limiar de um contato físico mais intenso, interromperam os beijos. E aos risinhos, aprumaram-se.

— É melhor eu subir. — disse Guido, com um ar divertido. Thomas olhava-o com verdadeira paixão. Pensava em quanta sorte tinha por amar Guido. Admirava sua beleza, que ganhava um charme ainda mais especial sempre que o arquiteto se divertia. Exatamente como naquele instante. Mas, acida de tudo, admirava principalmente algo que enxergava nos olhos do amado, como um brilho. Thomas enxergava vida nos olhos de Guido. E volta e meia pegava-se pensando que nunca vira nada parecido. E o psicólogo agradecia aos céus por ser amado por ele.

— O que foi? — perguntou o arquiteto, corando. — Está me analisando?

Thomas sorriu.

— Um pouco. Em parte análise, em parte assombro. Não entendo como algo pode me fascinar tanto.

A princípio Guido não teve palavras para responder Thomas. Então baixou o olhar.

— Uau! — sussurrou, sentindo que estava ainda mais corado. Thomas reparou. — Eu to muito vermelho, aposto.

— Eu amo quando você fica assim. — respondeu, e tocou suavemente o queixo do namorado, fazendo-o erguer o rosto. Então se aproximou, e lhe deu mais um beijo. Depois de uns minutos, quando se afastaram aos sorrisos, Guido pôs-se a acariciar o maxilar de Thomas.

— Preciso ir. — disse. E Thomas franziu o cenho.

— Tem certeza que precisa? — indagou, com um sorriso no canto dos lábios.

— Você sabe que sim. Prometo que ligo quando eu voltar do escritório. Além disso, estou com o celular. — falou. Thomas suspirou.

— Tudo bem. — disse, em tom conformado. Desceram do carro, e Guido se dirigiu ao porta-malas para pegar suas coisas. Thomas o ajudou, embora não passasse de uma mala de alça que nem estava tão cheia. Depois Guido puxou a mochila do laptop, e passou uma alça pelo ombro direito.

— Eu vou sentir saudades, Gui. E se eu não aguentar, apareço. E fico na sua porta até você abrir. — disse, enquanto segurava a cintura de Guido. Estavam frente a frente. O arquiteto riu ao ouvir aquilo.

— Não vai precisar disso, Thomas. Eu abro a porta. — respondeu, e os dois riram em seguida. Então com um último beijo, Guido afastou-se, e observou enquanto Thomas entrava no carro. O psicólogo deu a partida, mas antes que acelerasse, baixou o vidro da janela, e olhou Guido novamente.

— Amo você. — disse. E Guido anuiu.

— Eu também te amo. — respondeu. Ficou ali, parado, observando até que o carro virasse a esquina.

Segurando sua mala, e com a mochila do computador pendurada em um dos ombros, Guido saiu do elevador e caminhou pelo corredor em direção ao seu apartamento. Nesse momento, seu telefone vibrou, informando que um novo SMS havia chegado. Guido abriu a porta de casa e, ao entrar, largou a mala num canto qualquer do chão de lustrada taboa corrida. Então puxou o celular e viu que a mensagem era de Thomas. “Você foi construído pra mim”, dizia o texto. Guido sentiu o coração palpitar, e sorriu. Mas antes mesmo que pudesse guardar o telefone no bolso, outra mensagem chegara. Dessa vez, de Nate. Ele clamava pela presença urgente de Guido no escritório. Embora o arquiteto já houvesse dito a ele mais cedo, por outro SMS, que possuía uma cópia do arquivo, reclamou sozinho pelo desespero de Nate. Mesmo assim, apressou-se. Foi ao banheiro rapidamente. Em seguida, pegou a chave de seu carro e saiu de casa. Minutos depois já estava dirigindo rumo ao escritório, que ficava há alguns quarteirões dali.

Quando chegou lá, estacionou, e entrou, usando sua chave. Encontrou Nate na sua sala, sentado na cadeira de escritório por detrás de uma bonita mesa de vidro e aço inox.

— Ainda bem que você chegou. — disparou Nate, demonstrando alívio.

Guido soltou um risinho.

— Não entendo, eu avisei pra você que eu tinha uma cópia do arquivo. Está aqui no computador. — disse, pacientemente, indicando a mochila do laptop pendurada em seu ombro esquerdo.

Nate balançou a cabeça, e se levantou. Guido se sentou em sua cadeira, e depositou o computador sobre a mesa.

— Quer café? Passei no Starbucks agora, está quente. É aquele que você gosta. — disse, oferecendo a Guido o copo com o logo da cafeteria.

— Ah, obrigado. — respondeu Guido. Na realidade não queria, mas não quis parecer mal educado com Nate, e aceitou o café. Tomou um gole, enquanto o sistema do notebook iniciava.

— Tem certeza que é o arquivo certo? — perguntou Nate, mas sua pergunta soou vaga.

Guido balançou a cabeça, sem prestar atenção no outro.

— Sim. — respondeu. Na tela do computador, surgiu o pedido de inserção da senha pessoal. Guido a digitou, e teclou enter. Em seguida olhou para Nate, que o observava, calado.

— Você estava com o Thomas? — perguntou, num tom sombrio. Mirando Nate, Guido contraiu a sobrancelha, estranhando a pergunta.

— Como?

— Você esteve com o Thomas? — Nate repetiu a pergunta, de forma automática.

Guido soltou um ar de riso.

— Não acho que isso seja assunto pra nós, Nate. Refiro-me, eu e você. Não devemos falar sobre nossas vidas pessoais... — Guido sentiu uma tontura, súbita. O quê?...

— Engraçado, eu pensei que o Thomas estivesse preso ao Ronald por causa de umas gravações...

O arquiteto sentiu arrepios percorrerem seu corpo, e a penugem de sua nuca eriçou-se. Afinal, só quem sabia das tais gravações era Thomas, sua família em Hither Hills, Natasha e o próprio Ronald, que era o chantagista. O arquiteto fechou o laptop, e tentou se levantar. Mas a tontura voltou mais forte que antes. E Guido percebeu que havia algo errado.

Encarou Nate.

Co-como... como você ficou sabendo disso? — uma sonolência absurda envolveu Guido. Ele não conseguia sequer manter-se de pé.

Nate arqueou os lábios, unidos, como se a pergunta de Guido não tivesse importância.

— Isso não vem ao caso. — respondeu, seco.

— Também não importa pra você se eu estive ou não com ele...

Ah, importa pra mim. — disparou uma terceira voz em tom zombeteiro. Vinha do corredor. E Guido não acreditou em seus próprios olhos quando viu Ronald surgindo na soleira da porta da sala. Mesmo com a visão tornando-se anuviada, Guido o reconhecera. A voz era inconfundível, e o ar irônico que a arrastava, uma marca registrada. E depois disso, tudo se tornou breu. E Guido não viu mais nada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigado por ler!

Se gostar, deixa review? Motivação é sempre bom! :]



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Último Chamado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.