Lágrimas Do Tridente escrita por Icaro Pratti


Capítulo 3
Capítulo 3 - Lágrimas


Notas iniciais do capítulo

Ai gente, to amando os reviews de vocês *------* sério, vocês são divas!
Obrigado mamacosmo1 pelo primeiro comentário (baixinha linda *--*),
MycaGuiraldello pelos elogios (obrigado mesmoo), libueno pelos elogios e por ter comentado do nome da fic e da capa (obrigadoooo mil vezes). Esse capítulo vou desejar para elas, minhas três primeiras leitoras. Obrigado por tudo, <2



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As palavras batem como sete facas, ou milhares. Tudo que está acontecendo é resultado das minhas atitudes que deram à Capital um motivo para levar Annie aos jogos. Eles me querem como um animal, para manipular e para jogar, eu tenho força para levar a opinião de muitos da Capital comigo, mas agora, o que tenho que fazer é ficar calado. Cada palavra dita será um obstáculo a mais para Annie na arena. O barulho de duas portas batendo voltam meus pensamentos para a sala.


Vejo as costas de seu pai e de sua mãe, e logo a porta se fecha mais uma vez com dois pacificadores, um deles com a arma em punhos e o outro com a outra ativando uma espécie de relógio no braço direito. A contagem começou, o tempo é curto.

– Annie – ouço sua mãe lamentar e o barulho de soluços invadem meus ouvidos.

As portas se fecham atrás de mim, encosto na beirada de uma poltrona com os olhos focados no chão. Uma lágrima escorre e vejo uma sombra se aproximando, ergo os olhos e por uns segundos eles se encontram com os olhos do meu pai. Ele se aproxima e coloca a mão em meus ombros até ceder e me dar um abraço poucos minutos depois. Ficamos ali, sem falar qualquer palavra, não precisa ser dito nada, sei que sou um tributo morto, 14 anos e a única coisa que sei fazer é pescar.

– Confio em você, seja forte – diz afastando-se de mim.

O tempo passa rápido e logo dois pacificadores entram e pegam em seu braço e afastam-no de mim, nossas mãos se cruzam pela última vez. Levo as mãos aos olhos para secar as lágrimas que escorrem desesperadamente à procura de alguma força para não caírem. As portas se abrem novamente, levanto os olhos e Annie entra acompanhada da mãe. Não queria vê-la nesse momento, estou vulnerável, estou fraco, sou fraco.

– Finnick – diz me abraçando.

Seu abraço, caloroso, romântico e doce me conduz a uma sensação nostálgica. Estou imobilizado pelo amor e pela ultima vez verei ou tocarei a mulher da minha vida, a única que realmente conquistou meu coração. Seus cabelos cheirando à água do mar e sua pele, linda como sempre, seus brincos simples e seu vestido. Seu cheiro gruda em minha pele. Afasto meu rosto do seu e olho profundamente em seus olhos.

– Independente do que aconteça comigo, te amo– digo com dificuldade.

Quando vejo que ela vai responder, aproximo meus lábios do dela e não deixo que mais nada seja dito. Não quero ouvi-la, não quero esquecê-la, não quero perder nosso último momento juntos. Afasto-me dela e vejo que lágrimas começaram a escorrer de seus lindos olhos. Levo meu dedo e seco à lágrima e tento não dizer nenhuma palavra, não tenho nada para dizer, meu corpo não responde a nenhum comando meu. Dois pacificadores entram na sala e puxam as duas para fora. Sei que o tempo acabou e nunca mais a verei.

– Te amo, sempre – ela grita antes da porta se fechar.

Um grito me traz à realidade. Annie está gritando. Dois pacificadores saem da sala com o pai de Annie nos braços e colocam-no na porta, e logo depois as fecham. A mãe de Annie está irreconhecível, encosta na parede e começa a chorar e não há nada que se possa fazer. Na verdade, há, eu tenho que fazer alguma coisa. Aproximo-me dela e tento falar alguma coisa, mas logo um pacificador me manda para trás e aponta para uma porta no canto esquerdo. Começo a caminhar em direção à porta e volto meu olhar para mãe de Annie.

“Ela sairá viva de lá, eu prometo” – digo sem emitir qualquer som.

Continuo caminhando dificilmente, passo em frente à porta que Annie está e posso ouvir seus soluços, seu choro descontrolado. Imagino seus olhos que agora não podem ser vistos por mais ninguém, nenhuma palavra, nenhum abraço, nada que eu possa fazer para entrar naquela sala e dizer algo para ela. Continuo com passos desacelerados e passo por um dos pacificadores que ainda seguram o braço do pai de Annie e começam a caminhar com ele em direção à saída principal.

Uma mão avança na direção da minha boca e não há muito que posso fazer para me defender. “Te mato desgraçado”, ouço uma voz grossa gritar e logo depois sou empurrado contra uma mesa de chá e ouço o vidro quebrar junto com algumas jarras. Meu braço dói e meu queixo lateja. Volto meus olhos para frente e três pacificadores seguram o pai de Annie desesperadamente, e ele bate suas pernas numa tentativa de inibir, soltar-se, mas suas atitudes são em vão. Os pacificadores saem e junto levam a mãe de Annie. Levo minha mão ao queixo e sangue escorre da minha boca por uma ferida que se abriu. Meu braço está todo cortado. Essas feridas não chegam nem perto do que fui capaz de fazer em sua filha. Eu mereço muito mais. Maggs caminha em minha direção conversando com o pacificador que guia-a até o meu encontro.

– Finnick – ela grita aproximando-se de mim. – Seu braço – termina pegando na minha mão.

Ela pede ao pacificador para me colocar de pé, já que meu braço está tomado por ela e não quer que eu faça qualquer esforço. Não preciso dizer nada, meu olhar mostra a ela o que aconteceu e como me sinto culpado de tudo que está acontecendo. Ela me leva até a cozinha e pede a uma mulher para tratar dos meus ferimentos e depois volta à sala. Foi pegar os tributos e dar sua primeira palavra oficial a eles.

A mulher começa a retirar alguns pequenos cacos de vidro do meu braço e me pede para ficar com ele embaixo d’água por um tempo. A ardência causada pela água do mar é instantânea, mas com o passar do tempo alivia a dor. Ela começa a passar uma espécie de pano em volta do machucado, mas antes pega um pote de pomada e começa a abrir a tampa.

– Não – digo. – Muitos precisam disso mais do que eu, certifique-se que usou em mim, indiretamente, leve-o consigo para alguém que precise lá fora.

Ela faz que sim com a cabeça e continua a enrolar o pano em volta do meu braço e secar minha boca com outro pano. A cor que passa a ficar é assustadora e tento desviar meu olhar para outro lugar. Qualquer vestígio de sangue me faz lembrar a arena. Quantos tive que matar para sobreviver? Ver minha companheira de distrito ser morta e usar minhas forças para tentar destruir os outros carreiristas.

Saio da cozinha e vou direto para a sala. Maggs está com um tributo de cada lado de seu braço e começa a caminhar para a saída inferior, encontrando-se comigo na metade do caminho. Meus olhos não se cruzam com os de Annie. Ela permanece de cabeça baixa e com a mão que não está segura, roda um anel em sua mão. Logo que viram para a direita e saem para a porta, caminho atrás deles sem dizer qualquer palavra. Annie abre as mãos, uma coisa cai e bate três vezes no chão. Meus olhos acompanham o material bater e subir no chão algumas vezes e rolar, parando alguns segundos depois.

Paro abruptamente, me agacho e tento não ver o que está acontecendo. Levo minhas mãos ao encontro da material. O anel que dei de presente para ela, estava ali, irreconhecível, jogado. Nossa ligação talvez acabasse de existir. Me tornara um nada para ela, um sem coragem, um covarde. Pego o anel e seguro forte em minha mão, uma lágrima escorre do meu olho e pinga no chão, lágrimas de arrependimento. Olho para o anel mais uma vez, e vejo-nos beijando na praia com um lindo luar banhando o mar. Momentos inesquecíveis nunca deixaram minhas lembranças. Levanto com lágrimas escorrendo pelo rosto e apenas um pensamento passa pela minha cabeça: preciso reconquistar o coração de Annie, preciso do meu amor de volta, ela irá vencer esses jogos. Passo pela porta segurando forte o anel em minhas mãos.

Caminho em direção ao carro que Maggs está com os dois no banco de trás. Abro a porta da frente e entro, abaixo a cabeça e não digo qualquer palavra. Não há o que posso dizer, palavras apenas fariam com que as coisas piorassem. O homem começa a se movimentar e pessoas da capital com todo tipo de aparelhagem marcam a nossa saída. Fotos de toda Panem irão estampar a foto de um Finnick com rosto e braço machucado. Escondo o braço dentro da camiseta e abaixo o rosto na tentativa de evitar qualquer atenção para mim, é a última coisa que quero fazer no momento. Chegamos à estação em poucos minutos de silêncio que mais pareceram horas. Logo Maggs sai com ambos entrelaçados em seus dois braços e caminha até a entrada do trem.

– Tentem sorrir – ouço-a dizer.

Sua fala é em vão e ambos não emitem qualquer expressão a não ser as de desprezo e de infelicidade. Escondo meu braço dentro da camiseta e caminho de cabeça baixa até o trem, entro e ouço as portas se fecharem rapidamente. Estamos aqui, de volta aos jogos, as marionetes da capital estão a caminho.
Caminho pelo mesmo corredor que fez com que tudo começasse, empurro uma das primeiras portas que vejo no caminho. A sala que encontro está silencioso e possui duas poltronas no canto, decido me sentar em uma delas e ficar olhando para fora, os pássaros voando, as flores que nascem no campo. Uma enorme bandeira da capital está pendurada sobre a cabeceira da cama. Percebo que é um novo estilo de decoração para o cômodo, já que o símbolo pode ser encontrado em todos os móveis ali presentes.

Volto meu olhar para o objeto em minhas mãos, giro-o nas pontas dos dedos, uma dor incondicional avança de dentro de mim e pela primeira vez me vejo nessa situação, é a primeira vez que perco o controle de minhas emoções. O choro que escorre dos meus olhos são acompanhados do soluço que sai involuntariamente da minha boca e dos sons que acabo por fazer, quanto mais procuro a tentativa de parar, mais a vontade de me jogar para fora desse trem e morrer assume uma força avassaladora dentro de mim. Uma mão passa pelos meus cabelos, depois se deposita sobre meus ombros e os usa de apoio.

– Que dia Maggs – digo continuando a chorar.

Não ouço nenhuma resposta dela, mas sei que ela prefere ficar calada e também sabe que vai ser melhor para mim. Mais uma lembrança de como estar com Annie é maravilhoso, posso sentir seu cheiro, suas mãos frias tocando minha pele, sua voz doce entrando pelos meus ouvidos e me levando a êxtase, a mesma voz que é capaz de me curar e de me ferir, a mesma voz que me fez apaixonar.

– Finnick – ouço-a dizer.

Levanto minha cabeça e olho para trás, meus olhos se encontram com os seus e por um momento vejo que ainda estamos juntos, um amor não acabaria dessa maneira. Não tenho qualquer palavra para dizer e sei que a amo e é isso a única coisa que importa para mim. Aproximo-me dela e um abraço, como aquele que recebi quando era minha hora de partir, estamos entrelaçados, um sentindo o cheiro do outro, a respiração, os batimentos cardíacos. Seus cabelos, cheirosos como uma flor e a pele como o cheiro do mar, a beleza de uma sereia em um corpo de uma pequena menina.

Ficamos ali naquele momento diversos minutos até que ela se afasta, não quero estragar o momento e sei que ela também não. Ela segura minha mão e vê que meu braço está machucado, passa mão por cima do machucado, que agora aparecem manchas vermelhas por cima do pano e faz uma cara de espanto. Não quero dizer quem fez aquilo e não direi jamais, é uma coisa que morrerá comigo, para sempre. Ela volta a mão para meus lábios e passa seus delicados dedos sob o corte que obtive alguns minutos antes. Ela fica na ponta dos pés e puxa meu rosto ao seu encontro, dá um beijo em meu machucado e afasta-se novamente.

– Acho que isso me pertence – diz ela abrindo a minha mão e pegando o anel.

O momento não é propício, mas levanto o rosto e dirijo meu olhar ao encontro do seu. Não consigo evitar um sorriso mesmo com toda essa situação, pego o anel de volta e seguro na ponta dos meus dedos.

– Aos velhos tempos. Sempre – digo levando o anel até seus dedos e colocando-o no dedo ao qual nunca deveria ter saído.

Beijo sua mão e logo depois a puxo para perto de mim. Encosto meus lábios nos seus como se fosse a primeira vez que fizéssemos tal brutalidade. Percebo que está tudo como sempre foi, a diferença é que agora, como em nenhum outro momento, ela precisa de mim e eu preciso dela, a conexão entre nós aumentou e é possível sentir a necessidade que um tem do outro.

Afastamos novamente e agora é ela quem me puxa para um segundo beijo. Levo minhas mãos até suas costas e ela passa as suas mãos por dentro da minha camisa. Suas mãos frias encostam sobre minha pele quente e um arrepio passa por toda minha coluna. Ela pressiona suas mãos contra as minhas costas e continuo a beijá-la. Beijo seu pescoço, passo a mão em seus cabelos e passo meus lábios próximos aos seus ouvidos. “Te amo, sempre” digo em sussurro voltando meus lábios para os dela e, consequentemente, para um dos melhores dias da minha vida.

Paro o beijo e levo minhas mãos ao encontro das suas. Sei que devemos ir ao encontro de Maggs, as primeiras instruções têm que ser dadas e temos outro tributo em questão. Levanto os olhos e beijo sua testa, começo a guiá-la em direção à porta e ela responde ao meu comando. Saímos pela porta e caminhamos pelo corredor em direção à sala de convenções que fica próxima do fim do trem. Fiz esse caminho nos últimos cinco anos.
Volto meu olhar para Annie, passo minha mão sob o anel que se encontra em seu dedo. Faço uma tentativa de acariciá-lo, solto sua mão e dou passagem para que ela entre antes de mim no cômodo e entro logo depois. Seus cabelos negros caem pelas suas costas até o final e ela ajeita-os para um dos lados do corpo antes de se sentar numa poltrona ao lado do outro tributo. Maggs está de frente para eles. Dirijo-me à poltrona ao seu lado e ali me sento. Meus olhos encontram com os de Annie mais uma vez. Eles brilham como nunca. Uma lágrima escorre de seu rosto e vejo que, apesar de toda felicidade que possa estar sentindo, medo e aflição estão percorrendo sua mente.

Abaixo a cabeça e encontro meus olhos com o anel em seu dedo. Não importa o que irei fazer, minhas atitudes levaram-na para a arena, meus erros fizeram com que ela fosse a escolhida, tenho que pagar pelos meus erros, não ela. Uma dor atinge meu peito em cheio. Para tudo isso já existe uma resposta e ela sempre esteve em frente aos meus olhos.

“Tenho que salvá-la, nem que para isso eu tenha que morrer” – sussurro para que apenas eu possa ouvir.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, em breve vem o quatro, provavelmente amanhã! Um pouco mais pela noite, mas não posso deixar nada certo, to com o coração na mão...
beijosssss, boa leitura!