Internato escrita por carolfsan
Alicia
Arth se levantou no mesmo instante que eu e se pôs à minha frente:
- Uma novata Agnes, só isso.
- Só? – Tinha a pele negra, os cachos armados e olhava com quase repudia para Arth – Uma novata em meus domínios, e eu não fui devidamente apresentada? – Então o tom cínico desapareceu, dando lugar a algo mais ameaçador – Quanto tempo achou que conseguiria escondê-la, garoto? Lembre-se do que aconteceu da ultima vez. Com o novato... e com voce.
- Ei – intervi – Não falem de mim como se eu não estivesse aqui.
Dei a volta em Arth e olhei para ela. Alta demais pro meu gosto, ela tinha uma expressão felina, tanto no rosto como em seus trejeitos. Era rodeada de quatro garotas, todas diferentes entre si.
- Sou Alicia – comecei – E eu cheguei aqui, andei por um tempo, encontrei o Arth e em seguida aquele alarme soou. Não deu tempo d’ele me apresentar a praticamente nada.
- Isso não interessa Alicia – eu realmente não gostei do modo como meu nome soou vindo da boca dela – Esse lugar é meu e essa era a obrigação dele. Seu castigo chegará Arthur. Não pense por um momento que pode me enganar – em momento nenhum ela retirou os olhos dos meus.
- Bem, dona do mundo, qual o seu nome? Ou devo trata-la apenas por “voce” e “aquelazinha”?
- Não ouse me irritar, desafiar ou atrapalhar novata. O nome é Agnes. Mas voce não deve falar de mim ou comigo se eu não lhe der autorização.
Permaneci encarando-a.
- Alicia... – ela testou o nome em sua língua – Algo me diz que voce será um incomodo. Tente não o fazê-lo.
Virou as costas e rumou para o outro lado do salão. Seu grupo a seguia a rodeava, a cercando, como se tentassem protege-la, ao mesmo tempo em que buscavam proteção em sua aura.
Voltei a me sentar, e me concentrei em comer minha comida, ignorando os olhares.
Passou-se um tempo antes que Bryan quebrasse o silêncio:
- Voce é louca. Aquele tipo de louco estupido. Que faz merda e se encrenca.
Dei de ombros.
- Por que voce me defendeu? – a voz de Arth soou tão baixa que não pude ter certeza se ele havia realmente falado algo.
- Não sei – fui sincera – Talvez o jeito dela tenha me irritado. O jeito que ela te tratou, principalmente.
- O Bryan tem razão – suspirou
- Voce percebe o que fez? - Mizuno me encarava – Ela te marcou. Ela não foi com a sua cara. E voce só piorou a situação.
- E...?
- E que ela não pode te matar, por que aqui isso é impossível. Mas ela pode fazer coisas piores. Tortura, física e psicológica. Pode te transformar numa moribunda eterna: um corpo tão estragado que ele se torna incapaz de se recuperar, mas também impedindo de morrer. E ela pode te jogar nos túneis.
- O que tem os tuneis?
- Esse lugar é imenso. Poucas áreas são iluminadas, em outras o Arth faz alguma ligação e nos consegue mais alojamentos e alguma comodidades. Já deve ter percebido que é fácil se perder aqui.
- De certo modo.
- Imagina ser jogada nos tuneis afastados, completamente na escuridão. Sem nenhuma direção, voce pode começar a vagar na direção certa e com alguma sorte voltar às áreas habitadas. Ou então ir se afastando cada vez mais. Imagine o desespero que a fome, a sede, o sono e o cansaço te farão sentir. E voce nunca poderá se livrar disso: voce não está autorizada a perecer. Ficará louca, vagando a cada segundo da eternidade.
- Voce esqueceu as bestas – comentou Ryako
- Não, eu não esqueci. Só vou esperar ela digerir isso.
- Continue – disse eu
- As bestas são... seres que vivem nos tuneis. Parece que eles foram as primeiras cobaias desse lugar, mas aí preferiram jogar adolescentes criminosos aqui.
- Essas coisas – começou Arth – são híbridos gigantes. Roedores em sua maioria, mas de tamanho entre cachorros e cavalos. E após tanto tempo famintos, carne humana é uma delicia.
- Deixe-me adivinhar: eles não comem a pessoa de uma vez. Comem um pedaço e a deixam agonizando.
- Sim - Mizuno me encarava – E na imensidão dos tuneis, quem garante que voltarão para terminar o serviço?
Abaixei a cabeça, pensativa. Como eu vim parar aqui?
- E... o que aconteceu com o outro novato de que Agnes falou?
- Ele foi levado aos tuneis – respondeu Arth num tom seco
- Alguma noticia dele?
- Nenhuma.
- E o que ela fez com voce?
- Digamos que ganhei algumas cicatrizes novas.
- Isso é errado. Quem ela pensa que é para mandar aqui?
- Infelizmente, é o direito dela – murmurou Bryan
O encarei.
- Bem, o primeiro Interno. Ele... mandava aqui. Impedia que os outros fizessem merda. Aí ela chegou e o desafiou num duelo. Ganhou, e o enviou completamente ferido para os tuneis.
- Então ela tomou o posto pela força. Porque ninguém fez isso de novo? A desafiou?
- Já pensei nisso – murmurou Mizuno – Mas aí lembro das responsabilidades. E dou graças que continuei a garota invisível.
Suspirei, tentando impedir um plano de se formas na minha mente.
Falhei.
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