Se Eu Morrer Jovem... escrita por Isabell Grace
Passei a manhã no centro de treinamento com Clove, como de costume. Fomos pra escola juntos depois do almoço. Eu gostava de passar o dia praticamente todo com ela, só nos separávamos nas aulas porque eu estava um ano na sua frente, mas no intervalo lanchávamos juntos de novo. E depois, na hora do crepúsculo, nos despedíamos, em certo ponto do caminho, e cada um tomava seu rumo de casa.
Na escola, tínhamos aulas de Álgebra, Inglês, Ciências, Literatura... Mas a matéria mais importante era História. Aprendíamos sobre a história de Panem, os dias escuros e porque os Jogos Vorazes foram criados. E éramos lembrados todos os dias do Tratado da Traição, que dizia:
“Como punição pela revolta, cada um doze distritos deve providenciar uma garota e um garoto com idades entre 12 e 18 anos para a Colheita.
Esses tributos ficarão sob custódia da Capital e serão transferidos para a arena onde lutarão até a morte até que reste somente um vitorioso.
De agora em diante e para sempre, esse campeonato será conhecido como: JOGOS VORAZES.”
Eu já o escutara tantas vezes que poderia dizê-lo de cor, mas éramos obrigados a ouvi-lo todos os dias juntamente com o hino de Panem. Fico imaginando se nos outros distritos acontece o mesmo, provavelmente sim.
No final da tarde, ao encerrar as aulas, encontrei Clove no corredor me esperando.
– Vamos? – eu disse a ela. Ela colocou a mochila nas costas e veio andando ao meu lado. – Eu estou pensando se você não quer jantar lá em casa hoje. Emily ia gostar de te ver. Ela te adora.
– Só ela? – Nós paramos de andar por um momento. Clove me encarava com aquele olhar sanguinário.
– Claro que não. – dei uma risadinha – Eu te adoro também Clove. Vem, vamos, a Emily tá esperando. – Eu peguei na mão dela e continuamos o caminho de minha casa.
Minha irmã mais nova, Emily, estudava em uma escola não tão distante da nossa, mas como estava no início do fundamental, tinha uma hora de aula a menos do que nós. Então, eu nunca a encontrava pelo caminho. Ela sempre já estava em casa quando eu chegava.
Entrei pela porta da sala seguido de Clove, penduramos nossas mochilas e casacos no cabide.
– Emily! – gritei, mas ela não respondeu nem apareceu correndo das escadas como costumava fazer – Emily! Vem ver quem está aqui! – novamente ela não respondeu.
Meus pais saíram da cozinha com cara de angústia e preocupação. Eles me olhavam como se eu devesse alguma resposta a eles.
– O que houve? – Perguntei. Então, sem mesmo eles me darem uma resposta eu já comecei a entender o que estava acontecendo. – Cadê a Emily?
Eles respiraram fundo, se entreolharam e depois olharam para mim de volta.
– Cato... – meu pai tentava dizer com tranquilidade, como se já esperasse a minha reação – Sua irmã não voltou pra casa hoje.
Naquele momento eu estourei, eu já sabia o que tinha acontecido com ela, era sempre a mesma coisa. Toda vez que Emily não voltava pra casa depois da escola era porque tinha apanhado das crianças maiores de 12 e 13 anos do 5° ano do fundamental. E eu as odiava por isso. Quando eram selecionadas para irem para os Jogos Vorazes, se faziam de pequenos coitados, mas eram monstros como todos os outros e talvez até piores.
Eu odiava meus pais também. Por a deixarem naquela escola que parecia um inferno, com todas aquelas crianças malvadas. Talvez se ela estivesse estudando comigo, eu poderia protegê-la.
– VOCÊS SÃO DOIS IDIOTAS! – eu gritava – COMO PODEM PERMITIR QUE FAÇAM ISSO COM A FILHA DE VOCÊS? ELA TEM SÓ SETE ANOS!
– Não temos como evitar Cato. – minha mãe retrucou – Não sabíamos que isso ia acontecer.
– É CLARO QUE SABIAM. NÃO É A PRIMEIRA VEZ QUE ISSO ACONTECE. QUANTAS VEZES EU JÁ DISSE PRA TROCAREM ELA DE ESCOLA? – eu respirei fundo e disse ainda nervoso, porem não gritava mais. – Depois da Colheita, vocês vão transferi-la para a minha escola. Queiram vocês ou não. É uma ordem.
Peguei meu casaco e sai de casa batendo a porta.
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