Patch fechou a porta do banheiro atrás de mim para que eu pudesse ter um pouco de privacidade. As oito horas de voo não dormidas estavam começando a fazer efeito, mas eu não podia me deixar levar agora. Lavei o rosto com água fria e joguei os produtos de beleza em cima da pia pequena. A base coral fez milagres em cima das minhas olheiras e fez com que eu parecesse uma pessoa apresentável. A saia preta colada no corpo conseguiu fazer com que eu parecesse mais alta e até mais magra, o que não era o esperado. Os saltos se fizeram de difícil e machucaram o meu pé no primeiro passo, mas eu não os tiraria pelo resto da noite.

Hoje eu iria me encontrar com Marcie Millar, em um jantar com executivos importantíssimos. Patch não estava nada feliz com a ideia, já que ele não poderia ir e segundo ele essas pessoas não perdem tempo. Eu teria que “esbarrar” nela sem querer e puxar assunto, e se fosse preciso dar em cima de um dos assistentes dela. Terminei de colocar a peruca loira e me olhei no espelho. Eu não me reconhecia mais. A camisa de seda azul mar tinha feito um excelente trabalho me fazendo parecer mais magra e a base fazia com que eu parecesse mais jovem. A peruca deu um tom celestial aos meus olhos claros e o batom vermelho os fez parecer carnudos. Eu com certeza chamaria atenção essa noite. Respirei fundo e abri a porta. Patch tirou os olhos da televisão por um segundo e olhou para mim. Seus olhos congelaram no meu cabelo, depois na minha saia e nas minhas pernas.

- Anjo. Será que eu terei que escolta – la essa noite? Eu posso usar uma peruca também.

- Não será necessário. Eu sei me cuidar sozinha e você ficará aqui me dizendo quem é quem. Conto com você.

Patch assentiu infeliz e me deu as chaves do carro. Londres estava agitada a essa hora da noite, mas eu estava preparada para o transito. Testei os microfones na minha roupa e repassei minhas falas, enquanto procurava uma vaga no estacionamento do Hotel Plaza. Quando eu era pequena meus pais me trouxeram aqui uma vez. Eles disseram que aqui se hospedavam pessoas ricas e muito importantes e que se eu fizesse tudo certo algum dia eu poderia ser uma delas. Eu posso não ter feito nada certo, mas aqui estou.

Andei até o salão principal e olhei ao redor. As pessoas pareciam executivos cansados e até um pouco entediados, nada de muito especial. As mulheres estavam vestidas com seus melhores casacos e expondo suas joias, enquanto seus maridos falavam de negócios ou davam em cima de outra mulher. Passei em um cacho da peruca e andei até o centro. Estava prestes a chamar Patch, quando a vi. Marcie Millar estava conversando com Anthony Howard, um dos caras mais ricos do país e claramente se oferecendo também. Ela usava um tomara que caia curto e colado, que mostrava suas longas e magras pernas e seus seios voluptuosos. Marcie passava a mão no braço dele e ria de algo que ele falava e eu podia ver a esposa de Anthony lançando um olhar fulminante do outro lado do salão. Marcie colocou seu cabelo ruivo de lado expondo os brincos de diamante e seu ombro nu e eu vi como a minha deixa.

- Sr. Howard que prazer ve – lo aqui, eu estava conversando com seu sócio agora pouco e ele estava procurando pelo senhor – Anthony me olhou confuso, mas depois de um tempo saiu.

- Quem é você? – Marcie perguntou com um tom de superioridade.

- Sou Melissa Hastings. Eu acho o Anthony adorável, mas a mulher dele estava te olhando feio.

- Você não decide com quem eu falo ou deixo de falar. Você é alguma jornalista? Paparazzi?  

- Não. Sou só uma garota que acabou de se formar em economia e está a procura de emprego. Meu pai é um dos grandes investidores da sua companhia e ele disse que eu poderia começar por aqui.

- É um jantar de confraternização, não de negócios. Procure minha assistente na segunda.

- Me desculpe. Gostei do seu vestido. – gritei quando ela se afastou. Marcie deu meia volta e olhou para mim com certa curiosidade.

- Comprei na Gucci. Sua roupa valoriza seu corpo, não é ruim também. Mas está mostrando pouca pele para o meu gosto.

- Você gostaria de tomar alguma coisa? Sair daqui?

- Não sei, Dabria me mataria.

- Quem é Dabria?

- Minha chefe. Mas tudo bem, vamos até o bar. Assim posso ficar de olho em todos.

Nós fomos até o bar do salão e pedimos dois martínis. Ela me olhava como um fantoche novo, mas eu sabia que não seria fácil conquistar a confiança dela.

- Então, de onde você é?

- Sou de Paris.

- Você não tem cara de parisiense – ela avaliava cada palavra.

- Morei lá até os dois anos e depois me mudei para a Califórnia. Eu gosto de Paris, mas gosto do cinema de Hollywood.

- O que te fez estudar economia?

- Um pai. Ele trabalha com isso e pareceu o certo para mim. Ele é alguém importante e eu espero poder ser também.

- Entendo. Eu não posso te oferecer uma vaga agora, mas posso te oferecer um estágio, que é uma opção melhor do que nada.

Eu estava prestes a aceitar, quando um cara que estava nos olhando veio até Marcie e a puxou para um beijo. Desviei os olhos e limpei a garganta. Ela deixou um cartão no balcão e deixou o cara leva – la em direção a porta.

- Me ligue – ela gritou no taxi.