- Vamos, vai.  – Vee estava tentando me convencer a ir jantar com ela e Scott. Desde que eu vim para cá, eu tenho evitado a todo custo sair. Venho trabalhar e esse é o mais longe que chego.

- Você sabe, eu acho que o Scott está gostando de você. – ela falou com um tom estranho que eu identifiquei como ciúmes.

- Vee... Você sabe que eu estou grávida e eu não quero me relacionar com ninguém.  – respondi séria. Peguei minha bolsa e estava saindo, quando ela pegou o meu braço.

- Eu sei, mas é importante para nós. Você é uma pessoa nova e nós não temos muitas pessoas novas aqui. Só hoje. – seus olhos verdes não estavam brincalhões como de costume.

- Tudo bem. – desisti.

- Ótimo. Vamos passar na minha casa e nos arrumar. Eu disse a Scott para nos pegar lá. – E lá estava a Vee que eu conheço.

Sua casa ficava a algumas quadras da loja e nós percorremos o trajeto em silêncio. Não era nada parecido com as outras casas. Sua casa era parecida com aquelas que se vê em filmes com um gramado perfeito na frente e a casa branca ao fundo. Parecia muito normal para uma pessoa como ela. Me arrependi do que pensei no momento em que entrei no seu quarto.

Ele era um pouco menor que o meu, mas ainda sim grande. Sua de casal era enorme e ficava no centro do quarto. Sua parede era rosa bebe e combinavam com o edredom roxo. A moldura da janela da parede oeste era coberta por frufrus preto, roxo e branco e a bancada embaixo estava coberta de papéis, revistas e roupas. Seu computador branco estava ligado e mostrava uma imagem dela com Scott. Seu quarto estava bagunçado, mas parecia que a bagunça combinava com o lugar. Ela colocou nossas bolsas na cama e abriu uma porta branca que ficava na parede leste. Eu abri a boca assim que vi o enorme closet.

Se se quarto era bagunçado, aquele cômodo compensava tudo. Haviam prateleiras brancas cheias de sapatos, bolsas e roupas cobrindo todas as paredes e deixando tudo a mostra. No centro do quarto havia um sofá roxo e com almofadas pretas e o chão era de um tecido fofinho rosa. Parecia que eu tinha entrado no closet da Barbie. Ela me deu um sorriso orgulhoso e andou até o fim, onde estavam os espelhos.

- Gostou? – ela perguntou olhando seu reflexo.

- Se eu gostei? Pareço estar no paraíso da Barbie.

 - Passei anos decorando tudo isso e finalmente está como eu quero. Eu gasto meu salário em sapatos e roupas. Agora vamos arrumar você. Não é só porque você está grávida e sem namorado que não pode se arrumar para sair com os amigos.

Isso provocou uma pontada no meu peito. Se ela percebeu, fingiu não notar. Vee me guiou até o armário dos vestidos e tirou de lá um vestido azul escuro. Me passou e fez com que eu provasse. Ela olhou para mim por alguns segundos e desapareceu na prateleira dos sapatos. Eu olhei para o espelho por alguns segundos e vi uma desconhecida. Ela tinha o mesmo cabelo que o meu, mas sua pele era pálida e seus olhos cansados. Suas olheiras estavam fundas e ela parecia que ia chorar a qualquer minuto. Passei a mão no meu braço e ela me imitou. Tentei melhorar a minha aparência, mas não consegui fazer muito.

Vee voltou alguns segundos depois com sapatos de cetim azul e me fez calça – los. Os saltos eram enormes e eu não sabia se aguentaria a noite toda com isso. Ela ignorou as minhas reclamações e me levou até seu banheiro. Sentei na cadeira que ficava em frente da pia e ela pegou maletas enormes.

- Eu vou te deixar deslumbrante. – ela ria.

- Você sabe que tudo isso é desnecessário.

- Para Nora. Sua vida não acabou. Você quer que seu bebê te veja assim? Bola pra frente. Vamos cuidar de você.

Eu não respondi e ela começou o tratamento de beleza. Quando eu estava quase dormindo na cadeira ela avisou que acabou.  Eu me olhei e parecia outra pessoa. Meu rosto não estava mais tão pálido e minhas olheiras não tão aparentes. Meus cabelos estavam presos em um coque alto e elegante. Meus lábios estavam vermelho sangue e ela disse que tinha passado delineador porque realçava os meus olhos. E era verdade.

Quando ela voltou, estava vestindo uma saia curtíssima preta e um top vermelho. Ela estava linda. Seus cabelos loiros estavam cacheados e brilhantes.

- Vamos?

Nós descemos e Scott já estava na porta esperando por nós. Eu nunca tinha o visto fora do trabalho e nunca tinha percebido que ele era tão jovem quanto eu. Ele nos deu um sorriso amigável e depois olhou para nós.

- Minha nossa. Vou ter que me segurar para não bater nos marmanjos que ficarão olhando para vocês. – ele falou olhando para mim.

Ele me ofereceu o banco do carona, mas eu vi a expressão da Vee e deixei que ela sentasse. Ela me agradeceu com o olhar.

Scott nos levou até o único restaurante chique da cidade e todos os olhares estavam em nós. As mulheres o encaravam e os homens encaravam Vee.

Nos sentamos em uma mesa no canto perto da janela que tinha vista para a cidade e olhamos o menu. Pedimos e ele olhou para nós.

- Como é bom ver vocês fora do trabalho.

- Digo o mesmo. – falei rindo. Eu tinha me esquecido de como é essa sensação de amizade.

Ele sorriu e estendeu a mão por cima da mesa para tocar a minha.

- Eu preciso tomar um ar. – falei enquanto o afastava. Sai do restaurante e pude sentir Scott me seguindo.

- Você está bem? – ele perguntou preocupado.

- Estou. Scott, eu não quero me envolver com ninguém e Vee.. ela gosta de você. – eu estava chorando.

- Calma. – ele disse se aproximando. Ele segurou meu rosto com as duas mãos e me olhou nos olhos. – Está tudo bem. Você vai superar isso algum dia e quando o fizer eu estarei aqui por você. – ele estava quase me beijando quando ouvi:

- Nora? – olhei para o lado e vi uma silhueta magra.

- Patch? – sussurrei surpresa.