Dilema Platônico escrita por Metal_Will


Capítulo 26
Capítulo 26 - Toni




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     A aula transcorreu de modo normal pelo restante do dia. Enquanto os alunos prosseguiam resolvendo exercícios de Química valendo nota individualmente, Miguel estava mergulhado em seus pensamentos olhando fixamente para seu lápis balançando nos dedos. "Tsc. Onde eu fui amarrar meu burro? Tá na cara que vai ser um vexame daqueles", pensava o rapaz desanimado na proposta que acabou aceitando naquela manhã. Aulas de teatro...mesmo que fosse uma aula inaugural, o que ele faria lá? Atuar era algo que simplesmente não estava nos seus planos futuros. Teatro, palestras, aulas ou seminários...nada disso era o forte de alguém tão recatado quanto Miguel. Tudo bem, falar em público é algo inevitável em qualquer emprego e mesmo Miguel sabia que teria de encarar essas situações alguma vez, mas fazer isso direto...sem condições!
       - Ô, Miguel..você fez a 2? - pergunta Leandro tentando conseguir alguns pontos para aumentar sua nota na matéria.
       - Tá aqui - diz Miguel entregando uma folha para o amigo.
       - Valeu. Sabia que podia contar com você meu querido..hehe!
       - Ô, Leandro
       - Oi. Fala aí
       - Que a Camila não nos escute - diz Miguel falando em voz baixa e aproveitando que a prima não estava sentada muito perto
       - Hmm?
       - O que você acha dessa história de aulas de teatro?
       - E você pergunta? Péssima. Eu não levo jeito pra isso não!
       - Mas aceitou mesmo assim?
       - O que eu posso fazer? Acabei falando o que não devia pra aquela Sandra...
       - Isso que dá ganhar intimidade com amigo virtual...afinal, o que você contou pra ela que não pode contar pra ninguém?
       - Uma coisa que minha mãe me pediu pra fazer há um tempo atrás...eu ainda era criança na época e tal, mas...ah, cara...deixar as meninas saberem disso é complicado
       - O que era afinal de contas? Fala aí
       - Foi coisa da minha mãe...tudo bem que eu era muito criança, mas...ah...se as meninas escutam isso vai ser complicado...
       - Pode falar. O que é?
       - Quando eu tinha dois anos, ela me inscreveu para um teste de uma propaganda
       - Sério? E o que tem de ruim nisso? Muita gente gostaria de estar no seu lugar
       - Mesmo se for uma propaganda de fralda?
       Miguel sente uma enorme vontade de dar risada. Ele não sabia desse passado do amigo
       - Como assim? Fralda? - pergunta o rapaz, ainda espantado com a história de Leandro
       - Você sabe..eu sempre fui assim, loirinho, bonitinho. Não deu outra. Ganhei o concurso e apareci em vários outdoors naquela época..."Só fralda Fuffy deixa seu bebê sempre sorrindo"
        Miguel se segurou para não rir alto. Como isso foi acontecer com ele?
       - E me diz como você foi contar algo desse tipo para uma pessoa que você conhecia só pela Internet?
       - Ah...e como eu ia saber que ela estava tão perto? Achei que era uma mina de outra cidade que nunca ia conhecer pessoalmente!
       - Sei...no fundo queria fazer uma média, dizendo que já apareceu em propaganda e coisa do gênero..ai,ai
       - Tá bom, a conversa acabou sendo levada de um jeito que acabei contando. Ah, você sabe como é, né? Papo vai, papo vem, a gente acaba soltando certa coisas que não devia, né?
       - E isso te serve de lição para não dar muita corda para quem só se conhece pela internet
       - Tá, tá bom. Mas vai ficar feio se as meninas descobrirem...então, bico fechado, por favor
       - Da minha parte você pode ficar sossegado. O problema é se a Sandra contar.
       Leandro olha para a garota lá na frente, conversando com Danieli e Paula. Por que tinha que ser justo alguém tão próximo? Eles já estudavam juntos há tanto tempo e nunca suspeitou que ela também tinha interesse nesse tipo de coisa.
       - Ah, cara. Que azar. Devia ter procurado saber mais sobre ela...
       - Falava mais de você mesmo do que dela, né?
       - Tsc...ela que não falava muito. Apesar de que não faz nem uma semana que comecei a conversar com ela pela net
       Miguel lembra que Sandra já sabia quem era Leandro. Com certeza ela deve ter levado a conversa para sacanear com o pobre coitado. Ai, ai...mulher é um bicho esperto mesmo
        - Mas me diz uma coisa, Leandro - pergunta o rapaz, disfarçando fazendo alguns rabiscos no caderno.
        - Vai, pode falar
        - Sua mãe ainda guarda alguma propaganda dessa época? Fiquei curioso
        - Ah, nem pensa nisso.
        Miguel ri discretamente. Leandro sempre tinha histórias e desventuras por aí, mas essa ele nunca podia imaginar.
        - Pois é...e agora é a gente no teatro - diz Miguel, mantendo o tom baixo de voz
        - Nem me fale!
        - Apesar de que você já tem experiência em aparecer, né?
        - Ah, Miguel! Me deixa, vai!
        Os garotos voltam-se para a frente. Nisso, Miguel vê mais uma cena comum nesses últimos dias. Não era a Camila falando com o Toni de novo? De novo...por que isso o incomodava tanto? A própria Camila tinha deixado claro que não possuia nenhum tipo de interesse por ele, porém isso não conseguia tirar a antipatia que Miguel sentia pelo cara. Toni...o que sabia sobre ele? Das raras vezes que conversavam, Toni sempre tinha alguma piada sem graça (na maioria das vezes criticando o jeito de Miguel). O tratamento que Toni dava a Miguel não era tão grave a ponto de ser considerado bullying. Pelo menos, Miguel nunca chegou a sofrer violência física por parte dele ou algo assim. O que realmente ele fazia de ruim era zombar do jeito de Miguel. Qual era o problema de ser daquele jeito? Miguel não gostava de festas agitadas, baladas e nada disso. Ele não podia viver sossegado daquele jeito? Mas Toni sempre criticava o jeito de Miguel. Só por que ele saía todo sábado e pegava mais garotas do que qualquer um na sala? E, olhando para o perfil, ele não era nenhum galã de cinema ou algo assim. Toni tinha o corpo musculoso por fazer academia e usava um cabelo espetado. Mas não era nada de muito extraordinário. Talvez fosse o jeito dele conversar fluentemente com as meninas. Não só com elas. Ele tinha uma certa lábia, Miguel tinha que admitir. Seria o que chamam de segurança? Ou iniciativa? A "pegada" que tanto comentam? O fato é que Toni era o oposto de Miguel em muitos sentidos. Leandro também não tinha muita simpatia por Toni (afinal ele pegava muito mais garotas do que ele).
          Passam-se mais alguns minutos até a hora do intervalo. Mais um intervalo. Poderia acontecer mais alguma coisa? Os minutos de intervalos de Miguel na última semana estavam revelando surpresas interessantes. Poderia falar com a Danieli de novo? Talvez ,ela já estava saindo dali, conversando animadamente com as amigas. Camila foi até a mesa da frente tirar alguma dúvida com o professor. Miguel se levanta, espreguiça e segue para a porta. É nesse instante que ocorre a maior surpresa: a voz que o rapaz ouve chamando não era bem a que ele gostaria.
         - Oh, Miguel. Posso falar com você rapidão, cara. - pergunta Toni a Miguel
         Era isso mesmo? Toni queria falar com ele? Droga, lá vinha alguma zuação. Apesar de tudo, Miguel era paciente o suficiente para ouvir o que todo mundo tinha a dizer.
         - Sim? Pode falar - diz o rapaz sem muito entusiasmo.
         - Então..chega aí
         Leandro desce na frente e Miguel fica para falar com Toni. O que diabos ele tinha a dizer?
        - Então, cara. Você é primo da Camila, né? - Toni pergunta
        Miguel faz que sim com a cabeça, já ficando tenso. "Se ele era primo da Camila..."aquilo ele já sabia, não? Mas o que ele queria saber exatamente sobre a Camila? Aquilo é que era preocupante
         - Haha. Cara, realmente vocês não são nada parecidos. Vocês são primos mesmo?
         Aquilo já estava virando zuação. Por que deveriam ser parecidos? Eram primos e não irmãos. Até os nomes eram diferentes: ele era Miguel Pinheiros Ramos e ela Camila Pinheiros Aristid. Entre Aristid e Ramos tinha uma certa diferença
         - Somos. Somos sim. É que o pai dela tem descendência alemã - explica Miguel, sem um pingo de vontade de conversar
         - Entendi...então, cara. Queria te pedir uma ajuda
         - Uma ajuda? Em que?
         - Então, velho. Vou ser sincero, jogar a real. Tô amarradão na sua prima
        Miguel fica pálido. O que ele disse mesmo?
        - Como? - pergunta Miguel, ainda pasmo
        - Serião. Conversando com ela e tudo...cara, eu gosto dela, mesmo. E já que você é o primo dela...poxa, você podia dar uma ajuda aí para eu me aproximar dela, não é?
         Miguel não podia encontrar palavras para responder. Realmente, naquela semana o que não estava faltando eram surpresas. E agora?


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