Dilema Platônico escrita por Metal_Will


Capítulo 18
Capítulo 18 - Oportunidade




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    - Amor platônico..acho que todo mundo já deve ter ouvido essa expressão, não é? - o professor começa sua explicação num tom bastante entusiasmado
    - É sim. Por isso que eu perguntei. Tem a ver com Platão, não tem? - pergunta Camila, bastante interessada no assunto.
    - Exatamente. Vamos ver o porque disso - continua o professor
    O que ela queria? Deixar Miguel nervoso? Pelo visto, era mesmo o que ele estava pensando: Camila estava irritada por ele não ter tomado nenhuma iniciativa com relação a Danieli. Já devia saber. Sempre foi assim, desde pequena. Quando ficava brava, não demonstrava, mas sempre falava ou fazia algo que tocasse na pessoa que a irritou indiretamente.
    Miguel lembra de um dia, há uns bons dez anos atrás, que os pais de Camila tinham escondido um vaso muito brega que ganharam de presente de uma família vizinha. Naquela ocasião, os pais dela não tinham comprado uma boneca que ela estava querendo há um bom tempo e a tal família iria visitá-los na mesma noite. Na hora do jantar, Camila pergunta, fingindo total inocência, se seu pai não iria colocar na mesa aquele vaso que tinham escondido. Foi uma vergonha só. Depois daquilo, Camila ficou de castigo por umas três semanas. Todos sempre lembravam desse episódio dando risada (a família que deu o presente não chegou a ficar chateada). Mas, ao mesmo tempo, mostrava que Camila guardava rancor. E, naquele momento, era óbvio que ela estava alfinetando Miguel.
    - Bem - o professor Platão continua com sua explicação - Quando falamos em amor platônico, lembramos de um amor impossível, inalcançável. Por exemplo, quando eu era pequeno confesso que eu era apaixonado pela minha professora do primário
    - Olha só, professor safado, heim? - comenta algum engraçadinho
    -  É. Parece besta, né? Mas todo mundo já deve ter passado por alguma situação parecida. Se não foi a professora, foi alguma pessoa mais velha, uma pessoa já comprometida.
    Nisso, por incrível que pareça, a sala fica pensativa. Platão continua.
    - É o que a maioria de vocês deve pensar. Se apaixonar por alguém que você sabe que não tem chances.
    "Isso...", pensa Miguel, "Está me soando bem familiar..."
    - Mas, segundo Platão, a ideia de amor é bem mais ampla do que isso.
    Miguel estava bastante atento à explicação   
    - Se vocês lerem "O Banquete", o principal livro de Platão sobre o amor, vocês verão que o verdadeiro amor não se limita apenas a uma pessoa e sim a todo o Universo. De acordo com ele, o amor tem níveis: você começa se apaixonando por uma pessoa e vai evoluindo, amando as formas belas do Universo, depois amando a ética, as práticas belas, até, por fim, ser capaz de amar a ciência, o conhecimento. O amor começa de uma pessoa e evolui para o Universo inteiro. Bonito isso, não?
    A turma não pareceu muito contente com a explicação
    - Que coisa mais babaca - comenta uma menina próxima a Miguel para uma amiga
    - Amor pelo Universo...ai, só em Filosofia mesmo! - comenta a outra
    Mas Miguel achou a explicação bem interessante. O amor tem níveis...claro que seria pretensão demais ele achar que estava no nível de amar o Universo, mas, ao olhar para Danieli, ele sabia que tinha por ela mais do que um mero sentimento de apaixonite. Abraçar, apertar e beijar não eram itens de primeira necessidade. A presença dela era o que realmente importava. Isso não seria apenas um sentimento de amizade? Não, era mais do que isso. Era algum sentimento muito mais profundo do que amizade. Mas, ao mesmo tempo, não chegava a ser uma atração puramente física.
    - Vocês não parecem ter gostado muito, não é? - o professor continua com bom humor - Mas, nas nossas aulas, vocês verão que para Platão o mundo físico é imperfeito, sendo apenas uma cópia mal-feita de um mundo de formas ideais.
    A sala já não parecia mais tão interessada. Mas, Miguel continuava atento à explicação de Platão.
    - Para ter uma ideia, imaginem o seguinte: temos vários prisioneiros acorrentados em uma caverna escura. Nessa caverna, eles estão voltados para a parede e não conseguem sequer olhar para trás. Tudo que podem ver são algumas sombras se mexendo ao fundo. Esses prisioneiros estão na caverna desde que se entendem por gente e acreditam que essa é sua verdadeira realidade. Mas, se algum deles conseguir se libertar, poderá sair da caverna e ver que o mundo é bem mais do que aquilo. Deu para entender?
    A sala faz uma cara de paisagem. Nisso, o sinal toca
    - Bem, não se preocupem, nós vamos discutir isso bastante na próxima aula.
    O professor arruma as coisas e se despede da turma
    - Vou dar uma boa olhada nas respostas de vocês.
    - Vai valer nota? - alguém pergunta
    - Não se preocupem com notas, gente. O importante é o conhecimento. Tchau!
    E ele sai da sala tranquilamente
    - Conhecimento...pô, professor, a escola é um antro capitalista. A gente estuda pra ganhar nota! Fala aí, Miguel. Miguel? - comenta Leandro
    Miguel estava viajando de novo
    - Ô, acorda! - Leandro estala os dedos - A aula de Filosofia já acabou
    - Hã? Ah, claro. Tava só pensando umas coisas aqui
    - Tipo o quê?
    - Nisso que o professor falou...
    - Essa história da caverna?
    - É...achei interessante
    - Sei lá...me pareceu uma coisa meio Matrix. O que acreditamos ser real, na verdade não é. Será que tem alguma coisa a ver?
    De fato, Miguel também lembrou de Matrix.
    - Bem, a gente pode perguntar pra ele. Mas, mudando de assunto, que aula é agora?
    - Matemática. Isso você manja
    - Mais ou menos. Tem alguma coisa pra entregar?
    - Putz. Se tiver eu não fiz
    - Nem eu
    Matemática, contas, lições. Isso tudo dava pra resolver de algum jeito. O que era mais complicado do que qualquer equação trigonométrica eram os sentimentos de Miguel. "Amar além do físico...", pensava. Estaria ele em um nível superior de amor, como disse Platão, ou seria pretensão demais dizer isso? Miguel espreguiça e olha para a frente. Camila? Ainda estava conversando com o Toni? Outra coisa que estava incomodando Miguel. Não, impossível. Ela não podia cair na lábia daquele cara. Ela era inteligente demais pra um babaca daqueles. Dividir a atenção da prima e melhor amiga com outra pessoa era até aceitável. Só não era aceitável que essa pessoa fosse o Toni. Miguel passou a aula de Matemática inteira tentando pescar alguma coisa da conversa dos dois. Nada. Não estavam muito perto. Tanta gente para se aproximar e ela tinha que ir conversar justo com ele? Droga
    Enfim, a aula termina e toca o sinal do intervalo. Mais um intervalo.
    - Descer, Miguel? - pergunta Leandro
    - Tô descendo. Só quero ver uma coisa antes - responde o rapaz, não tirando os olhos de Camila e Toni, que, por sinal, também não paravam de conversar.
    - Beleza. Eu vou na frente que tô apertado pra caramba. - diz Leandro, fazendo uma cara no mínimo bizarra.
    - Vai lá
    Após a saída do amigo, Miguel tenta se aproximar dos dois para tentar descobrir alguma coisa. Mas, um certo evento, muda os planos dele.
    - Ai, droga! - exclama Danieli ao deixar cair todas as canetas de seu estojo no chão.
    - Calma aí, já te ajudo - diz a amiga Paula, se abaixando para recolher o material
    Quer oportunidade melhor para se aproximar mais da mocinha? "Não acredito! Obrigado por criar a gravidade, Senhor!", pensa Miguel. O rapaz se aproxima das duas e ajuda a recolher as canetas.
    - Opa. Eu ajudo - diz o rapaz, já se abaixando.
    - Puxa, obrigada. Sou desastrada mesmo
    Paula também continua ajudando sem falar muito. Em meio às canetas, havia um tipo de papel dobrado que Miguel recolhe e entrega para ela.
    - Aqui está
    - Obrigada - diz Danieli, sorrindo simpaticamente.
    Enquanto entregava o papel nas mãos da garota, Miguel sentiu que era a oportunidade de descobrir algo importante. Não era muito de seu estilo fazer esse tipo de brincadeira, mas tinha certeza que isso seria discreto o suficiente para não comprometer em nada a relação deles.
    - Recadinho do namorado? - pergunta Miguel, fazendo a pergunta com o sorriso mais simpático que conseguia.
    - Ah, não, não - responde Dani - Eu não tenho namorado
    Foi por um milésimo de segundo. Mas, nesse milésimo, Miguel sentiu como se milhões de fogos de artifício explodissem no seu coração. "Não tenho namorado", foi como música para seus ouvidos.
    - É só um lembrete que eu escrevi - completa Dani, sorrindo meio encabulada. Paula observava tudo sem falar nada. Por alguma razão, ela não ia muito com a cara de Miguel.
    - Pronto. Muito obrigada pela ajuda. Vai descer? - a ruivinha pergunta para Miguel
    Miguel já havia perdido Camila e Toni de vista há um bom tempo. Tudo bem. Uma oportunidade como aquela não podia passar em branco.
    - Sim, sim. Vamos lá
    - E então, gostou novo professor de Filosofia? - pergunta Danieli
    - Gostei...o professor parece manjar bastante
    - Eu não acho - Paula entra na conversa com um tom reprovador - Achei aquela pergunta que ele mandou a gente responder muito mal-formulada!
    - Sério? - pergunta Miguel, temeroso
    - Sinceramente, gostava muito mais do professor Dantas!
    - Hehe..parece que você não gostou mesmo, né? - Miguel tenta ser amigável
    - É. Eu sou meio chata. Tem muita coisa que eu não gosto...- diz a moça de óculos, olhando sério para Miguel. O rapaz fica meio desconfortável.
    - Ai, Paula. Não liga pra ela. Parece que anda meio nervosa ultimamente... - intervém Danieli
    - Não, não estou nada nervosa
    Os três chegam até o pátio. Danieli e Paula sentam-se num dos bancos. A princípio, Miguel fica de pé.
    - Senta, Miguel. Não paga nada - diz Danieli
    O rapaz observa o banco. Danieli estava sentada numa ponta e Paula no meio. Ele teria que sentar...do lado da Paula? Por que isso não parecia muito agradável. Paula não diz nada, apenas olha para Miguel sem muita simpatia.
    - T-Tudo bem...


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