Dilema Platônico escrita por Metal_Will


Capítulo 1
Capítulo 1 - Miguel e Leandro


Notas iniciais do capítulo

Esse primeiro capítulo é apenas uma apresentação do personagem principal Miguel e seu amigo Leandro, além de uma ambientação do cenário em que ocorre a história.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/35573/chapter/1

    Segunda-feira. Hora de dar adeus a horas preguiçosos em frente ao computador e à televisão. Hora de retornar a vida escolar, os dois dias de descanso dão lugar agora para livros e cadernos. Não que Miguel fosse preguiçoso e relaxado com seus estudos: pelo contrário, suas notas sempre foram consideradas regulares e seu comportamento em sala de aula era bastante aceitável. Para ele, os problemas e desafios daquele seu segundo ano de Ensino Médio no Colégio Particular Brilho da Estrela eram outros, e, do ponto de vista de Miguel, muito mais complexos do que qualquer equação matemática.
    - Seu Miguel, na hora como sempre – grita uma voz conhecida para o recém-chegado Miguel. Sem nenhum tipo de surpresa, o rapaz se volta e encontra com seu amigo Leandro. Miguel não diria seu melhor amigo, já que nunca gostou da ideia de considerar que um amigo seja melhor que o outro, mas reconhecia que, das poucas pessoas com quem conversava, Leandro era o que mais rendia boas horas de conversa, apesar de suas personalidades não serem lá muito compatíveis. Pelo menos é o que a mãe de Leandro sempre reparava. “Ah, se meu filho fosse quietinho como você!”
    - E aí, Leandro? – Miguel responde com um sorriso tímido
            - Na paz. Como foi o fim de semana?
    - O de sempre. Dormi muito e estou quase terminando aquele jogo – responde Miguel  sem muita animação, mas aquele era mesmo o seu jeito de conversar.
    - Sei. Aquele que você comentou outro dia?
    - Esse mesmo. Falta só mais um pouco para terminar. Hoje eu consigo terminar! - diz o rapaz com uma voz um pouco mais animada. Jogos eletrônicos eram o hobby de Miguel e ele sempre ficava mais empolgado quando conversava sobre isso.
    - Legal, cara. Você vai me emprestar esse jogo depois, não vai?
    - Claro. Se eu terminar hoje, amanhã mesmo eu te empresto.
    - Valeu
    - E você?
    - Eu o quê? - pergunta Leandro
    - Como foi seu fim de semana?
    Leandro coça a cabeça. Não parecia muito animado para falar.
    - Nem te conto. Fui em uma festa nesse sábado...
    - Festa, é? E o que tem de tão ruim nisso? - Miguel pergunta inocentemente
    - Não teria nada de ruim...Se eu tivesse pegado alguém. Saí mais na seca do que entrei, cara! Não tô aguentando mais! - o amigo responde injuriado.
    Miguel ri. Talvez seja por isso que tanto ele quanto Leandro se davam bem. O campo amoroso era um desastre para os dois. Ou, melhor dizendo, os dois tinham diferentes posturas nesse campo, mas, de qualquer forma, não conseguiam colher seus tão desejados frutos. Seriam eles tão feios assim? Bem, a aparência não era o único fator importante nesse tipo de assunto, mas podemos dizer que Miguel não estava muito próximo dos padrões de beleza mais esperados. Era magro, não muito alto, óculos com um grau não muito forte (o que era de se admirar, considerando o tempo que ficava lendo ou usando o computador), algumas espinhas no rosto (o que era relativamente normal para dezesseis anos de idade) e um cabelo curto sempre mal penteado. Suas roupas também não eram das mais atualizadas na moda: Miguel nunca ligou muito para elas e contentava-se com roupas que ganhava de presente de Natal e Aniversário. Sua mãe sempre chamava sua atenção para ser mais asseado com a aparência, mas Miguel realmente nunca se importou muito com isso, embora se sentisse incomodado se alguém o olhava de forma reprovadora.
    Já Leandro, era um caso a parte. Sua aparência não era muito diferente ao se comparar com Miguel. Leandro era loiro, usava óculos (do mesmo grau de Miguel) e também tinha espinhas. Mas havia uma diferença brutal entre os dois: a personalidade. Miguel sempre fora tímido e calado. Dificilmente gostava de chamar a atenção e preferia ficar em algum canto lendo ao brincar com outras crianças. Festas? Sempre foram uma tortura para o pobre Miguel que se sentia um deslocado nas poucas confraternizações que ia por não ter conseguido uma boa desculpa para recusar os convites. Normalmente ficava em sua mesa, tomando copos de refrigerante o mais lentamente possível (ele via aquilo como um pretexto para ficar sentado sem falar muito"Ainda não acabei meu refrigerante..."). Desnecessário dizer que sua timidez e dificuldade de convívio social não permitiram que Miguel tivesse muitos amigos, mas, os poucos que teve, sempre se deu muito bem com eles. Como Leandro, que, como já mencionado, tinha um jeito totalmente oposto ao de Miguel. Leandro sempre fora o que chamam de "palhaço da turma". Desinibido e, quase sempre, falando sem pensar, Leandro era o tipo de sujeito que chamava a atenção por ser o cara engraçado e gente boa. Tanto carisma podiam tornar a vida dele muito fácil, mas, não era bem assim. Devido ao seu jeito brincalhão e descontraído, Leandro acabava se dando mal algumas vezes, afinal, mesmo quando tentava falar sério, era levado na brincadeira. Miguel sempre morre de rir quando lembra um dia da sétima série, quando Leandro tentou a todo custo falar para a professora que estava mal do estômago, mas ela não acreditou "É sério, professora! Vai ter um acidente aqui se eu não puder ir pra casa!", mas a professora apenas respondeu (mal segurando a risada da cara do pobre Leandro), "Leandro! Deixa de brincadeira e vai sentar!". Naquele dia ele ficou muito tempo no banheiro...
    Era estranho ver como Miguel e Leandro, tão diferentes em personalidade, conseguiam se dar tão bem. Os dois se conhecem desde a quinta série, além de morarem muito perto um do outro. No começo, Leandro confessa que se aproximou de Miguel para conseguir um "parceiro de cola" nas provas, mas, com o tempo, percebeu que gostava bastante dele. Apesar de ser mais palhaço, Leandro também era um viciado em videogames e seus gostos, afinal, eram bastante parecidos. Iam na casa um dos outros jogar com bastante frequência e podiam ficar horas, madrugada adentro, conectados em um jogo online, indo parar praticamente quando o dia já estava prestes a amanhecer. Mas Leandro também curtia suas baladas e não tinha problemas em sair nos finais de semana, ficando em festas até altas horas (realmente ele gostava de dormir tarde). Caçula de três irmãos homens, Leandro era acostumado com esse tipo de coisa e seus pais eram até bastante liberais quanto a isso. Miguel morava apenas com a mãe (o pai havia morrido de uma doença cardíaca quando o garoto tinha apenas dois anos) e esta, por sinal, era bastante superprotetora. A mãe de Miguel agradecia aos céus todo dia por seu filho não ser um baderneiro rebelde, e, apesar de reclamar por ele dormir tão mal devido a maratonas e maratonas de jogos online, ela não podia desejar um filho melhor que ele. Leandro, apesar de ser tão hiperativo, era muito bem visto pela mãe de Miguel. Ela ria de várias piadas infames do garoto e gostava muito de conversar com ele. "O Leandro é uma figura, né? Gosto muito dele".
     Mas, fora tudo isso, havia aquele outro ponto em comum entre os dois: dificuldade com as mulheres! Do lado de Miguel, a dificuldade era mais do que natural. Sendo tão tímido e pouco sociável, sua relação com as meninas nunca foi lá muito avançada. Quando criança, a maioria delas tirava sarro dele, se aproveitando da sua boa vontade. "Miguel, seu safado...não para de olhar pra minha perna". Claro que ele não estava olhando, mas o seu jeito desconsertado o contradizia e tudo que podia fazer era desviar o olhar, vermelho de vergonha, enquanto as meninas caíam na gargalhada. Por essas e outras, raramente Miguel conversava com garotas de sua idade, e, quando o fazia, a conversava não era nem um pouco fluente. Mesmo quando elas não estavam por perto, conversas com outros rapazes sobre as meninas também não deixavam Miguel à vontade, afinal, ele não tinha nenhuma experiência ou vivência nesse tipo de assunto. Já Leandro, adorava falar das meninas, mas, sua vida prática não era lá grande coisa como muita gente possa estar pensando. Tudo bem, dá para reconhecer que Leandro é um cara gente fina e engraçado, mas isso não funciona sempre. Leandro conseguia ficar com uma ou outra menina, mas isso era raro. Acontece que suas piadas e brincadeiras nem sempre eram lá muito bem interpretadas e sua forma de abordar o sexo oposto também não eram muito efetivas...aquela vez que ele levou um copo inteiro de bebida na cara por ter chegado numa garota dizendo que não era açougueiro mas adorava um filé mignon é um ótimo exemplo disso. Apesar de todo esse jeito desinibido e de ter conseguido dar uns beijinhos de vez em quando, Leandro nunca teve nenhum tipo de relacionamento sério e, com sua maturidade atual, não conseguiria um tão cedo. Também é desnecessário dizer que tanto Miguel quanto Leandro são virgens.
     - Relaxa, cara. Não é a primeira vez que você passou por isso - diz Miguel em uma tentativa de consolar o amigo.
     - É. Isso é verdade - responde Leandro, já melhorando um pouco seu humor
     - E com certeza também não será a última - completa Miguel
     - Pô, Miguelito. Desse jeito você não ajuda!
     Miguel ri e tenta consertar
      - Ah, eu só quis dizer que a vida é assim mesmo...um dia a gente ganha, outro dia a gente perde
     Leandro também ri e diz:
     - Eu sei. Mas é que ultimamente eu só ando perdendo
     Miguel ri timidamente
     - Putz, é que você não viu a mina. Era gata demais. Coisa rara
     Miguel apenas fica em silêncio. Esse era o tipo de conversa que ele falava menos ainda. Leandro apenas se lamentava, com as duas mãos no rosto e gritando de raiva, frustração ou algo assim. Duas meninas passavam pelo corredor olhando para a dupla (e embaraçando Miguel)
     - Tá bom, cara. Não precisa ficar assim. - diz Miguel mais uma vez tentando consolar seu companheiro.
     - É que você não entende. É frustrante demais! - Leandro continuava a se lamentar
     Miguel olha para a frente da porta da sala de aula de que se aproximava enquanto ouvia os lamentos do amigo.
     - Essa frustração...é...realmente eu não entendo. - diz Miguel em um tom melancólico
     - Hmm...quando você começa a falar assim desse jeito mais sério...é porque está pensando nela, não é? - pergunta Leandro, passando de seu humor frustrado para seu lado malandro de forma muito rápida.
     - Quê? Não, não. Eu só estava pensando numa outra coisa - diz Miguel tentando disfarçar
     "Mas você está certo...era nela. Era nela mesmo que eu estava pensando", pensa Miguel.
     Enquanto conversavam sobre isso a dupla já estava entrando na sala. Leandro parece dirigir seu olhar para uma certa pessoa e depois olha para o amigo sorrindo. Parece que ele sabia de quem estava nos pensamentos de Miguel.
     - É. Você chegou cedo, mas ela é ainda mais adiantada que você - diz Leandro sorrindo, aparentemente já esquecendo da frustração do fim de semana.
     Miguel ouve o amigo, mas não consegue pronunciar muitas palavras. De fato, ela estava ali. Ela, a pessoa que estava invadindo seus pensamentos e destruindo sua concentração nos últimos dois meses.
     "É ela. Danieli. Está bem ali."


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Dilema Platônico" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.