Meus pais sempre tentaram esconder minha realidade - ou melhor, as pessoas mais caridosas para mim. Apenas minha mãe, biologicamente, minha familiar, já meu pai, era um homem que ela conheceu e apaixonou-se. No entanto, ela se foi aos meus treze anos - há dois anos - e sobraram apenas eu e meu "pai". Bem, o que eu posso dizer dele? Ele é um cara legal, gosta de mulheres - muitas - e sabe manipular bem as pessoas, por entender bem a mente e afins. Às vezes, quando eu tirava notas ruins no primeiro ano, ele falava-me que iria fazer uma inspeção e aparecer de repente na sala, para assustar-me; eu já o conhecia e não o esperava, porque ele estava muito ocupado com as mulheres para isso.

Passaram-se dois anos, e nada mudou. Comecei a morar com minha vó, no chamado Alabama. O calor inevitavelmente me fazia pensar em voltar a morar com aquele cara, mesmo que passasse o dia inteiro em casa enquanto ele curtia sua vida com as mulheres, ainda seria mais interessante. Mas se eu fosse, eu não teria vivido uma parte bem interessante de minha vida.

É uma calma manhã de sábado, Melros - não sei de onde surgiram - cantam alegremente adornando a manhã e transformando-a naquelas típicas manhãs daqueles filmes que mostra o campo como um lugar para relaxar; infelizmente, isso quase nunca acontece comigo. Verdadeiramente, aquilo não é um campo, é uma cidade, não tão movimentada como New York, mas ainda sim...

Minha vida está dificultando-se, cada vez mais. Por mais que eu tente ser um garoto calmo, minha própria estrutura abala isso. Tenho Déficit de Atenção e Hiperatividade, ninguém entende isso como uma coisa boa, pois antes mesmo de saberem disso, já têm uma visão ruim sobre mim.

De fato, sou meio maléfico. Tratando-se de colégio, não consigo estudar na maioria das vezes, prestar atenção no professor é difícil e não pregar peças em meus colegas ricos é quase impossível. Nestes três meses de aula já trouxe vários bilhetes, mas minha vó pouco se importa, sabe como sou e isso não vai mudar; o colégio não.

Como resultado, colocam-me no fundo da sala, onde só tem meninas que não conheço. Neste mesmo dia, chegou ela: Beatriz Winchester, digamos que a novata mais bela daquela sala. Todos olham-na, enquanto eu do fundo só aprecio sua beleza, pouco importando-me para as pessoas que querem ganhar atenção. Ela é de NY, ouço por alguns sussurros de fofocas, e também tem um sotaque estranho. Não sei o que estão vendo nela, pensei; não consegui ver nada de impressionante.

Nicholas está do meu lado, no momento. Um som estranho surge de repentemente, assustado a todos - é um chiado agudo que automaticamente leva os alunos a tamparem os ouvidos. As luzes se apagam, meus olhares se concentram nas janelas escuras - que antes refletem a luz do sol. Estavam lá, duas pinças enormes. Janela, parede, cadeiras e um de meus colegas ricos foram alvos da pinça. Não mentalizo bem a situação, então, tento repetir os fatos.

Duas pinças gigantes estão fora, causando coisas impressionantes no colégio. O.k. Estamos no segundo andar do prédio escolar e eles acabam de destruir metade da sala, fazendo várias pessoas caírem embaixo, enquanto levavam parede, janela, e um garoto. Seu grito me trouxe a realidade, exatamente quando vi aquela cena, observo de longe um homem correndo. Não, não é um homem... É um bode.

O.k., o que é isso? Ele é misto de homem com bode, sua parte superior é de um adulto quase abilno, seus cabelos são negro e lisos, mas dois chifres grandes saíam dos tufos de cabelo. Em sua mão, um porrete de aço com filetes de bronze traz um brilho impressionante ao local, e ao chocar-se com o monstro, ele olha para o híbrido, enraivecido.

Outro grito me chama a atenção. É uma garota, a novata, que grita incessantemente por ajuda segurando em um bloco que falta pouco para cair. Sem pensar, a alcanço velozmente e nesse intervalo de tempo, não vejo a aproximação da grande fera. A levanto, e com guarda aberta, sinto dois corpos pesados contra mim, molhados, cheirando àqueles pratos culinários do litoral, onde se comem mariscos. O cheiro me deixa nervoso, liberta meus instintos, mas a força das pinças para prender-me foi tamanha que desabo; adormeci sem querer, tomado pelo medo, desmaio.

— Vovó... Só mais um pouco, só mais uma partida. — falo inconscientemente.

A dor comparada ao susto não fora nada, levo um tapa na bochecha, recobrando aos sentidos.

— Hey! Como você pôde desmaiar? Você me salvou e não conseguiu se salvar? Ah, e você fala - e baba - enquanto dorme. — fala a garota que conheci por Beatriz, a novata.

— Se não fosse pelo Carmo, estaríamos em uma fria... — comenta Nicholas, aparecendo no meu campo de visão.

— Carmo?

— Sim, eu. Carmo Waterfall. — aparece o homem-bode.

Uma dúvida surge em minha mente, afinal, por que ele nos ajuda? O que é ele? Também outra confirmação veio a mente: É tudo real. Desabo minha cabeça no chão, enquanto paro para pensar novamente, sentando-me de modo que pudesse ver todo o local, um belo estrago e uma gritaria abaixo.

— Cadê o monstro? — pergunto.

— No tártaro. — responde-me o homem-bode.

— O que é tártaro? E o que você é? Um cruzamento de uma mulher com bode? — fico indagando lentamente, mas antes que possa perguntar mais, ele me impossibilita.

— Tártaro... É o local mais escuro do inferno - submundo. E sou um sátiro, um guardião. Pergunta-me agora, do que sou guardião? Por que te protegi? Sou o guardião sênior do Acampamento Meio-Sangue e meu dever é escoltá-los até lá.