Enlace escrita por ConstançaAconstante


Capítulo 1
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— Vamos dar as mãos? — sugeri. Ele me olhou estranhado, horrorizado pelo que eu dissera.

— Claro que não! Você está louco? — eu e ele éramos colegas de escola, amigos para falar a verdade. E éramos vizinhos também, então todo final de aula voltávamos juntos para nossas respectivas casas. Foi assim que nossa amizade evoluiu para algo mais.

— Oras, por que não? A rua está deserta. Você deveria estar agradecido por eu não sugerir outra coisa!

Seu rosto se contorceu em uma desgostosa carranca — Outra coisa? Pelo amor de Deus! Além de gay é pervertido! Olha só o que eu fui arranjar...

— Ei! Você não pode falar nada, seu... Bicha. — reclamei, com um meio-sorriso. Gostávamos de rir dessas coisas. Fazer piada do que não tinha graça.

De repente, senti algo quente cobrindo minha mão, era a dele. Fiquei feliz, pelo menos aquela pequena batalha eu havia ganhado. E até chegarmos à nossa rua, mantivemos nossas mãos unidas. Havia sido um dia bom.

Porém, o dia seguinte é que foi horrível, uma batalha que nenhum de nós dois poderia ganhar. Como vencer uma escola inteira?

Eles simplesmente haviam nos descoberto. A rua, afinal, não estava assim tão deserta. Fotos nossas com as mãos unidas espalhadas pelo chão e pelas paredes, montagens obscenas de nós nas mãos das pessoas que gargalhavam; piadinhas, dedos apontados, zoações... Foi o pior dia da minha vida. Eu apanhei, fui surrado e chutado e, apesar de não tê-lo visto, sabia que ele também.

— Vamos dar as mãos? — perguntei naquele dia também, enquanto andávamos no caminho de sempre. Em seu rosto, em seus braços, mãos, pescoço... jaziam vários hematomas. Eu encontrava-me em igual estado. Mas doía-me muito mais o coração vê-lo todo machucado.

E afinal, ele me ignorou.

“Vamos dar as mãos?”, indaguei no dia seguinte, e no seguinte, e no seguinte... Eu perguntava isso todo dia, obstinadamente, e nunca era respondido.

— Vamos dar as mãos? — inquiri mais uma vez, tal como todas as outras. Eu nunca desistiria.

Ele parou, mirando-me, os cenhos franzidos, como se estivesse bem aborrecido. Pude ver meu reflexo em seus olhos, e imaginei no que ele tanto pensava nesse momento. Sua expressão foi gradativamente se atenuando, até que resultou num discreto sorriso. Suspirou longamente, deixando pender os ombros. Era um gesto que ele sempre fazia quando finalmente um peso saía de suas costas.

Pude sentir seus dedos roçarem os meus, enquanto me respondeu — Tá bom.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ter lido até aqui.

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