- Bill!

     - Oi, mãe! – disse abraçando-a.

     - Por que não veio junto com Tom? Ele chegou aí sozinho, e...

     - Aah, então ele já tá aí?

     - Faz um tempo até. Ele chegou e se enfiou no quarto.

     - Tá bom. Então eu vou lá falar com ele, preciso levar um “lero” com meu querido, amado, adorado irmão. – Bill disse tais palavras com tom de sábio chinês e logo depois berrou – TOM KAULITZ!!!!

     - Que medo...

     Ele subia a escada pisando duro, quase podia-se ver a fumacinha saindo pelas orelhas.

     No quarto, Tom dormia. Mas Bill não deu a mínima e o acordou com um puxão de edredom:

     - Levanta daí agora! Preciso falar com você.

     - Você tem o resto da vida pra falar comigo. Eu tô cansado, me deixa dormir.

     - E você tem o resto da vida pra dormir. Anda, levanta, eu não vivo em função de consertar as suas burradas; mas essa eu te faço o favor. – disse enfatizando o “o favor”.

     - Tá bom então. O que você quer?

     - Se lembra dois anos atrás, quando eu pedi que você deletasse uma conta de e-mail pra mim?

     - E eu deletei. O quê que tem?

     - Tem que há dois anos alguém usa o mesmo endereço se passando por mim pra fazer sabe o quê?

     O gêmeo mais velho engoliu em seco e se fez de indiferente:

     - Não faço a menos ideia.

     - Pois devia fazer; porque tem algum infeliz usando um antigo e-mail meu, que NÃO FOI DELETADO; e se passando por mim pra quê? PRA ENGANAR A GIOVANNA!!

     Tom tremia, mas não de frio.

     - Ôh louco!

     - É a sua última palavra?

     Ele deu de ombros.

     - Bom, porque eu acho que tem o seu dedo nessa história.

     - Como é qu...

      -Cala a boca, me deixa falar. Quem era o responsável por desativar aquela conta? Quem é que sabia a minha senha? Quem é que me conhece bem até demais pra se passar por mim daquele jeito? Você, você e VOCÊ!!

     Ao contrário do que se esperava, Tom não saiu na defensiva. Apenas suspirou e abaixou a cabeça.

     - Tom, qual é o seu problema?

     A pergunta não foi respondida. Ele apenas levantou-se da cama e foi até a porta.

     - Onde você pensa que vai?!

     - Banheiro.

     - Volta aqui, eu não terminei com você! – Bill gritou, mas foi ignorado. Sua paciência estava no limite.

     Ele saiu do quarto e pegou no ombro do irmão.

     - Me deixa, Bill!

     - Não! Não enquanto você não me explicar direitinho, vírgula por vírgula do porquê que você fez essa cafajestada!

     - Como se você não soubesse!

     - O motivo eu sei; eu só não sei A FIM DE QUÊ VOCÊ TINHA QUE USAR O MEU NOME!

     - FOI PORQUE EU NÃO CONSEGUI!!

     - Não conseguiu o quê?!

     A essa altura não se sabia quem gritava mais alto. Os vizinhos chamariam a polícia, se duvidasse.

     - Eu eu... eu não podia! – Tom disse com a voz esganiçada e olhos cheios de lágrimas.

     - O que é que não podia? Não podia mostrar a cara?

     - Mas eu...

     - Você mostrou a MINHA cara! E eu não tenho nada a ver com a sua idiotice! Somos gêmeos? Ótimo, mas eu me lembro de terem nos confundido pela última vez quando tínhamos seis anos! O que eu te fiz, Tom? Algum dia eu te fiz algo pra merecer que você tivesse a empáfia de usar o meu nome pra enganar a minha melhor amiga? Diga! Se é que há algum motivo... Aproveite e esclareça a participação da Giovanna na as brincadeirinha.

     - Melhor amiga! Ainda fala isso com a maior naturalidade!

     - E por que não falaria? Por acaso é mentira?

     - É claro que é.

     - O que você tá insinuando?

     - Eu não tô insinuando nada! Estou fazendo uma acusação direta. Você é um crápula. Sabia que eu gostava da Gih, sempre soube, mas você a puxou pra si com aquela história de bilhetinho.

     Bill estava pronto pra voar em cima de Tom, mas ao ouvi-lo falar sobre Giovanna uma luz acendeu em sua cabeça e ele começou a rir.

     - Tá rindo do quê?

     - Você é idiota? Não... não sei por que ainda pergunto. Você é idiota, tenho certeza. O que eu não sei é o que você é mais: burro ou ingênuo.

     Tom estava ficando com raiva.

     - Tom, olha bem pra mim e presta bastante atenção no que eu vou te dizer. – a expressão do rosto de Bill voltara a séria – Eu. Nunca. Quis. Nada. Com. A. Giovanna. Nada, necas, lhufas, bulhufas, patavinas, zero, nothing. Sim, eu sempre soube que você gostava dela, mas parece que você não teve, aliás, não tem neurônios suficientes pra se tocar de que eu me aproximei da Giovanna pra aproximar você dela. Mas aí acabou que nós viramos BFFs. Que culpa tenho eu nessa parte? Hã?

     - Biiiiill... Você fez isso...? Por mim?

     - Ooohh, caiu a ficha. Achei que ia ter que desenhar.

     - Palhaço.

     - Idiota.

     Os gêmeos se abraçaram no corredor. D. Simone, que tinha ouvido a gritaria, esperou que os ânimos se acalmassem para tentar resolver a confusão, mas suspirou aliviada quando viu a meiga cena fraternal.

     Obviamente, por ter ouvido a baixaria, a vizinhança já estava ciente de que Bill e Tom estavam na casa da mãe; e a notícia não demorou a se espalhar pelo bairro feito pólvora. E um dos primeiros ouvidos a que chegou foi o de Eloisa, que morava por ali. Mais precisamente, na mesma quadra; só que na rua de cima, bem atrás da casa da D. Simone! Por isso, ouviu a briga de camarote, e logicamente ficou sabendo de uma parte da história da prima que nem a própria sabia.

     Mas e agora? Contar? Não contar? Looh ficou um tempão matutando e decidiu como iria agir, mas deixou para o dia seguinte.