Bilhete Trocado? Pretérito Imperfeito escrita por seethehalo


Capítulo 2
II


Notas iniciais do capítulo

Mais um capitulinho hoje...



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Anotação da Giovanna:

Primeiro dia de aula. Pra variar, acordei atrasada e entrei voando na sala, onde tinha apenas dois lugares vagos. E foi naquele lá do findão, o último da fileira do meio, que eu decidi me sentar.

P

Passou uma meia hora e de repente um papelzinho amassado aterrisou no meu caderno.

"Ei

você não pode sentar aí."

Respondi na mesma linha:

"e por quê?"

e dois minutos depois o papel voltou com a seguinte frase:

"é o lugar do meu irmão."

Foi então que caiu a ficha. Quem estava sentado na minha frente? Bill, o único garoto que eu conhecia que poderia ter um irmão na mesma sala. Aliás, irmão gêmeo. Demorei pra responder:

"cadê ele?"

"acho que fugiu do 1º dia. ele sumiu depois de olhar a lista de classes, eu não tenho paciência de entrar no meio de um monte de gente só pra ler o meu nome."

A explicação rápida dispensou resposta.

Ei! Estava na mesma sala dele desde o jardim de infância, e era sempre a primeira a rir das gracinhas dos dois (ele e o Tom, juntos, com certeza não era coisa que prestasse), e por incrível que pareça, nunca tínhamos trocado uma palavra sequer; até então. Resolvi puxar o assunto:

"se estiver mesmo fugindo, eu troco de lugar quando ele chegar, ok?"

"ok."

"por enquanto eu fico aqui."

"tá bom."

A falta de palavras da parte dele me deixava aflita. Resolvi me fazer de besta pra prolongar o papo via bilhete.

"qual é o seu nome mesmo?"

"Bill"

"ahn. eu esqueço de tudo! tenho uma péssima memória."

"hm. Giovanna, né?"

Por essa eu não esperava. Mesmo sem nunca nos termos falado, ele sabia o meu nome! A minha resposta demorou:

"é!"

"por que a demora? esqueceu o seu nome também?"

"não, é que eu tava pensando."

"já sei. Tava tentando lembrar o nome do Tom? já respondi, antes que você pergunte..."

"bom, estava. agora que você respondeu, não estou mais."

A resposta não veio. Como a folhinha já estava toda rabiscada, arranquei uma do meu caderno e e escrevi:

"que silêncio. parece que a gente tá num velório"

"é, né"

Levei um tempo pra assimilar a informação e responder:

"ah, você é legal"

"só legal?"

"por que tanta pergunta?"

"nada, só queria saber o que você acha de mim. pô, a gente estuda junto desde bebê mas nunca nos falamos direito."

"é, né. você é superlegal."

"você também"

"como você sabe?"

"ué, acha que eu não te vejo rindo pacas das bobeiras do Tom?"

"sei lá"

"eu vejo. você sempre é a primeira a entender a piada dele."

"tem razão. eu rio de tudo.

olha, Bill... não é por nada não, mas...

eu tô te achando meio diferente. não tá como no ano passado"

O papel voltou rápido, acompanhado de um sorriso do remetente: ele tinha se virado só pra sorrir pra mim. E eu perdi o ar. A conversa continuava:

"acha mesmo que eu tô diferente?"

"agora eu tenho certeza! tá diferente demais!"

"diferente, assim, como?"

Como é que eu ia explicar? Ia escrever na maior cara de pau que 'olha, você tá um gato e esse sorriso quase me fez infartar'? E com que cara eu ia olhar pra alguém depois de uma dessa? Limitei-me a fazer papel de boba outra vez, pena que não funcionou:

"ah, sei lá. Tá diferente."

"já sei. tá com vergonha de dizer que que eu tô mais bonito?"

Depois dessa não tinha como contornar. Resolvi então pôr lenha na fogueira:

"pode ser que sim, pode ser que não"

"depois procura o Tom e tire uma conclusão decente. quero saber sua opinião"

"sobre você? ou sobre o Tom?"

"sobre os dois"

"mas vocês são gêmeos! como vou tirar conclusões diferentes sobre a aparência de dois moleques idênticos?"

"vai por mim. você vai ter uma conclusão diferente."

Toca o sinal avisando o intervalo. E a tonta aqui achando que poderia conversar decentemente com o Bill... Engano total: ele saiu correndo da sala e não o vi no pátio. Estava tão distraída na conversinha por papel que sentei num banquinho e esqueci da vida. Mas fui acordada pelo som irritante do sinal que nos enxotava de volta às salas de aula.

Bill demorou a voltar e voltou bufando. Não resisti e perguntei 'o que foi?', mas ele me respondeu com um palavrão, sentou, abaixou a cabeça e acho que dormiu. A razão da raiva eu fui descobrir na saída, quando decidi checar direito a lista de classes - e vi que, entre os outros trinta alunos, o nome do Tom não constava naquela lista. E depois não o vi mais. Entrei no carro da minha mãe e vim pra casa.


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Notas finais do capítulo

Acho que esse compensou um pouco o primeiro...
Até amanhã!!