Bilhete Trocado? Pretérito Imperfeito escrita por seethehalo
Notas iniciais do capítulo
Mais um capitulinho hoje...
Anotação da Giovanna: Primeiro dia de aula. Pra variar, acordei atrasada e entrei voando na sala, onde tinha apenas dois lugares vagos. E foi naquele lá do findão, o último da fileira do meio, que eu decidi me sentar.
Passou uma meia hora e de repente um papelzinho amassado aterrisou no meu caderno.
"Ei você não pode sentar aí."
Respondi na mesma linha:
"e por quê?"
e dois minutos depois o papel voltou com a seguinte frase:
"é o lugar do meu irmão."
Foi então que caiu a ficha. Quem estava sentado na minha frente? Bill, o único garoto que eu conhecia que poderia ter um irmão na mesma sala. Aliás, irmão gêmeo. Demorei pra responder:
"cadê ele?"
"acho que fugiu do 1º dia. ele sumiu depois de olhar a lista de classes, eu não tenho paciência de entrar no meio de um monte de gente só pra ler o meu nome."
A explicação rápida dispensou resposta.
Ei! Estava na mesma sala dele desde o jardim de infância, e era sempre a primeira a rir das gracinhas dos dois (ele e o Tom, juntos, com certeza não era coisa que prestasse), e por incrível que pareça, nunca tínhamos trocado uma palavra sequer; até então. Resolvi puxar o assunto:
"se estiver mesmo fugindo, eu troco de lugar quando ele chegar, ok?" "ok." "por enquanto eu fico aqui." "tá bom."
A falta de palavras da parte dele me deixava aflita. Resolvi me fazer de besta pra prolongar o papo via bilhete.
"qual é o seu nome mesmo?" "Bill" "ahn. eu esqueço de tudo! tenho uma péssima memória." "hm. Giovanna, né?"
Por essa eu não esperava. Mesmo sem nunca nos termos falado, ele sabia o meu nome! A minha resposta demorou:
"é!" "por que a demora? esqueceu o seu nome também?" "não, é que eu tava pensando." "já sei. Tava tentando lembrar o nome do Tom? já respondi, antes que você pergunte..." "bom, estava. agora que você respondeu, não estou mais."
A resposta não veio. Como a folhinha já estava toda rabiscada, arranquei uma do meu caderno e e escrevi:
"que silêncio. parece que a gente tá num velório" "é, né"
Levei um tempo pra assimilar a informação e responder:
"ah, você é legal" "só legal?" "por que tanta pergunta?" "nada, só queria saber o que você acha de mim. pô, a gente estuda junto desde bebê mas nunca nos falamos direito." "é, né. você é superlegal." "você também" "como você sabe?" "ué, acha que eu não te vejo rindo pacas das bobeiras do Tom?" "sei lá" "eu vejo. você sempre é a primeira a entender a piada dele." "tem razão. eu rio de tudo. olha, Bill... não é por nada não, mas... eu tô te achando meio diferente. não tá como no ano passado"
O papel voltou rápido, acompanhado de um sorriso do remetente: ele tinha se virado só pra sorrir pra mim. E eu perdi o ar. A conversa continuava:
"acha mesmo que eu tô diferente?" "agora eu tenho certeza! tá diferente demais!" "diferente, assim, como?"
Como é que eu ia explicar? Ia escrever na maior cara de pau que 'olha, você tá um gato e esse sorriso quase me fez infartar'? E com que cara eu ia olhar pra alguém depois de uma dessa? Limitei-me a fazer papel de boba outra vez, pena que não funcionou:
"ah, sei lá. Tá diferente." "já sei. tá com vergonha de dizer que que eu tô mais bonito?"
Depois dessa não tinha como contornar. Resolvi então pôr lenha na fogueira:
"pode ser que sim, pode ser que não" "depois procura o Tom e tire uma conclusão decente. quero saber sua opinião" "sobre você? ou sobre o Tom?" "sobre os dois" "mas vocês são gêmeos! como vou tirar conclusões diferentes sobre a aparência de dois moleques idênticos?" "vai por mim. você vai ter uma conclusão diferente."
Toca o sinal avisando o intervalo. E a tonta aqui achando que poderia conversar decentemente com o Bill... Engano total: ele saiu correndo da sala e não o vi no pátio. Estava tão distraída na conversinha por papel que sentei num banquinho e esqueci da vida. Mas fui acordada pelo som irritante do sinal que nos enxotava de volta às salas de aula.
Bill demorou a voltar e voltou bufando. Não resisti e perguntei 'o que foi?', mas ele me respondeu com um palavrão, sentou, abaixou a cabeça e acho que dormiu. A razão da raiva eu fui descobrir na saída, quando decidi checar direito a lista de classes - e vi que, entre os outros trinta alunos, o nome do Tom não constava naquela lista. E depois não o vi mais. Entrei no carro da minha mãe e vim pra casa.
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Acho que esse compensou um pouco o primeiro...
Até amanhã!!