As férias começaram e mesmo não vendo o Gustavo durante todo esse período continuamos nos comunicando... Não, ele não estava nas redes sociais, por exceção de um Orkut desativado (afinal o de quem não está?), um Facebook que fui eu mesma que criei pra ele depois de uma menina ter me desafiado a fazer, claro que com a permissão dele, mas ele entra apenas em último caso, e um e-mail. Ah um e-mail, este ainda nos renderá ótimos capítulos...

       Não diria que nos contatávamos com frequência, apenas o suficiente para não estarmos distanciados por dois meses, até porque eu viajei e pelo que eu me lembro ele também... Comentávamos sobre tudo, professores, histórias, matéria, viagens. Entre um desses e-mails estava um que seria decisivo. Nele dizia:

               Dona Maria, 

       Olha se você quiser a gente podia tentar sentar juntos esse ano também... O que você acha? Será que tem como a gente combinar? Porque com aquele sistema de reserva de carteira fica complicado...

      Respondi dizendo que sim, que gostaria de me sentar com ele. Conhecia as complicações que essa resposta causaria em minha casa. Me sentar com um menino pro um ano tudo bem, foi aleatória a escolha, mas agora optar por isso no ano seguinte não seria muito bem interpretado, disso eu tinha certeza. De qualquer forma eu tinha que aceitar a proposta e fazia isso por mim e por ele, tentaria amenizar de alguma forma o fato para não causar alvoroço com meus pais... Diria que foi uma sabia decisão porque mais tarde viria a descobrir que não existe melhor dupla de sala do que ele, mas esperem para ver... 

      As férias foram passando e o dia da reserva de carteira estava chegando, tínhamos discutido todos os lugares possíveis e chegamos quase a uma decisão, deixaríamos em aberto porque precisávamos de uma segunda opção caso a primeira já tivesse sido escolhida. O sistema era o seguinte: cada sala tinha o seu respectivo horário, no nosso caso o melhor de todos, quem não quer acordar as 7 da manhã nas férias? Então minutos antes desse horário inicia-se uma contagem regressiva e no zero, um botão é liberado para ser clicado, dessa forma ordenasse uma fila de escolha baseada na rapidez do clique. 

       Faltavam poucos minutos pro meu despertador tocar, quando eu sou acordada por e-mails do Gustavo, avisando que o sistema estava adiantado e que portanto tinha sido liberada a escolha antes do horário. Como ninguém sabia disso, praticamente só ele que por ser muito certinho deveria estar meia hora antes na frente do computador, eu pude fazer a escolha. Só tinha um problema... Meus pais vieram ver a minha escolha e enquanto isso mensagens do Gustavo chegavam e eu não podia lê-las. Como eu havia comentado ficamos, ao final, com duas opições e eu sem me comunicar com ele não sabia por qual das duas ele tinha optado. 

       Um fato sobre mim, não sou boa com chutes, nas provas mesmo com apenas duas alternativas se eu estiver em dúvida eu garanto que eu erro. Foi exatamente o caso, eu errei. E também não podia revelar a ele que meus pais não me queriam com ele porque achava que ele não sentiria bem com isso...

       As férias acabaram e o primeiro dia de aula, de novo, a sala nova diria, eu, que tinha um pouco menos de um terço das pessoas da sala do ano anterior, seja porque caiu de sala ou porque optou por outra área. De qualquer forma o importante era que eu e Gustavo estávamos juntos, juntos não porque ainda tínhamos o dilema das carteiras para resolver. Passaram-se três aulas e não sei como ele conseguiu que três meninas se deslocassem para deixar o lugar ao lado dele livre. Agora a coragem para falar e pedir pra essas pessoas esse favor eu não sei de onde ele tirou..

      Meus pais? É então, quando eu cheguei em casa eu acabei contando, mas por sorte uma menina que fazia espanhol comigo no ano anterior sentava bem na carteira da frente da do Gustavo e portanto foi a justificativa que arrumei para minha mudança, eu gostava dela.