O nome dele era Gustavo, caso não tenha comentado... Dia após dia aquele menino sério e tímido foi se tornando um grande amigo, simpático, alegre e muito inteligente. Ele também era novo no colégio e aos poucos fomos percebendo que tínhamos muito em comum. Assim como eu, ele também não morava na mesma cidade em que ficava a escola, mas ainda assim não era a mesma que a minha. Nós dois amávamos observar as pessoas e por mais que soe cruel, inventar apelidos para todos, mesmo que nunca tenha se espalhado ou sequer chegado ao conhecimento de alguém que não fossemos eu e ele. Comecei a passar meus recreios com ele, nos divertíamos muito, por mais incrível que seja, o assunto nunca acabava.

       Acredito que já esteja passando coisas pela cabeça do leitor... A questão é que a essa altura as pessoas já tinham começado a reparar e comentar a nossa amizade. Eu era muito inocente e nem associava quando faziam as brincadeiras sobre a gente...

       Começaram as provas e apesar de todo o nervosismo e apreensão nos saímos relativamente  bem... Nossas notas eram muito parecidas e não somente na média global, eu ia bem em matemática e ele ia também, ele não ia muito bem em redação e a mim me acontecia o mesmo, inglês os dois eram péssimos. Por mais que estivéssemos na sala 1 na qual a competição se faz muito presente entre a gente a gente ela não existia.

       Passado esse tempo eu comecei a reparar que as atitudes que ele tinha comigo eram muito distintas das que ele tinha com o resto das pessoas. Comigo ele ria, com os outros ele era grosso, não digo isso porque eu me ache especial nem nada, porque as pessoas de fato achavam estranho, chegavam a me perguntar a quantos anos nos conhecíamos, porque acreditavam que éramos amigos de longa data para existir essa divergência tão grande. O limite dele era tratar bem quem conversava comigo, mas de qualquer forma quanto estávamos sozinhos ele era outro.

       No fim do primeiro bimestre, lembro muito bem que ao compararmos as notas e verificarmos que nossa média final diferia em apenas um décimo ele se manifestou...

          — Nossa que bom que as nossas notas são tão parecidas, assim qualquer que seja a sala que cairmos estaremos juntos. — tem coisa mais fofa do que isso?

          — Ah? Mas faltam três bimestres ainda para a mudança de sala e vc já está preocupado?

          — Sério? Só muda no final do ano? Que ótimo então. Já sabemos que vamos ficar juntos até o fim do primeiro pelo menos.

       Fomos para sala e eu comecei a pensar em tudo aquilo, porque será que eu era tão importante pra ele? Ele me tratava tão diferente, os pensamentos se foram e eu acabei esquecendo minhas indagações.