Por definição um período de tempo só pode ser demarcado quando este tem suas extremidades conhecidas. Como eu disse que foram três meses fica evidente que o Gustavo voltou a falar comigo...

Durante todo esse período de silêncio, eu escrevi algumas cartas que me explicavam, mostravam como eu me sentia, pediam desculpas e imploravam por ter o meu amigo de volta. Infelizmente eu nunca encontrei coragem para entregá-las. É... sinto informar a vocês, leitores, que ainda não seria essa a solução do meu problema.

No colégio os trabalhos em grupo apesar de não serem muito estimulados nunca deixaram de integrar a disciplina de química. Trabalhos sobre nanotecnologia, CFCs e até o feitio de pão e cimento, para estudar os processos químicos que os envolviam. Dessa vez se tratava apenas de mais um desses, porém o quesito grupo não era o melhor aceito por Gustavo.

A professora deixava livre a escolha de grupos e portanto todos se ajeitavam nos seus círculos de amizades, com exceção dele. A última coisa que eu queria era que ele sobrasse, ele sempre fez parte dos meus grupos. Comecei a dar indiretas para minha amigas, perguntei se o grupo dos outros estava completo e não teve outra, tive que chamá-lo para integrar o meu grupo dessa vez também... Eu queria ele no meu grupo, óbvio, o meu problema era que, além da coragem que eu necessitava para falar com ele, que dessa forma ficaria mais evidente para todos que ele realmente não falaria mais comigo.

Marcamos um dia para o trabalho, começamos a debater o tema e buscar informações e quando eu me dei conta eu e Gustavo estávamos conversando como antes. Eu sei que estávamos em um grupo, ele não estava falando apenas comigo, sei também que era um trabalho e que como ele sempre foi muito dedicado ele nunca deixaria de contribuir para a conclusão deste. Porém algo me dizia que ele falava de coração, ele olhava em meus olhos. Enquanto conversávamos nossos olhares se encontraram e eu vi um sorriso discreto se desenhar em seu rosto.

No dia seguinte, para a minha felicidade estava ele de novo, o Gustavo, o meu amigo, engraçado, encantador... Ele tinha voltado a ser o mesmo. Claro que eu não me atrevi a tocar no assunto, sabia que era a minha oportunidade de tê-lo de volta. Portanto, sem alusões a tudo que nos tinha passado, simplesmente passamos a ser AQUELES amigos de antes, como se nada tivesse acontecido.