Meus olhos pareciam pregados na tela do computador, minha cabeça girando a mil. Se Rick morreu, ontem, pensei, quer dizer então que ele estava vivo todo esse tempo? Se for realmente Elliot quem o assassinou, ele fez isso por pura crueldade, ou por algum motivo? O que Rick fez quando ainda tinha a sua vida em perfeito estado? Refugiou-se com medo da besta que criou? Planejou algo contra Elliot? Achava que minhas perguntas nunca teriam uma resposta. Afinal, o único esclarecedor disso estava morto.

Ouvi o som de um trovão ecoar, à distância.

– Algum problema? – afastei-me de pensamentos, dando atenção ao garoto que estava sentado ao meu lado.

– O quê?

Ouvi mais um trovão ecoar, desta vez mais perto, trazendo com sigo uma forte rajada de chuva. Ouvia-se apenas o barulho dos pingos batendo contra o telhado, um barulho um tanto agradável.

– A veneziana do seu quarto está aberta, acho que você deve fechá-la. Quero dizer, isso se você não quiser dormir em uma cama molhada essa noite. – encarei meu amigo de relance, sorrindo. Ele grunhiu e levantou do banco, quase que derrubando-o.

Seth se aproximou da escada, subindo-a correndo, quase tropeçando em um dos degraus.

Tamborilei meus dedos sobre uma das revistas da New York Times que estava ao meu lado. Olhei para a sala. Ela estava com a luz apagada, apenas a televisão ligada, onde estava passando Os Simpsons. Mais um trovão se aproximou fazendo com que os pingos de chuva batessem violentamente contra as janelas e o telhado da casa. Junto ao trovão, avistei um vulto no canto escuro, onde não estava sendo iluminado pela luz da televisão ligada. Soltei um grito, levando em seguida minhas mãos até a boca. Um vulto de olhos cor de carvão, pele pálida reluzente e cabelos loiro-mel... Rick?!

Ele está morto, não tem com o que se preocupar. Isso foi a sua imaginação, só a sua imaginação...

– Nessie? O que houve? – Seth apareceu pulando os degraus da escada, assustado – Ouvi você gritar, está tudo bem?

Não, não está tudo bem, eu queria dizer, acabei de ver uma pessoa morta parada por um segundo na sua sala!

– Acho que sim – murmurei – Achei ter visto alguma coisa, talvez eu estivesse enganada

– Tudo bem então... – ele olhou na minha mesma direção, levando em seguida seus olhos para a tela do notebook – Você ainda não abriu nada?

– Ah... Não – sussurrei, voltando o meu olhar bruscamente para a tela do computador.

A geladeira começou a zumbir alto.

Inspirei fundo, abrindo a primeira notícia. Meus lábios tremiam.

A imagem de um lugar repleto de árvores apareceu. Havia um carro de polícia na frente dela, ao fundo dois homens conversando. Um deles estava com o uniforme da polícia e o outro estava com os seus braços cruzados sob o peito, A manga da sua blusa azul marinha estava arregaçada para os ombros. O carro atrapalhava um pouco a visão, mas dava para perceber que em uma parte daquele local verde e úmido estava cercado por uma fita onde se lia "Perímetro sob investigação da polícia, não ultrapasse". Suponhei que fosse ali aonde devessem ter encontrado o corpo do Rick.

“Depois do seu desaparecimento, Rick C. Harris foi assassinado nesta segunda-feira em Olympia. O crime aconteceu no bosque da cidade.

Harris fora violentamente torturado, assim tendo seus membros decapitados. O caso está sob investigação da policia. Não há ainda muitas informações sobre o que possa ter acontecido ou o motivo da causa, mas, diz a policia que sua morte possa estar ligada com outras duas que houve na cidade.”

Havia outras noticias no final da página, mas apenas uma me interessou, uma noticia que pode responder a minha próxima pergunta: Em que fim deu o garoto inocente chamado Toby?

Afastei novamente a minha franja que havia caído sobre o meu rosto.

“Toby Carter, grande parceiro de Rick Harris, é internado em um hospício esta manhã por um trauma não confirmado, dizia a manchete, O cientista em começo de carreira diz ter visto um ser sobrenatural, fazendo com que uma fama de loucuras viesse a sua pessoa. Toby também tentou se matar, começando a injetar drogas no seu corpo.

O cientista em progresso perdeu seu diploma, assim tendo que ficar por volta de dezenove anos em tratamento.”

– Por que se importa tanto com isso? – ouvi Seth perguntar, contendo-se para não revirar os olhos.

– Você sabe... – mais um trovão ecoou. A geladeira parou de zumbir. – Isso faz parte do meu último sonho.

– É que seria muito mais fácil se eu entendesse o que aconteceu na sua cabecinha – Seth cutucou-me a cabeça, quase enrolando o seu dedo indicador no meu cabelo bagunçado.

– Seu curioso!

Seth abriu a boca para falar alguma coisa, mas depois desistiu, pois Leah já estava descendo as escadas.

– Continuaremos com isso depois. – sussurrei, fechando o Notebook.

Leah estava com os olhos marejados e inchados, mas com um grande sorriso no rosto. Ela se aproximou do escorredor de pratos e pegou uma xícara branca com o desenho de uma abelhinha, pegou uma garrafa térmica de café e a encheu.

– Você dormiu aqui, não é? – perguntou ela, deixando a garrafa térmica azul de lado. – Acho que você vai precisar de uma troca de roupa. Não dá para você ir embora com essa chuva, e também não dá para você ficar com a mesma roupa de ontem... – Leah tomou um gole do seu café, pegando em seguida uma das torradas do prato que estava em cima do balcão de mármore.

– Faz assim... – Seth levantou aproximando-se da escada, apoiando-se no corrimão. – Tome um banho, a Leah te empresta uma roupa, depois nós podemos jogar algum jogo, a Leah adora Monopoly.

– Eu acho que nunca joguei Monopoly.

– Eu te ensino, você vai gostar. – Seth sorriu. – O banheiro fica no final do corredor, lá em cima, têm toalhas no armário.

– Você pode ir no meu quarto depois, Ness. – completou Leah, tomando mais um gole de café. – Vou deixar uma troca de roupa pra você em cima da cama, e, não se preocupe com a vergonha, manterei o Seth aqui embaixo.