– Se você pudesse escolher qualquer lugar do mundo para visitar, qual seria?

Eu pude ouvir o timbre de minha voz falhar e meus olhos arderem quando olhei para Melanie. Tudo o que eu queria era que tudo acabasse de uma vez, para podermos viver em paz, mas a cada minuto parecia que o fim estava ainda mais distante.

– Não sei. - Melanie deu de ombros. - Londres, eu acho.

Ela pareceu incrivelmente distante, enquanto mexia seus lábios para me responder. Seus olhos vagavam em todas as direções possíveis, totalmente inquietos, como já era costumeiro.

– Me parece uma boa escolha.

Melanie sabia que eu não fazia ideia do que estava falando, que todo aquele bate papo sobre viagem, era só uma forma de me distanciar do assunto principal. E ela estava certa, com toda a absoluta certeza. Aquela era apenas eu, tentando não deixar que as palavras deles influenciassem qualquer decisão que eu pudesse vir á tomar.

– Você está nervosa. - Relatou. - O que foi?

– O que vocês estão planejando?

Eu tinha que perguntar. Seja lá o que fosse, eu queria ter uma plena noção antes de acatar. Por que eu sabia, que o que quer que fosse, envolvia me proteger.

– Você não vai acreditar se eu disser que não sei, não é? - Perguntou, já sabendo minha resposta. Melanie me conhecia melhor do que ninguém, sabia a forma como eu pensava e as coisas que eu pensava. - Jared não disse muito, falou que não quer me envolver e aquela coisa de sempre. - Ela rodou seus olhos e em seguida, deixou escapar aquela sorriso que eu sabia bem o que significava. - Mas eu ouvi umas coisas; do tipo, entrar no prédio dos Buscadores e fazer alguma coisa, que eu não pude compreender.

Senti meu peito de apertar e minhas mãos suarem. Oh céus, o que eles estavam pensando? Era arriscado demais!

– Invadir o prédio? - Indaguei começando a me levantar do banco de madeira. - Ian sabe disso?

Para ser sincera, eu sabia a resposta, só não queria acreditar nela. Cogitar a ideia de que Ian escondia algo de mim, parecia absurdo. Mas eu sabia que ele faria o que achasse necessário, se pensasse que eu estava em perigo. Eu não o culpava, faria qualquer coisa por ele.

– Peg, eu acho que ele quem deu a ideia.

Eu gostaria de pensar em um milhão de motivos para me convencer que Melanie estava errada ou que estava mentindo, todas as possibilidades passavam pela minha mente enquanto eu caminhava para longe de minha amiga. Era mais fácil achar que tudo aquilo passava de um mal entendido e que nada do que ela ouviu era verdade. Mas eu sabia que era. Sabia que não iam desistir, sabia que Ian não ia entregar as pontas até me ver em total segurança.

Minha mente estava turbulenta, eu não conseguia ouvir nada além de meus pensamentos, enquanto caminhava para a sala de Doc. Eu sabia que o que quer que estivessem considerando, conversariam sobre isso ali.

E eu estava certa. Assim que me aproximei da porta, pude ouvir a voz de Ian soar inquieta, preenchendo meus ouvidos e afastando meus pensamentos.

– Devíamos contar para ela.

– Ela vai nos impedir, Ian. Não vai concordar.

– Talvez ela entenda.

Seja lá o que fosse me envolvia completamente, então, eu não poderia ficar ali e observar tudo como uma telespectadora que mesmo quando discorda, não tem sua voz ouvida pelos apresentadores.

Respirei fundo e caminhei até mais perto da porta, passando por ela antes que cogitasse alguma ideia que me fizesse ir embora.

– Impedir do quê?

Os olhos de Ian faiscaram sobre mim como chamas azuis, ardendo sobre a minha pele. Aquele era seu olhar surpreso, ele realmente não esperava que eu aparecesse ali.

– Ian? - Chamei, ouvindo minha voz falhar e desaparecer aos poucos. - Impedir do quê?

– Acho que vocês precisam de um tempo. - Jeb murmurou dando um tapinha no ombro de Ian, enquanto chamava Jared e Doc para se retirarem da sala. - Não se irrite antes de saber a história, Peg.

Irritação, aquele era um termo completamente desconhecido por mim em minhas outras vidas, mas que agora, parecia-se com um convite extremamente caloroso.

– Amor, eu... - A voz de Ian chegou serena á meus ouvidos, assim como suas mãos, delicadamente, se aproximaram do meu rosto. - Eu ia te contar tudo essa noite, estávamos terminando de decidir as coisas e depois eu a deixaria ciente de tudo, eu juro.

– Decidir o quê?

Eu não estava conseguindo pensar direito, tudo o que passava em minha mente era como aquela ideia de enfrentar os Buscadores era incrivelmente idiota.

Melanie concordaria comigo se estivesse ali, ela havia visto com seus próprios olhos como eles podiam ser malvados quando queriam. E depois de tudo o que eu fiz, depois de tudo que todos nos fizemos, eles não seriam caridosos.

– Como acabar com isso, Peg. - Ele suspirou, seu hálito mentolado soprando contra meu rosto. - Para vivermos em paz.

Paz era um termo especialmente relativo para eles. Minha espécie havia compartilhado vários mundos com várias criaturas, e todas elas entendiam o sentido absoluto de paz. Mas para o homem, paz não era uma coisa tão fácil de se ter e se entender. A guerra não existia só no planeta, ela fazia morada dentro deles.

– Podemos viver em paz! - Chiei, elevando minha voz. - Não precisamos de mais guerra e nem de mais ódio. Já acabou Ian.

– Não acabou. - Ele se afastou, virando-se de costas para mim. Pude notar seus ombros se tornarem tensos, e suas mãos inquietas. - Eles não desistiram de nós ainda.

Eu sabia que minha resposta pioraria a situação, sabia que o que quer que eu respondesse faria com que Ian ficasse ainda mais irritado e frustrado. Mas eu queria que ele soubesse a verdade, não queria esconder o que eu sabia que era verídico.

– Não é á vocês que eles querem! - Exclamei, dessa vez sem exitar. Era fácil admitir uma coisa que você tinha certeza que era verdade. E eu tinha, conhecia minha espécie bem o suficiente para saber que eu estava certa. - Ian, eu fui contra meus ensinamentos quando decidi me juntar á vocês. Podemos ser pacíficos, mas não toleramos traição.

Ian apenas negou com a cabeça, ele jamais admitiria que a culpa de tudo o que estava acontecendo era minha. Para os Buscadores, eles, os resistentes, morreriam sozinhos e exilados, o que os levaria á extinção. Não voltariam á procurá-los, mas sabendo o que eu sei sobre as Almas, não desistiriam de mim tão fácil.